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sexta-feira, 23 de maio de 2014

"SE A TUA VIDA DEPENDE DO MEU AMOR, VIVERÁS ALÉM DA VIDA, POIS, TE AMO ALÉM DO AMOR." AUTOR DESCONHECIDO-- NUNCA ESTAMOS SÓS..EVA IBRAHIM.



ALÉM DA VISÃO
                                 CAPÍTULO DOIS.

No dia anterior, Sandro o filho de Gilda, estava com febre decorrente de um forte resfriado. O menino de cinco anos apresentava os olhos purulentos, isto é, com conjuntivite bacteriana. O pequeno foi levado ao Pronto Socorro e medicado; a mãe foi orientada a lavar os olhos do filho e depois pingar um colírio de quatro em quatro horas, até melhorar.

Gilda medicou o menino e o colocou para dormir. Depois de algumas horas de sono, Pai e mãe acordaram assustados com tantos relâmpagos e trovões que clareavam a madrugada. Acabou a energia elétrica e Sandro acordou chorando, seus olhos estavam pregados de secreção. A mãe procurou uma vela e tateando foi até a cozinha para acender o fósforo. Depois, molhou na água, um chumaço de algodão para limpar os olhos do filho e pegou o vidro de colírio, deixando-o sobre o criado mudo, entre outras coisas. O menino estava com medo e a cada relâmpago ele se agarrava a ela, queria abrir os olhos e não conseguia.       
A mulher estava ficando nervosa, a vela apagou quando o vento passou pela fresta da porta e ela tateando pegou o vidro, que estava em cima do criado mudo e pingou nos olhos de Sandro. Dois pingos em cada olho e o menino começou á gritar.

 Danilo, o pai, correu para ajudar; acendeu a vela e olhando o rosto do menino ele também gritou, havia sangue no rosto da criança ou parecia ser isto. Gilda ainda estava segurando o remédio que pingara nos olhos da criança, era iodo, um remédio para curar machucados. O medicamento estava ali porque usara para passar no joelho de Sandro, quando ele caiu da bicicleta. A mulher estarrecida ficou sem ação. Ela não viu que havia outra medicação ali e no escuro se confundiu; os frascos eram parecidos.

O pai pegou o menino e levou até a pia do banheiro, lavando desesperadamente os olhos do filho, porém, ele não parava de gritar; dizia que estava queimando. Gilda não sabia o que fazer e saiu correndo chamar o vizinho, para leva-los ao Pronto Socorro.

Entraram pela emergência, pai e mãe desesperados e o menino gritando que não via nada. O médico de plantão ficou espantado quando examinou os olhos da criança; balançou a cabeça e pediu para a enfermeira localizar o médico da oftalmologia que atendia ali.

 Lavou novamente os olhos de Sandro com água destilada e colocou uma compressa esterilizada para aguardar o especialista.
O médico foi duro quando disse que havia pouca esperança do menino voltar a enxergar; os olhos pareciam queimados, estavam esbranquiçados. Entretanto, aguardariam o exame do colega dele.

  Danilo olhou com ódio para sua mulher e disse que ela era a culpada daquilo tudo. Gilda queria gritar, chorar e saiu correndo da sala de observação. A mulher estava desesperada e não viu as escadas; tropeçou e caiu no chão molhado da chuva da noite. Perdeu os chinelos e saiu enlouquecida pela avenida, queria morrer; nada mais importava.

 A mulher negra ouvia impassível, parecia conhecer aquela história; vez ou outra balançava a cabeça, deixando Gilda desabafar. O silêncio tomou conta do lugar, a moça soluçava baixinho apoiada no ombro amigo. Depois de longos minutos, a ouvinte disse que a levaria até a porta do quarto; precisava ver o filho, que chamava por ela.

Com cuidado disse que Gilda deveria enfrentar a situação, o filho precisava dela e sempre haveria uma saída. Que se agarrasse com Deus, que jamais ele a abandonaria. Quando chegaram ao corredor, a mulher abraçou Gilda, passou a mão em seus cabelos, ajeitando-os, e disse que fosse em paz, depois conversariam.

 A moça, já mais calma, seguiu sem olhar para trás e adentrou a sala de observação onde o filho estava. O marido segurava a mão da criança tentando acalmá-lo. Danilo olhou com raiva e perguntou onde estava. Gilda não respondeu nada, se aproximou e beijou o rosto do filho, que se agarrou a ela.

O médico entrou e pediu que alguém fosse buscar o remédio que foi usado, precisavam saber do que se tratava. A mulher se afastou dizendo que iria até sua casa e voltaria logo. 
Ao descer a escada do Hospital Gilda pisou em uma folha de árvore e só então, viu que estava descalça; sentiu-se envergonhada.
- Estaria vivendo um pesadelo? Pensou, olhou à sua volta e concluiu que era tudo muito real, não poderia acordar.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

"BUSCAMOS NO OUTRO, NÃO A SABEDORIA DO CONSELHO, MAS O SILÊNCIO DA ESCUTA. NÃO A SOLIDEZ DO MÚSCULO, MAS O COLO QUE A ACOLHEU." RUBEM ALVES-- O MELHOR LUGAR AINDA É DENTRO DE UM ABRAÇO AMIGO. EVA IBRAHIM


A LUZ DE SEUS OLHOS

UM ANJO ME AMPAROU

CAPIÍTULO UM 
       A mulher corria descalça, com os cabelos revoltos, no meio da Avenida. Os carros desviavam e tocavam as buzinas insistentemente. Porém, ela continuava sem rumo, parecia possuída por alguma coisa muito ruim. Nada via e certamente seria atropelada, era um fato iminente.

      Um motociclista foi desviar da mulher e acabou caindo no asfalto; o caos fora instalado. O transito parou para que o rapaz fosse socorrido e a doida continuava no meio dos veículos. Pegava nos automóveis e seguia apalpando como se fossem corrimões, perdera a noção do perigo. Muitos pedestres pararam para ver aquela cena, era de arrepiar, a mulher havia enlouquecido.

      Tinha uma aparência jovem, de cerca de trinta anos; em situação normal, deveria ser bonita. Entretanto, com os cabelos despenteados e o rosto desfigurado parecia ter escapado do manicômio. Não ouvia ninguém, queria fugir de alguma coisa muito grave; parecia impossível detê-la.
      Viera da antiga vila de italianos que existia naquela região, alguém comentou em meio ao burburinho. Outros diziam que ela saíra do Hospital gritando e chorando até chegar ali; não queria falar com ninguém.
      - Queria sumir e nunca mais voltar, foi o que conseguiram ouvir quando ela gritava, entre lágrimas.

       Com tanta gente aglomerada, ninguém percebeu que outra mulher apareceu e abraçou a desvairada, tirando-a da rua. Era uma mulher de cor negra, alta e forte, talvez seja por isso que Gilda se intimidou e concordou em sair dali. A mulher a conduzia como se conduz uma criança, sem largar a mão. Foi levada até uma padaria, onde lhe deram água com açúcar para se acalmar. A mulher, desfigurada, soluçava e não olhava para ninguém, apenas fitava o chão.

      Depois de algum tempo, ela contou que seu nome era Gilda e estava desesperada, porque pingara remédio errado nos olhos de seu filho e o médico dissera que ele estava cego.
A mulher negra, que a socorrera, permanecia em pé ao seu lado, queria protegê-la, foi o que todos pensaram; tinha um olhar firme e profundo.

      Gilda não sabia o que fazer, dizia soluçando com a cabeça entre as mãos; queria sumir e apagar aquela visão de sua mente. Estava em meio ao pior pesadelo que poderia ser imaginado por alguém. Foi um acidente, ela não teve culpa, jamais faria mal ao seu filho. Ela queria morrer, só ainda estava ali porque alguém teria que cuidar de Sandro e ela era a mãe dele.

       A mulher que a acompanhava nem sequer dissera seu nome, entretanto, transmitia uma paz à Gilda, como ela nunca sentira antes. As duas mulheres caminharam abraçadas e sentaram-se no banco da praça em frente ao Hospital onde o menino estava.  E, com a cabeça recostada no ombro amigo da estranha, Gilda começou a voltar á realidade; seu marido ficara lá dentro, depois de acusá-la de cegar o filho. Então, ela voltou a chorar e esconder o rosto com as mãos.

      - Nunca mais teria sossego, sua vida terminava ali; estava muito cansada. Gilda lamentava enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto. A mulher afagava seus cabelos como se fosse sua mãe. Gilda sentia-se amparada pelos braços fortes e a ternura que emanava daquele olhar.
       - Desabafe minha filha, pode chorar, estou aqui para ouvi-la, sussurrou a estranha.
       Então, ela sentiu muita vontade de abrir seu coração e começou a contar o que havia acontecido naquela madrugada.
Um texto de Eva Ibrahim,

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

"AQUELES QUE PASSAM POR NÓS, NÃO VÃO SÓS, NÃO NOS DEIXAM SÓS. DEIXAM UM POUCO DE SI, LEVAM UM POUCO DE NÓS." ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY---ALGUM DIA A GENTE SE ENCONTRA NOVAMENTE. EVA IBRAHIM



                   UMA NOVA VIDA.
                      CAPÍTULO DEZ.
        Clésio se mudara de cidade, sua esposa andava desconfiada de que fora traída e ele não queria mais problemas; era covarde demais para assumir qualquer coisa, preferiu fugir.
       Letícia ainda pensava nele com saudades, pois, tinha consigo um pedacinho dele; o grande amor de sua vida, seu filho André. Um menino bonito, saudável e brincalhão. Clésio não se esquecera de Letícia; por diversas vezes ele a procurara, queria saber do menino.
       Ela promoveu o encontro de pai e filho, dizendo que era um amigo e o menino não percebeu nada, almoçaram juntos. Foi uma despedida, disse Letícia, iria se casar e não queria que ele a procurasse mais. Clésio se foi sem prometer nada, não aceitara bem à notícia. Seu filho iria chamar outro homem de pai, partiu de cara amarrada.
       Agenor gostava de Júlio e fazia gosto no casamento da filha.
      - A menina tivera sorte, o rapaz era bom e trabalhador; seria um ótimo pai para André. Dizia Agenor para sua mulher, que concordava com a cabeça. O casamento fora marcado para o mês de dezembro, no dia do aniversário de cinco anos de André. A família faria uma grande festa; estavam muito felizes.       
      Uma semana antes do casamento Clésio foi esperar Letícia na saída do serviço; queria ficar com o menino. Estava visivelmente bêbado, falava alto gesticulando. A menina ficou assustada e tratou de tirá-lo da rua; entraram em uma Igreja.
      Os dois tiveram uma longa conversa, ela se casaria e ele continuava sua vida com a mulher e as duas filhas. A conversa foi difícil, pois, ele não queria nem uma coisa e nem outra; gostava das duas mulheres e dos filhos também. Ele se agarrou a ela e chorou. Ainda a amava; as lágrimas se fundiram, ela também chorou. Depois ele saiu apressado, não poderia detê-la. Letícia ficou olhando seu amor impossível partir; teria que se conformar.
      André e o irmãozinho de Letícia, seriam os pajens do casamento, pareciam gêmeos; estavam bonitos e felizes. Clésio fazia parte do passado, sua vida iria mudar. Júlio e André, essa era sua família; não poderia decepcionar mais ninguém.
       O casamento aconteceu tranquilamente e na hora dos cumprimentos, na porta da Igreja, ela viu o Clésio. Ele estava lá, queria vê-la vestida de noiva. No meio dos convidados ele passou despercebido, porém, Letícia o viu e acenou com a mão, dando adeus. Ali acabava sua história de amor proibido, agora tinha marido. Trataria de esquecer seu primeiro amor, que aconteceu forte, bonito, inesquecível, porém, impossível.
       A menina e seu marido saíram da festa para a viagem de lua-de-mel, deixando o filho com sua mãe. Quando os convidados saíram e as crianças foram dormir, Agenor abraçou Dora e sussurrou:
       -Estou feliz, casamos nossa menina, mas vou sentir muita falta dela. Quando vejo o André, preciso ver Letícia, os dois formam o corpo e a alma, devem sempre ficar juntos.
      Alguns anos se passaram e André ganhou um casal de irmãos, que ele ajuda a mãe a cuidar. Clésio nunca mais apareceu e o casamento de Letícia vai muito bem. Júlio é um ótimo pai para os três filhos, pois, ele reconheceu André como sendo seu filho.
     Aqui termina a história de Letícia, a menina que escondeu a gravidez até o bebê nascer.
       Um texto de Eva Ibrahim.
Iniciaremos outra história na próxima semana.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

"PROS ERROS, PERDÃO. PROS FRACASSOS, CHANCE. PROS AMORES IMPOSSÍVEIS, TEMPO." LUÍS FERNANDO VERISSÍMO--- AMAR É O SEGREDO DE UMA VIDA FELIZ. EVA IBRAHIM.

PASSANDO A LIMPO.
CAPÍTULO NONO.
        A menina voltou para casa com seu filho e todos os acolheram com carinho. Dora estava feliz e agradecida por seu marido ter perdoado a filha, que estava sinceramente arrependida por ter escondido sua gravidez. Entretanto, ela temia que Agenor fosse tirar satisfações com o pai de André. O marido não sossegaria até esclarecer os fatos, disso ela tinha certeza.
       Letícia continuava trabalhando na padaria e Dora ficava com seu neto. Parecia que estava tudo bem naquela casa; porém, haviam notado a presença de um veículo rondando por ali todas as tardes; era o Clésio querendo ver o filho.
       O pai, preocupado, disse a Letícia que não iria tolerar que ela falasse com aquele cafajeste, ele iria espera-lo para conversar. Agenor fez sinal ao veículo de Clésio para que parasse, queria colocar as coisas em pratos limpos. Não permitiria que aquele homem rondasse a sua casa.
      Clésio desceu do automóvel e com cara de pau disse que queria ver seu filho e ajudar a cria-lo. A vontade de Agenor era pular no pescoço daquele safado, mas, prometera a filha que iria ter calma. O homem disse a Clésio que se afastasse de Letícia ou contaria tudo à sua esposa, não queria e não precisava de ajuda para nada. Se ele insistisse iria chamar a polícia, o menino pertencia a sua família e a mais ninguém.
      O rapaz não tinha argumentos para insistir e foi saindo cabisbaixo. Agenor entrou em sua casa avisando à sua esposa que nunca mais queria ouvir falar naquele homem. André era de Letícia e deles; o menino seria criado junto com seus outros filhos.
       Clésio não desistira, procurava ver a moça quando ela saia do trabalho, não se conformava em ficar longe da criança. Queria conhecer o menino, pegá-lo no colo. Letícia se comovia com os argumentos de Clésio e combinou um encontro.  Iria levar o menino para tomar vacina e deixaria que ele visse André.
       O pai pode, então, conhecer o filho, a menina não queria negar esse direito a ele; ainda o amava. Depois, Clésio se foi com um jeito triste, não poderia reconhecer o menino como seu filho, nem lhe dar o nome.
      Nice ajudava sua irmã a cuidar das crianças, que cresciam como irmãos. Agenor se apegara ao menino com amor de pai.  André saia com o avô e o tio, o irmãozinho mais novo de Letícia. Pareciam irmãos, além de parecidos eram do mesmo tamanho.
      O tempo corria e quando Agenor chegava à sua casa e não via o neto, ficava nervoso. Dizia que mãe e filho pareciam o corpo e a alma; queria vê-los sempre juntos.
      Quando André estava com três anos, Letícia conheceu o Júlio; um mineiro recém-chegado de Uberlândia, com quem fizera amizade. Ela o tinha como amigo, porém, ele a amava e dizia que iria se casar com ela. Letícia ria alto, não pensava em se casar; tinha um filho para criar. A menina estava feliz no seio de sua família; o pai e a mãe lhe davam o apoio necessário e de vez em quando ela via o Clésio, que ainda balançava seu coração.
      Letícia sabia que deveria se manter afastada daquele homem, mas ainda o amava e ele também gostava dela. Então, ela se contentava em sonhar com ele. Júlio era insistente, queria namorar a menina.
      -Letícia continuava obesa como sempre e assim mesmo encontrava pretendente, comentou sua irmã mais velha em conversa com a tia Nice.
      -Pudera! Era vistosa e tinha um sorriso alegre; uma menina cheia de vida; Argumentava Nice.
      Durante dois anos Júlio procurou aproximar-se de Letícia, que já aceitara o namoro com ele. Não era um grande amor, mas um amor tranquilo, que lhe fazia bem.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

"A BELEZA AGRADA AOS OLHOS, MAS É A DOÇURA DAS AÇÕES QUE ENCANTA A ALMA." VOLTAIRE--- A VIDA É ASSIM, O AMOR SEMPRE VENCE. EVA IBRAHIM.

PAI HERÓI.
CAPÍTULO OITO.
  Agenor estava sentado na varanda descansando e ouvindo o seu canário do reino cantar, enquanto esperava Dora preparar o almoço; vez ou outra se levantava para mudar a gaiola de lugar. O homem gostava de ouvir seu passarinho cantar; ficava com o coração mais leve, dizia aos amigos.
     Letícia com André no colo abriu o portão e entrou; quando viu o pai parou, estava com muitas saudades dele, queria lhe dar um beijo. Os dois sempre foram muito ligados; tinham afinidades e gostavam das mesmas coisas. Letícia vivia grudada no pai quando ele estava em casa ou saia para passear de automóvel. Agenor dizia, carinhosamente:
     - Vamos minha “bambina”. E, a menina entrava no veículo toda prosa e saltitante.
      Não guardava rancor dele; queria abraça-lo e pedir perdão; entendia que a surpresa o deixou desnorteado.
      O pai quando viu a filha ficou paralisado, muitas vezes sonhara com aquela situação, porém, agora era realidade. O homem não conseguia tirar os olhos do neto; parecia encantado. Em seguida seu irmão entrou com a mulher, estavam com Letícia; queriam ajuda-los promovendo a reconciliação entre pai e filha.
      Letícia se aproximou e com os olhos cheios de lágrimas disse:
     - Eu errei e o enganei, perdoa-me pai, eu preciso de você.
     A filha ali parada com o bebê no colo e seu irmão olhando para ele o emocionou; precisava respirar, seu coração estava disparado. Como negar perdão à sua menina, que agora era mãe e lhe pedia guarida com o seu neto no colo. Pensava o homem sem ação.
     Que monstro ele seria se não a perdoasse, também era um pecador. Então, Agenor estendeu os braços e pegou o bebê no colo. Ele sempre gostara de crianças e aquele era um menino especial. Dos seus olhos escorriam lágrimas e seu coração só se acalmou quando Letícia o abraçou e beijou; aquele era seu pai.
      Dora ouviu o barulho e foi ver quem havia chegado. Quando presenciou a cena entre pai e filha, a mulher parou e agradeceu a Deus por ter ouvido suas preces; estava feliz com sua família reunida novamente.
     Agenor sentia-se constrangido diante da filha, porém, tentou parecer o mais natural possível. Quando seu irmão e cunhada saíssem ele queria saber quem era o pai de André. Perdoava a filha, mas tinha o direito de saber quem se aproveitara dela.
     Letícia sabia que o pai iria lhe perguntar do pai de seu filho, era inevitável a explicação final. E, ela não poderia mentir se quisesse voltar à casa de seus pais.
     O almoço de domingo transcorreu normalmente e André dormiu na antiga cama de Letícia, que continuava intacta, a espera dela. A família estava alegre com a presença de mãe e filho naquela casa. Teriam que ficar morando ali, pediram os irmãos de Letícia ao pai.
      Agenor chamou a filha para conversar. Ela poderia voltar para casa, mas teria que dizer quem era o responsável por tudo aquilo.
      Letícia abaixou a cabeça e disse ao seu pai que não iria mentir mais. Ela fora culpada, juntamente com Clésio, se apaixonara pelo homem que a cortejava e nunca perguntou se era casado ou solteiro. Entregou-se a ele sem pensar nas consequências, era imatura e inexperiente. Somente quando ficou grávida ela ficou sabendo que ele era um homem casado, por isso se calou. Não queria provocar um aborto como Clésio sugerira, não mataria o próprio filho; preferia morrer. Então, duas lágrimas desceram pelo rosto da menina.
      O pai se comoveu com a sinceridade da filha e prometeu não fazer nenhuma besteira.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

"SUPERAR É PRECISO; SEGUIR EM FRENTE É ESSENCIAL. OLHAR PARA TRÁS É PERDA DE TEMPO. PASSADO, SE FOSSE BOM ERA PRESENTE." CLARICE LISPECTOR.

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UM POUCO DE AMOR.
CAPÍTULO SETE.
      Quando Dora adentrou ao quarto do Hospital, seus olhos encheram-se de lágrimas; ela já amava os dois, mãe e filho. Letícia ao ver a mãe e a tia ali, chorou e depois voltou os olhos ao seu filho, dizendo que aquele era o André, seu bebezinho. As três mulheres se abraçaram e choraram juntas, havia amor naquele lugar. Nada mais importava, as mentiras e omissões ficaram lá atrás, agora era hora de olhar à frente e criar aquele lindo menino de olhos negros.
      Depois, Dora perguntou à filha como ela suportara tudo aquilo sozinha e a resposta comoveu a mãe e a tia.
      - Eu nunca estive só, pois, Deus estava sempre comigo. Perdoa-me mãe, por tê-la enganado. A menina abaixou os olhos, estava envergonhada.
      Dora respondeu com a voz embargada, seu coração de mãe já havia perdoado a filha.
      - Eu sabia que havia alguma coisa errada com você, porém, não acreditei na minha intuição. Letícia eu amo você, seus irmãos e agora o seu filho também, como se fosse meu. Nada me deve, vamos criar o André juntas.
      - Mãe onde está meu pai? Ele ficou muito bravo? A menina perguntou, estava preocupada com a reação do pai.
Dora disse que ele estava muito nervoso, que deveriam deixar o tempo passar para acalmá-lo. Letícia concordou, seu pai devia estar sofrendo muito pela decepção sofrida. As duas irmãs, Dora e Nice, foram para casa, estavam mais calmas, Letícia e o bebê estavam bem.
      Agenor chegou à sua casa quando o dia estava amanhecendo; entrou rapidamente sem olhar para Dora, pegou a roupa de trabalho e saiu batendo a porta. A mulher ficou parada olhando para o marido, queria lhe contar da criança, porém, ele a ignorou.
      A mãe e a filha mais velha foram visitar a menina no Hospital, enquanto Nice ficava com os irmãos menores. A mãe queria saber quem era o pai da criança, mas, Letícia dizia que não tinha pai, era só seu.
      O médico avisou que a menina teria alta no dia seguinte e a mãe ficou preocupada com o pai, pois este dissera que Letícia não voltaria para casa. Dora iria conversar com o marido, depois do jantar; ela sabia que ele estava zangado, mas apelaria para o amor que ele tinha pelos filhos. Agenor sempre fora um pai amoroso.
      Entretanto, seu marido chegou cheirando a álcool e foi se deitar no quartinho dos fundos, não quis comer nada. Fechou a cara, não queria conversa com ninguém. Quando Agenor se levantou para trabalhar, a mulher lhe perguntou se ele iria buscar a filha no Hospital.
      Olhando com ódio para Dora, ele respondeu:
     - Não tenho filha em nenhum Hospital, a minha filha Letícia já morreu, portanto, me deixe em paz.
     A mulher tremeu de medo; ele não aceitaria a filha e o neto em sua casa. Dora começou a chorar, não poderia abandonar a filha com o bebezinho.
A filha mais velha levantou a hipótese de levar Letícia para a casa dos avós, pais de Dora e Nice. O casal de idosos concordou prontamente, acolheriam a neta e o bisneto; Nice ficou feliz, gostava da sobrinha.
       Letícia recebeu alta e foi para a casa de seus avós; o pai não a perdoara. A menina deveria ficar com os avós e sua tia Nice até aquela história se resolver.
       Agenor chegava tarde à sua casa e ia se deitar no quartinho dos fundos, ignorava sua mulher, pois, dizia que ela era culpada pelo erro de Letícia. Um mês inteiro se passou sem que Dora ouvisse a voz de seu marido. A mulher ia todas as tardes visitar a filha e o neto, que estavam muito bem.
       Certo dia, Letícia levou o bebê para tomar vacina e quando voltava empurrando o carrinho, Clésio apareceu querendo ver o filho. A menina ficou branca e quase desmaiou. Agarrou o bebê no colo e disse que iria gritar se ele se aproximasse. O filho era só dela, já que ele não queria que a criança nascesse.
      Clésio disse que queria ajuda-la e ela recusou. Seu pai o mataria se soubesse que ele era o responsável por sua gravidez. Que sumisse para sempre, e saiu andando. Ele ficou parado olhando a menina empurrando o carrinho, sentindo pena de si mesmo.
      Dora com muito jeito se aproximava do marido; ele já aceitava conversar com ela e os outros filhos. Parecia mais tranquilo, mas não queria saber de Letícia.
      André estava com três meses e Letícia planejava batizar o bebê. A menina queria a presença de seu pai, já que o irmão dele seria o padrinho do menino. 
No domingo, seu pai estava em casa e ela resolveu ir até lá falar com ele; queria lhe pedir perdão.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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