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sexta-feira, 18 de abril de 2014

"SUPERAR É PRECISO; SEGUIR EM FRENTE É ESSENCIAL. OLHAR PARA TRÁS É PERDA DE TEMPO. PASSADO, SE FOSSE BOM ERA PRESENTE." CLARICE LISPECTOR.

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UM POUCO DE AMOR.
CAPÍTULO SETE.
      Quando Dora adentrou ao quarto do Hospital, seus olhos encheram-se de lágrimas; ela já amava os dois, mãe e filho. Letícia ao ver a mãe e a tia ali, chorou e depois voltou os olhos ao seu filho, dizendo que aquele era o André, seu bebezinho. As três mulheres se abraçaram e choraram juntas, havia amor naquele lugar. Nada mais importava, as mentiras e omissões ficaram lá atrás, agora era hora de olhar à frente e criar aquele lindo menino de olhos negros.
      Depois, Dora perguntou à filha como ela suportara tudo aquilo sozinha e a resposta comoveu a mãe e a tia.
      - Eu nunca estive só, pois, Deus estava sempre comigo. Perdoa-me mãe, por tê-la enganado. A menina abaixou os olhos, estava envergonhada.
      Dora respondeu com a voz embargada, seu coração de mãe já havia perdoado a filha.
      - Eu sabia que havia alguma coisa errada com você, porém, não acreditei na minha intuição. Letícia eu amo você, seus irmãos e agora o seu filho também, como se fosse meu. Nada me deve, vamos criar o André juntas.
      - Mãe onde está meu pai? Ele ficou muito bravo? A menina perguntou, estava preocupada com a reação do pai.
Dora disse que ele estava muito nervoso, que deveriam deixar o tempo passar para acalmá-lo. Letícia concordou, seu pai devia estar sofrendo muito pela decepção sofrida. As duas irmãs, Dora e Nice, foram para casa, estavam mais calmas, Letícia e o bebê estavam bem.
      Agenor chegou à sua casa quando o dia estava amanhecendo; entrou rapidamente sem olhar para Dora, pegou a roupa de trabalho e saiu batendo a porta. A mulher ficou parada olhando para o marido, queria lhe contar da criança, porém, ele a ignorou.
      A mãe e a filha mais velha foram visitar a menina no Hospital, enquanto Nice ficava com os irmãos menores. A mãe queria saber quem era o pai da criança, mas, Letícia dizia que não tinha pai, era só seu.
      O médico avisou que a menina teria alta no dia seguinte e a mãe ficou preocupada com o pai, pois este dissera que Letícia não voltaria para casa. Dora iria conversar com o marido, depois do jantar; ela sabia que ele estava zangado, mas apelaria para o amor que ele tinha pelos filhos. Agenor sempre fora um pai amoroso.
      Entretanto, seu marido chegou cheirando a álcool e foi se deitar no quartinho dos fundos, não quis comer nada. Fechou a cara, não queria conversa com ninguém. Quando Agenor se levantou para trabalhar, a mulher lhe perguntou se ele iria buscar a filha no Hospital.
      Olhando com ódio para Dora, ele respondeu:
     - Não tenho filha em nenhum Hospital, a minha filha Letícia já morreu, portanto, me deixe em paz.
     A mulher tremeu de medo; ele não aceitaria a filha e o neto em sua casa. Dora começou a chorar, não poderia abandonar a filha com o bebezinho.
A filha mais velha levantou a hipótese de levar Letícia para a casa dos avós, pais de Dora e Nice. O casal de idosos concordou prontamente, acolheriam a neta e o bisneto; Nice ficou feliz, gostava da sobrinha.
       Letícia recebeu alta e foi para a casa de seus avós; o pai não a perdoara. A menina deveria ficar com os avós e sua tia Nice até aquela história se resolver.
       Agenor chegava tarde à sua casa e ia se deitar no quartinho dos fundos, ignorava sua mulher, pois, dizia que ela era culpada pelo erro de Letícia. Um mês inteiro se passou sem que Dora ouvisse a voz de seu marido. A mulher ia todas as tardes visitar a filha e o neto, que estavam muito bem.
       Certo dia, Letícia levou o bebê para tomar vacina e quando voltava empurrando o carrinho, Clésio apareceu querendo ver o filho. A menina ficou branca e quase desmaiou. Agarrou o bebê no colo e disse que iria gritar se ele se aproximasse. O filho era só dela, já que ele não queria que a criança nascesse.
      Clésio disse que queria ajuda-la e ela recusou. Seu pai o mataria se soubesse que ele era o responsável por sua gravidez. Que sumisse para sempre, e saiu andando. Ele ficou parado olhando a menina empurrando o carrinho, sentindo pena de si mesmo.
      Dora com muito jeito se aproximava do marido; ele já aceitava conversar com ela e os outros filhos. Parecia mais tranquilo, mas não queria saber de Letícia.
      André estava com três meses e Letícia planejava batizar o bebê. A menina queria a presença de seu pai, já que o irmão dele seria o padrinho do menino. 
No domingo, seu pai estava em casa e ela resolveu ir até lá falar com ele; queria lhe pedir perdão.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

"DEUS TEM ESTRADAS, ONDE O MUNDO NÃO TEM CAMINHOS." MEIMEI-- A PRIORIDADE É SER FELIZ. EVA IBRAHIM.

O SENTIDO DA VIDA
CAPÍTULO SEIS
A menina foi conduzida para dentro da sala de emergência e o enfermeiro fechou a porta na cara de Agenor, o pai de Letícia, que deu um passo para trás. Em seguida apareceu uma enfermeira, já cinquentona e com voz grossa lhe ordenou:
- Aguarde lá fora, por favor. Depois entrou na sala onde estava Letícia.
O homem foi saindo, não ousaria desobedecer tão incisiva ordem.
Vinte longos minutos se passaram e a enfermeira apareceu para lhe dar notícias da filha. A mulher foi logo dizendo:
Parabéns, o senhor vai ser avô, o bebê já está a caminho; sua filha está sendo levada para a sala de parto.
Agenor ficou extático; perdeu a voz e ficou pálido.
 -Não, eles estavam enganados, a filha dele estava com cólicas de rim, ele queria argumentar, porém, sua voz não saia.
Quando a enfermeira ia entrar, ele conseguiu soltar um som que mais parecia um grunhido.
-Espere, não pode ser Letícia, ela não está grávida.
A moça que o senhor trouxe, está grávida e daqui a pouco o bebê estará em seus braços; é só aguardar um pouco mais.
A mulher, com ar vitorioso, entrou balançando as gorduras do traseiro volumoso.
 Agenor perdeu o chão, não conseguia entender, aquilo não poderia ser verdade. Sua mulher não iria esconder aquele fato dele. E a vergonha que ele teria que enfrentar; o que diria aos parentes e amigos? Ele não merecia passar por aquela situação, pensava rápido como se fosse um filme passando por sua cabeça.
Subiu no veículo e voltou para sua casa, iria tirar satisfação com sua mulher. O homem dirigia loucamente. Mataria o pai da criança, assim que descobrisse quem era o cafajeste que fizera mal à sua filha. Sua vida estava destruída; ele não aguentaria tamanha vergonha. Estas ideias martelavam em sua cabeça.
Chegou cantando pneu e Dora já estava na porta para saber notícias da filha.
Agenor estava irado, mãe e filha o enganaram; entrou gritando e empurrando sua mulher.
- Que espécie de brincadeira era aquela?
- Letícia estava grávida e ninguém lhe contou?
-Quem era o pai da criança?
Dora começou a chorar. As crianças acordaram e todos foram para a sala. Boquiabertos e sem entender nada, as crianças ficaram ouvindo o pai gritar com a mãe.
- A mulher, desesperada, dizia que estava desconfiada, porém, a menina sempre negava e como não tinha namorado, ela achava que estava enganada.
As crianças menores começaram a chorar, nunca tinham visto o pai tão alterado. Agenor dizia que Letícia estava morta para ele e que não a queria mais ali. Então, ele percebeu que estava aterrorizando os filhos e por um momento voltou à razão.
Agenor não era mau, apenas estava nervoso; queria fugir dali e se esconder. Em seguida, deixou a sala, teria que esfriar a cabeça.
Saiu cantando pneus e Dora sentou-se no sofá, estava pálida, sem ação. A filha mais velha disse que iria chamar a tia Nice para ajudar sua mãe naquele momento de desespero. O relógio da sala marcava uma hora da manhã.
Nice era irmã de Dora e madrinha de Letícia; uma balzaquiana solteirona que vivia com os pais idosos. Depois de meia hora a moça chegou esbaforida, viera correndo na escuridão da noite. Não encontrara ninguém, dissera ao entrar na casa da irmã.
Sentou-se ao lado de Dora, que lhe contou o drama que havia desabado sobre ela. A moça arregalou os olhos e depois sorriu; a irmã já era avó, teria que ficar feliz. Os fatos verdadeiros veriam depois, agora iriam conhecer o bebê.
Dora foi arrastada pela irmã Nice, que ria ao pensar que já era tia avó. Seguiam pela noite adentro em uma caminhada de cerca de três quilômetros. Com a brisa fria da madrugada a tensão sofrida parecia diminuir. A caminhada fez bem à Dora, até conseguiu sorrir ao pensar no bebezinho de Letícia.
Depois fechou a cara:
-Como sua filha conseguira esconder a gravidez? Deve ter sofrido muito; pobre menina; lamentou a mulher chorosa. Entretanto, logo foi envolvida pelos braços de sua irmã, que mais parecia um anjo caído do céu.
Chegaram ao Hospital e conseguiram permissão para dar uma olhada em Letícia, pois, esta era menor de idade.
Quando adentraram ao quarto viram a menina dando o peito para o filho pequeno. Era um lindo menino de dois quilos e oitocentos gramas. Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.


sexta-feira, 4 de abril de 2014

"CADA COISA TEM SUA HORA E CADA HORA O SEU CUIDADO." RACHEL DE QUEIROZ ---QUE SEJA ALEGRE O QUE VIER. EVA IBRAHIM

DEUS; CUIDA DE MIM.
CAPÍTULO CINCO.

        Letícia não procurou o médico e nunca disse nada, sobre seu estado gravídico, à ninguém. Curtira os enjoos da gravidez inicial e as azias costumeiras às gestantes, sem reclamar. Comia menos para não engordar muito, assim conseguia manter quase o mesmo peso.
        Em sua ingenuidade, achava que poderiam tirar a criança dela ou dá-la ao pai para criar. Em nenhum momento se preocupou consigo mesma, pensava somente no bebê. Lá no íntimo, ela tinha certeza de que seria um menino, pois, sempre que pensava nele ou acariciava sua barriga, a figura de um bebê vestido de azul lhe vinha à mente. Até já lhe dera o nome de André; era seu filho querido.
        A menina sabia que o bebê seria um presente de Natal, porém, não sabia o dia certo. Letícia juntara informações ouvidas de sua mãe e outras lidas em revistas femininas, que sua irmã comprava, e, tirara suas conclusões.
       Ela sabia que seu segredo tinha hora para acabar, então, entrou na Igreja e ajoelhada pediu para Deus ajuda-la, depois chorou até desabafar. Estava escurecendo quando ela desceu as escadas da Igreja; estava cabisbaixa, sentia-se aliviada. Agora, Deus também conhecia seu segredo e ele daria um jeito de André nascer e ficar com ela; era isso que pedira a ele.
      Tantas moças já tiveram filhos, antes de se casarem, ela não seria a primeira e nem a última; esse pensamento a acalentava. Porém, quando pensava em seu pai esbravejando e vindo para seu lado, ela tremia de medo. Ele poderia se virar contra a mãe dela também; pobre mulher que não sabia de nada. Dora, a mãe tinha desconfiança da situação, porém, Letícia estava obesa como sempre e não saia de casa, então, a mãe sossegava. Depois pensava que seus pensamentos eram cruéis para com sua filha, iria se confessar.
       A menina, em suas noites de angustia, pensava em alguma saída, porém, era difícil, porque o pai da criança era casado. Letícia tinha uma tia, irmã de sua mãe, de quem gostava muito, entretanto, se contasse à Nice, todos ficariam sabendo. Na certa ela tentaria resolver a situação e descobriria o Clésio e a mulher dele também.
       Não, não, ela não queria aquilo, ficaria calada para o bem de todos. Nunca diria quem era o pai de André, certamente seu pai o mataria e depois iria preso por sua culpa. Em nenhuma situação ela e o bebê ficariam bem; teria que esperar.
       Certa noite ela começou a vomitar e sentir muitas cólicas, o que a levou a chamar sua mãe e esta pediu ao pai para leva-la ao Hospital. Chegando lá, um médico sonolento a atendeu e disse que poderia ser cólica de rim e lhe prescreveu uma medicação para dor. Ela tomou a medicação e depois foi para casa, estava melhor.
       O médico nem se deu ao trabalho de lhe perguntar se estava grávida, queria se livrar dela logo. Letícia voltou para casa e todos acreditaram que ela tivera uma cólica de rim. A dor passou e ela voltou à sua vida normal.
        Ainda faltavam dois meses para o bebê nascer e ela começava a sentir cólicas, que poderiam ser de trabalho de parto prematuro. Ela usava a cinta modeladora, que a cada dia ficava mais apertada; o bebê ganhava peso. Letícia procurava não pensar em nada, acreditava que Deus cuidava dela e do bebê. Quando sentia cólicas tomava o remédio que o médico lhe dera. Para todos os seus familiares, ela estava com pedras nos rins. O pai dissera que iria leva-la a um especialista em urologia e ela se esquivava, dizendo que estava melhor.
       Dezembro chegou com muita chuva e vento e Letícia foi se deitar com algumas dores na região lombar e no baixo ventre.  Já passava da meia noite, quando ela começou a gritar, as dores estavam insuportáveis.
       O pai foi ver o que estava acontecendo e encontrou a menina pálida de dor, teria que leva-la ao Hospital. Dora ajudou a filha a entrar no automóvel e viu o veículo partir. Aquele sentimento de que havia algo errado voltou a tomar conta da mulher, que começou a orar. Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 28 de março de 2014

"É PRECISO TER O CAOS DENTRO DE SI PARA GERAR UMA ESTRELA." NIETZSCHE-- COM O SILÊNCIO TORTURAMOS. EVA IBRAHIM

  
            A TRISTEZA E O SILÊNCIO.
                 CAPÍTULO QUATRO
        Letícia entrou sorrateiramente, não queria ver ninguém; aquilo que o Clésio dissera não podia ser verdade. Ele falou em aborto e tudo que ela sabia de aborto é que o bebê era tirado do útero da mãe. Sua mãe tivera um aborto espontâneo, ficara internada no Hospital e lhe explicara sobre o aborto. Nunca iria provocar a morte de seu filho, porque já o amava; seu coração estava sangrando, não queria ver ninguém. 
        Ela tinha vontade de jogar aquele dinheiro, que estava no envelope, no lixo ou jogar na cara de Clésio; nem sequer abrira para ver quanto tinha. Porém, teria que, momentaneamente, escondê-lo de sua mãe. Enfiou o envelope dentro de uma calça jeans velha; ninguém mexeria ali, disso ela tinha certeza.
       Tomou banho e deitou-se. Sua mãe foi ver o que havia acontecido e ela disse estar indisposta, queria um chá e um analgésico. A mãe concordou, poderia ser uma virose. Letícia chorou até pegar no sono e acordou com o despertador. Levantou-se para trabalhar, estava arrasada, precisava pensar muito. 
       Nunca mais queria ver o Clésio, além de casado, era covarde, pois a descartou como se fosse um trapo velho. Não tomou café, nada passava em sua garganta; parecia que estava travada, só conseguia chorar. Os colegas da padaria ficaram com pena de Letícia, pois, seus olhos lacrimejaram o dia todo. 
- Estava gripada. Dissera a menina, era uma desculpa para encobrir tristeza.
      Depois de uma semana inteira sem conseguir comer, havia emagrecido; a mãe e algumas pessoas notaram. Letícia até sorriu.
 - Que bom! Pensou, assim teria tempo para resolver a sua situação. 
      Sua irmã levou para sua casa um catálogo de roupas íntimas, onde havia diversas cintas modeladoras e sugeriu à sua irmã que comprasse uma. Letícia sentiu que poderia ajuda-la a esconder a barriga e prontamente marcou uma cinta modeladora.
      De tanta tristeza, ela se alimentava mal e emagreceu ainda mais e quando a cinta chegou, ela pode disfarçar a gravidez. Ninguém poderia imaginar que aquela menina estivesse esperando um bebê; era apenas uma menina fora do peso. 
       Letícia não saia de casa, fato que acalmou o coração de sua mãe, que trazia uma desconfiança lá no fundo do peito. Deveria esquecer aqueles pensamentos, a menina estava inocente; era gorda desde pequena e em alguns casos as regras são irregulares, estava ainda se formando, dissera o médico, há algum tempo.
 - Julgar mal a filha deveria ser pecado. Pensou a mulher temerosa.
      Os meses iam passando lentamente e Letícia sentia que sua barriga estava crescendo; quando ela tirava a cinta sua barriga saltava. E, ela colocava a cinta ainda no banheiro, para ninguém desconfiar. Era um segredo só seu, não contaria a ninguém, o futuro a Deus pertencia e ela esperava que ele a amparasse. 
Letícia sempre ouviu dizer que Deus não desampara seus filhos e ela tinha mais um filho de Deus na barriga; então, eram dois para ele cuidar.
      Certo dia, na saída da padaria, ela viu o Clésio, que a estava esperando, porém, ela passou por ele sem olhar. Ele a chamou, mas ela seguiu em frente; temia que ele tirasse a criança dela. Nunca mais falaria com ele, o bebê seria só dela, não tinha pai.
      Com certeza, a consciência de Clésio deveria estar pesada, pois, ele a deixara na rua da amargura e agora queria saber se ela fizera ou não o aborto, já que seu corpo nada revelava. Ela comia pouco e mantinha praticamente o mesmo corpanzil de sempre. 
Letícia o havia enganado, então sorriu baixinho; que a dúvida o atormentasse, desejou a menina.
       Quando viu o pai de seu filho, lembrou-se do dinheiro, que estava escondido. Compraria roupas e tudo que o bebê precisasse, era uma boa quantia e ficaria guardada até ele nascer.
Um texto de Eva Ibrahim. ,
Continua na próxima semana.


sexta-feira, 21 de março de 2014

"NÃO VOU DEIXAR A PORTA ENTREABERTA. VOU ESCANCARÁ-LA OU FECHÁ-LA DE VEZ; PORQUE PELOS VÃOS, BRECHAS E FENDAS PASSAM SEMI VENTOS, MEIAS VERDADES E MUITA INSENSATEZ." CECÍLIA MEIRELES. --TEMPESTADES NÃO SÃO ETERNAS. EVA IBRAHIM

            TIRANDO A MÁSCARA
              TERCEIRO CAPÍTULO
      Clésio chegou para o encontro, estava feliz e sorridente; aquela menina tinha o poder de deixa-lo tranquilo. Amava seu cheiro, sua pele fresca e seu sorriso. Sua vida dupla o deixava satisfeito; ele amava as filhas e precisava da mulher para cuidar da família. Letícia era um doce capricho, que seria descartado posteriormente, porém, não tinha data e ele não queria pensar nisso.
   Em sua ingenuidade e inexperiência, Letícia se preparara o dia todo para lhe dar a grande notícia; iria lhe dar um filho. Passara o dia imaginando que seria um menino, igual ao pai; depois ficara pensando que nome daria ao filho de seu amor. Em seguida ponderou que, seria melhor deixar o pai escolher o nome do menino, queria agradá-lo.
O encontro aconteceu entre abraços e beijos e no auge da paixão ela disse:
     -Estou grávida, vamos ter um filho. Clésio a afastou prontamente e pálido, perguntou?
      - Que história é essa? Você está tomando anticoncepcional ou não está?
A menina gaguejou e disse que se esquecera de tomar o remédio algumas vezes.
Clésio a segurou pelos braços e apertando disse:
      - Eu sou um homem casado e tenho duas filhas para criar, você não tinha o direito de deixar isso acontecer. Eu nunca lhe prometi casamento porque já sou casado.
Letícia começou a chorar. Entre um soluço e outro ela dizia que não premeditara nada e só percebera agora que sua barriga estava crescendo e alguma coisa mexendo lá dentro.
       Clésio perdeu a cor, ele queria sumir, balançava a cabeça; não podia acreditar que tinha um problema desse tamanho para resolver. Só agora ele percebera que não pensara na gravidade do que estava fazendo. Coçando a cabeça ele tentava pensar em alguma coisa que o livrasse daquela responsabilidade.
Um mundo de possibilidades passava por sua cabeça. Ele poderia ser preso por corrupção de menores. Sua mulher o abandonaria e não deixaria que ele visse as filhas ou o pai de Letícia o mataria. Qualquer uma dessas hipóteses já o arruinaria para sempre.
      - O que fazer? Olhava para a menina, que chorava sentada no banco do passageiro de seu veículo.
     – Como fugir daquela responsabilidade? Teria que pensar, pensar e pensar...
Olhou para a menina e disse:
 -Você tem noção do tamanho da encrenca em que estamos metidos?
Letícia não conseguia responder; o que para ela era motivo de felicidade para ele era a tormenta. A incerteza tomara conta dela; a decepção fora muito grande. Ele a levou de volta e pediu que não comentasse com ninguém, no dia seguinte falariam novamente; precisava pensar.
A menina entrou e foi direto para seu quarto, estava com os olhos vermelhos e não queria que ninguém a visse. Entretanto, sua mãe percebeu e foi atrás dela fazendo mil perguntas, das quais ela se esquivou dizendo estar com muita dor de cabeça. A mãe, preocupada, foi buscar um comprimido e um copo de água para ela tomar; depois apagou a luz para a filha descansar.
Ela não conseguia dormir, pois, tivera a maior decepção de sua vida; Clésio era casado. Ela não podia acreditar que aquele homem que ela amava a enganara. Ficaria mal falada e seu pai a mataria se tivesse um filho de um homem casado.
 Clésio passara a noite toda sentado no vaso do banheiro com uma súbita diarreia; não conseguia achar uma saída decente para justificar a gravidez de uma garota de quinze anos. Pensou até em suicídio; seria uma saída estratégica, porém, ele era muito covarde para tentar contra a própria vida.
Pensou em procurar um médico e pagar um aborto; certamente seria a melhor solução. Letícia sairia ilesa dessa história e ele continuaria sua vida de garanhão. Clésio tinha dinheiro guardado para uma emergência e resolveu pegá-lo, assim que o Banco abrisse e levaria para a Letícia. Depois foi se deitar, estava mais tranquilo. Parecia ter encontrado a solução, a menina teria que concordar.
         O dinheiro queimava em seu bolso, o homem não via a hora de dá-lo à Letícia e fazer com que ela prometesse procurar um médico. Ele não poderia aparecer; ninguém poderia saber de sua existência.
         Quando a menina saiu da padaria ele a abordou dizendo que naquele envelope havia dinheiro suficiente para ela pagar um aborto. Letícia ficou pálida e sem ação, não conseguia entender o que ele queria dizer com aquilo. Ele pegou sua mão onde colocou o envelope, fechando-a e depois disse adeus. Ela devia esquecer que o conhecera, ele não queria problemas. Subiu em sua caminhonete e desapareceu.
      Ela ficou parada no meio da calçada sem saber o que fazer; depois lentamente seguiu para sua casa, estava desolada.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 14 de março de 2014

"E, O BONITO DESTA VIDA É PODER COSTURAR SONHOS, BORDAR HISTÓRIAS E DESATAR OS NÓS DE NOSSOS DIAS." CIDINHA ARAUJO.-- SONHAR É VIVER...EVA IBRAHIM

                       DOCE MISTÉRIO
                 SEGUNDO CAPÍTULO
        AH! O Clésio, seu grande amor, que apareceu na padaria e passou semanas cortejando-a. Sentava-se em uma cadeira, nos fundos do estabelecimento, então, Letícia levava o café com pão quente e manteiga; depois ele degustava seu café, sem tirar os olhos dela. Parecia um encantador de serpentes, que a encantou; pobre menina ingênua!
        Ele era um homem casado, com duas filhas menores, porém, Letícia não sabia de nada e aos poucos foi sendo enfeitiçada por ele. Era seu primeiro amor e ela sentia que ninguém poderia saber; temia que seus pais a proibissem de vê-lo. Ele era muito mais velho que ela, seus pais não aceitariam o namoro, então, ele a pegava na saída do trabalho com sua caminhonete e saiam para algum local isolado. Cada dia em um lugar diferente, era instigante descobrir para onde ele a estava levando.
       Trocavam carícias e beijos entre muitas promessas de amor sem fim, dentro do veículo de Clésio. Ele não tinha escrúpulos e gostava dos carinhos da menina. Ela era uma adolescente bonita, de olhos grandes e longos cabelos pretos.
Em seguida, o homem a levava para casa, estacionando o veículo duas quadras antes de sua moradia. Letícia seguia caminhando como se nada tivesse acontecido; abraçava a mãe e o bebê, seu irmãozinho. Depois, cantarolando ia tomar banho; parecia a pessoa mais feliz do mundo.
       Clésio se dizia apaixonado e prometia ficar com ela. Letícia estava amando pela primeira vez e ficava feliz com sua presença. Seu coração disparava e ela tornava-se uma presa fácil.
     A menina se entregou a ele espontaneamente; foi uma explosão de felicidade. Em sua casa ninguém percebeu nada; ela dizia que ficava na padaria até mais tarde para organizar e limpar o local. A desculpa era boa, devia deixar o estabelecimento pronto para o dia seguinte. Era uma situação viável, não dava para limpar de manhã, pois, a freguesia era grande.
    Os dois amantes juravam fidelidade e se amavam quase diariamente. Clésio tinha facilidade em conduzir Letícia, pois, a menina era ingênua. O homem tinha o dobro da idade dela, além de ser casado, por isso, temia ser descoberto. Então, comprara anticoncepcional para ela, que muitas vezes se esquecia de tomar.
       Certo dia, uma colega do trabalho perguntou à Letícia se aquele homem a estava assediando e ela negou; era apenas um freguês, como outro qualquer. Naquele momento ela percebeu que corriam riscos de serem descobertos.
    A partir desse dia eles passaram a tomar mais cuidado, encontravam-se escondidos, era mais saboroso, um segredo, que pertencia somente a eles. Disfarçavam seus sentimentos, depois se amavam loucamente. Letícia sentia-se poderosa, trazia no peito um doce mistério.
        O homem estava tranquilo, pois, acreditava que a menina estava tomando o anticoncepcional. E, Letícia tomava o remédio quando se lembrava, não imaginava que corria um enorme risco de engravidar, se deixava levar pela magia do amor.
Ele era um aproveitador, traia sua esposa e iludia a namorada, que se tornara uma menina dissimulada.
       Quando Clésio passou na padaria e piscou, ela sorriu, sabia que ele a estaria esperando na saída, no lugar de sempre. Ela iria lhe contar sobre suas suspeitas e tinha certeza de que ele se casaria com ela; seriam felizes para sempre. Ela mal podia esperar a hora do encontro, estava eufórica; trazia no ventre o fruto de seu amor.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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