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sexta-feira, 11 de abril de 2014

"DEUS TEM ESTRADAS, ONDE O MUNDO NÃO TEM CAMINHOS." MEIMEI-- A PRIORIDADE É SER FELIZ. EVA IBRAHIM.

O SENTIDO DA VIDA
CAPÍTULO SEIS
A menina foi conduzida para dentro da sala de emergência e o enfermeiro fechou a porta na cara de Agenor, o pai de Letícia, que deu um passo para trás. Em seguida apareceu uma enfermeira, já cinquentona e com voz grossa lhe ordenou:
- Aguarde lá fora, por favor. Depois entrou na sala onde estava Letícia.
O homem foi saindo, não ousaria desobedecer tão incisiva ordem.
Vinte longos minutos se passaram e a enfermeira apareceu para lhe dar notícias da filha. A mulher foi logo dizendo:
Parabéns, o senhor vai ser avô, o bebê já está a caminho; sua filha está sendo levada para a sala de parto.
Agenor ficou extático; perdeu a voz e ficou pálido.
 -Não, eles estavam enganados, a filha dele estava com cólicas de rim, ele queria argumentar, porém, sua voz não saia.
Quando a enfermeira ia entrar, ele conseguiu soltar um som que mais parecia um grunhido.
-Espere, não pode ser Letícia, ela não está grávida.
A moça que o senhor trouxe, está grávida e daqui a pouco o bebê estará em seus braços; é só aguardar um pouco mais.
A mulher, com ar vitorioso, entrou balançando as gorduras do traseiro volumoso.
 Agenor perdeu o chão, não conseguia entender, aquilo não poderia ser verdade. Sua mulher não iria esconder aquele fato dele. E a vergonha que ele teria que enfrentar; o que diria aos parentes e amigos? Ele não merecia passar por aquela situação, pensava rápido como se fosse um filme passando por sua cabeça.
Subiu no veículo e voltou para sua casa, iria tirar satisfação com sua mulher. O homem dirigia loucamente. Mataria o pai da criança, assim que descobrisse quem era o cafajeste que fizera mal à sua filha. Sua vida estava destruída; ele não aguentaria tamanha vergonha. Estas ideias martelavam em sua cabeça.
Chegou cantando pneu e Dora já estava na porta para saber notícias da filha.
Agenor estava irado, mãe e filha o enganaram; entrou gritando e empurrando sua mulher.
- Que espécie de brincadeira era aquela?
- Letícia estava grávida e ninguém lhe contou?
-Quem era o pai da criança?
Dora começou a chorar. As crianças acordaram e todos foram para a sala. Boquiabertos e sem entender nada, as crianças ficaram ouvindo o pai gritar com a mãe.
- A mulher, desesperada, dizia que estava desconfiada, porém, a menina sempre negava e como não tinha namorado, ela achava que estava enganada.
As crianças menores começaram a chorar, nunca tinham visto o pai tão alterado. Agenor dizia que Letícia estava morta para ele e que não a queria mais ali. Então, ele percebeu que estava aterrorizando os filhos e por um momento voltou à razão.
Agenor não era mau, apenas estava nervoso; queria fugir dali e se esconder. Em seguida, deixou a sala, teria que esfriar a cabeça.
Saiu cantando pneus e Dora sentou-se no sofá, estava pálida, sem ação. A filha mais velha disse que iria chamar a tia Nice para ajudar sua mãe naquele momento de desespero. O relógio da sala marcava uma hora da manhã.
Nice era irmã de Dora e madrinha de Letícia; uma balzaquiana solteirona que vivia com os pais idosos. Depois de meia hora a moça chegou esbaforida, viera correndo na escuridão da noite. Não encontrara ninguém, dissera ao entrar na casa da irmã.
Sentou-se ao lado de Dora, que lhe contou o drama que havia desabado sobre ela. A moça arregalou os olhos e depois sorriu; a irmã já era avó, teria que ficar feliz. Os fatos verdadeiros veriam depois, agora iriam conhecer o bebê.
Dora foi arrastada pela irmã Nice, que ria ao pensar que já era tia avó. Seguiam pela noite adentro em uma caminhada de cerca de três quilômetros. Com a brisa fria da madrugada a tensão sofrida parecia diminuir. A caminhada fez bem à Dora, até conseguiu sorrir ao pensar no bebezinho de Letícia.
Depois fechou a cara:
-Como sua filha conseguira esconder a gravidez? Deve ter sofrido muito; pobre menina; lamentou a mulher chorosa. Entretanto, logo foi envolvida pelos braços de sua irmã, que mais parecia um anjo caído do céu.
Chegaram ao Hospital e conseguiram permissão para dar uma olhada em Letícia, pois, esta era menor de idade.
Quando adentraram ao quarto viram a menina dando o peito para o filho pequeno. Era um lindo menino de dois quilos e oitocentos gramas. Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.


sexta-feira, 4 de abril de 2014

"CADA COISA TEM SUA HORA E CADA HORA O SEU CUIDADO." RACHEL DE QUEIROZ ---QUE SEJA ALEGRE O QUE VIER. EVA IBRAHIM

DEUS; CUIDA DE MIM.
CAPÍTULO CINCO.

        Letícia não procurou o médico e nunca disse nada, sobre seu estado gravídico, à ninguém. Curtira os enjoos da gravidez inicial e as azias costumeiras às gestantes, sem reclamar. Comia menos para não engordar muito, assim conseguia manter quase o mesmo peso.
        Em sua ingenuidade, achava que poderiam tirar a criança dela ou dá-la ao pai para criar. Em nenhum momento se preocupou consigo mesma, pensava somente no bebê. Lá no íntimo, ela tinha certeza de que seria um menino, pois, sempre que pensava nele ou acariciava sua barriga, a figura de um bebê vestido de azul lhe vinha à mente. Até já lhe dera o nome de André; era seu filho querido.
        A menina sabia que o bebê seria um presente de Natal, porém, não sabia o dia certo. Letícia juntara informações ouvidas de sua mãe e outras lidas em revistas femininas, que sua irmã comprava, e, tirara suas conclusões.
       Ela sabia que seu segredo tinha hora para acabar, então, entrou na Igreja e ajoelhada pediu para Deus ajuda-la, depois chorou até desabafar. Estava escurecendo quando ela desceu as escadas da Igreja; estava cabisbaixa, sentia-se aliviada. Agora, Deus também conhecia seu segredo e ele daria um jeito de André nascer e ficar com ela; era isso que pedira a ele.
      Tantas moças já tiveram filhos, antes de se casarem, ela não seria a primeira e nem a última; esse pensamento a acalentava. Porém, quando pensava em seu pai esbravejando e vindo para seu lado, ela tremia de medo. Ele poderia se virar contra a mãe dela também; pobre mulher que não sabia de nada. Dora, a mãe tinha desconfiança da situação, porém, Letícia estava obesa como sempre e não saia de casa, então, a mãe sossegava. Depois pensava que seus pensamentos eram cruéis para com sua filha, iria se confessar.
       A menina, em suas noites de angustia, pensava em alguma saída, porém, era difícil, porque o pai da criança era casado. Letícia tinha uma tia, irmã de sua mãe, de quem gostava muito, entretanto, se contasse à Nice, todos ficariam sabendo. Na certa ela tentaria resolver a situação e descobriria o Clésio e a mulher dele também.
       Não, não, ela não queria aquilo, ficaria calada para o bem de todos. Nunca diria quem era o pai de André, certamente seu pai o mataria e depois iria preso por sua culpa. Em nenhuma situação ela e o bebê ficariam bem; teria que esperar.
       Certa noite ela começou a vomitar e sentir muitas cólicas, o que a levou a chamar sua mãe e esta pediu ao pai para leva-la ao Hospital. Chegando lá, um médico sonolento a atendeu e disse que poderia ser cólica de rim e lhe prescreveu uma medicação para dor. Ela tomou a medicação e depois foi para casa, estava melhor.
       O médico nem se deu ao trabalho de lhe perguntar se estava grávida, queria se livrar dela logo. Letícia voltou para casa e todos acreditaram que ela tivera uma cólica de rim. A dor passou e ela voltou à sua vida normal.
        Ainda faltavam dois meses para o bebê nascer e ela começava a sentir cólicas, que poderiam ser de trabalho de parto prematuro. Ela usava a cinta modeladora, que a cada dia ficava mais apertada; o bebê ganhava peso. Letícia procurava não pensar em nada, acreditava que Deus cuidava dela e do bebê. Quando sentia cólicas tomava o remédio que o médico lhe dera. Para todos os seus familiares, ela estava com pedras nos rins. O pai dissera que iria leva-la a um especialista em urologia e ela se esquivava, dizendo que estava melhor.
       Dezembro chegou com muita chuva e vento e Letícia foi se deitar com algumas dores na região lombar e no baixo ventre.  Já passava da meia noite, quando ela começou a gritar, as dores estavam insuportáveis.
       O pai foi ver o que estava acontecendo e encontrou a menina pálida de dor, teria que leva-la ao Hospital. Dora ajudou a filha a entrar no automóvel e viu o veículo partir. Aquele sentimento de que havia algo errado voltou a tomar conta da mulher, que começou a orar. Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 28 de março de 2014

"É PRECISO TER O CAOS DENTRO DE SI PARA GERAR UMA ESTRELA." NIETZSCHE-- COM O SILÊNCIO TORTURAMOS. EVA IBRAHIM

  
            A TRISTEZA E O SILÊNCIO.
                 CAPÍTULO QUATRO
        Letícia entrou sorrateiramente, não queria ver ninguém; aquilo que o Clésio dissera não podia ser verdade. Ele falou em aborto e tudo que ela sabia de aborto é que o bebê era tirado do útero da mãe. Sua mãe tivera um aborto espontâneo, ficara internada no Hospital e lhe explicara sobre o aborto. Nunca iria provocar a morte de seu filho, porque já o amava; seu coração estava sangrando, não queria ver ninguém. 
        Ela tinha vontade de jogar aquele dinheiro, que estava no envelope, no lixo ou jogar na cara de Clésio; nem sequer abrira para ver quanto tinha. Porém, teria que, momentaneamente, escondê-lo de sua mãe. Enfiou o envelope dentro de uma calça jeans velha; ninguém mexeria ali, disso ela tinha certeza.
       Tomou banho e deitou-se. Sua mãe foi ver o que havia acontecido e ela disse estar indisposta, queria um chá e um analgésico. A mãe concordou, poderia ser uma virose. Letícia chorou até pegar no sono e acordou com o despertador. Levantou-se para trabalhar, estava arrasada, precisava pensar muito. 
       Nunca mais queria ver o Clésio, além de casado, era covarde, pois a descartou como se fosse um trapo velho. Não tomou café, nada passava em sua garganta; parecia que estava travada, só conseguia chorar. Os colegas da padaria ficaram com pena de Letícia, pois, seus olhos lacrimejaram o dia todo. 
- Estava gripada. Dissera a menina, era uma desculpa para encobrir tristeza.
      Depois de uma semana inteira sem conseguir comer, havia emagrecido; a mãe e algumas pessoas notaram. Letícia até sorriu.
 - Que bom! Pensou, assim teria tempo para resolver a sua situação. 
      Sua irmã levou para sua casa um catálogo de roupas íntimas, onde havia diversas cintas modeladoras e sugeriu à sua irmã que comprasse uma. Letícia sentiu que poderia ajuda-la a esconder a barriga e prontamente marcou uma cinta modeladora.
      De tanta tristeza, ela se alimentava mal e emagreceu ainda mais e quando a cinta chegou, ela pode disfarçar a gravidez. Ninguém poderia imaginar que aquela menina estivesse esperando um bebê; era apenas uma menina fora do peso. 
       Letícia não saia de casa, fato que acalmou o coração de sua mãe, que trazia uma desconfiança lá no fundo do peito. Deveria esquecer aqueles pensamentos, a menina estava inocente; era gorda desde pequena e em alguns casos as regras são irregulares, estava ainda se formando, dissera o médico, há algum tempo.
 - Julgar mal a filha deveria ser pecado. Pensou a mulher temerosa.
      Os meses iam passando lentamente e Letícia sentia que sua barriga estava crescendo; quando ela tirava a cinta sua barriga saltava. E, ela colocava a cinta ainda no banheiro, para ninguém desconfiar. Era um segredo só seu, não contaria a ninguém, o futuro a Deus pertencia e ela esperava que ele a amparasse. 
Letícia sempre ouviu dizer que Deus não desampara seus filhos e ela tinha mais um filho de Deus na barriga; então, eram dois para ele cuidar.
      Certo dia, na saída da padaria, ela viu o Clésio, que a estava esperando, porém, ela passou por ele sem olhar. Ele a chamou, mas ela seguiu em frente; temia que ele tirasse a criança dela. Nunca mais falaria com ele, o bebê seria só dela, não tinha pai.
      Com certeza, a consciência de Clésio deveria estar pesada, pois, ele a deixara na rua da amargura e agora queria saber se ela fizera ou não o aborto, já que seu corpo nada revelava. Ela comia pouco e mantinha praticamente o mesmo corpanzil de sempre. 
Letícia o havia enganado, então sorriu baixinho; que a dúvida o atormentasse, desejou a menina.
       Quando viu o pai de seu filho, lembrou-se do dinheiro, que estava escondido. Compraria roupas e tudo que o bebê precisasse, era uma boa quantia e ficaria guardada até ele nascer.
Um texto de Eva Ibrahim. ,
Continua na próxima semana.


sexta-feira, 21 de março de 2014

"NÃO VOU DEIXAR A PORTA ENTREABERTA. VOU ESCANCARÁ-LA OU FECHÁ-LA DE VEZ; PORQUE PELOS VÃOS, BRECHAS E FENDAS PASSAM SEMI VENTOS, MEIAS VERDADES E MUITA INSENSATEZ." CECÍLIA MEIRELES. --TEMPESTADES NÃO SÃO ETERNAS. EVA IBRAHIM

            TIRANDO A MÁSCARA
              TERCEIRO CAPÍTULO
      Clésio chegou para o encontro, estava feliz e sorridente; aquela menina tinha o poder de deixa-lo tranquilo. Amava seu cheiro, sua pele fresca e seu sorriso. Sua vida dupla o deixava satisfeito; ele amava as filhas e precisava da mulher para cuidar da família. Letícia era um doce capricho, que seria descartado posteriormente, porém, não tinha data e ele não queria pensar nisso.
   Em sua ingenuidade e inexperiência, Letícia se preparara o dia todo para lhe dar a grande notícia; iria lhe dar um filho. Passara o dia imaginando que seria um menino, igual ao pai; depois ficara pensando que nome daria ao filho de seu amor. Em seguida ponderou que, seria melhor deixar o pai escolher o nome do menino, queria agradá-lo.
O encontro aconteceu entre abraços e beijos e no auge da paixão ela disse:
     -Estou grávida, vamos ter um filho. Clésio a afastou prontamente e pálido, perguntou?
      - Que história é essa? Você está tomando anticoncepcional ou não está?
A menina gaguejou e disse que se esquecera de tomar o remédio algumas vezes.
Clésio a segurou pelos braços e apertando disse:
      - Eu sou um homem casado e tenho duas filhas para criar, você não tinha o direito de deixar isso acontecer. Eu nunca lhe prometi casamento porque já sou casado.
Letícia começou a chorar. Entre um soluço e outro ela dizia que não premeditara nada e só percebera agora que sua barriga estava crescendo e alguma coisa mexendo lá dentro.
       Clésio perdeu a cor, ele queria sumir, balançava a cabeça; não podia acreditar que tinha um problema desse tamanho para resolver. Só agora ele percebera que não pensara na gravidade do que estava fazendo. Coçando a cabeça ele tentava pensar em alguma coisa que o livrasse daquela responsabilidade.
Um mundo de possibilidades passava por sua cabeça. Ele poderia ser preso por corrupção de menores. Sua mulher o abandonaria e não deixaria que ele visse as filhas ou o pai de Letícia o mataria. Qualquer uma dessas hipóteses já o arruinaria para sempre.
      - O que fazer? Olhava para a menina, que chorava sentada no banco do passageiro de seu veículo.
     – Como fugir daquela responsabilidade? Teria que pensar, pensar e pensar...
Olhou para a menina e disse:
 -Você tem noção do tamanho da encrenca em que estamos metidos?
Letícia não conseguia responder; o que para ela era motivo de felicidade para ele era a tormenta. A incerteza tomara conta dela; a decepção fora muito grande. Ele a levou de volta e pediu que não comentasse com ninguém, no dia seguinte falariam novamente; precisava pensar.
A menina entrou e foi direto para seu quarto, estava com os olhos vermelhos e não queria que ninguém a visse. Entretanto, sua mãe percebeu e foi atrás dela fazendo mil perguntas, das quais ela se esquivou dizendo estar com muita dor de cabeça. A mãe, preocupada, foi buscar um comprimido e um copo de água para ela tomar; depois apagou a luz para a filha descansar.
Ela não conseguia dormir, pois, tivera a maior decepção de sua vida; Clésio era casado. Ela não podia acreditar que aquele homem que ela amava a enganara. Ficaria mal falada e seu pai a mataria se tivesse um filho de um homem casado.
 Clésio passara a noite toda sentado no vaso do banheiro com uma súbita diarreia; não conseguia achar uma saída decente para justificar a gravidez de uma garota de quinze anos. Pensou até em suicídio; seria uma saída estratégica, porém, ele era muito covarde para tentar contra a própria vida.
Pensou em procurar um médico e pagar um aborto; certamente seria a melhor solução. Letícia sairia ilesa dessa história e ele continuaria sua vida de garanhão. Clésio tinha dinheiro guardado para uma emergência e resolveu pegá-lo, assim que o Banco abrisse e levaria para a Letícia. Depois foi se deitar, estava mais tranquilo. Parecia ter encontrado a solução, a menina teria que concordar.
         O dinheiro queimava em seu bolso, o homem não via a hora de dá-lo à Letícia e fazer com que ela prometesse procurar um médico. Ele não poderia aparecer; ninguém poderia saber de sua existência.
         Quando a menina saiu da padaria ele a abordou dizendo que naquele envelope havia dinheiro suficiente para ela pagar um aborto. Letícia ficou pálida e sem ação, não conseguia entender o que ele queria dizer com aquilo. Ele pegou sua mão onde colocou o envelope, fechando-a e depois disse adeus. Ela devia esquecer que o conhecera, ele não queria problemas. Subiu em sua caminhonete e desapareceu.
      Ela ficou parada no meio da calçada sem saber o que fazer; depois lentamente seguiu para sua casa, estava desolada.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 14 de março de 2014

"E, O BONITO DESTA VIDA É PODER COSTURAR SONHOS, BORDAR HISTÓRIAS E DESATAR OS NÓS DE NOSSOS DIAS." CIDINHA ARAUJO.-- SONHAR É VIVER...EVA IBRAHIM

                       DOCE MISTÉRIO
                 SEGUNDO CAPÍTULO
        AH! O Clésio, seu grande amor, que apareceu na padaria e passou semanas cortejando-a. Sentava-se em uma cadeira, nos fundos do estabelecimento, então, Letícia levava o café com pão quente e manteiga; depois ele degustava seu café, sem tirar os olhos dela. Parecia um encantador de serpentes, que a encantou; pobre menina ingênua!
        Ele era um homem casado, com duas filhas menores, porém, Letícia não sabia de nada e aos poucos foi sendo enfeitiçada por ele. Era seu primeiro amor e ela sentia que ninguém poderia saber; temia que seus pais a proibissem de vê-lo. Ele era muito mais velho que ela, seus pais não aceitariam o namoro, então, ele a pegava na saída do trabalho com sua caminhonete e saiam para algum local isolado. Cada dia em um lugar diferente, era instigante descobrir para onde ele a estava levando.
       Trocavam carícias e beijos entre muitas promessas de amor sem fim, dentro do veículo de Clésio. Ele não tinha escrúpulos e gostava dos carinhos da menina. Ela era uma adolescente bonita, de olhos grandes e longos cabelos pretos.
Em seguida, o homem a levava para casa, estacionando o veículo duas quadras antes de sua moradia. Letícia seguia caminhando como se nada tivesse acontecido; abraçava a mãe e o bebê, seu irmãozinho. Depois, cantarolando ia tomar banho; parecia a pessoa mais feliz do mundo.
       Clésio se dizia apaixonado e prometia ficar com ela. Letícia estava amando pela primeira vez e ficava feliz com sua presença. Seu coração disparava e ela tornava-se uma presa fácil.
     A menina se entregou a ele espontaneamente; foi uma explosão de felicidade. Em sua casa ninguém percebeu nada; ela dizia que ficava na padaria até mais tarde para organizar e limpar o local. A desculpa era boa, devia deixar o estabelecimento pronto para o dia seguinte. Era uma situação viável, não dava para limpar de manhã, pois, a freguesia era grande.
    Os dois amantes juravam fidelidade e se amavam quase diariamente. Clésio tinha facilidade em conduzir Letícia, pois, a menina era ingênua. O homem tinha o dobro da idade dela, além de ser casado, por isso, temia ser descoberto. Então, comprara anticoncepcional para ela, que muitas vezes se esquecia de tomar.
       Certo dia, uma colega do trabalho perguntou à Letícia se aquele homem a estava assediando e ela negou; era apenas um freguês, como outro qualquer. Naquele momento ela percebeu que corriam riscos de serem descobertos.
    A partir desse dia eles passaram a tomar mais cuidado, encontravam-se escondidos, era mais saboroso, um segredo, que pertencia somente a eles. Disfarçavam seus sentimentos, depois se amavam loucamente. Letícia sentia-se poderosa, trazia no peito um doce mistério.
        O homem estava tranquilo, pois, acreditava que a menina estava tomando o anticoncepcional. E, Letícia tomava o remédio quando se lembrava, não imaginava que corria um enorme risco de engravidar, se deixava levar pela magia do amor.
Ele era um aproveitador, traia sua esposa e iludia a namorada, que se tornara uma menina dissimulada.
       Quando Clésio passou na padaria e piscou, ela sorriu, sabia que ele a estaria esperando na saída, no lugar de sempre. Ela iria lhe contar sobre suas suspeitas e tinha certeza de que ele se casaria com ela; seriam felizes para sempre. Ela mal podia esperar a hora do encontro, estava eufórica; trazia no ventre o fruto de seu amor.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 7 de março de 2014

"PORQUE ALGUMA COISA DESCONHECIDA ESTAVA ACONTECENDO. ERA O COMEÇO DE UM ESTADO DE GRAÇA."CLARICE LISPECTOR. --- UM ANJO VIGIAVA TUDO DE PERTO. EVA IBRAHIM

              “DE CORPO E ALMA.”
         COM QUE ROUPA EU VOU?
                 CAPÍTULO UM
       Muitas roupas jogadas sobre a cama denunciavam que, ali havia uma pessoa indecisa ou que já aumentara seu número de manequim. Letícia fizera quinze anos na semana anterior e estava obesa, era um fato incontestável.
       As amigas, as primas e até a avó disseram que a menina, havia ganhado muito peso nos últimos meses. Naquele dia ela se trancara no quarto e passara um bom tempo chorando; sua irmã mais velha era magra e bonita e ela mais parecia um botijão de gás. Até seu pai, Agenor, comentara com Dora, sua esposa, que a filha estava engordando muito. Depois ele sugeriu que a levasse ao médico, para ter orientação de um regime para a filha.
A mãe andava cismada com aquela gordura, que lhe parecia familiar; Dora tinha seis filhos e o mais novo estava com dez meses de idade. A mulher não tinha tempo para acompanhar as filhas, haja vista, o trabalho que ela tinha para manter a casa.
Entretanto, por duas vezes chamara Letícia para perguntar de suas regras e a menina disfarçava dizendo que lavava sua roupa íntima, pois, sua mãe tinha muito serviço. Dora não insistia, porque sua filha sempre saia acompanhada da irmã mais velha e ela não tinha namorado, portanto, estava pensando mal da filha, que certamente estava inocente. Leticia era uma boa menina, procurava ajudar sua mãe e quando estava em casa olhava o bebê; gostava dele.
As roupas da menina não serviam mais, seu abdômen era redondo e nada ficava bem naquele corpo. Ultimamente ela andava com as camisetas de seu pai e estava sempre comendo, tinha muita fome e sono também; dormia cedo e levantava faminta. Letícia trabalhava como balconista de uma padaria e todos diziam que ela se enchia de doces, por isso estava daquele tamanho.
      As colegas do serviço também cochichavam quando ela passava.
      -Letícia estava ficando feia e seu corpo cada dia mais redondo, não conseguiria arrumar namorado nunca; perdera a vaidade. Afirmavam ironicamente.
      A família de Agenor iria ao aniversário dos filhos gêmeos da irmã de Dora e, todos prontos chamavam por Letícia, que não conseguia encontrar uma roupa que servisse em seu corpanzil. Desesperada, a menina pegou uma bermuda de sua mãe e uma camiseta do pai para ir com sua família à festa. Sua roupa de passeio não entrava mais em seu corpo; forçara tanto que o zíper quebrou.
      Todos ficaram boquiabertos ao ver Letícia vestida como uma capa de botijão de gás; os irmãos menores riram dela.
     Ela retornou a casa e foi chorar no quarto. Sua mãe entrou e a convenceu a acompanha-los à festa.
 - Estar fora do peso não queria dizer que não era bonita ou sensual. As pessoas obesas são simpáticas, alegres e bonitas, nada as impede de serem felizes, enfatizou Dora.
     Na festa, os amigos e parentes cochichavam quando ela passava, então, a menina ficou o tempo todo sentada num canto. Voltaram para casa com a filha muda, não dizia nenhuma palavra; estava arrasada.
      Dora chamou a filha mais velha para saber se Letícia tinha algum namorado e a filha negou. Nunca vira nada, afirmou a moça. A mãe carregava uma desconfiança em seu coração; alguma coisa estava errada e ela temia o pior.
 Letícia jogou-se na cama e deitada sentiu alguma coisa mexer ali dentro de seu ventre. Foi a primeira vez que ela sentiu aquilo; levantou-se e ficou em frente ao espelho e, espantada concluiu que estava barriguda.
- Será que estava grávida? Só naquele momento ela sentiu que seu segredo estava por um fio. Há algum tempo deixara de ser a menina inocente, que todos imaginavam. Conhecera o amor em sua plenitude. Ninguém poderia saber, teria que falar com Clésio.
Um texto de Eva Ibrahim,

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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