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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"DEBAIXO DA MAQUIAGEM E POR TRÁS DO MEU SORRISO, EU SOU APENAS UMA MENINA QUE DESEJA O MUNDO." MARILYN MONROE. -- NÃO SABIA O QUE PEDIR. ENTÃO, PEDI O AMOR. EVA IBRAHIM

                             CIUMES DE VOCÊ
                               CAPÍTULO DOZE
        A semana passou depressa, havia muito trabalho a fazer. A Joelma e a Marli ficavam nos fundos, isto é, no ateliê, produzindo mais peças. Joelma pintava e Marli dava o acabamento na máquina de costura, enquanto Clara e Rose cuidavam da loja e dos fregueses. As vendas ainda eram tímidas, uma coisa aqui outra acolá, porém, ali havia muita fé e Deus para guarda-las.
Tiago teve uma ideia que poderia aumentar as vendas; “Arte e Companhia”, a loja de Clara precisava de publicidade. Ele mandaria fazer cartões com amostras das mercadorias e distribuiria por todo o comércio, oferecendo vendas no atacado com ótimos preços.
O tempo passava rápido e os fregueses foram aparecendo, quando chegou perto do Natal o faturamento aumentou muito. Na comunidade houve um aumento de trabalho e de artesãs, o que garantia um Natal farto para as famílias carentes. As amizades de Clara se multiplicavam à medida que ela se envolvia no comércio de artesanatos e presentes; uma área sempre em expansão.
Tiago procurava lugares onde houvesse coisas novas e não media esforços para ajudar seu amor. Muitas vezes ele viajava para comprar mercadorias para a loja, que ele ajudava a manter cheia de novidades. Clara precisou trazer mais uma artesã para trabalhar no ateliê; escolheu mais uma mulher de papel. Neide fora abandonada pelo marido e tinha quatro filhos para criar. O marido lhe deixou apenas o papel do cartório com o registro do casamento, nada mais.
Marcos, quase todos os dias, passava lá para ver como Clara estava e se a loja estava dando dinheiro. Com um jeito desconfiado ele não dava folga, muitas vezes ia embora sem conseguir falar com ela, pois, a loja estava cheia de fregueses. O homem era a decepção em pessoa; queria sua mulher de volta. Marcos teve o descaramento de convidá-la para um jantar com amigos e ela recusou. Clara disse que estava legalmente separada e deixara de ser apenas uma mulher de papel; estava conquistando seu espaço.
Certo dia, Tiago estava conversando com Clara, era ponto facultativo na escola e ele queria colaborar com a mulher amada. Marcos chegou de surpresa e teve certeza de que algo estava errado, os dois se olhavam de um modo especial. Havia cumplicidade entre o casal, o que deixou Marcos ainda mais nervoso.
A primeira impressão foi de que Clara o estava traindo e ele partiu furioso para cima de Tiago, que surpreso deu um passo para trás. Clara entrou na frente de Tiago, enfrentando Marcos.
 -“Que direito ele tinha de entrar ali para tirar satisfações? Ela estava separada e, portanto, livre. Ele que a deixasse em paz ou ela procuraria a justiça para dar queixa dele." Disse a mulher com firmeza.
Por um momento ele titubeou e depois disse que não permitiria que ela arrumasse outro homem, ou ele tiraria os filhos dela. Depois saiu cantando pneu. Clara começou a chorar, ele sempre se agarrava ao seu ponto fraco, os filhos.
 – “Será que nunca mais vou ter sossego?" Disse Clara entre lágrimas.
Tiago a consolou dizendo que iriam procurar o advogado que fizera sua separação e saber qual seria a melhor atitude a tomar. Marcos não poderia ameaça-la, estavam separados. Só então, Clara contou a Tiago que Marcos estava sempre vigiando sua loja.
Ao ver o progresso da mulher, o homem ficara enciumado; se arrependera de ter saído de casa. Sua mulher estava com outra pessoa e o desejo de vingança era grande.
 - “Ele iria acabar com os dois de uma vez, a mulher era sua e não deixaria ninguém por as mãos nela." Pensava Marcos enraivecido.
O homem corria sem prestar atenção no trânsito, estava distraído. Subitamente apareceu um homem a sua frente e ele tentou tirar o carro, porém, o acidente foi inevitável. Ele atropelou um idoso e bateu com o automóvel no poste, ferindo sua cabeça. Ficou ali esperando socorro; depois desfaleceu no volante.
Quando Clara chegou a sua casa, havia o recado dado à sua mãe, que Marcos estava internado no Hospital. Ela ligou para Tiago pedindo que a acompanhasse para saber o que acontecera com o pai de seus filhos. Chegando ao Hospital, Clara se encontrou com Selma, que aguardava o médico para saber do companheiro.
As duas mulheres não se falavam e havia uma tensão no ar; Clara não sabia como agir. Então, Tiago iniciou a conversa dizendo que Clara estava ali por causa dos filhos, que queriam notícias do pai. Ela estava muito bem com ele e Selma que cuidasse de Marcos que vivia procurando Clara. A moça ficou sem jeito e disse que ele andava estranho ultimamente.
Clara foi à recepção saber notícias do atropelado e ficou sabendo que o idoso sofrera uma fratura na perna, porém, estava passando bem. O caso de Marcos era mais grave, pois, batera a cabeça no para brisa do automóvel. Havia um corte fundo no couro cabeludo e com o choque perdera o sentido. Os médicos estavam fazendo uma tomografia para saber a extensão do trauma.  
           Um texto de Eva Ibrahim.

                    Continua na próxima semana.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

"HOJE, EU QUERO A ROSA MAIS LINDA QUE HOUVER E A PRIMEIRA ESTRELA QUE VIER, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM". DOLORES DURAN. "MULHERES DE PAPEL". EVA IBRAHIM.

                                NEM TUDO SÃO FLORES
                               CAPÍTULO ONZE
        Marcos foi buscar os filhos para um passeio no final de semana e aproveitou para saber o que Clara andava fazendo. Os filhos adolescentes gostavam do pai, mas não queriam prejudicar a mãe e pouco falaram sobre os projetos dela. Com muito custo ele soube da herança que o sogro deixara para sua filha e a inauguração da loja de sua ex.
O homem ficou nervoso, pois, se ela conseguisse se sustentar com seu trabalho, ele perderia o controle sobre ela. No auge de sua paixão por Selma ele cedera à tentação, porém, já não tinha tanto entusiasmo e gostaria de voltar a viver com Clara e os filhos.
         Uma ponta de ciúmes fez com que uma ruga de preocupação surgisse na testa de Marcos. Ele não conseguiu arrancar dos filhos se ela tinha arrumado outro companheiro; os dois adolescentes eram esquivos. Simpatizavam com Tiago e apoiavam o namoro da mãe, já que o pai morava com Selma, sua antiga secretária.
       Quando Marcos foi levar os filhos de volta para a casa, Clara os esperava. Ele quis saber sobre a loja e sua inauguração, porém, a mulher o afastou dizendo que ele não tinha nada a ver com o assunto, uma vez que já estavam separados. Marcos ficou irado e a ameaçou de cortar a pensão que ele lhe dava. E, completou dizendo que se ela arrumasse outro homem ele pediria a guarda dos filhos.
       Clara tremeu, não deixaria que isso acontecesse; teria que alertar o Tiago para que tomassem cuidado. O fantasma do marido voltara para estragar sua felicidade; teria que ter paciência ou seu esforço estaria perdido. Ela e os filhos precisavam da ajuda de Marcos; pois, seu projeto estava apenas começando. Continuaria sendo, diante da sociedade, apenas uma mulher de papel. Entretanto, estava feliz vivendo um grande amor; saberia esperar para ficar com Tiago.
Na segunda feira ela abriu as portas de sua loja e Tiago apareceu com um grande ramalhete de flores lhe desejando felicidades. Clara, Joelma. Rose e Marli estavam dando os últimos retoques nas vitrines, quando Marcos apareceu e foi logo perguntando quem lhe mandara flores. As quatro mulheres se juntaram e disseram que compraram as flores para dar sorte. O homem entrou e ficou surpreso com a diversidade de objetos e percebeu que o projeto de Clara não era pequeno e poderia dar certo.
Ficou bisbilhotando ali por um bom tempo e depois saiu pisando duro; estava com ciúmes da mulher. Um sentimento de perda tomou conta de Marcos, Clara continuava muito bonita e provando que poderia sobreviver sem ele. Seu lado empreendedor estava exaltado e ela parecia dona de si; estava radiante e isso incomodava o homem que fora seu marido.
Quando Marcos saiu, Clara sentiu pena dele, parecia perdido.
 - Onde estaria aquele homem que a humilhou ficando com a secretária? Aquele por quem ela derramara tantas lágrimas e até chegou a pensar em desistir da vida? Marcos a perdera para sempre, agora ela tinha sua própria vida e um homem que a amava e respeitava.
Enquanto ela divagava ao constatar tantos fatos de seu passado recente, ela não percebeu que Tiago entrara ali e a estava observando. Ele se aproximou e a aconchegou em seu peito. Ela nunca mais ficaria só; os dois juntos enfrentariam qualquer problema que surgisse. E, depois de um longo beijo ele sussurrou em seu ouvido:
 - Nem tudo são flores, porém, acalma seu coração, que vai dar tudo certo.
          No primeiro dia, algumas curiosas entraram na loja para conhecer e até compraram algumas coisas. Era a ocasião para mostrar o conteúdo, valorizar o trabalho apresentado pelas mulheres da comunidade e semear simpatia para conquistar futuros fregueses. Os primeiros dias são os mais difíceis, depois as pessoas vão chegando e o negócio começa a prosperar.
        Clara estava feliz, conseguira montar sua loja e daria tudo de si para levar aquele projeto adiante. Sara, sua colaboradora do lar e sua mãe ficavam na casa para dar suporte aos seus filhos. Assim, Marcos não poderia dizer que ela havia largado a educação das crianças para trabalhar. Entretanto, ele aparecia ali, quase todos os dias, parecia estar farejando alguma coisa.
      Tiago dava aulas na Escola de Educação Física e encontrava Clara somente à tarde, desencontrando de Marcos. Na verdade os dois homens ainda não haviam se encontrado, o que deixava Clara mais tranquila. O casal combinou de comemorar, com um jantar, a inauguração da loja; a noite prometia. O amor estava no ar.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

"O SORRISO É A CURVA MAIS BONITA DO CORPO DE QUALQUER PESSOA". AUTOR DESCONHECIDO.---SE ESCURECER, RECORRA ÀS ESTRELAS. EVA IBRAHIM.

SAINDO DA CASCA
CAPÍTULO DEZ
     Clara estava amando novamente, porém, tinha os pés no chão; não arriscaria o bem estar dos dois filhos. João e Renata eram seu maior tesouro. Enquanto Marcos pagasse as contas da casa, ela se sentiria submissa a ele e continuaria sendo uma mulher de papel. Mais uma mulher presa ao homem somente por um papel assinado no cartório e com deveres de manter a aparência diante da sociedade. Clara estava só e ficaria livre dele quando conseguisse pagar suas contas, disso ela tinha certeza.
       Marcos, o marido, não lhe dava trégua, estava sempre vigiando e quando não a encontrava em casa, ele ficava irado, apesar de te-la abandonado e estar morando com outra mulher. Depois telefonava ameaçando-a e Clara temia por seus filhos, então ficava calada.
       Ela e Tiago tinham uma relação de amizade e respeito; deveria ser assim, enquanto Clara dependesse do dinheiro do marido para sobreviver. Ambos eram sentimentais e honestos; esperariam o tempo que fosse necessário. Havia uma atração e um sentimento de amor crescendo no coração dos dois; tinham planos para o futuro.
       Clara queria montar uma pequena empresa de artesanatos e presentes; uma loja cheia de coisas bonitas. Venderia os trabalhos confeccionados pelas mulheres da comunidade e outras coisas também. Compraria um pouco de tudo que era feito na comunidade e o restante as mulheres continuariam vendendo na feira livre dos domingos. Assim, elas teriam duas fontes de renda; um incentivo a mais para aumentar a produção e empregar mais pessoas.
Tiago encontrou um local apropriado e disponível, uma antiga loja de roupas; onde havia um anúncio que dizia estar pronta para ser alugada. Clara ficou deslumbrada, era o local perfeito; um salão grande e bem localizado. O lugar poderia ser subdividido e nos fundos da loja colocaria algumas máquinas de costura.
Montaria um pequeno ateliê de costura, para dar acabamento aos trabalhos confeccionados na comunidade; valorizando o trabalho feito à mão. Ela traria algumas artesãs: Joelma, Rose, a cunhada de Tiago e Marli, que era costureira, para trabalharem diretamente com ela. Marli era também, uma mulher de papel, lutava pela sobrevivência de seus filhos; seu marido a abandonara por outra mulher. Clara pretendia ajuda-la.
Tiago cuidaria das compras e da parte financeira; seria seu conselheiro, além de seu amor. Josias, irmão de Tiago continuaria cuidando da comunidade para prover a loja e a barraca da feira livre. Estava tudo perfeito, Deus ouvira suas preces.
Pensou em sua mãe, ela poderia morar com ela e dar suporte a criação dos seus filhos. Sara continuaria cuidando da casa e das crianças. Clara sorriu, parecia que seu projeto estava ganhando corpo para ser realizado. O dinheiro que recebera da herança de seu pai, seria suficiente para ela iniciar seu empreendimento comercial.
A mulher procurou o advogado, que cuidara de sua separação e deixou a burocracia da papelada em suas mãos. Ela e Tiago trataram de arrumar um marceneiro para subdividir o salão. Tiago e Clara compraram os móveis e maquinários necessários.
 A mãe de Clara respondeu à filha dizendo que poderia contar com ela, pois, estava muito só; precisava mudar de ares. A viuvez deixou a mulher deprimida. Em quinze dias a estrutura da loja estava pronta e os móveis no lugar. Tiago e Clara se abraçaram felizes, daria tudo certo.
Os dois fizeram muitas compras: presentes e lembrancinhas de todos os tipos, além dos artesanatos. Passaram três dias arrumando o local; ficou uma beleza! Uma loja alegre, cheia de coisas bonitas e com música ambiente; um sonho realizado.
Abririam as portas na segunda feira, teriam que comemorar. Á noite saíram para jantar e acabaram nos braços um do outro; estavam apaixonados e felizes.
Os projetos e sonhos eram grandes, se desse certo ela ficaria livre de Marcos e se casaria com Tiago. Portanto, deixaria de ser apenas uma mulher de papel, para ser uma mulher amada.
Um sentimento doce e quente fez a mulher sorrir; deixaria a tristeza, a humilhação e a solidão esquecidos para sempre. Muita luta ainda estava por vir, o futuro ficaria a sua espera; por ora tentaria viver intensamente o presente. 
Um texto de Eva Ibrahim. 

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

"DEPOIS DO ABRAÇO NINGUÉM NOTAVA, MAS VOLTÁVAMOS TROCADOS; UM LEVANDO O CORAÇÃO DO OUTRO". JAYA MAGALHÃES..

                   A VIDA CONTINUA
                      CAPÍTULO NOVE
        O dia do casamento do filho do sócio de Marcos chegou; um dia lindo de Sol. Havia euforia no ar. Clara e os filhos estavam impecáveis quando seu marido foi busca-los. Formavam uma família perfeita, nada denunciava a situação em que o casal estava inserido. Há algum tempo, Marcos vivia com sua antiga secretária e sua esposa ficara na casa com os filhos adolescentes; estavam separados.
        As bodas do novo casal foram realizadas com tranquilidade e quando a família de Clara regressou a casa, Marcos desceu do automóvel e entrou com sua esposa e os filhos.  Seus olhos brilhavam quando fitava Clara, que estava linda em seu vestido vermelho. Uma mulher bonita e sedutora, que ele abandonara. Ficaram sozinhos e ele tentou beijá-la. A mulher não se conteve e o empurrou bruscamente. O homem caiu sentado no sofá e levantou-se enfurecido, agarrando seus pulsos. Com os olhos querendo saltar das órbitas, ele perguntou se ela estava com outro homem.
         Ela o enfrentou dizendo que não o queria mais, ficaria com os filhos e ele que a deixasse em paz. João e Renata apareceram na sala, espantados com os gritos do casal.  Marcos, ao ver os filhos, largou os braços da mulher e saiu batendo a porta.
A mãe conversou com os adolescentes, acalmando-os e depois de algum tempo, todos foram dormir. Clara teve muitos pesadelos; precisava resolver aquela situação ou não teria mais paz. Sentia-se acuada, precisava trabalhar para se sustentar. Definitivamente ela não tinha vocação para ser amante do próprio marido, sentia repulsa quando pensava nele com Selma, sua atual companheira.
       Clara, por diversas vezes, compareceu às reuniões de artesanato da comunidade; gostava de estar ali. Sara sempre a acompanhava. Sentia atração por aquele lugar e passava horas conversando com aquelas mulheres. Eram pessoas de pouca instrução, porém, habilidosas e comprometidas com o trabalho.
       Certo dia sentou-se perto de Joelma, que pintava tecidos de seda; uma beleza. A moça tinha muito em comum com Clara; estava separada há pouco tempo, tinha dois filhos e estava tentando sobreviver. O marido de Joelma desapareceu, estava envolvido com drogas. E, ela tornara-se mais uma mulher de papel, não tinha notícias do marido. O trabalho realizado ali era muito interessante e valioso, pois, era artesanal.       Poderia ser aproveitado de outras maneiras e render muito dinheiro; era uma mina bruta, pensou Clara. 
       Joelma apresentou o Tiago à Clara; os dois ficaram um bom tempo conversando. Interação ou simpatia mútua; qualquer coisa para definir a conversa dos dois. O rapaz era professor de educação física e trabalhava em uma escola perto da comunidade. Tiago conhecia a maioria das pessoas daquele lugar e procurava ajudar seus alunos apoiando o trabalho das mães. Esbanjava alegria, era bonito e muito inteligente; a amizade prometia ser duradoura.
Fazia tempo que Clara não conversava com um homem tão interessante e carismático. Perguntou a Sara se ele era casado e a resposta a surpreendeu. Tiago era viúvo; sua esposa falecera de câncer a cerca de três anos. Não tiveram filhos e ele passara a se dedicar aos seus alunos. Era muito querido por todos, estava sempre disponível para ajudar quem precisasse. Tiago morava sozinho em uma casa modesta naquele bairro; um excelente rapaz, concluiu Sara.
         Dois meses se passaram e Marcos vivia rondando sua esposa usando de desculpas para entrar em sua casa. Clara não se importava que ele visse as crianças, porém, não lhe dava muita atenção. Ele parecia arrependido de ter saído de casa. Entretanto, sua esposa fazia planos de futuro onde incluía o Tiago; o marido estava fora de sua vida. Ela precisava encontrar uma maneira de ganhar independência financeira.
        A mãe de Clara lhe telefonou pedindo que ela fosse a sua cidade para assinar o inventário; a herança do pai lhe renderia um bom dinheiro. A mulher ficou feliz, teria que aproveitar para montar uma loja. Precisava pensar muito e nada diria ao marido. O dinheiro era só seu e ela o usaria como quisesse. Procurou um advogado e este a aconselhou a pedir o divórcio, antes de receber sua herança. Seria mais fácil tornar-se independente se estivesse separada legalmente.
       A mulher surpreendeu o marido com o pedido de divórcio, ele nunca imaginara que ela não o quisesse mais. Marcos não teve argumentos para não aceitar a separação, uma vez que foi ele quem saiu de casa. Aquela contenda durou um ano inteiro e finalmente saiu à decisão do Juiz. Ela ficaria com a casa e o seu automóvel e o marido com o apartamento, a empresa e a casa da praia. Marcos deveria pagar pensão aos filhos e prover a casa, até ela encontrar um trabalho e poder sustentar-se.
       Clara estava apaixonada por Tiago e muito feliz com a decisão do tribunal. Com sua herança começaria uma nova vida ao lado de seu novo amor. O casal tinha planos para promover os trabalhos das artesãs da comunidade, que quando se tornaram mulheres de papel, viraram guerreiras incansáveis.

        Um texto de Eva Ibrahim.
        Continua na próxima semana.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

"NÃO EXISTE AMOR QUE SOBREVIVA SÓ DE SENTIMENTOS, SEM A CONVERSA MANSA". RUBEM ALVES--- SIGA EM FRENTE, ESTE É O SEGREDO DA VIDA. EVA IBRAHIM.

                                  PERDAS E GANHOS
                                    CAPÍTULO OITO.
O domingo foi de reclusão total, as crianças foram ao Clube com um casal de amigos de Marcos. Clara ficou só, estava exausta por ter sofrido tanta emoção negativa. Quando as crianças voltaram já estava escuro e logo foram dormir. Na segunda feira, Sara a colaboradora da casa, chegou para trabalhar e viu que sua patroa estava com os olhos inchados de tanto chorar; ofereceu um chá, tentando consolá-la.
Depois que os filhos tomaram o ônibus escolar, Clara sentou-se na cadeira em frente à mesa da cozinha; precisava desabafar. E, enquanto catava os feijões que Sara havia colocado ali, para serem escolhidos, ela contou os últimos acontecimentos de sua vida para a mulher, que a ouvia enquanto cuidava de lavar a louça.
A mulher era de confiança e naquele momento era o ombro amigo que acolhia Clara. Vez ou outra Sara balançava a cabeça e dizia conhecer aquela história; havia muitas mulheres em sua comunidade que foram casadas e traídas. Eram histórias corriqueiras para as mulheres pobres de seu bairro, que tinham que trabalhar para sustentar os filhos pequenos.
A conversa fluía fácil, Sara era simples, porém, inteligente e esperta; uma mulher diplomada pela vida. Vivia com a filha, cujo marido estava preso e ela ajudava a criar as três crianças menores. A patroa perguntou do marido de Sara e soube que ele a deixou há muitos anos. Continuava casada, pois, não sabia se o marido estava vivo ou morto; era, portanto, mais uma mulher de papel. Sorrindo, a moça disse que tinha um namorado de fim de semana; vivia feliz.
        Clara foi para seu quarto imaginando como Sara poderia ser feliz com tantos problemas e uma vida tão difícil. Entretanto, aquela conversa lhe fizera bem, mostrou-lhe que havia vida após separações; ela aprenderia a sobreviver também. Os dias passavam lentamente e ela procurava ver televisão ou ler livros e revistas; precisava encontrar alguma coisa para preencher seu tempo.
        Sara a ouvia com muita atenção e a ajudava a entender algumas coisas que ela não conhecia, como por exemplo, ser independente do marido e poder curtir sua liberdade. Andar a esmo, passear sem destino, sair para dançar, participar de reuniões de mulheres da comunidade e dividir suas preocupações com outras pessoas. Clara sentia que seu problema encolhia, sempre que ela contava sua história.
        No sábado seguinte, Marcos apareceu dizendo estar com saudades dos filhos e também queria saber como sua esposa estava passando sozinha. Estava vestido com roupa esporte, bonito e cheiroso como sempre. Seu olhar era misterioso e parecia procurar algo diferente ou algum sinal que revelasse como sua mulher estava vivendo sem ele. Clara desceu serena e elegante; cumprimentou Marcos com educação e o deixou à vontade com os filhos.
        O homem ficou surpreso ao encontrar sua mulher bem disposta e arrumada; tudo continuava no mesmo lugar. Marcos almoçou com ela e as crianças e depois a chamou para conversar na varanda, onde tentou agarrá-la, no que foi repelido violentamente.
        - Que ficasse com sua piranha. Retrucou Clara, fechando a cara.
        Então, ele disse que ela deveria se preparar para acompanhá-lo ao casamento do filho de um de seus sócios. E, deveria levar as crianças também, era uma festa familiar. Todos os seus amigos a conheciam e não era bom dizer que a abandonara, ela deveria lhe fazer companhia sempre que ele precisasse. Ainda tinha deveres para com ele, já que ele continuava pagando as contas da casa.
Ela concordou em acompanha-lo e era só isso, que não tocasse nela. Antes de sair ele a ameaçou, dizendo:
        - Cuidado com o que você faz, estou de olho em você. Em seguida saiu cantando pneus.
       A mulher, além de magoada, agora fora intimidada, ele iria demarcar território, isto é, não a deixaria em paz. Ela chamou os filhos e contou-lhes toda a verdade sobre a saída do pai daquela casa. Ele tinha outra mulher e não voltaria a morar com eles; viria somente para visita-los. As crianças ficaram surpresas, mas não deram muita importância, não faltava nada para eles.
O casamento seria dentro de quinze dias e ela teria tempo suficiente para se preparar.  Mostraria a ele que estava muito bem sozinha.
Na quinta feira à tarde, Sara pediu dispensa do trabalho para ir a uma reunião de artesanato na comunidade de seu bairro e Clara perguntou se poderia acompanha-la. A moça ficou temerosa, pois, o lugar era simples. Mas, disse que seria muito bem recebida.
Clara ficou surpresa com os trabalhos das mulheres daquela comunidade; cada uma fazia um tipo de artesanato e depois vendiam na feira livre do sábado. Colchas de retalhos de fuxico, toalhas de crochê, guardanapos pintados à mão, sacolas de barbante, colares de contas e conchas. E, tantas outras coisas, que a mulher ficou encantada com a criatividade e a camaradagem que havia ali. Comprou algumas coisas e prometeu voltar outras vezes.
        Durante a semana, Clara procurou assuntar com Sara sobre aquelas mulheres e suas vidas; eram alegres e brincalhonas. Bem diferente das mulheres de seu círculo de amizades; fúteis e vazias. Ficou sabendo que o marido de uma delas, o Josias, e o irmão dele, o Tiago, orientavam as vendas e compravam o material necessário com o dinheiro arrecadado na feira. O restante era depositado num fundo que no final do mês era repartido entre as participantes. Havia uma organização que garantia o sustento das famílias envolvidas.
Clara acabara de conhecer um mundo novo, onde as pessoas eram simples, porém, mais felizes. Seu coração lhe dizia que aquele era um lugar mágico e que seu futuro estava ali.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"EU SEM VOCÊ, SOU SÓ DESAMOR. UM BARCO SEM MAR, UM CAMPO SEM FLOR. TRISTEZA QUE VAI, TRISTEZA QUE VEM. SEM VOCÊ, MEU AMOR, EU NÃO SOU NINGUÉM". VINÍCIUS DE MORAES.

SEM SAÍDA
CAPÍTULO SETE
         A conversa aconteceu na sala de estar e, sem dúvida, foi a situação mais constrangedora que Clara já vivera. O homem com o qual se casara era amoroso, íntegro, bom marido, bom filho e bom pai. Entretanto, aquele que ali estava, parecia estar pedindo desculpas por ser fraco e querer viver uma vida extraconjugal. Mentir para as crianças fez sua mulher perceber o grau de envolvimento que ele tinha com sua amante; estava apaixonado. Ela e os filhos tornaram-se, apenas, empecilhos na vida dele.
        Marcos disse aos filhos, que passaria dias fora de casa por conta de negócios que tinha em outras cidades, que era para as crianças se acostumarem e obedecerem à mãe. Poderiam ligar para o seu celular sempre que fosse necessário; nunca os abandonaria. Nada faltaria naquela casa, desde que Clara se comportasse como uma mãe de família honrada. Marcos enfatizou olhando para sua mulher.
Ela ficou furiosa, além de tudo, cobrava fidelidade; um traidor e mentiroso, que só queria viver a vida. Ele tinha a força do dinheiro, porque moral não lhe sobrara nenhuma.
       Clara sentiu vontade de vomitar, mas se conteve, esperaria a hora certa para lhe dar o troco. As crianças foram para o quarto e ele pegou uma maleta de roupas, em seguida saiu sem dizer nada; cantando pneus. Pronto, ela estava só e com dois filhos para criar. Ele que fosse para o inferno, desejou a mulher em prantos.
       - Como aquele homem, que um dia fora seu amor, poderia ser feliz promovendo tanta infelicidade? Só Deus poderia lhe responder.
        Ela estava tão triste que se jogou na cama com a roupa que vestia. Clara gostaria de desaparecer, porém, os filhos precisavam dela e ela teria que ficar forte. Ainda bem que João e Renata não perceberam nada e ela teria alguns dias para lhes contar a verdade. Tomou um comprimido para dor de cabeça e adormeceu. Acordou às sete horas com o telefone tocando.
Era sua irmã chorando e avisando que seu pai falecera no Hospital de sua cidade natal. Clara empalideceu, mais uma noticia ruim.
– O que faria? Precisava avisar seu marido, que deveria estar dormindo com sua amante.
De uma coisa ela tinha certeza, não teria nenhum tipo de compreensão, ele teria que acompanha-la nesse momento de tristeza. Foram quinze anos de casamento, sua família não sabia dos últimos acontecimentos e ele teria que se comportar como um ser civilizado. Bastava à tristeza que sua mãe estava vivendo, não lhe daria mais desgosto.
Quando Marcos atendeu o celular parecia visivelmente contrariado.
       –Será que Clara não lhe daria sossego? Pensou o homem, respondendo rispidamente.
         Ela mal conseguia falar, tão desesperada que estava com a notícia da morte. Ele percebeu que não poderia fugir; disse que iriam para o velório e acompanhar o funeral de seu pai, que esperassem prontos. Na verdade esse fato mexeu com os sentimentos de Marcos, afinal, acompanhar o enterro do pai não é a mesma coisa que acompanhar o enterro de um amigo. Ficara com pena de Clara e triste também, gostava do Romeu, seu sogro; homem alegre e brincalhão. O velho gostava de levar o neto para pescar no lago; João estava inconsolável pela morte do avô.
        Quando ele chegou, Clara e as crianças estavam paradas em frente á casa; Marcos sentiu-se culpado por fazê-los sofrer. Pareciam tão desconsolados e aquela era a sua família.  Apesar de seu amor por Selma, ele amava os filhos e por sua esposa tinha sentimentos contraditórios, ora sentia amor, ora sentia raiva.
 Sentaram-se no automóvel em silêncio, de vez em quando ouviam um lamento e um choro de Clara. Marcos permanecia calado, pois, o silêncio é uma forma de respeito pela dor do outro. Até as crianças compreenderam a dor de sua mãe e também sentiram a morte do avô. Os dois, João e Renata, permaneceram quietos durante todo o trajeto.
       Marcos se comportou muito bem, deu o braço à sua esposa até a beira do túmulo e depois a acompanhou até a casa de sua sogra. Ainda havia muita coisa entre eles; não seria fácil se separar. Ele olhava para sua mulher e quase podia ouvir seu coração chorando. A morte abala, desconcerta e até o coração mais duro sente a dor do outro. Foi um dia desconfortável para o homem que tentava se desligar de sua mulher. As crianças choraram e depois se envolveram com os primos; estavam bem.
À tardinha, Marcos disse à sua sogra que deveria voltar à sua cidade, pois, os negócios não podiam parar. Deu um abraço mudo em Clara e afagou seus cabelos, dizendo que ela deveria ficar uns dias com sua mãe. No fim de semana viria busca-los, já que vieram no automóvel dele. Marcos se foi, deixando uma grande mágoa no coração triste de sua mulher; ela teria que consolar e ser consolada para permanecer viva.
A semana passou devagar entre choros e recordações do velho pai; sua mãe estava fragilizada com os últimos acontecimentos e Clara nada diria sobre seus problemas com Marcos. Não era hora de contar a traição do marido, ficaria para outra ocasião. Estava de luto e seu coração em pedaços.
Clara passou a frequentar a Igreja, precisava de consolo divino e estreitar sua relação com Deus, pois, aliviava sua alma; sentia-se menos triste. No sábado de manhã, Marcos chegou para busca-los e conduzi-los a casa na capital paulista, onde moravam.
      Poucas palavras foram ditas, somente o estritamente necessário. Ele evitava tocar em sua esposa; estava enfeitiçado por Selma. Marcos demonstrava estar com muita pressa.
          - Certamente a amante o estava esperando para algum passeio, pensou sua mulher.
         Quando chegaram a casa, ele entrou e foi até a sala de jantar, deixando ali dinheiro e o cartão de crédito sobre a mesa, depois saiu sem dizer adeus. Clara estava só e sem saída. Quando abriu o guarda roupas, ela constatou que ele já levara todas as suas coisas de uso pessoal para o novo apartamento. Era o fim.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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