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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

"NÃO EXISTE AMOR QUE SOBREVIVA SÓ DE SENTIMENTOS, SEM A CONVERSA MANSA". RUBEM ALVES--- SIGA EM FRENTE, ESTE É O SEGREDO DA VIDA. EVA IBRAHIM.

                                  PERDAS E GANHOS
                                    CAPÍTULO OITO.
O domingo foi de reclusão total, as crianças foram ao Clube com um casal de amigos de Marcos. Clara ficou só, estava exausta por ter sofrido tanta emoção negativa. Quando as crianças voltaram já estava escuro e logo foram dormir. Na segunda feira, Sara a colaboradora da casa, chegou para trabalhar e viu que sua patroa estava com os olhos inchados de tanto chorar; ofereceu um chá, tentando consolá-la.
Depois que os filhos tomaram o ônibus escolar, Clara sentou-se na cadeira em frente à mesa da cozinha; precisava desabafar. E, enquanto catava os feijões que Sara havia colocado ali, para serem escolhidos, ela contou os últimos acontecimentos de sua vida para a mulher, que a ouvia enquanto cuidava de lavar a louça.
A mulher era de confiança e naquele momento era o ombro amigo que acolhia Clara. Vez ou outra Sara balançava a cabeça e dizia conhecer aquela história; havia muitas mulheres em sua comunidade que foram casadas e traídas. Eram histórias corriqueiras para as mulheres pobres de seu bairro, que tinham que trabalhar para sustentar os filhos pequenos.
A conversa fluía fácil, Sara era simples, porém, inteligente e esperta; uma mulher diplomada pela vida. Vivia com a filha, cujo marido estava preso e ela ajudava a criar as três crianças menores. A patroa perguntou do marido de Sara e soube que ele a deixou há muitos anos. Continuava casada, pois, não sabia se o marido estava vivo ou morto; era, portanto, mais uma mulher de papel. Sorrindo, a moça disse que tinha um namorado de fim de semana; vivia feliz.
        Clara foi para seu quarto imaginando como Sara poderia ser feliz com tantos problemas e uma vida tão difícil. Entretanto, aquela conversa lhe fizera bem, mostrou-lhe que havia vida após separações; ela aprenderia a sobreviver também. Os dias passavam lentamente e ela procurava ver televisão ou ler livros e revistas; precisava encontrar alguma coisa para preencher seu tempo.
        Sara a ouvia com muita atenção e a ajudava a entender algumas coisas que ela não conhecia, como por exemplo, ser independente do marido e poder curtir sua liberdade. Andar a esmo, passear sem destino, sair para dançar, participar de reuniões de mulheres da comunidade e dividir suas preocupações com outras pessoas. Clara sentia que seu problema encolhia, sempre que ela contava sua história.
        No sábado seguinte, Marcos apareceu dizendo estar com saudades dos filhos e também queria saber como sua esposa estava passando sozinha. Estava vestido com roupa esporte, bonito e cheiroso como sempre. Seu olhar era misterioso e parecia procurar algo diferente ou algum sinal que revelasse como sua mulher estava vivendo sem ele. Clara desceu serena e elegante; cumprimentou Marcos com educação e o deixou à vontade com os filhos.
        O homem ficou surpreso ao encontrar sua mulher bem disposta e arrumada; tudo continuava no mesmo lugar. Marcos almoçou com ela e as crianças e depois a chamou para conversar na varanda, onde tentou agarrá-la, no que foi repelido violentamente.
        - Que ficasse com sua piranha. Retrucou Clara, fechando a cara.
        Então, ele disse que ela deveria se preparar para acompanhá-lo ao casamento do filho de um de seus sócios. E, deveria levar as crianças também, era uma festa familiar. Todos os seus amigos a conheciam e não era bom dizer que a abandonara, ela deveria lhe fazer companhia sempre que ele precisasse. Ainda tinha deveres para com ele, já que ele continuava pagando as contas da casa.
Ela concordou em acompanha-lo e era só isso, que não tocasse nela. Antes de sair ele a ameaçou, dizendo:
        - Cuidado com o que você faz, estou de olho em você. Em seguida saiu cantando pneus.
       A mulher, além de magoada, agora fora intimidada, ele iria demarcar território, isto é, não a deixaria em paz. Ela chamou os filhos e contou-lhes toda a verdade sobre a saída do pai daquela casa. Ele tinha outra mulher e não voltaria a morar com eles; viria somente para visita-los. As crianças ficaram surpresas, mas não deram muita importância, não faltava nada para eles.
O casamento seria dentro de quinze dias e ela teria tempo suficiente para se preparar.  Mostraria a ele que estava muito bem sozinha.
Na quinta feira à tarde, Sara pediu dispensa do trabalho para ir a uma reunião de artesanato na comunidade de seu bairro e Clara perguntou se poderia acompanha-la. A moça ficou temerosa, pois, o lugar era simples. Mas, disse que seria muito bem recebida.
Clara ficou surpresa com os trabalhos das mulheres daquela comunidade; cada uma fazia um tipo de artesanato e depois vendiam na feira livre do sábado. Colchas de retalhos de fuxico, toalhas de crochê, guardanapos pintados à mão, sacolas de barbante, colares de contas e conchas. E, tantas outras coisas, que a mulher ficou encantada com a criatividade e a camaradagem que havia ali. Comprou algumas coisas e prometeu voltar outras vezes.
        Durante a semana, Clara procurou assuntar com Sara sobre aquelas mulheres e suas vidas; eram alegres e brincalhonas. Bem diferente das mulheres de seu círculo de amizades; fúteis e vazias. Ficou sabendo que o marido de uma delas, o Josias, e o irmão dele, o Tiago, orientavam as vendas e compravam o material necessário com o dinheiro arrecadado na feira. O restante era depositado num fundo que no final do mês era repartido entre as participantes. Havia uma organização que garantia o sustento das famílias envolvidas.
Clara acabara de conhecer um mundo novo, onde as pessoas eram simples, porém, mais felizes. Seu coração lhe dizia que aquele era um lugar mágico e que seu futuro estava ali.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"EU SEM VOCÊ, SOU SÓ DESAMOR. UM BARCO SEM MAR, UM CAMPO SEM FLOR. TRISTEZA QUE VAI, TRISTEZA QUE VEM. SEM VOCÊ, MEU AMOR, EU NÃO SOU NINGUÉM". VINÍCIUS DE MORAES.

SEM SAÍDA
CAPÍTULO SETE
         A conversa aconteceu na sala de estar e, sem dúvida, foi a situação mais constrangedora que Clara já vivera. O homem com o qual se casara era amoroso, íntegro, bom marido, bom filho e bom pai. Entretanto, aquele que ali estava, parecia estar pedindo desculpas por ser fraco e querer viver uma vida extraconjugal. Mentir para as crianças fez sua mulher perceber o grau de envolvimento que ele tinha com sua amante; estava apaixonado. Ela e os filhos tornaram-se, apenas, empecilhos na vida dele.
        Marcos disse aos filhos, que passaria dias fora de casa por conta de negócios que tinha em outras cidades, que era para as crianças se acostumarem e obedecerem à mãe. Poderiam ligar para o seu celular sempre que fosse necessário; nunca os abandonaria. Nada faltaria naquela casa, desde que Clara se comportasse como uma mãe de família honrada. Marcos enfatizou olhando para sua mulher.
Ela ficou furiosa, além de tudo, cobrava fidelidade; um traidor e mentiroso, que só queria viver a vida. Ele tinha a força do dinheiro, porque moral não lhe sobrara nenhuma.
       Clara sentiu vontade de vomitar, mas se conteve, esperaria a hora certa para lhe dar o troco. As crianças foram para o quarto e ele pegou uma maleta de roupas, em seguida saiu sem dizer nada; cantando pneus. Pronto, ela estava só e com dois filhos para criar. Ele que fosse para o inferno, desejou a mulher em prantos.
       - Como aquele homem, que um dia fora seu amor, poderia ser feliz promovendo tanta infelicidade? Só Deus poderia lhe responder.
        Ela estava tão triste que se jogou na cama com a roupa que vestia. Clara gostaria de desaparecer, porém, os filhos precisavam dela e ela teria que ficar forte. Ainda bem que João e Renata não perceberam nada e ela teria alguns dias para lhes contar a verdade. Tomou um comprimido para dor de cabeça e adormeceu. Acordou às sete horas com o telefone tocando.
Era sua irmã chorando e avisando que seu pai falecera no Hospital de sua cidade natal. Clara empalideceu, mais uma noticia ruim.
– O que faria? Precisava avisar seu marido, que deveria estar dormindo com sua amante.
De uma coisa ela tinha certeza, não teria nenhum tipo de compreensão, ele teria que acompanha-la nesse momento de tristeza. Foram quinze anos de casamento, sua família não sabia dos últimos acontecimentos e ele teria que se comportar como um ser civilizado. Bastava à tristeza que sua mãe estava vivendo, não lhe daria mais desgosto.
Quando Marcos atendeu o celular parecia visivelmente contrariado.
       –Será que Clara não lhe daria sossego? Pensou o homem, respondendo rispidamente.
         Ela mal conseguia falar, tão desesperada que estava com a notícia da morte. Ele percebeu que não poderia fugir; disse que iriam para o velório e acompanhar o funeral de seu pai, que esperassem prontos. Na verdade esse fato mexeu com os sentimentos de Marcos, afinal, acompanhar o enterro do pai não é a mesma coisa que acompanhar o enterro de um amigo. Ficara com pena de Clara e triste também, gostava do Romeu, seu sogro; homem alegre e brincalhão. O velho gostava de levar o neto para pescar no lago; João estava inconsolável pela morte do avô.
        Quando ele chegou, Clara e as crianças estavam paradas em frente á casa; Marcos sentiu-se culpado por fazê-los sofrer. Pareciam tão desconsolados e aquela era a sua família.  Apesar de seu amor por Selma, ele amava os filhos e por sua esposa tinha sentimentos contraditórios, ora sentia amor, ora sentia raiva.
 Sentaram-se no automóvel em silêncio, de vez em quando ouviam um lamento e um choro de Clara. Marcos permanecia calado, pois, o silêncio é uma forma de respeito pela dor do outro. Até as crianças compreenderam a dor de sua mãe e também sentiram a morte do avô. Os dois, João e Renata, permaneceram quietos durante todo o trajeto.
       Marcos se comportou muito bem, deu o braço à sua esposa até a beira do túmulo e depois a acompanhou até a casa de sua sogra. Ainda havia muita coisa entre eles; não seria fácil se separar. Ele olhava para sua mulher e quase podia ouvir seu coração chorando. A morte abala, desconcerta e até o coração mais duro sente a dor do outro. Foi um dia desconfortável para o homem que tentava se desligar de sua mulher. As crianças choraram e depois se envolveram com os primos; estavam bem.
À tardinha, Marcos disse à sua sogra que deveria voltar à sua cidade, pois, os negócios não podiam parar. Deu um abraço mudo em Clara e afagou seus cabelos, dizendo que ela deveria ficar uns dias com sua mãe. No fim de semana viria busca-los, já que vieram no automóvel dele. Marcos se foi, deixando uma grande mágoa no coração triste de sua mulher; ela teria que consolar e ser consolada para permanecer viva.
A semana passou devagar entre choros e recordações do velho pai; sua mãe estava fragilizada com os últimos acontecimentos e Clara nada diria sobre seus problemas com Marcos. Não era hora de contar a traição do marido, ficaria para outra ocasião. Estava de luto e seu coração em pedaços.
Clara passou a frequentar a Igreja, precisava de consolo divino e estreitar sua relação com Deus, pois, aliviava sua alma; sentia-se menos triste. No sábado de manhã, Marcos chegou para busca-los e conduzi-los a casa na capital paulista, onde moravam.
      Poucas palavras foram ditas, somente o estritamente necessário. Ele evitava tocar em sua esposa; estava enfeitiçado por Selma. Marcos demonstrava estar com muita pressa.
          - Certamente a amante o estava esperando para algum passeio, pensou sua mulher.
         Quando chegaram a casa, ele entrou e foi até a sala de jantar, deixando ali dinheiro e o cartão de crédito sobre a mesa, depois saiu sem dizer adeus. Clara estava só e sem saída. Quando abriu o guarda roupas, ela constatou que ele já levara todas as suas coisas de uso pessoal para o novo apartamento. Era o fim.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

"NINGUÉM É REALMENTE NOSSO, AS PESSOAS APENAS ESCOLHEM FICAR CONOSCO OU NÃO".EVA IBRAHIM

              CORAÇÃO PARTIDO
                              CAPÍTULO SEIS
Clara sentia, em seu íntimo, que seu casamento estava chegando ao fim. Todas as traições são precedidas de sinais, mas ninguém quer acreditar até conseguir a prova, isto é, ver com os próprios olhos. Quando ela presenciou o beijo de Marcos com sua secretária, seu mundo caiu; a verdade estava à vista. Depois da conversa com o marido ela entendeu que estava só e teria que encontrar uma saída. O fato de Marcos não parar em casa, deixar o celular desligado, dispensar aquele beijo que dava ao chegar ou sair de casa, lhe parecia estranho, porém, talvez fosse apenas cansaço ou preocupação com os negócios. Aos poucos foram deixando de lado o sorriso de cumplicidade que envolvia o casal, os votos de um bom dia, ou a tradicional pergunta:
 -Como foi seu dia? Está tudo bem?
Quando deixaram de existir era hora de tomar uma atitude, pois, são pequenos detalhes, que comprovam uma convivência fracassada e prestes a sucumbir. Ela tornara-se uma mulher ingênua depois de seu casamento, que acreditava ser para sempre. E, só depois de perceber que estava perdendo o marido para outra mulher, ela entendeu que as pessoas mudam. Estava cega ou não queria ver; agora era tarde demais. Seu marido estava demonstrando que já não se importava com ela. Marcos continuava ali por causa dos filhos e para manter as aparências em uma sociedade hipócrita, que cobra posturas tradicionais para o bom relacionamento entre empresas prósperas.
 É difícil para ambos, o que quer ir e o que quer que fique; Clara teria que tomar uma decisão. Não conseguiria prendê-lo por muito tempo e também tinha amor próprio e não o queria por piedade. Que ficasse com sua secretária, pelo menos, seria uma pessoa feliz; ela teria que se virar.
A mulher sentia-se uma pessoa covarde, pois, deveria pular em cima da moça com unhas e dentes e expulsá-la da vida deles. Na verdade ela queria gritar, com o dedo em riste, apontado para o marido e acusá-lo de traição. Porém, não poderia expor seus filhos a escândalos passionais; não queria que servissem de comentários maldosos na Escola. Clara era uma pessoa civilizada e por ora se contentaria em ser apenas uma mulher de papel.
Havia um vazio dentro de si, estava com sua autoestima muito baixa. O que não saia de sua cabeça eram as mentiras, que doíam mais que a traição propriamente dita. Ela não entendia como Marcos pode se desfazer de um amor tão completo e maravilhoso, que para ela ainda estava presente. Ele simplesmente a descartou para ficar com uma moça de princípios duvidosos, que destruíra seu lar sem pensar em sua dor ou no sofrimento das crianças. É dai que vem a mágoa que ataca o corpo e a alma, nada acalma; a vida perde o sentido.
Sair para esquecer um pouco de sua dor é pior, pois o casal que anda de mãos dadas ou aquele que se beija em público, faz avivar seu sentimento de rejeição. Parece que o amor não pode ser vivido por você, está definitivamente só e triste. Precisa aprender a viver e caminhar sozinha novamente.
Nos dias que se seguiram havia um clima pesado entre o casal, que procurava disfarçar para as crianças não perceberem. Entretanto, João viu o pai saindo do quarto de hóspedes e contou para a irmã, que questionou a mãe na hora do jantar. O pai explicou que estava com gripe forte e não queria que a mãe contraísse a doença, por isso estava dormindo em outro quarto. Momentaneamente o assunto fora resolvido, João concordou e mudou de assunto.
Dias se passaram e Marcos continuava saindo e voltando tarde da noite; Clara só sossegava quando ouvia seu marido entrar. Depois chorava até pegar no sono. Lá no fundo ela ainda tinha a esperança de que ele entrasse em seu quarto e dissesse que aquilo tudo havia sido apenas um equívoco.
  Certo dia, ela atendeu ao telefone e era um homem do outro lado da linha pedindo para ela avisar seu marido que o apartamento já estava pronto e que ele poderia se mudar quando quisesse. A mulher sentou-se e empalideceu. Sara, que a estava observando, pegou um copo de água e trouxe para ela tomar, querendo saber o que acontecera.
Entre lágrimas, Clara contou tudo à sua colaboradora, era a pessoa em quem poderia confiar. Não queria aborrecer sua família, pois seu pai andava muito doente. Seu marido iria morar com Selma, isso ficara claro para ela. Suas últimas esperanças se esvaíram com o telefonema recebido, porém ela não daria o recado, ele que descobrisse sozinho.
Nesse dia ela não desceu para jantar, dizendo estar com enxaqueca, não se humilharia mais. Depois de dois dias, seu marido chegou mais cedo e disse que queria conversar com ela e os filhos após o jantar. Clara estremeceu, sabia do que se tratava; ele iria sair de casa para morar com aquela vagabunda, que o tirara dela.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

"SABE PORQUE A DECEPÇÃO DÓI TANTO? PORQUE ELA NUNCA VEM DE UM INIMIGO". AUTOR DESCONHECIDO. --- A TRISTEZA CORRÓI A ALMA. EVA IBRAHIM.

                      CARA DE PAU
                  CAPÍTULO CINCO..
Depois de vinte longos minutos, seu marido, o cara de pau, apareceu dizendo que teve um desarranjo estomacal. Marcos deveria ser ator, pensou sua mulher, pois mantinha a mão na altura do estômago e o corpo encurvado, dando veracidade ao que dizia. Os amigos, condoídos da situação, o aconselharam a procurar um médico. Porém, ele melhorou o suficiente para se recusar a visitar o médico, dizendo que só precisava descansar um pouco. E, olhando para Clara pediu que chamasse os filhos para irem embora.
A mulher levantou-se e foi chamar as crianças, dizendo que compraria lanches para todos, já que o almoço não aconteceria.  Depois da aquisição dos lanches, a família voltou para casa em silêncio. As crianças estavam cansadas e o casal parecia distante; havia uma nuvem negra no ar.
O homem estava compenetrado em seus pensamentos e Clara imaginava que o motivo seria a secretária; deveria estar armando alguma coisa. Ele não poderia, em hipótese nenhuma, imaginar que ela presenciara o amasso, entre ele e sua amante, no pátio dos fundos do restaurante. A mulher só pensava em vingança, ele merecia um par de chifres, iguais aos dela. Porém, Clara não era desse tipo de mulher, teria que refletir muito antes de tomar qualquer atitude.
Marcos deitou-se no sofá do escritório e Clara foi para seu quarto chorar escondido do marido e das crianças. João e Renata passaram à tarde no computador e vídeo game, não perceberam que sua mãe estava triste. Clara tomou banho e toda arrumada desceu para providenciar o jantar, que Sara deixara pronto no freezer. Chamou o marido com um toque em seu braço e deixando sua mágoa de lado, perguntou se estava melhor. Ele disse que sim e foi se preparar para o jantar.
O marido parecia estar alegre e puxou conversa com a mulher e os filhos; parecia o bom pai de família que sempre fora. Fazia planos para passeios com as crianças e sua mulher. Ele conseguiu descontrair o ambiente levando as crianças a dar boas gargalhadas. Clara só observava e refletia sobre os últimos acontecimentos. Parecia que a partir desse dia haveria uma representação teatral, onde ela e o marido fingiriam uma harmonia inexistente.
– Como ele conseguia fingir tão bem, ou será que tentava compensar o remorso da traição sendo amável com sua família? Pensava a mulher desconfiada.
 A semana seguinte correu normalmente; o marido chegava tarde e ia dormir, dizendo estar cansado. Clara sentia-se transparente, pois, parecia que Marcos não a via; olhava através dela. Ela não queria perder as regalias que tinha e ele apenas queria se divertir com a amante, mantendo a esposa em casa, para mostrar aos amigos e acompanha-lo quando necessário. Para um homem de negócios era bom passar credibilidade, mantinha seu nome íntegro no meio empresarial, onde a disputa é cerrada. Clara era a mulher ideal; fina, educada e concordava com tudo que ele falava.
  Ela passava os dias refletindo sobre sua situação, se virasse a “mesa”, isto é, dissesse tudo que estava entalado em sua garganta, não poderia voltar atrás. Haveria o rompimento e ela teria que viver precariamente e se aceitasse a situação teria que se anular como pessoa.
  Procurou a ajuda de Deus passando a frequentar a Igreja e até se aconselhou com o pároco, que era contra a separação. Recorreu a Bíblia e nada mudava; Marcos estava cada dia mais distante. Passava os finais de semana viajando com Selma e nem fazia questão de esconder. Quando Clara desabafou e disse que não aguentava mais, ele disse que pediria o divórcio se ela quisesse, porém deveria pensar muito, pois teria que viver com a pensão ou trabalhar para viver.
 Ele já não a desejava mais, porém, era a mãe de seus filhos e a queria como mulher para acompanha-lo em ocasiões especiais. Exigia fidelidade e ela continuaria desfrutando de tudo e cuidando dos filhos. A mulher levou um choque, era uma forma de se anular como mulher o que Marcos lhe propusera; seria apenas uma mulher de papel.
 Ela era casada no papel, mas não tinha marido na cama. A mulher não conseguia dormir, olhava a cama vazia e chorava; o marido se mudara para o quarto de hóspedes.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana..

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

"ALGUMAS VEZES É PRECISO SILENCIAR, SAIR DE CENA E ESPERAR QUE O TEMPO NOS TRAGA AS RESPOSTAS". AUTOR DESCONHECIDO.-- O SILÊNCIO É UM GRANDE AMIGO. EVA IBRAHIM.

                    QUERO COLO
             CAPÍTULO QUATRO
       Clara estacionou o automóvel na garagem e chamou o marido, que dormia com a cabeça recostada no vidro do lado do passageiro. Marcos abriu os olhos e, surpreso, viu que haviam chegado a casa. Desceu do automóvel dizendo que a bebida que tomara era forte demais, não estava acostumado; apenas acompanhara os amigos. A mulher sorriu e o abraçou pela cintura aconchegando seu corpo ao dele, que não a repeliu.
Ele parecia estar embriagado e entrou no banheiro para tomar um banho antes de se deitar. Sua mulher sentiu que a oportunidade de se aproximar de Marcos havia chegado e não hesitou, despindo-se e entrando no banheiro também. Tomaram banho juntos, como nos velhos tempos e depois do amor, foram dormir abraçados. Ele adormeceu logo, mas Clara ficou saboreando aquele momento. Seu marido estava de volta ou talvez fosse consequência da bebida; uma nuvem negra surgiu em seu pensamento.
-Não, ela não iria estragar aquele momento; estava feliz.
Passou a mão nos cabelos do marido fazendo um carinho e tratou de adormecer agarrada a ele.
 Sara cuidara de tudo e depois do café pronto, a moça saiu, precisava voltar para casa. Clara ouviu o portão bater, levantando-se a seguir. Ela estava alegre como há muito tempo não se sentia. Foi ver seus filhos, que ainda dormiam e depois voltou ao quarto para se arrumar. Queria ficar bonita para agradar seu marido quando ele acordasse, precisava reconquistá-lo, mas ainda não sabia como agir.
Esperava ansiosa que ele acordasse de bom humor e a tratasse com carinho, ou ela ficaria triste para sempre. Clara amava seu marido, embora ele a tenha feito sofrer muito no último ano. A presença dele ainda fazia seu coração acelerar; o amor estava adormecido pela indiferença sofrida. Muitas vezes ela pensava que odiava o marido, mas era sentimento passageiro, que andava junto com o amor.
A mulher pensava em Selma, queria que o marido a despedisse, porém, como ela poderia abordar esse assunto sem provocar a ira de Marcos? O risco de ser abandonada era grande, ele parecia enfeitiçado.
 Poderia afastá-lo de vez e jogá-lo nos braços da moça, que era vivida e muito esperta. Teria que ser prudente com as palavras e atitudes. Pensou em João e Renata, que não imaginavam o drama que a mãe estava enfrentando. Eles eram sua esperança em manter seu casamento em pé, porque Marcos amava os filhos, disso ela tinha certeza. Precisavam da mãe e do pai juntos, pois, João tinha doze e Renata dez anos. Admiravam os pais e os tinha como exemplo de vida; não poderiam sofrer uma decepção com seus pais nessa idade, pensava Clara, preocupada.
A mulher tinha uma vida tranquila e farta; os filhos, uma bela casa, automóvel, joias e Sara. A moça que era, também, sua secretária e ultimamente sua confidente. Marcos nunca questionava o que ela gastava, confiava na mulher. Um casamento estável, de provocar inveja em outras mulheres. Sua vida desmoronou com a admissão da nova secretária, que transformou sua vida num inferno.
As crianças acordaram e com o barulho o pai também acordou. Levantou-se e foi tomar café com os filhos e sua mulher, parecia normal. Estava alegre e convidou a família para passar o dia no Clube de Campo. Todos concordaram, iriam à piscina enquanto o pai e a mãe se juntariam aos amigos, que sempre estavam por lá.
Enquanto as crianças pegavam a mochila, Clara e Marcos subiram ao quarto para trocar as roupas e ela aproveitou para beijá-lo. Ele correspondeu e, em seguida, saíram felizes; estava tudo bem. A mulher agia como se nada tivesse acontecido, fazia algumas colocações sobre as crianças e comentários sobre a paisagem. Nada que pudesse lembrar os fatos sobre as traições de Marcos com sua secretária.
Chegaram ao Clube e foram ao encontro de um casal amigo, que estava sentado ao redor de uma mesa, conversando e tomando um aperitivo. Ficaram bebericando e jogando conversa fora durante algum tempo, Clara olhou para o relógio e concluiu que, estava quase na hora do almoço e Marcos levantou-se dizendo que iria ao banheiro. Clara esperou um pouco e levantou-se para chamar as crianças, saindo pelos fundos do salão.
A mulher ficou muda e extática quando viu um casal se beijando em um canto do jardim. Era o seu marido beijando a amante com a mão em sua cintura. Os cabelos louros e fartos da moça não deixavam campo de visão para Marcos e eles não viram a mulher parada na porta.
   Clara retrocedeu, estava pálida, quase desmaiando, mas conseguiu retornar à mesa. Os amigos perguntaram se estava bem e ela disse que não; iria para casa assim que o marido voltasse do banheiro.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana..

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

"ALGUMAS COISAS NÃO PRECISAM FAZER SENTIDO, BASTA VALER A PENA". RENATO RUSSO.-- A VIDA NÃO ESPERA POR NINGUÉM... EVA IBRAHIM.

                                     FRENTE A FRENTE.
                                  CAPÍTULO TRÊS.
        Clara precisava de uma pessoa para acompanha-la ao Shopping e ajuda-la a carregar as sacolas. Pensou e não conseguiu imaginar uma pessoa que fosse boa ouvinte, quieta e pudesse dar palpites sinceros se fosse necessário.     Entrou na cozinha e viu sua ajudante; uma moça que deveria ter uns quarenta anos, bonita, porém, bastante judiada pela vida dura. Estava na casa fazia uns dez anos, desde que a sua filha Renata era apenas um bebê. As crianças cresceram ao lado de Sara, que sempre demonstrou ter muita competência e afeto pelos seus filhos. 
.       Chamou a moça e lhe propôs um serviço extra, em troca ganharia vestido e sapatos novos, além de uma gratificação em dinheiro. A moça adorou a ideia e aceitou a oferta. Clara pediu que se arrumasse, dando-lhe um de seus vestidos e comprasse sapatos novos, iriam ao Shopping no dia seguinte.
Sara chegou toda produzida e sua aparência agradou até ao João e a Renata, os filhos de Clara. Depois de deixar as crianças no colégio, as duas mulheres foram às compras; Clara estava decidida, agora Marcos iria ver o estrago que aquela “Jeca” faria em seu cartão de crédito.
A mulher era bonita, uma morena vistosa; formada em administração de empresas e tinha um gosto refinado, mas, ultimamente andava tão desgostosa com sua vida de casada que relaxara um pouco. Clara e sua secretária iriam procurar roupas, sapatos e acessórios para ela se arrumar para o jantar do Clube, onde estariam os amigos e a amante de seu marido.
          Sara colaborou com tudo que a patroa queria fazer e dormiria no serviço, no dia do jantar, para cuidar das crianças. Na sexta-feira, Clara se deu de presente, “um dia de princesa”; cuidou do corpo, das unhas e dos cabelos e a noite vestiu sua roupa nova. Quando Marcos a viu descer as escadas, parou para admirá-la. Sua esposa estava linda em seu traje de noite; um vestido vermelho justo, com babados e decotado, deixando seu colo à mostra. Clara tinha o cabelo preso no alto da cabeça e um mistério no olhar. Ela usava brincos e gargantilha de pedras pretas incrustradas em ouro branco, combinando com a bolsa e os sapatos. Estava chique e deslumbrante, arrancando suspiro de seu marido, que não disse nada, mas lhe deu o braço, em silêncio; parecia chocado. Durante o trajeto ele apenas perguntou das crianças e depois ficou calado, mas de vez em quando dava uma olhada para ver sua mulher.
Quando adentraram ao salão em direção à mesa, a mulher avistou a secretária de Marcos sentada ao redor da mesa. Ela estava com outro casal de amigos de seu marido. Clara fez questão de se sentar em frente a Selma, sua rival. Uma loura bonita e vulgar, concluiu a mulher traída. Houve os cumprimentos de praxe enquanto chegavam mais dois casais que se juntaram aos demais. E, finalmente chegou o advogado de Marcos que fez par com sua secretária. A mesa do jantar estava completa, poderiam fazer o pedido.
Os homens ora comiam, ora falavam de negócios, enquanto as mulheres se entreolhavam e falavam umas com as outras sobre banalidades. Selma foi irônica ao dizer que Clara estava bonita; ela agradeceu com um sorriso desafiador. Iria colocar aquela víbora em seu lugar.
Quando o jantar terminou, Clara disse ao marido que queria dançar e o puxou para a pista de danças, onde já havia outros casais dançando. A amante ficou na mesa olhando o casal e Marcos colou seu rosto ao de sua mulher. Selma olhava com ódio para Clara, que fazia questão de ostentar uma felicidade que há muito não acontecia.
Selma não acreditava que Marcos a estava ignorando e dançando com a mulher que dizia não amar mais.
–Será que ele não a queria mais?
 Pesou na alma da moça a condição de amante e o desapontamento estava estampado em seu rosto. A guerra fora declarada, havia lampejos de raiva quando cruzavam olhares. Clara conseguiu manter o marido ao seu lado até o final do baile e saíram abraçados. Marcos já estava um tanto embriagado e ela sentou-se na direção do automóvel; estava feliz, demonstrara força à sua rival. Porém, lá no fundo ela sabia que fora apenas uma pequena luta vencida em uma guerra cruel.
Marcos cochilava e ela pensava nas mulheres que choram por um amor sem futuro. Muitas, como ela, que são fiéis e submissas a um homem que faz questão de ignorá-las. Aquelas para quem não falta dinheiro, mas falta amor, carinho, companheirismo e atenção. Clara sentia-se enganada, assustada, traída diante de um homem que ela amava e que não a queria mais. Aquele dia ele percebera que ela estava presente e ela aguardava ansiosa por carinho; Seu maior desejo era terminar a noite nos braços de seu amor.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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