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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

"ALGUMAS COISAS NÃO PRECISAM FAZER SENTIDO, BASTA VALER A PENA". RENATO RUSSO.-- A VIDA NÃO ESPERA POR NINGUÉM... EVA IBRAHIM.

                                     FRENTE A FRENTE.
                                  CAPÍTULO TRÊS.
        Clara precisava de uma pessoa para acompanha-la ao Shopping e ajuda-la a carregar as sacolas. Pensou e não conseguiu imaginar uma pessoa que fosse boa ouvinte, quieta e pudesse dar palpites sinceros se fosse necessário.     Entrou na cozinha e viu sua ajudante; uma moça que deveria ter uns quarenta anos, bonita, porém, bastante judiada pela vida dura. Estava na casa fazia uns dez anos, desde que a sua filha Renata era apenas um bebê. As crianças cresceram ao lado de Sara, que sempre demonstrou ter muita competência e afeto pelos seus filhos. 
.       Chamou a moça e lhe propôs um serviço extra, em troca ganharia vestido e sapatos novos, além de uma gratificação em dinheiro. A moça adorou a ideia e aceitou a oferta. Clara pediu que se arrumasse, dando-lhe um de seus vestidos e comprasse sapatos novos, iriam ao Shopping no dia seguinte.
Sara chegou toda produzida e sua aparência agradou até ao João e a Renata, os filhos de Clara. Depois de deixar as crianças no colégio, as duas mulheres foram às compras; Clara estava decidida, agora Marcos iria ver o estrago que aquela “Jeca” faria em seu cartão de crédito.
A mulher era bonita, uma morena vistosa; formada em administração de empresas e tinha um gosto refinado, mas, ultimamente andava tão desgostosa com sua vida de casada que relaxara um pouco. Clara e sua secretária iriam procurar roupas, sapatos e acessórios para ela se arrumar para o jantar do Clube, onde estariam os amigos e a amante de seu marido.
          Sara colaborou com tudo que a patroa queria fazer e dormiria no serviço, no dia do jantar, para cuidar das crianças. Na sexta-feira, Clara se deu de presente, “um dia de princesa”; cuidou do corpo, das unhas e dos cabelos e a noite vestiu sua roupa nova. Quando Marcos a viu descer as escadas, parou para admirá-la. Sua esposa estava linda em seu traje de noite; um vestido vermelho justo, com babados e decotado, deixando seu colo à mostra. Clara tinha o cabelo preso no alto da cabeça e um mistério no olhar. Ela usava brincos e gargantilha de pedras pretas incrustradas em ouro branco, combinando com a bolsa e os sapatos. Estava chique e deslumbrante, arrancando suspiro de seu marido, que não disse nada, mas lhe deu o braço, em silêncio; parecia chocado. Durante o trajeto ele apenas perguntou das crianças e depois ficou calado, mas de vez em quando dava uma olhada para ver sua mulher.
Quando adentraram ao salão em direção à mesa, a mulher avistou a secretária de Marcos sentada ao redor da mesa. Ela estava com outro casal de amigos de seu marido. Clara fez questão de se sentar em frente a Selma, sua rival. Uma loura bonita e vulgar, concluiu a mulher traída. Houve os cumprimentos de praxe enquanto chegavam mais dois casais que se juntaram aos demais. E, finalmente chegou o advogado de Marcos que fez par com sua secretária. A mesa do jantar estava completa, poderiam fazer o pedido.
Os homens ora comiam, ora falavam de negócios, enquanto as mulheres se entreolhavam e falavam umas com as outras sobre banalidades. Selma foi irônica ao dizer que Clara estava bonita; ela agradeceu com um sorriso desafiador. Iria colocar aquela víbora em seu lugar.
Quando o jantar terminou, Clara disse ao marido que queria dançar e o puxou para a pista de danças, onde já havia outros casais dançando. A amante ficou na mesa olhando o casal e Marcos colou seu rosto ao de sua mulher. Selma olhava com ódio para Clara, que fazia questão de ostentar uma felicidade que há muito não acontecia.
Selma não acreditava que Marcos a estava ignorando e dançando com a mulher que dizia não amar mais.
–Será que ele não a queria mais?
 Pesou na alma da moça a condição de amante e o desapontamento estava estampado em seu rosto. A guerra fora declarada, havia lampejos de raiva quando cruzavam olhares. Clara conseguiu manter o marido ao seu lado até o final do baile e saíram abraçados. Marcos já estava um tanto embriagado e ela sentou-se na direção do automóvel; estava feliz, demonstrara força à sua rival. Porém, lá no fundo ela sabia que fora apenas uma pequena luta vencida em uma guerra cruel.
Marcos cochilava e ela pensava nas mulheres que choram por um amor sem futuro. Muitas, como ela, que são fiéis e submissas a um homem que faz questão de ignorá-las. Aquelas para quem não falta dinheiro, mas falta amor, carinho, companheirismo e atenção. Clara sentia-se enganada, assustada, traída diante de um homem que ela amava e que não a queria mais. Aquele dia ele percebera que ela estava presente e ela aguardava ansiosa por carinho; Seu maior desejo era terminar a noite nos braços de seu amor.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

"A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO, EMBÓRA HAJA TANTOS DESENCONTROS PELA VIDA". VINÍCIUS DE MORAES-- NUNCA RECLAME DO QUE VOCÊ PERMITE. EVA IBRAHIM.

       
                                                    LOBO BOBO. 
                                                  CAPÍTULO DOIS
            Clara havia descoberto a traição de Marcos pela internet. Certo dia, seu marido chegou apressado dizendo para ela colocar algumas peças de roupas em uma maleta, que ele precisava viajar para o Rio de Janeiro a negócios. O casal morava na cidade de São Paulo e raramente Marcos viajava sem a família, pois quem o representava era o advogado da firma. Porém, ele disse que iria passar o final de semana  cuidando de seus negócios. Ela perguntou se ele iria sozinho; Marcos não respondeu, apenas desconversou.
           O homem saiu apressado e ela ficou sentada na cama, sem saber o que pensar. Ele nem cogitou da possibilidade de levá-la; na verdade ele mal olhou para ela. Tristonha, Clara se dirigiu até o escritório e viu o Notebook do marido aberto sobre a escrivaninha.
       Aproximou-se e viu que estava na página da companhia aérea que ele comprara as passagens. Marcos fizera o check in e se esquecera de fechar a página, estava com muita pressa, pois jamais ele deixaria seu Notebook aberto. Clara ficou pensativa.
     -Como ele iria trabalhar sem sua melhor ferramenta? A dúvida fez morada em seu pensamento. Sentou-se no computador e olhando a tela ficou pasma. A passagem era para dois lugares; Marcos e Selma Junqueira.
       Desde esse episódio, Clara perdeu o sossego; foi ao escritório para conhecer a tal moça e teve a certeza de que não seria fácil reconquistar seu marido. Selma tinha todas as características de mulher fatal, que destroem lares sem nenhuma preocupação. Era muito bonita, do tipo que os homens gostam; vistosa, alegre e provocante.  
       Clara se mantinha calada, sua situação era complicada, pois ela e seus dois filhos não poderiam sobreviver sem o marido; Marcos era o provedor da casa. Lentamente ela foi observando as mudanças de atitudes do marido. Chegava tarde da noite em casa e dizendo estar cansado, deitava-se e dormia. E, se fosse questionado, fechava a cara e passava dias sem conversar com ela.
        A mulher, desesperada, procurou terapia para poder entender o que se passava com seu marido.  Para sua surpresa ela descobriu que Marcos estava na “idade do lobo”. A terapeuta lhe disse que a fase da virada dos quarenta anos equivale a um novo ciclo de vida, é o período onde a ansiedade, o aparecimento de cabelos brancos e a certeza da velhice estão presentes no pensamento da maioria dos homens. O medo de perder a potência sexual é o maior fantasma que assombra os homens nessa faixa de idade, por isso eles se voltam para as mulheres mais jovens, deixando suas esposas em segundo plano. Procuram provar para si mesmos que continuam com a mesma disposição que tinham aos vinte anos; é uma forma de autoafirmação.                 
    Passam a ignorar sua rotina querendo realizar sonhos antigos; parece que algo ficou perdido no passado e que precisa ser resgatado a todo custo. Então, procuram frequentar as academias e a cuidar em excesso da aparência. Querem demonstrar que ainda podem conquistar uma mulher mais jovem, que geralmente se torna sua amante.
     A esposa perde a graça para ele, vendo-a como uma figura materna, boa para cuidar da casa e dos filhos. Não desperta mais seus desejos, que procura em outras mulheres. O homem torna-se uma pessoa egoísta, ignorando os sentimentos de sua esposa. A mulher se torna refém do passado, isto é, do tempo em que foi feliz com seu marido e as traições e mágoas começam a incomodar.
      Clara era uma mulher esclarecida e procurava agir normalmente para Marcos não se sentir acuado. De algum modo ela sentia-se segura enquanto ele pensasse que ela não sabia do seu caso com a secretária.
      Quando ela cobrava sua presença e seus carinhos ele fingia voltar para o ninho. Acontecia a aproximação por obrigação, porém, logo ele se distanciava novamente. Clara sentia-se rejeitada, uma “jeca” como ele a chamou. Duas lágrimas rolaram de seus olhos e ela resolveu enfrentar a situação; iria às compras.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

HOJE INICIAMOS UMA NOVA HISTÓRIA EM CAPÍTULOS. "MULHERES DE PAPEL" DE EVA IBRAHIM. --" RENUNCIO AS HONRAS, MAS NÃO A LUTA" EVITA PERON

                            MULHERES DE PAPEL.
                                 CAPITULO UM.
            Marcos chegou do aeroporto e jogou sua bolsa sobre a mesa de jantar e olhando de relance viu sua esposa, Clara, sentada no sofá folheando uma revista. Desconfiada a mulher levantou-se para recebê-lo, fazia quatro dias que ele viajara para o Rio de Janeiro e não atendia o celular. Lá no fundo ela sabia que estava sendo traída, mas não tinha forças para reagir, nem mesmo abordar o assunto; temia acabar na rua da amargura.
          Educadamente ele disse: - Tudo bem?
Ela aquiesceu com a cabeça e se aproximou esperando que ele lhe desse um beijo, porém, ele foi saindo e dizendo que na sexta-feira teriam um jantar no Clube de Campo.  E, enfatizando as palavras, determinou que ela fosse ao salão de beleza e ficasse apresentável, pois era um jantar de casais e ele tinha negócios naquele meio; precisava se apresentar em grande estilo. Finalizando ele disse que não queria uma “jeca” como sua acompanhante, que fosse comprar uma roupa nova.
          Marcos saiu e Clara com os olhos cheios de lágrimas experimentou uma variedade de emoções: medo, raiva, negação e finalmente pegou o telefone para marcar o salão de beleza. Ficaria muito bonita, ele teria que engolir o que dissera. Se ela era uma “Jeca” ele teria que aguentá-la, gostasse ou não; teria que aprender a respeitá-la, pois tinham dois filhos adolescentes, que precisavam do pai. Clara dependia do marido para tudo, ele fizera com que ela deixasse seu trabalho no Banco, para ser apenas dona de casa e agora não a queria mais.
          Quando mudou seu estilo de vida e fez escolhas conscientes ao longo do caminho, a mulher achava que seu casamento duraria para sempre. Marcos era bom e tinha uma vida financeira estável e ela o amava. E, tendo mais tempo livre ela poderia criar seus filhos e dar a eles tudo que nunca tivera. Clara vivia feliz com sua família, suprimira seus sentimentos e aceitava tudo que o marido queria. Acatava as novas oportunidades, aquelas mais adequadas ao seu novo estilo de vida.
          Desde o Natal, agora já era setembro, ela percebeu que o marido andava estranho e grosseiro, também notou que fora se afastando aos poucos; ele a ignorava. À noite ele se deitava e dormia e ela chorava. Quando Clara o abraçava ele resmungava e tirava o braço dela, não queria manter contatos mais íntimos.
 Como ela gostaria de ter a coragem de expressar seus sentimentos ou o que restara deles. Muitas pessoas já suprimiram seus sentimentos a fim de manter a paz em sua família e ela não seria diferente. Como resultado, a maioria teve uma existência medíocre e nunca se tornaram quem eram realmente capazes de se tornar. Marcos e Clara mantinham as aparências para não magoar os filhos, mas, havia um oceano entre eles.
          Clara pensava em suas antigas amizades, que deixara escapar; só restaram as mulheres dos empresários que faziam parte do grupo de seu marido. Falsas e fúteis foi à conclusão que a mulher chegou; não poderia dividir seus problemas com elas e sua família morava no interior. Estava à mercê do destino, precisava pensar nos filhos, João e Renata.
        Muitas pessoas não percebem, até o fim, de que a felicidade é uma escolha. Ela estava presa a velhos padrões e tradições e uma delas era acompanhar o marido ao jantar de negócios. Queria ver a cara da secretária de Marcos, que era a culpada de suas aflições. Uma loira escultural, que estava saindo com seu marido e ela sabia de tudo, mas não poderia deixar ninguém perceber nada. Deveria ficar bonita, falar pouco e sorrir levemente para todos os amigos de Marcos; era assim que ele queria que ela se comportasse.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

“SOLIDÃO É A MANEIRA QUE O DESTINO ENCONTRA PARA LEVAR A PESSOA AO ENCONTRO DE SI MESMA”. HERMANN HESSE. —“É MUITO FÁCIL SER PEDRA, O DIFÍCIL É SER VIDRAÇA”. PROVÉRBIO CHINÊS.


                                 BRILHANDO COM AS ESTRELAS.
                                         CAPÍTULO 15
Antonio estava completamente decidido a viver recluso, não queria prejudicar mais ninguém. Ele sentia que todas as pessoas que se aproximavam dele, sofriam algum tipo de agravo à saúde; era a maldição da pedra amarela, disso ele tinha certeza.
           Deixou a barba crescer e saia de casa somente uma vez a cada mês, para manter sua casa e suas necessidades básicas. Seu visual era de um homem sem vaidade; roupas simples e surradas, porém, limpas. Os vizinhos o apelidaram de “Ermitão”. O homem não tinha amigos e não gostava de intrusos. Cuidava de sua casa e tinha o Lobo para espantar curiosos, que de tanto ficar sozinho se tornara um cachorro muito bravo.
         A solidão é um sentimento no qual a pessoa fica com uma profunda sensação de vazio, sem motivos para viver; muitos entram em depressão. Porém, quando é voluntária pode trazer uma paz compensadora; era uma opção de vida para Antonio. Ele tinha seu amigo, o Bernardo, que ele amava como se fosse seu filho. Bernardo, desde a morte de Verônica, fora seu companheiro e ouvinte. O boneco sabia tudo da vida daquele homem, que o criara para não enlouquecer; era sua fuga do mundo lá fora. O Lobo era o guardião da casa e só permitia a aproximação de seu dono e de mais ninguém.
        Antonio criou para si uma estação solidão; uma parada da vida. Ali ele era soberano e assim vivia tranquilo. Seus dois companheiros lhe davam o equilíbrio necessário para continuar vivendo nesse mundo, que lhe trouxera muitas inquietações. Antonio, Bernardo e o Lobo, eram amigos para sempre.
Alguns anos se passaram e todos da região sabiam da existência do Ermitão, que era um homem pacato, mas não gostava de ser incomodado. Todo mês ele era visto recebendo sua aposentadoria e comprando mantimentos, depois se recolhia até o mês seguinte. Os vizinhos conheciam sua rotina e sempre o avistavam fazendo algum conserto em sua casa ou pondo o lixo na rua. Certo dia alguém reparou que ele estava sumido e ninguém o via, fazia dias. O cachorro estava inquieto e emagrecido.                           
       –Será que aconteceu alguma coisa com o homem? Os vizinhos, apreensivos, resolveram chamar a polícia.
Quando a viatura da polícia chegou, o cachorro desesperado foi comer a comida que a vizinha trouxera para distraí-lo, enquanto os policiais entravam na casa.
         Ao redor da casa havia um cheiro de carniça, algo de muito errado estava acontecendo ali, disse um policial ao outro. Quando o policial arrombou a porta e entrou na casa, sentiu que o cheiro ficara mais forte e com uma mão segurando o nariz pôs a outra mão no coldre e adentrou ao quarto. Antonio e o Bernardo, lado a lado na cama, pareciam dormir.
        O policial se aproximou e pondo a mão no homem sentiu que estava frio e duro. Espantado, deu um passo para trás deduzindo que fazia dias que o homem estava morto; só não entendeu a presença do boneco na cama, em seguida chamou reforço.
      Houve um alvoroço na rua com a chegada da pericia e do caminhão de defuntos. Na casa foi encontrado o endereço de Nalva, a irmã de Antonio, que veio, juntamente com sua filha, para enterrar o corpo do irmão, de quem há muito tempo não tinha notícias.
       A mulher, surpresa, não sabia por que seu irmão desaparecera. Durante algum tempo procurara por ele, depois desistira, ele sabia seu endereço, se quisesse vê-la que a procurasse, declarou no plantão policial. Nalva ficara surpresa com a nova vida de seu irmão e a presença daquele boneco na cama de Antonio, era tudo muito estranho.
        Estava em suas mãos resolver aquela situação e precisava encontrar os documentos de Antonio, por isso ela começou a mexer em seus guardados e encontrou a mala dentro do guarda roupas.
         Ao abrir a mala ela percebeu que apesar de vazia, tinha alguma coisa dentro do compartimento fechado com zíper. Abriu o zíper e colocou a mão para pegar o pequeno volume. A mulher quase desmaiou quando viu que era a pedra amarela que estava ali. Com a pedra na mão, Nalva começou a orar, era inacreditável.
       -Como aquela pedra fora parar ali? Estava muito longe de onde sumira; era um enigma de difícil solução. Nalva sacudia a cabeça enquanto mostrava a pedra à sua filha.
Havia alguma coisa maligna naquela pedra e ela iria se aconselhar com o Padre. O pároco a aconselhou a devolver a pedra para o lugar de origem e sossegar seu coração, nada poderia ser feito além de muita oração para o seu irmão.
         Enquanto o corpo de Antonio estava sendo periciado, ela e sua filha teriam que resolver o que fazer com o cachorro e o boneco. O Lobo já estava velho e era um cão muito bravo, por isso a vizinha resolveu ficar com ele; guardaria sua casa e terminaria seus dias ali mesmo. Conversando com a vizinha ela falou do boneco e disse que não sabia o que fazer com ele. Era de seu irmão e não queria, simplesmente, jogá-lo fora.
       - Não!
        Exclamou a mulher eufórica, ela conhecia um pessoal, que todos os anos desfilavam nas escolas de samba do Rio de Janeiro, no sambódromo. Faziam bonito na pista do “Marquês de Sapucaí”, a passarela do samba e ela tinha a certeza que eles dariam um lugar de destaque ao boneco, pois era muito bem cuidado. Nalva concordou entregando Bernardo à mulher. 
         Depois de dois dias e resolvendo tudo por ali, Nalva e a filha foram ao enterro do corpo de seu irmão e em seguida retornaram à sua cidade. A mulher tinha uma missão a cumprir, queria que seu irmão pudesse descansar em paz.     Voltaria à represa e jogaria a pedra amarela o mais fundo possível, para nunca mais ouvir falar daquela triste história, que atormentou a vida de seu irmão.
            Assim foi feito e Nalva cumpriu sua missão. Quando voltava para sua casa já havia anoitecido e o céu estava carregado de estrelas. E, elevando seu olhar para o alto, viu que uma estrela brilhava mais que as outras e concluiu, olhando para sua filha:
         -Bernardo iria brilhar nos desfiles de carnaval, enquanto Antonio tomaria conta dele lá de cima, brilhando com as estrelas.
Um texto de Eva Ibrahim.
Aqui termina “ESTAÇÃO SOLIDÃO”, a história de Antonio e o mistério da pedra amarela, que jamais será desvendado.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"O CONFLITO NÃO É ENTRE O BEM E O MAL, MAS ENTRE O CONHECIMENTO E A IGNORÂNCIA" BUDA--- A ESTRADA VAI ALÉM DO QUE SE VÊ. EVA IBRAHIM.


                             
                                        A RECLUSÃO
                                        CAPÍTULO 14
      Os dias passavam lentamente para Antonio, que tinha pressa de ver seu dedo cicatrizado. Finalmente, após dois meses a ferida fechou e o homem estava ansioso para retornar aquela mata e encontrar a cobra para acabar com a vida dela. Desta vez iria preparado com um facão bem afiado, para cortar a cabeça da causadora de tanta dor e da deformidade de seu dedo. O dedo de Antonio perdera o movimento, pois a lesão atingiu o nervo; o médico disse que ele tivera muita sorte, pois poderia ter morrido.
       Não gostava de fazer amizades, mas, o Jofre foi quem o socorreu e ele era um bom contador de histórias, por isso ele o convidou para acompanhá-lo na nova caminhada pela mata. Ouvindo as histórias de Jofre, Antonio se esquecia da maldição da pedra amarela e conseguia sorrir. O homem desejava retornar ao lugar onde ficava à nascente de águas e talvez encontrar a cobra novamente, queria surpreendê-la, como foi surpreendido. Era uma aventura programada por dois homens, que agora já estavam experientes e atentos; qualquer barulho estranho, os dois paravam e vistoriavam o local.
      O lugar estava cheio de cobras, eles viram duas se esgueirando pela mata, porém, não puderam alcançá-las. A trilha aberta por Antonio estava quase fechada e os dois homens tiveram que limpar os galhos que haviam crescido no local. Com o caminho aberto eles chegaram rapidamente até a gruta e saciaram a sede com a água fresca. Depois se sentaram nas pedras e ficaram olhando as aves e os bichos que viviam ali. O lugar era lindo e os dois amigos prometeram voltar outras vezes. O Sol se punha no horizonte quando Antonio e Jofre voltaram para suas casas. Finalmente Antonio desistira de matar a cobra, porque ele entendeu que ele fora o agressor e ela somente se defendeu.
        Os passeios na mata e as pescarias no rio da região tornaram-se rotina na vida dos dois homens. Eles se despediam no portão, pois Antonio não queria que seu amigo entrasse em sua residência. Bernardo continuava na casa protegido dos olhares curiosos das pessoas; o Lobo atacava quem tentasse adentrar o quintal da casa.  E, assim o tempo corria sem novidades. Antonio, Bernardo e o Lobo viviam tranquilamente, longe de tudo e de todos os conhecidos, que um dia fizeram parte da vida de Antonio.
        Certo dia, Antonio acordou com o barulho de palmas em seu portão, assustado levantou-se e foi ver quem era. O filho de Jofre estava ali, parado e com os olhos cheios de lágrimas. Ele gaguejou e começou a chorar. Antonio perguntou o que estava acontecendo e ele disse que seu pai sofrera um acidente fatal durante a tempestade da noite anterior.
         Com a surpresa desagradável Antonio ficou mudo; não podia acreditar que mais uma vez a maldição da pedra amarela estava atingindo pessoas de quem ele gostava. Sentia-se culpado, deveria ter mantido distância do homem e provavelmente ele ainda estaria vivo.
       Acompanhou o rapaz até o necrotério onde se inteirou dos fatos. Jofre havia ido até a cidade do Rio de Janeiro fazer compras para a mercearia e na volta foi atingido por um deslizamento de terra, que soterrou seu automóvel, matando-o.
      Antonio acompanhou o enterro do amigo e em silêncio voltou para sua casa; estava deprimido. Seu único consolo era o Bernardo que ouvia seus lamentos. Estava sozinho novamente; era sua sina, viver na solidão.            
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.   

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"SOBRE AS ASAS DO TEMPO A TRISTEZA VAI SE EMBORA" LA FONTAINE-- O IMPORTANTE É ATRAVESSAR OS SEUS DESERTOS. EVA IBRAHIM.

                            DIAS TERRÍVEIS
                             CAPÍTULO 13
A dor era lancinante e subia pelo braço; parecia que havia uma faca espetada no seu dedo polegar. Chegou da mata rapidamente, o tanto que sua canseira permitiu e foi lavar a mão desesperadamente, depois tirou a roupa que usava e saiu atrás do dono da mercearia. Jofre, o comerciante, ficou muito assustado ao ver os dois furos da picada da cobra na mão de Antonio.
Indagou que tipo de cobra fizera aquele estrago e ele não sabia dizer. Quando jogou a cobra para longe viu que era grossa como um cano de água e tinha uma variação de marrom em seu corpo. Não vira mais nada, a dor parecia cegá-lo, precisava de ajuda. Jofre pediu ao filho para tomar conta da venda e levou o conhecido para o Pronto Socorro, era caso de urgência.
O médico que o atendeu disse que poderia ser muito grave e como não sabia o tipo de cobra que o havia picado, ele tomaria o soro antiofídico polivalente e ficaria em observação para acompanhar a evolução do quadro. Com um olhar sério e penetrante, o velho médico, lhe disse:
 - Há casos de picadas de cobras que deixam aleijões horríveis no local da picada, esperamos que não seja o seu caso. Depois disse que Antonio ficaria internado para observação até o dia seguinte ou poderia morrer sozinho.
A contra gosto foi colocado em uma maca com o braço elevado e orientado a ficar em repouso absoluto. O homem sentiu medo e concordou em ficar ali até o dia seguinte. Jofre saiu dizendo que voltaria no outro dia.
Antonio não se conformava com a situação em que se encontrava, a única explicação que vinha a sua cabeça era a perseguição da pedra amarela. Era um homem marcado pela desgraça e nada poderia fazer. Se conseguisse encontrar a tal pedra, a levaria para a represa de onde foi retirada.
Foi uma noite de muitos pesadelos e aflições; sentia muita dor e a picada da cobra parecia se repetir o tempo todo. Despertou com o rosto inchado e mal conseguia abrir os olhos, sentia-se mal, o dedo latejando e vermelho; o veneno era potente, não havia dúvidas.
O Doutor chegou e perguntou se havia feito xixi e Antonio disse que não. O velho médico, muito sério, disse que ele só seria liberado após a primeira micção e o resultado dos exames. Não deixaram ele se levantar e depois do xixi no papagaio ele foi tranquilizado; sua urina não continha sangue, era um bom sinal.
 No horário de visitas o Jofre chegou para vê-lo e Antonio queria ir embora. Insistiu muito e o médico concordou desde que ele permanecesse em repouso durante três dias e depois retornasse ao Hospital para nova avaliação.
Agradeceu ao novo amigo e adentrou à sua casa, precisava dar comida ao Lobo e ver como o Bernardo estava. Olhou no espelho e não se reconheceu, estava muito inchado, barbudo e fedido. Daquela vez, a pedra amarela quase o matou, foi por pouco. Entrou debaixo do chuveiro, precisava se livrar daquele cheiro horrível de mato misturado com Hospital. Deu comida ao Lobo e foi deitar-se, estava muito fraco.
Em três dias ele ainda estava mal, o corpo dolorido e o dedo vermelho e muito inchado. O retorno ao médico foi preocupante; seu dedo desenvolvera uma celulite no local da picada e poderia piorar ainda mais, disse o médico receitando antibióticos.
Antonio estava travado pelos últimos acontecimentos, mal conseguia andar dentro da casa, seu consolo era Bernardo, que ouvia suas queixas e reclamações.
Depois de uma semana ele saiu para comprar comida no empório do Jofre, que era a única relação que mantinha com o mundo fora de sua casa. Comprou o que precisava e tratou de voltar para sua casa, ainda estava debilitado.
Deitado na rede juntamente com Bernardo, o homem olhava as estrelas e se perguntava por que acontecera aquilo com ele? Esperava que seu dedo melhorasse e que dias melhores viessem, porque aqueles foram terríveis.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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