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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

"NINGUÉM É TÃO ALGUÉM QUE NÃO PRECISE DE NINGUÉM". AUTOR DESCONHECIDO.-- AME A VIDA E OS BONS AMIGOS. EVA IBRAHIM

                            A FAMÍLIA DE ANTONIO
                                          CAPÍTULO 8
 O homem tinha três irmãos e uma irmã, mas, havia tempos que não recebia notícias dos mesmos. Nalva era a única que ás vezes telefonava para saber como ele estava e que acompanhara o cortejo fúnebre de sua cunhada Verônica. A irmã chegara pensando em ficar na casa de Antonio durante dois dias para ver como o irmão estava vivendo e ajuda-lo, se fosse preciso. A mulher pensava que iria encontrar seu irmão deprimido em meio a muita bagunça, pois, ele nunca fora chegado em realizar serviços domésticos. Porém, ela ficou surpresa com a arrumação da casa, com o jardim bem cuidado e até com o cachorro.
        -“Ele nunca quisera cachorros e agora tinha um!'. Pensou a irmã admirada.
        Nalva encontrara o irmão bem disposto e alegre; na verdade, ele estava ótimo. Com cuidado perguntou se ele tinha encontrado outra mulher, parecia animado. Antonio negou com veemência, jamais trairia sua esposa, estava de luto, mas a vida tinha que continuar. 
      Ele parecia atento, cuidadoso e havia comida na casa. Estava tudo arrumado e o irmão era amável com o cão, que ele nunca gostara.
       -Será que mudara de ideia? 
Com certeza a morte da cunhada virou a cabeça do irmão. Ao invés de ficar desolado, ele estava muito bem. Apesar de perplexa, Nalva ficara contente, seu irmão estava superando a perda da esposa; era isso que importava, concluiu a mulher com uma ponta de desconfiança; a situação  lhe parecia estranha!
          Nalva não queria incomodar, ela e a filha saíram depois do almoço para fazer compras, dizendo que retornaria no dia seguinte para sua casa, ele não precisava dela; Antonio estava muito bem. O homem ficou feliz, poderia conviver com Bernardo novamente, sem ninguém para vigiar.
         Antonio levantou-se bem cedo e fez o café para a irmã seguir viagem o mais rápido possível. Nalva e a sobrinha se foram antes do almoço e depois de vê-las subirem as escadas do coletivo, o homem foi para casa. Estava ansioso para retirar o Bernardo da mala.
          Chegou e tirou a mala de dentro do guarda-roupa, queria livrar o amigo do esconderijo. Colocou a mala sobre a cama e abriu, tirando o boneco e abraçando-o com muito carinho. Bernardo era mais que um amigo, era um filho muito amado e Antonio precisava dele para ser feliz. Foram almoçar na copa e depois ver televisão; os dois amigos se bastavam e Antonio voltara a ser um homem comum e normal, mal se lembrava de Verônica.
         Depois de alguns dias, Nalva telefonou para saber se o irmão queria passar o Natal com a família dela. O Natal estava próximo e todos estavam em clima natalino.
        -Já havia se comprometido com os amigos do escritório, passaria o Natal com eles, disse Antonio e sentiu alívio; ficaria em casa com Bernardo.
        Á noite o homem saiu cantarolando pelas ruas do centro, queria fazer compras natalinas; estava feliz.
        Comprou uma árvore de Natal e muitos enfeites, faria a melhor árvore de Natal de sua vida. Com o Bernardo sentado no sofá, armou a árvore na presença do boneco, a todo o momento olhava para o amigo e fazia algum comentário, estava feliz, parecia uma criança em seu primeiro Natal.
         Preparou uma mesa com enfeites e comidas típicas de ceia natalina; a casa estava festiva e sua alma alegre. Depois tomou banho colocando sua roupa nova e até abusou do perfume. Estava tudo perfeito. 
       Para Bernardo comprara roupas novas e um boné de abas largas. Antonio tivera mais uma daquelas ideias estranhas, mas, somente depois da passagem de ano poria a ideia em prática. A noite de Natal chegou e encontrou um homem eufórico, parecia outra pessoa, muito mais alegre.
         Um Natal feliz em família, ele, o Bernardo e o Lobo. Foi dormir contente ao lado de seu amigo e lá no fundo tinha um plano para começar o ano novo. Durante a próxima semana ele teria que sair e comprar uma cadeira de rodas e mandar colocar um toldo para proteção solar, tipo carrinhos de bebê. Não seria fácil, mas ele iria até um local onde havia de tudo, móveis e coisas usadas. Na sua cabeça tinha tudo planejado, seria o presente de Natal de Bernardo.
         Estava transformado, era um homem completo e contente com sua família. No trabalho agia normalmente, apenas falava menos e os colegas atribuíam o fato ao luto que ele estava passando. O segredo que mantinha o tornava poderoso; era uma vida só sua e ele não permitiria nenhuma intromissão. Quando saia era o Antonio de sempre, mas, quando entrava em casa era outra pessoa; ele desenvolvera outra personalidade, era um misto de pai e amigo; o protetor de Bernardo.
  Um texto de Eva Ibrahim.

  Continua na próxima semana.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

"PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO...." CLARICE LISPECTOR --- VIVER E PONTO FINAL! EVA IBRAHIM.

                                  ESTAÇÃO SOLIDÃO,
                                   UMA NOVA VIDA.
                                        CAPÍTULO 7
      O homem saiu á caminho do ponto de ônibus carregando seu maior troféu; um amigo para conversar. Antonio estava alegre, nunca mais sentiria solidão. Ele entrou pela porta dos fundos do coletivo para colocar a mala e depois desceu para passar na catraca. Houve murmúrios entre os passageiros, a mala tomava espaço e alguns passageiros não gostaram. Ele manteve a calma segurando a mala com muita força, não respondia ás provocações. Mantinha-se firme em seu propósito de levá-la para casa, ali estava o que de mais precioso ele tinha no momento.
        Desceu no ponto de ônibus em frente à praça, uma quadra antes de sua casa e sentou-se no banco com a mala ao lado. Esperaria mais um pouco, queria evitar os olhares curiosos dos vizinhos. Por volta das dez da noite ele seguiu para seu lar, estava satisfeito.
       Era sexta-feira e ele teria o final de semana inteiro para acostumar-se com a nova situação. Tirou o boneco da mala e o deitou na cama de casal; precisava vesti-lo para dormir. Pegou o pijama xadrez que havia comprado e vestiu o Bernardo. 
         - Ficou lindo! Pensou Antonio.
Satisfeito, o homem dizia que ali ele teria tudo que precisasse e em troca deveria  ouvir os seus problemas diários. Foi até a geladeira e preparou dois copos de leite com chocolate, depositando-os sobre a cômoda do quarto. Sentou o novo amigo na poltrona e disse:
         -Vamos tomar leite para dormir, já é tarde e, comida pode pesar no estômago.
Com uma mão segurava o copo de Bernardo e com a outra levava á boca enquanto sorvia o líquido gelado. Como se fosse uma brincadeira, o homem levou o copo á boca do boneco e depois perguntou:
        -Está gostoso, Bernardo?
 Em seguida, satisfeito, seguiu até a vasilha de leite do Lobo e despejou o líquido ali. O cão lambeu até a última gota e foi deitar-se sobre o tapete da entrada da casa. Antonio agradeceu a Deus aquela paz e felicidade que estava sentindo. Deitou o amigo ao seu lado na cama, apagou a luz e dormiu como nunca havia dormido antes; ele voltara á dormir em sua cama de casal.
       Era domingo e Antonio queria proporcionar ao amigo um almoço especial, mas não tinha prática no fogão, então saiu e entrou num restaurante para comprar comida para duas pessoas. Chegando á casa ele arrumou a mesa com dois pratos, como sua mulher fazia quando ainda vivia ali. Colocou Bernardo sentado na cadeira junto á mesa e sorrindo elogiou o amigo dizendo que ele estava bonito. Em seguida iniciou o almoço, comendo com satisfação; de vez em quando ele falava com Bernardo sentado á frente do prato. Tomou nas mãos o copo de cerveja e brindou com o outro copo cheio, que estava próximo do prato do amigo.
      Feliz da vida levou o boneco para a sala dizendo para ele ver televisão. Antonio arrumava a cozinha depois de levar a comida de Bernardo para o Lobo, quando a campainha tocou. O homem teve um sobressalto e correu para espiar quem estava no portão. Era um mendigo pedindo comida e ele tratou de dispensá-lo logo, não queria intrusos, nem visitas. Voltou para a cozinha com uma ruga de preocupação na testa.
        –E se chegasse algum parente ou conhecido?
        - O que faria-?
       Voltou para a sala e sentou-se ao lado de Bernardo, estava pensativo e preocupado, precisava preparar uma estratégia para qualquer situação inesperada que surgisse. Ninguém poderia descobrir o boneco, senão pensariam que ele estava doido. Estava preparado para viver uma nova vida, porém queria privacidade total.
     Antonio estava feliz, descobrira um jeito de não enlouquecer e manter sua cabeça ocupada, como sempre gostou. O Lobo tomava conta do jardim, qualquer coisa que mexesse no portão ele latia enfurecidamente e isso era ótimo, guardava a casa e protegia o Bernardo. O homem sentado no sofá ao lado do amigo parecia feliz; dois amigos assistindo televisão, tão caracterizado fora o boneco. De vez em quando Antonio sorria e fazia algum comentário olhando para Bernardo.
       Quando o sono começou a fazer com que abrisse a boca ele disse ao amigo que era hora de dormir. Como um pai ele trocou a roupa de Bernardo e novamente trouxe o leite com chocolate e tomou. Em seguida, levou á boca do boneco e depois deu ao Lobo, que por sinal, logo estaria uma bola, pois comia toda a comida de Bernardo.
       Deixou tudo arrumado para sair para o trabalho na segunda-feira; deixaria ração para o cachorro e o seu amigo trocado e arrumado, sentado no sofá. O Lobo comia qualquer coisa, vivera muito tempo nas ruas da cidade.
        Na segunda feira as horas não passavam, ele estava ansioso pensando em sua casa; teria que levar comida para os dois e fazer uma chave para a mala e outra para o guarda roupas; passaria em um chaveiro. A ideia era que se alguém fosse visitá-lo, ele teria um local para esconder o amigo. Uma semana passou rapidamente sem nenhum problema; ele saia do trabalho á tarde, passava no restaurante e seguia com pressa para ver como estava o amigo. Tinha muito trabalho para manter a casa e estava contente, tinha uma família para cuidar.
         Na sexta-feira á noite o telefone tocou e deixou o homem nervoso, era sua irmã Nalva, que morava no interior. A mulher dizia que chegaria no próximo sábado para uma visita de dois dias. Ele quase disse para ela não vir, mas levantaria suspeitas; a irmã pensava em ajudá-lo e não seria justo impedi-la de visitá-lo. Teria que esconder o Bernardo na mala, dentro do guarda roupas.
       Nalva chegaria ás 10 horas da manhã com a filha adolescente e mexeria em tudo. O homem, franzindo a testa, pensou que seria um péssimo final de semana. Antonio teria que esconder o Bernardo. Ele demorou a pegar no sono e quando dormiu teve muitos pesadelos. Sonhou que sua irmã apontava o dedo para ele dizendo que estava louco.
          –Onde já se viu ter um boneco como amigo?
            Sua irmã gritava e a sobrinha ria sem parar.
           Antonio acordou suando.
          -Afinal a vida era sua e ninguém tinha nada a ver com isso.
Pensou irritado, enquanto levantava-se para guardar o boneco e a mala; logo suas visitas chegariam.
       O taxi encostou e sua irmã, com um largo sorriso no rosto, desceu e foi apanhar as malas. Antonio se apressou a ajudar a irmã, gostava dela e estava feliz em revê-la.
Nalva estava acompanhada da filha adolescente. Abraçou o irmão e sorriu feliz ao ver que ele estava bem.

Um texto de Eva Ibrahim.


Continua na próxima semana.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

"AGUARDO AS SURPRESAS DO TEMPO, AGINDO SEM PRECIPITAÇÃO. SE CADA NOITE É NOVA SOMBRA, CADA DIA É NOVA LUZ". CHICO XAVIER--A VIDA É FEITA DE RECOMEÇOS. EVA IBRAHIM

                  
                               UM AMIGO PARA ANTONIO
                                       CAPÍTULO 6
            Fazia três meses que ele sepultara a esposa e a solidão estava pesada demais, temia ficar louco. Odiava os finais de semana, pois, sozinho em casa ele ficava pior. Era começo da tarde de sábado e Antonio não sabia o que fazer com sua folga; comia salgadinhos, tomava uma cerveja e sentava no banco da praça para observar as pessoas passando. Imaginava as piores situações para cada uma delas. 
        - Estava parecendo uma ave de mau agouro, pensou Antonio, tristonho.
Sentiu seu corpo arrepiando, quando passou um homem correndo e alguém ao seu lado observou:
        - Lá vai o Bernardo, está sempre com pressa! Parece que nasceu de sete meses, não para nem para um dedo de prosa. Qualquer dia vai ter um mal súbito e nem viu a vida passar. Todas as pessoas precisam conversar e fazer amigos senão ficam piradas. Existe um limite entre a sanidade e a loucura e se ultrapassar nunca mais voltará ao normal- Antonio balançou a cabeça concordando e pensou:
        - Vou arrumar um amigo que possa ouvir minhas queixas.
 – É isso mesmo, vou fazer de “Bernardo” meu amigo e confidente; nunca mais ficarei só.
Nesse momento surgiu uma ideia em sua cabeça transtornada; era uma luz dentro de tanta escuridão.
         Levantou-se rapidamente, precisava encontrar uma loja de artesanatos nordestinos; daria “vida” a um novo amigo. Seria seu companheiro para todas as horas. Depois de muito caminhar, Antonio deparou com uma grande feira; ali havia todo tipo de quinquilharias e alimentos. O homem apalpou a algibeira para certificar-se que o dinheiro estava lá e adentrou em meio à multidão. No meio das pessoas empurrando pra cá e empurrando pra lá, Antonio viu uma barraca de artesanato e parou para assuntar.
        O nordestino tinha muitas coisas bonitas, mas nada que satisfizesse o homem; tinha que ser um boneco especial como os que desfilam no carnaval de Olinda. Ele era de Olinda e conhecia bem as festas de rua e seus blocos carnavalescos. Antonio queria um boneco de tamanho natural. Iria vestir roupas no novo amigo e fazer dele uma pessoa para conversar e ser seu companheiro, explicou ao feirante.
 Severino estava acostumado com gente de tipos diferentes.
       -Porém, este parecia estranho, talvez tivesse algum problema mental.
Pensou o velho nordestino.
Mostrou tudo o que tinha ali e nada agradou ao freguês, por isso Severino resolveu mandá-lo para uma velha conhecida que confeccionava bonecas. “Raimunda das bonecas” era Alagoana e tinha um pequeno ateliê num fundo de quintal, onde ganhava a vida. Antonio foi ao endereço indicado e gostou do trabalho da mulher encomendando um boneco do tamanho e jeito que ele imaginava. Tinha um plano para suprir a falta da mulher e começaria dando os pertences dela para um asilo. Abriu a casa e limpou tudo; lavou as roupas e o quintal; estava animado e feliz.
          Mais tarde saiu e procurou o Canil da Prefeitura para escolher um cão, queria que ele fizesse companhia a Bernardo. Iria buscar o boneco na sexta-feira e faria tudo para que ele ficasse feliz em sua nova casa. O canil estava lotado de cães e parecia que todos queriam ser adotados, faziam festa para Antonio abanando os rabos.
O homem ficou confuso e demorou a se decidir; o que mais lhe agradou foi um cão que parecia um lobo. Um cachorro de médio porte, mestiço de vira-latas, com pelos longos e cor de mel. O cachorro era esperto, manso e quando o viu se aproximar, abanou o rabo desesperadamente.
         O homem saiu com o cão na coleira e o conduziu á sua casa. Tinha uma ideia, a comida que o Bernardo não comesse seria do “Lobo”, o cão que fora adotado para ser companheiro do boneco. Só assim ele poderia sair para o trabalho, não desperdiçava comida e teria companhia para as refeições.
         Foi uma semana de muitas compras: roupas para o amigo, comida, uma casa para o “Lobo” e ração para cães. Ligou para a Raimunda, queria saber se o amigo estava pronto e saiu para buscá-lo.
Como ele estava sem automóvel, no caminho comprou uma mala grande que coubesse o boneco dentro, era o jeito que encontrara para que ninguém o visse. Era seu segredo e ele o guardaria a sete chaves, se fosse preciso. Raimunda nada questionou, entregou a encomenda e recebeu o dinheiro.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"ESTAÇÃO SOLIDÃO"- COM MUITO AMOR- QUINTO CAPÍTULO. UM DIA A SAUDADE DEIXA DE SER DOR E VIRA UMA DOCE LEMBRANÇA. EVA IBRAHIM.

                             COM MUITO AMOR.
                                  CAPÍTULO 5

         Nessa busca Antonio conheceu uma moça que despertou seu interesse, Verônica era seu nome. A moça trabalhava na Biblioteca municipal e quando ele a viu pela primeira vez sentiu seu coração disparar; era tudo o que ele queria; a mulher da sua vida. Ela estava com um vestido rosa e balançava seus cabelos cacheados quando passava por ele, que se derretia todo.

        A Bibliotecária era uma moça bonita e inteligente, vivia lendo livros de autoajuda e esoterismo; dizia que havia vida após a morte e queria que Antonio compartilhasse de seus conhecimentos. Estavam sempre juntos, gostavam das mesmas coisas.
Formavam um casal apaixonado em sintonia com o universo. Os dois passavam horas sentadas no jardim olhando a lua e as estrelas enquanto trocavam carícias e beijos. A moça acreditava que a lua exercia uma atração sobre todos os enamorados e ela estava apaixonada por Antonio. A jovem, nas horas de folga, estudava terapia holística. Verônica acalmava o namorado e procurava explicações para o fenômeno da pedra; era uma moça bastante persistente. Em pouco tempo o casal estava apaixonado e Antonio vivia um momento mágico.

        Depois de alguns anos de namoro o casal falava em casamento. Antonio arrumou emprego em um grande escritório e já tinha condições de assumir uma casa. Verônica continuava trabalhando na secretaria da Biblioteca municipal e estava preparada para viver a nova vida.
        Os irmãos de Antonio cresceram e tomaram seu rumo. Nalva, sua irmã, estava de casamento marcado com um bom homem e amigo de Antonio; ficariam morando na antiga casa da família.

Com a situação dos irmãos resolvida ele poderia levar sua amada para o altar. O casal de namorados frequentava estudos bíblicos em um centro espírita chamado: “Escola da alma”. Verônica era sensitiva e muito caridosa; vivia ajudando pessoas necessitadas e Antonio seguia a mulher com admiração. Formariam um casal unido na crença e no amor, a mulher seria o apoio espiritual do marido e a proteção necessitada.

        Compraram uma casa e a decoraram com carinho, respeitando a crença da mulher e seus estudos espirituais. Sempre que Antonio tinha a oportunidade de ver ou falar sobre pedras e energia ele se lembrava da pedra amarela que explodiu em sua casa.   Dizia que seu corpo arrepiava e sentia medo, pois não encontrava explicação para o fato. Verônica sempre procurava uma resposta para dar ao seu amor, mas ninguém conseguia uma explicação convincente. Com o casamento marcado o homem sentia-se ansioso e inquieto, queria dar o melhor de si e fazer de sua noiva uma mulher feliz. A família de Antonio era pequena, mas a família da moça era grande e o casal queria reuni-los na festa do casamento para deixar os pais da noiva felizes. Antonio era católico e Verônica concordou em se casar na Igreja que o rapaz escolheu; ela dizia que Deus era um só e os abençoaria em qualquer lugar.

        Estava tudo preparado, Igreja, salão de festas, Buffet, flores e uma viagem de lua de mel para Campos do Jordão. Verônica queria conhecer aquele lugar famoso por ser uma estação de inverno. Faltava apenas um dia para o casamento e Antonio foi dormir bastante preocupado com os preparativos para à festa. Seu sono foi conturbado e teve muitos pesadelos onde ele sempre aparecia procurando a pedra amarela. Acordou assustado e ligou para Verônica, queria saber se estava tudo bem; a moça tentou acalmá-lo, mas, ele ficou cismado com aquele sonho estranho.

        Quando o dia amanheceu tiveram uma triste notícia, a avó da noiva havia falecido. O rapaz não se conformava, pois, tiveram que adiar o casamento para ir ao enterro da velha senhora. O rapaz acreditava que havia uma força estranha que interferia na vida dele e quanto mais temia, pior ficava.

        Finalmente depois de quinze dias houve o casamento e a lua de mel fez com que Antonio deixasse as tristezas de lado, para viver o amor ao lado de Verônica. O novo casal passou uma semana curtindo sua lua de mel, estavam alegres e felizes quando retornaram à cidade de origem, onde fixariam residência. Na nova casa, o homem sentia-se feliz, era a realização de um sonho; parecia que Antonio se esquecera da pedra amarela.
                                  
        A vida com sua amada o satisfazia plenamente; eram amantes, amigos e companheiros. Os dois trabalhavam e quando alguém perguntava quando teriam filhos, eles riam e diziam que não tinham pressa. Dois anos se passaram sem problemas, o passado estava esquecido.
Certa noite Antonio teve outro pesadelo com a pedra amarela e na manhã seguinte recebeu a notícia de que seu irmão mais novo havia sofrido um acidente de motocicleta. O caso era grave, Célio o irmão, estava internado na Unidade de Terapia Intensiva de um grande Hospital. Uma semana depois o rapaz faleceu e Antonio desmoronou. 
       –Será que a maldição que havia na pedra agora iria recair sobre as pessoas próximas a ele?
        O medo crescia dentro dele; aquele episódio deixou o homem apreensivo. Fez uma oração e entregou a Deus, estava vulnerável; enquanto não desvendasse aquele mistério viveria com uma faca em cima de sua cabeça. Havia um compartimento em seu cérebro que latejava quando ele se lembrava da pedra. Com o episódio ocorrido no dia de seu casamento e o acidente com seu irmão, ele temia pelos seus familiares. Verônica dizia que era bobagem, todos os dias ocorrem mortes e acidentes, é só ler os jornais.
Os outros dois irmãos de Antonio mudaram-se, indo viver no Nordeste, onde tinham parentes. Somente a irmã Nalva continuava perto do casal. Eles ajudaram Nalva a criar seus dois filhos, pois, Antonio e Verônica não tiveram filhos. Uma pontada no peito fez Antonio voltar à realidade; vinte anos se passaram e agora ele estava viúvo; sentia-se um farrapo humano.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"A PEDRA AMARELA", QUARTO CAPÍTULO DE "ESTAÇÃO SOLIDÃO. DEVEMOS DEIXAR O QUE NÃO PODEMOS CONTROLAR IR EMBORA PARA SEMPRE, POIS, A VIDA É O QUE SENTIMOS....EVA IBRAHIM.

                                    A PEDRA AMARELA.

                                          CAPÍTULO 4

          A represa exercia um grande fascínio sobre Antonio, um jovem sonhador. Quase todos os dias pegava sua sacola com a toalha, sabonete e ia caminhar ao longo da extensão da represa, seguia pela margem direita, que dava para o paredão de pedras. Algumas vezes ele atravessava aquelas águas nadando e quando chegava do outro lado, deitava-se na relva para descansar. Depois de ter as forças recuperadas ele retornava à margem direita. Saia da água ensaboava o corpo e a cabeça, em seguida mergulhava fundo nas águas turvas da represa. Então, nadava com longas braçadas para tirar o sabão do corpo; saia da água, enxugava-se e voltava para casa indo almoçar satisfeito. Chegava sorridente com a toalha jogada sobre o ombro e a sacola amarrada na ponta; era a rotina do rapaz. Antonio trabalhava no turno da tarde e podia desfrutar dos passeios matinais.

A represa pertencia á Usina de Açúcar, no interior do Estado de São Paulo. Aos domingos muita gente ia se refrescar em suas águas. Houve inúmeros pedidos para que limpassem o terreno transformando o local em uma praia artificial; o lugar era muito bonito. Um grande espaço aberto e muitas árvores para fazer sombra; só faltava a areia. A Usina de açúcar atendeu aos pedidos e muitos caminhões de areia foram distribuídos no local. O lugar tornou-se uma praia, que abrigava um formigueiro de gente, todos querendo desfrutar da novidade. Aos domingos, famílias inteiras acampavam sob as árvores; levavam rádio para tocar músicas, cantavam, dançavam, comiam, bebiam e passavam o dia se divertindo. Havia lanchas, barcos e caiaques que aproveitavam para desfilar, embelezando o local e alegrando as pessoas. Sombrinhas coloridas e cadeiras de praia enfeitavam o lugar cheio de moças bonitas.

          Antonio não gostava de ir á praia aos domingos. Preferia ir ás segundas feiras, pois, encontrava coisas deixadas ou perdidas pelos frequentadores do local. Ele tinha uma caixa secreta, onde guardava os achados. Ás vezes mostrava à sua mãe, que ria muito; uma mulher alegre e brincalhona. Um dia, Lola, a mãe de Antonio, pediu ao filho que lhe desse uma pedra amarela que fora achada na praia; era do tamanho de um limão galego e muito bonita.
 -A pedra tinha um brilho especial, disse a mulher sorrindo com a pedra na mão.
Em seguida a guardou em sua caixinha de música, dizia que era para enfeitar.
Na caixa de Antonio, havia de tudo: calcinhas de mulher, chapéus, bonés, correntes, brincos, anéis e algumas pedras coloridas.

          Durante anos ele juntou aquelas bugigangas e não deixava ninguém mexer na caixa, dizia ser seu tesouro e escondia dos irmãos menores; três meninos e uma menina. Para a tristeza de Antonio, sua mãe, que era viúva, faleceu repentinamente. A irmã, que estava com dezoito anos, assumiu as rédeas da casa. Depois da missa de sétimo dia, Nalva chamou os irmãos para mexer nos guardados da mãe. Antonio pediu para ficar com a pedra amarela que fora ele mesmo quem dera a sua mãe, os irmãos concordaram. Era somente a pedra que Antonio queria, o restante poderia ficar com os irmãos; ele era o mais velho e já trabalhava para se sustentar, ficaria ali até se casar. Depois deixaria a casa e a pensão do pai para os irmãos.

          Nalva era curiosa e gostava de ler sobre assuntos esotéricos; ela havia comprado uma revista onde tinha uma reportagem de como limpar e energizar pedras e cristais. A revista estava sobre a mesa e Antonio achou interessante, iria seguir ás instruções. Colocou a pedra em um copo com água e sal deixando ao luar, que por coincidência era noite de lua cheia, como pedia á revista.

          Foi dormir e não pensou em mais nada. No dia seguinte ele pegaria a pedra de volta, limpa e energizada. O rapaz dormiu um sono pesado, pois estava cansado. Acordou assustado com um grande estouro, acendeu á luz e olhou o relógio, marcava uma hora da manhã. Levantou-se temeroso, o estrondo parecia uma bomba. Acendeu todas as luzes da casa e esperou um pouco; estava tudo quieto. Sentou-se no sofá e sentiu um arrepio, que percorreu seu corpo inteiro. Ficara muito assustado, apagou ás luzes e voltou para á cama, poderia ter sonhado e iria dormir novamente. Demorou a pegar no sono, seu coração parecia pular dentro do peito.

          Antonio levantou-se cedo e tomou o café que sua irmã fizera, depois foi ver a pedra antes de sair para o trabalho. O rapaz teve o maior susto de sua vida ao ver o copo quebrado. Seu corpo tremeu e seus cabelos ficaram eriçados; Antonio sentiu um forte calafrio.
         Os cacos estavam por toda parte e a pedra havia sumido. Ele estava muito nervoso e chamou Nalva para ajuda-lo a procurar a pedra. Vasculharam o quintal inteiro e nada da pedra. Desolados, os dois irmãos recolheram os cacos de vidro do copo quebrado, embrulhando-os em um jornal para jogar na lixeira. Mudos diante da situação se olhavam atônitos, ali havia um mistério; ficaram com medo.
         -O que seria aquilo? Disse Antonio com olhos arregalados. O desconhecido desestabiliza qualquer pessoa.
         - Que relação teria a pedra com o estouro? O que teria sido libertado? Seria do bem ou do mal?
          Nalva nada dizia, apenas ouvia o irmão lamuriar.
O homem balançou a cabeça e saiu para o trabalho com aquele mistério enchendo seus pensamentos.

           A pedra nunca foi encontrada, desapareceu como por encanto ou foi desintegrada pelo estouro. Antonio temia só em pensar que ele poderia ter liberado alguma coisa que estava escondida na pedra. Nunca saberá; passou um longo tempo assustado, não sabia o que realmente acontecera.
        - O que estaria preso naquela pedra? Que força estranha havia para provocar tamanho estouro? Aquele fato não saia da cabeça do homem.
Quando se lembrava do ocorrido ficava com o corpo todo arrepiado. O homem tinha pesadelos com a pedra e procurou investigar em livros e sites onde havia reportagens sobre pedras e cristais. Antonio vivia um pesadelo, tornara-se um homem medroso.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

"O CONSOLO"- TERCEIRO CAPÍTULO DE "ESTAÇÃO SOLIDÃO". "SE A GENTE CRESCE COM OS GOLPES DUROS DA VIDA; TAMBÉM PODEMOS CRESCER COM OS TOQUES SUAVES NA ALMA". CORA CORALINA. AS VEZES, PRATICAR O DESAPEGO É A ÚNICA SAÍDA". EVA IBRAHIM..

                                              O CONSOLO
                                              CAPÍTULO 3

A VELHA IGREJA. 
                                                                                                     29/01/1983  
Estou vendo a Igreja, a mesma que em criança,
O salgado gosto do Batismo senti
Quando a vida era só esperança,
Nos braços da madrinha que me trouxe ali,
Enrolado em um xale azul cheio de trança.
A bênção Divina foi dada com muita pujança.

Estou vendo a Igreja, a mesma que em moço,
Com minha noiva ali me ajoelhei,
Eu e ela trocamos aliança,
Naquele dia de tanto alvoroço.
Tive em meus braços aquela que muito amei,
Coroando um grande amor com muita festança.

Estou vendo a Igreja, a mesma em que tristonho,
Em prantos, para ali transportei,
Inerte, pálida, sem esperança,
A mesma noiva, que o corpo deponho,
Gelada e morta, Oh! Como chorei,
Partiu me deixando somente a lembrança.

Estou vendo a Igreja, a mesma que em sonata,
Tanta canção á Virgem Maria ouvi
Coros de vozes de adultos e criança,
E o órgão dedilhado com muita confiança,
Tocavam minha alma abstrata,
Trazendo-me doce frenesi.

Estou vendo a Igreja, agora agonizante,
Era pequena, mas muito aconchegante,
Já sufocada por uma nova Matriz,
Levando doces e tristes lembranças,
Com minha alma já caminhando,
Revendo o tempo em que fui feliz.

Eu vejo a Igreja em seu dia derradeiro,
Sinto meu corpo também, já no seu temor,
O que antes era força e coragem,
Tornaram passos lentos e tremor,
Tudo na vida é breve e passageiro,
Só permanece para sempre o amor.

 (ALI-BABÁ)

        O consolo chegara de maneira muito estranha, porque depois do estouro da pedra amarela, tudo na vida de Antonio tornara-se mágico e atemorizador. Com a carta na mão ele tentou com o olhar, vislumbrar novamente o mendigo, mas, já não estava mais ali. 
        - Quem seria aquele homem que lhe trouxera uma mensagem que falava de sua dor, seria um enviado de Deus querendo consolá-lo? Um anjo disfarçado de maltrapilho?
       -Tudo bem, pensou Antonio, ele guardaria aquela carta e sempre a leria quando estivesse muito solitário, pois havia alguém sofrendo como ele e há muito tempo, pela data da carta. Lá no fundo do seu coração brotou uma nostalgia pelo seu passado com Verônica; era estranho, lhe trazia conforto. Guardou o papel e seguiu em frente, estava menos triste.

A solidão agora era sua companheira diária. A magia maléfica exercida em sua vida por uma pedra amarela ele queria exorcizar; nada mais ela poderia tirar dele, pois nada tinha; estava sozinho. 
Sentado no banco da praça, Antonio pensava em como tudo aquilo havia começado; talvez fosse bom rever o fato que tanto o atemorizava. 
Um texto de Eva Ibrahim. 
Continua na próxima semana.
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