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sexta-feira, 19 de julho de 2013

"PERGUNTARAM À FLOR DE ONDE VINHA. ELA RESPONDEU: "DE UMA SEMENTE DE AMOR QUE NÃO SE ACOVARDOU". AUTOR DESCONHECIDO -- A BELEZA DA VIDA ESTÁ NO SORRISO DE UMA CRIANÇA. EVA IBRAHIM.

                                      A VIDA NÃO PODE ESPERAR.
            A campainha tocou insistentemente na entrada da emergência do Pronto Atendimento daquela maternidade. A enfermeira acompanhada de dois técnicos foi atender à porta e num primeiro olhar nada havia no local. Quando os três iam fechar a porta achando que poderia ter sido alguma brincadeira de criança, apareceu um rapaz forte e assustado dizendo que sua mulher estava dando à luz no automóvel.
A correria começou; a notícia se espalhou rapidamente e os curiosos apareceram de todos os lados. Era hora de mobilização geral e todos se postaram para acolher o pequeno ser.
           Uma residente acompanhada de dois internos saiu em busca do veículo, enquanto isso a enfermeira Nora se posicionava no meio da rua para parar o trânsito. Aquela rua era contramão para o veículo que estava parado em frente à lanchonete da esquina. Era uma distância de cerca de oitenta metros; muito longe para resgatar a mãe que dava à luz no banco do automóvel. Com ela estava à sogra, que assustada apenas observava a criança coroar e empurrar a calcinha da mãe; era a hora de nascer.
 Alguém já escreveu que o maior trauma que o ser humano pode sofrer é na hora do seu nascimento e, aquele certamente era a confirmação de tal afirmação. Num banco de automóvel apertado a pequena criança forçava a passagem para a luz do mundo e num jato de sangue e líquido amniótico mostrou a sua cara.
          Nora, a enfermeira, se posicionou no meio da rua e como se sempre tivesse atuado como guarda de trânsito, fazia movimentos característicos. Ela estava de luvas e avental, por isso dava mais credibilidade à situação; com a mão erguida gritava para os motoristas pararem. A enfermeira provocou um intenso congestionamento de trânsito com sua postura de defensora das parturientes desamparadas. A profissional de saúde que tem baixa estatura e é mignon, parecia um gigante na arena dos gladiadores, tamanha era sua garra ao assumir o propósito de facilitar à chegada do pequeno ser.
O marido, abobalhado, não conseguia entender que teria que trazer o automóvel na contramão até à porta do Hospital. Atitude já esperada, pois os homens ficam paralisados e com cara de espanto, quando se tornam pai, com raras exceções.
          Enquanto o caos se instalara no local, a residente chegou até onde estava o veículo e quando afastaram os curiosos o bebê chorou. Nasceu no banco do automóvel, no vão da calcinha da mãe e na presença da avó que quase enfartou com a situação inusitada que presenciara. Em seguida chegou um técnico de enfermagem com a caixa de parto de emergência e um cobertor para acolher a pequena criança.
         A residente clampeou o umbigo e cortou o cordão separando mãe e filho; em seguida saiu vitoriosa com a criança nos braços se dirigindo à sala de emergência do Pronto Atendimento. O nascimento aconteceu apesar de todas as adversidades. O pai, quando viu a criança nos braços da médica, voltou ao normal, saindo do torpor acometido e conseguiu sentar-se ao volante e dirigir o automóvel até a entrada do Hospital, levando a mãe para os devidos cuidados.
          A enfermeira Nora finalmente liberou o trânsito. As pessoas passavam e sorriam para ela; agira como uma seguidora fiel de Florence Nightingale. Vitoriosa, adentrou para ver o bebê e cuidar dos procedimentos rotineiros para recém-nascidos daquela maternidade.
       Uma criança do sexo masculino, perfeita e de aparência saudável foi à conclusão que chegou a residente que a amparou. A criança foi atendida no berço aquecido pela equipe de Neonatologia. Em seguida foi liberada para mamar na mãe que estava sendo atendida pelos residentes, que examinavam a placenta dequitada. Recebidos os cuidados necessários, os dois, mãe e filho seriam encaminhados ao Centro Obstétrico para uma avaliação mais cuidadosa. Mais tarde seriam conduzidas para o Alojamento Conjunto, uma vez que ambos estavam muito bem.
        Enquanto a puérpera tentava colocar o peito para a criança sugar, o pai, perplexo, dizia que pensou que sua mulher estava exagerando quando disse que chegara a hora do parto. Era o terceiro filho do casal e viera muito rápido, disse assustado.
       Havia muita gente na sala atendendo e relatando os fatos para concluir a internação da mãe e filho, que felizes tomavam conhecimento um do outro no contato pele a pele.
       Finalmente a paciente foi encaminhada ao Centro Obstétrico e todos sorriram. Mais uma vez ficava a certeza do dever cumprido; ficando claro o valor das equipes de saúde que atuam no PA. 
A natureza cumpre seu papel onde quer que esteja a mãe, ninguém segura o bebê se chegar a hora de nascer, mesmo que seja no banco de um carro velho.
Quando nasce uma criança, todos sorriem, é sempre uma boa nova. A solidariedade contagia e as pessoas se tornam cúmplices para colaborar com a chegada de um novo ser. Um recém-nascido sempre trás consigo uma mensagem de esperança e um convite á celebração da vida.
Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 12 de julho de 2013

"BONITO MESMO É ESSA COISA DE VIDA: UM DIA, QUANDO MENOS SE ESPERA, A GENTE SIMPLESMENTE SUPERA!"- CAIO F. ABREU --- QUE A VIDA SEJA SEMPRE INSPIRADORA. EVA IBRAHIM.

                                        IGUAL AO PAI
A menina queria um cachorro; chorou, teve febre à noite e não estava doente, segundo o pediatra. A sogra dizia que estava com quebrante e desejo de ter um animal de estimação, isto é: estava com “lombrigas”. Durante três dias, Edu, o pai, ouviu essa ladainha; ficou irritado e desabafou:
- Eu não quero nenhum animal, Mara minha mulher passa o dia todo fora trabalhando e não temos tempo para cuidar de bichos. Essas crendices populares já foram desmistificadas, chega de bobagens. A sogra calou-se, não era hora de insistir; depois voltaria ao ataque.

Edu foi aposentado por invalidez depois de muito sofrimento. O jovem foi atropelado quando estava trabalhando; um grave acidente que quase o matou. Fraturou o osso fêmur das duas pernas e levou cinco anos para poder andar. Após muitas cirurgias e fisioterapia conseguiu recuperar-se, casou-se com a namorada e tiveram uma filha, Rubia, que agora já fez cinco anos. A menina é a cara dele, conforme ele mesmo diz; pai “coruja” que se orgulha de sua família.

Doze anos se passaram depois do acidente e Edu está sossegado. Construiu uma casa bonita e sua esposa não quer bagunça e muito menos sujeira de animais em sua casa.
A menina melhorou e o assunto parecia esquecido quando receberam a visita de um casal de amigos para um churrasco. Conversa vai, conversa vem e o assunto do cachorro voltou à tona. O casal, entusiasmado, disse que tinham uma cachorra “Poodle” e ela havia dado cria a três cãezinhos. Uma beleza os filhotinhos, duas fêmeas e um macho e estavam doando as cadelas.

Rubia ouviu e imediatamente gritou que queria uma cadela; os pais disseram que não e a menina começou a chorar. Edu e Mara ficaram sem jeito diante dos amigos e prometeram que iriam adotar uma cadela Poodle. Na verdade a promessa foi só para acalmar a menina, esperavam poder dissuadi-la posteriormente.
Porém, a menina não se esquecia da promessa e cobrava diariamente. Sem saída, o casal foi buscar a cadela. Era uma bolinha de pelo crespo, da cor âmbar e recebeu o nome de Luma. Nos primeiros dias, Rubia carregava a Luma o tempo todo e ela ficava quietinha, mas, a noite não deixava ninguém dormir, chorava e grunhia sem parar.

Mara queria devolver a cachorrinha para seus antigos donos, porém, Edu não permitiu, assumiu os cuidados do bichinho chorão. O homem fez uma cama, providenciou uma caixa com areia, comprou um bichinho de pelúcia para ela não se sentir muito só à noite. Luma finalmente entendeu que aquele era seu novo lar e adotou Edu como seu pai. Quando ele estava em casa ela o seguia por toda parte e se deixassem dormia e saia de carro com ele; era sua sombra.

Homem sensível passou a chamá-la de “filhinha” e a pequena criatura correspondia com esfregaços e latidos efusivos. Rubia sentia ciúmes do pai e se afastou do pequeno animal, não a queria mais. Edu foi duro com a filha, dizendo que a Luma não era brinquedo e teriam que ficar com ela; a cadela fazia parte da família.
Certo dia, o homem estava trabalhando e Rubia derrubou a cadela no chão; era muito frágil e quebrou a perna esquerda. Mara pegou a cadela e levou ao veterinário, temia a reação do marido. Luma foi anestesiada e teve a perna engessada. O homem ficou bravo e mantinha a cachorra protegida de novas quedas, proibindo a filha de carregá-la.

A recuperação foi lenta e engraçada, a cadela pulava com a pata engessada e fazia um barulho característico no chão, provocando risos. Depois de vinte dias ela estava quase restabelecida e subiu no sofá pulando; a queda foi inevitável. Quebrou a outra perna, novamente engessada voltou para casa com restrições, teria que ficar deitada durante três semanas. Luma quebrara as duas pernas em menos de um mês.Após o tempo previsto foi retirado o gesso e uma das pernas ficou levemente torta.

Com a chegada do calor, o homem a levou para tosar os pelos e passou na casa da sogra com a cadela pelada nos braços.
Sua sogra, em tom de brincadeira, disse que sua cadela era feia, magricela e fraca, pois, já quebrara as duas pernas. Também precisava de vitaminas para engordar, porque ela parecia um frango despenado, afirmou a mulher com ironia.

Sorrindo, Edu, disse que ela era “igual ao pai” mostrando as cicatrizes nas duas pernas; em seguida entrou no carro para dar uma volta com sua “filhinha”. Edu e sua cadela Luma tiveram a mesma experiência: quebrar as duas pernas na altura do fêmur. São coincidências difíceis de encontrar, só em almas afins; o homem e sua cadela se completam.
Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

"A SOLIDÃO É O MODO QUE O DESTINO ENCONTRA PARA LEVAR O HOMEM A SI MESMO". HERMAN HESSE--- O MEDO É O MAIOR LADRÃO DE SONHOS. EVA IBRAHIM.

                                              A VIAGEM
O avião taxiava na pista antes de levantar voo e a moça que estava sentada ao lado da janela sorria de felicidade. Sibele estava realizando um sonho muito esperado, viajar para o estrangeiro. Enquanto o comandante desejava boa viagem aos passageiros, Sibele, com olhar de encantamento, via as casas e a terra ficar lá embaixo; estava no ar como sempre desejou. O avião era enorme e estava cheio de pessoas bem vestidas, a moça olhou para seu casaco novo e sentiu que estava de acordo com os passageiros; ninguém perceberia que era uma pobre moça. Um casal de idosos estava sentado ao lado de Sibele conversando em uma língua estranha, olharam e sorriram; a moça sorriu também.

O aeroplano adentrou as nuvens e ela viu um grande piso de algodão brilhando com os raios solares. Era uma aventura e tanto e lembrou-se de sua mãe, que sempre a censurava, dizendo que ela imaginava coisas demais; devia se conformar com a vida que tinha.
- Tira essas bobagens da cabeça menina, somos pobres e avião é coisa de gente rica. Dizia a mãe para a filha sonhadora.
Sibele sorriu, queria que sua mãe estivesse viva para saber que ela estava em um grande avião, viajando para o Canadá. Estava tão perto do céu que talvez sua mãe a estivesse vendo, esse pensamento a acalentou e ela passou a recordar o passado.

Era mineira de uma pequena cidade em meio às montanhas; lá o Sol se punha mais cedo por detrás da montanha mais alta da região. Era um esplendor assistir ao por do Sol, pois, a sombra crescia diante dos olhos de seus espectadores. Uma vila de casas simples e muitas crianças descalças, que corriam pelos campos e viviam com os pés machucados.

Quando sua mãe faleceu Sibele era jovem e dois anos após o passamento da mãe foi o pai que partiu, deixando a moça encarregada dos irmãos menores. Sibele tinha cinco irmãos e somente depois que eles tomaram rumo na vida, ela saiu para trabalhar longe de sua terra. Tornara-se uma solteirona, pois, não tivera tempo para namorar; era uma balzaquiana, pobre, simples e desajeitada.

Com a cara e a coragem mudou-se para Campinas, São Paulo, para trabalhar como empregada doméstica. Tinha pessoas conhecidas naquela cidade e por indicação de uma conterrânea conseguiu uma casa onde dormia no emprego. Ficou naquele serviço durante três anos indo depois trabalhar como auxiliar de limpeza em um Hospital. Ali conheceu pessoas que a incentivaram a estudar e ela passou a fazer parte do quadro de enfermagem daquela instituição de saúde. Assim, a moça conseguiu melhorar sua condição financeira. Depois de um tempo, ela comprou uma pequena casa popular e começou a fazer muitas horas extras no Hospital.

Com tanto empenho e economia foi melhorando de vida; muitas vezes ajudava um irmão ou outro, mas sobrava muito no final do mês. Era uma pessoa simples, econômica e caseira; permaneceu solteira, não tinha tempo para namorar. No último mês de maio ela completou quarenta e cinco anos, era livre e tinha um sonho, conhecer os Estados Unidos da América. Com o montante de dinheiro guardado ela iria realizar seu sonho, só precisava do visto do consulado americano. Sibele juntara todos os seus documentos e fora ao consulado americano.

Porém, os americanos não davam vistos para pessoas solteiras e sem vínculos efetivos no Brasil. Com desculpas evasivas negaram o visto à Sibele. A moça não desistiu de conseguir o visto para a viagem; voltou ao consulado americano outras cinco vezes e nada conseguiu. Não obteve o visto para viajar ao Tio San, os americanos não a queriam lá. Chorosa, a moça reclamava aos colegas de trabalho, pois, tinha dinheiro suficiente para a viagem e queria conhecer o estrangeiro.

Pedro, um de seus amigos, lhe perguntou por que ela não ia para o Canadá, o país ficava vizinho dos americanos e não era tão exigente. A moça concordou e foi ao consulado do país indicado conseguindo o visto imediatamente. E, Sibele estava a caminho de Toronto, Canadá. Embalada pelo motor do avião ela adormeceu e quando acordou algumas horas haviam decorrido. Estava escuro e o casal ao lado também adormecera. A moça tentou se localizar, porém, nada indicava onde estavam e fechou os olhos adormecendo em seguida.

Sibele acordou quando o comandante do avião anunciou a chegada ao aeroporto de Toronto. A moça desceu do avião e seguiu os passageiros até o saguão do aeroporto principal da região metropolitana de Toronto. Fica localizado na cidade de Mississauga a trinta e dois km do centro da cidade de Toronto; é moderno, grande e luxuoso o “Aeroporto Internacional Pearson”.

Caminhando e olhando tudo a sua volta ela não se cansava de admirar a beleza e organização do local. Depois de algum tempo, Sibele sentou-se em frente a uma lanchonete, estava com fome e sede.  Olhava o outdoor e os cartazes indicando o deslocamento das pessoas, porém, não entendia nada. Os cartazes estavam em inglês e francês e Sibele não conseguia ler. Com uma nota de dez dólares na mão ela se aproximou de um balcão e apontou para um lanche exposto na vitrine; assim a moça conseguiu comer.

Andando dentro do aeroporto a moça sentia-se pequena e sozinha. Teria que sair dali e procurar o Hotel em Toronto, que a companhia de turismo reservara com a passagem aérea. Sibele precisava deixar o aeroporto, mas sentia medo; era tudo muito grande e estranho.
Parou diante de um guarda e procurou, fazendo gestos, se fazer entender. O guarda pegou o documento da reserva e abriu um mapa para mostrar à moça como chegar lá. Mostrando que estavam a trinta e dois km da cidade de Toronto.

Sibele ficou assustada, teria que pegar um ônibus ou um taxi; agradeceu e saiu caminhando. Sentou-se novamente e então “caiu a fixa” ela estava em apuros; não sabia como agir. Sentiu saudades do Brasil, do Sol, do calor humano. O dia foi se arrastando até escurecer e ela ainda estava no aeroporto. O frio era intenso, havia previsão de nevasca durante a noite.

Seguindo um impulso foi até o guichê da companhia aérea que a levou até lá e comprou uma passagem de volta para São Paulo. A moça teria que esperar até às oito horas da manhã para embarcar, se o tempo permitisse; sentou-se em um canto e procurou dormir; estava muito frio.
No dia seguinte ela entrou no avião de volta para casa, estava feliz, seu lugar não era no estrangeiro, mas entre seus familiares e amigos. Não avisaria ninguém, queria surpreende-los.

Quando desceu em Guarulhos, sorriu, estava em casa e lembrou-se de sua mãe. Ela tinha razão, ela era filha da terra brasileira e aqui viveria até morrer.
Quando seus amigos souberam que ela não havia saído do aeroporto fizeram piadas e tiraram "sarro" dela; a gozação durou dias. A moça não se deixou abater e levava na esportiva; dizendo que, afinal, viajara para o estrangeiro e isso ninguém podia negar.

Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

"TUDO QUE UM SONHO PRECISA PARA SER REALIZADO É ALGUÉM QUE ACREDITE NELE". AUTOR DESCONHECIDO. -- "INSISTA NAS COISAS QUE TE FAZEM SORRIR". EVA IBRAHIM

                                LÁBIOS DE CARMIM                                     

     A professora terminara de escrever a lição de português no quadro negro e sentara-se com as mãos nos quadris, a dor naquele local era intensa. Há dias vinha sentindo dor na região lombar, mas tinha medo de contar para alguém ou até mesmo pensar no assunto. Estava em uma fase de negação, lembrar-se de seu passado recente provocava náuseas e a tristeza tomava conta de seus pensamentos.
   --Será que a doença, que a maltratara tanto, estava de volta?
   Olivia não queria nem pensar em passar por todas aquelas provações novamente, preferia morrer. Quando a sineta tocou anunciando o final do horário de aulas, ela pegou sua bolsa e saiu rapidamente, queria chegar à sua casa e se esconder do terrível câncer que a perseguia há cinco anos. Deitou-se na cama e de olhos abertos fitava o teto e remoía tudo que havia acontecido no passado.
   Era uma moça bonita e casara-se com Jonas, estava muito apaixonada, cheia de sonhos e projetos. Conseguira o trabalho que gostava, era professora primária. Quando compraram a casa com financiamento na Caixa Econômica Federal, o casal ficou muito feliz, era mais um sonho realizado. Olivia sentia-se a mulher mais sortuda do mundo, dizia à sua mãe e irmãs. Em meio a muito carinho nasceu Tales, o primeiro filho e dois anos após, Luana; uma família feliz. Quando a menina estava com três anos de idade, Olivia concluiu que era hora de viajar com as crianças; filhos lindos e muito amados.
  Cinco anos de casamento e muito amor entre eles, parecia que nada poderia interferir na felicidade conquistada.
Em um final de semana prolongado a família foi passear na praia; Tales e Luana foram conhecer o mar. Muita diversão e longas caminhadas na orla marítima para recolher conchas; as crianças estavam muito felizes. No domingo de manhã, Olivia acordou indisposta, estava com dor em baixo ventre. Pensou em uma possível gravidez, pois, sua menstruação estava atrasada; marcaria uma consulta com o ginecologista no dia seguinte.
  Jonas queria acompanha-la ao médico, mas não poderia faltar do trabalho naquele dia e a sua esposa foi sozinha. Após alguns testes o médico disse que não era gravidez, teriam que fazer alguns exames e uma ecografia para saber o motivo da dor. A mulher voltou para casa apreensiva, disse que não havia gostado da expressão que o médico fez ao lhe dizer que poderia ser uma porção de coisas. Porém, era prematuro dizer sem ter certeza; deveriam aguardar os exames.
  O marido tentou acalmá-la, iriam juntos ao médico. Depois de uma semana saiu o diagnóstico e o casal perdeu a tranquilidade. Olivia estava com câncer de ovário e teria que submeter-se a uma cirurgia para a retirada dos órgãos reprodutores. Uma cirurgia agressiva, seguida de quimioterapia. “Fariam todo o possível para bloquear a doença”. O médico disse ao casal assustado.
Os cabelos de Olivia caíram, ela ficou debilitada e durante um ano inteiro esteve afastada da Escola para tratamento. Aos poucos retomou à sua vida normal, mas sempre voltando ao ambulatório para exames de rotina. “Estava tudo bem”, disse o médico, poderia levar a vida normalmente. Após três anos ela respirou aliviada, vencera a doença.
“Doce ilusão”, ela pensava enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto deixando o líquido salgado molhar seus lábios. Tales estava com dez e Luana com oito anos de idade, agora que o casal poderia sair com as crianças, à doença estava de volta. Ela sabia que não poderia ser coisa boa aquela dor que a atormentava já fazia alguns dias. Tratou de se levantar, teria que fazer o jantar, as crianças chegariam da Escola e o marido logo em seguida. Precisava ser forte, não queria assustar sua família. Iria procurar o médico e somente depois diria ao marido a que conclusão o médico chegara.
   A mulher se submeteu a novos exames e o médico lhe pediu que levasse o marido com ela para saber o resultado, porque ela estava muito nervosa e precisava de apoio. Com muita ansiedade o casal foi saber do resultado dos exames e a noticia não poderia ser pior, o câncer estava de volta; metástase no peritônio. A luta seria grande e teriam que iniciar imediatamente novas sessões de quimioterapia. Jonas e Olivia passaram na Igreja em que se casaram e lá ficaram ajoelhados pedindo proteção a Deus, porque dias terríveis seriam vividos, eles sabiam que outra luta se iniciava naquele dia.
Foram muitas internações por fraqueza, vômitos recorrentes e quando Olivia achava que estava melhorando, sua barriga começou a crescer, era líquido ascítico. O médico disse ao marido que estavam perdendo a luta contra o câncer, pois, a doença avançava sem piedade; não havia mais esperança. O tratamento seria apenas paliativo, mas teria assistência até o final.
No início do tratamento Olívia era levada ao Hospital uma vez ao mês, depois a cada duas ou três semanas para retirar o líquido que se acumulava em seu ventre. O líquido era retirado, cerca de quatro ou cinco litros de cada vez e voltava para sua casa, sempre acompanhada por uma de suas irmãs.
Durante alguns meses essa foi à rotina da professora, já sem cabelos e muito debilitada parecia à sombra daquela mulher bonita. Com o pescoço, pernas e braços finos o abdômen destoava, era distendido e endurecido. Jonas queria saber o que fazer para melhorar a situação de sua esposa, ela estava sofrendo muito. A resposta doeu, Olivia estava na reta final, já não tinha mais água em seu ventre, o tumor havia crescido e tomava conta do abdômen inteiro.
   Em um dia chuvoso ela foi levada ao Hospital, não comia e só vomitava; chegou  quase desfalecida. Estava muito mal, tinha os pés inchados e uma palidez intensa; era difícil reconhecer a professora. Seu corpo estava emagrecido, não tinha nenhum fio de cabelo e trazia o olhar perdido em algum ponto distante. A voz fraca, difícil de ouvir; parecia que nada mais importava. Olivia permanecia inerte e sua respiração era lenta e arfante. Foi reanimada com soro e depois de algum tempo demonstrou uma pequena melhora, fixou seus olhinhos tristes em sua irmã e disse bem baixinho:
 -“Eu quero um sorvete vermelho”.
 Sua irmã quis saber se poderia sair para comprar o sorvete e todos aquiesceram, era o mínimo que poderiam lhe proporcionar. Olivia foi colocada sentada na maca com apoios laterais e com um débil sorriso começou a lamber o sorvete de groselha, que sua irmã segurava. A fraqueza que dominava o corpo da professora deixava seus movimentos lentos e a metade do sorvete derreteu dentro do copo que servia de apoio. Quando terminou o sorvete havia um sorriso nos lábios vermelhos de Olivia, parecia satisfeita. Lábio de carmim foi à imagem que ficou gravada na memória de todos que presenciaram o fato. Como por ironia o sorvete pusera um pouco de vida nos lábios daquela mulher tão fragilizada.
       Depois do sorvete Olivia teve alta, nada mais poderia ser feito, agora era com a família, disse o médico consternado. A paciente foi levada com medicações para dor e vômito deixando a imagem daquele sorvete vermelho. Todos se entreolharam, sabiam que aquela fora a última vontade de mais uma vítima de um câncer muito agressivo.
No Hospital não tiveram mais notícias de Olivia, que certamente já se encontra além da vida com seus lábios de carmim. 
Um texto de Eva Ibrahim

sábado, 22 de junho de 2013

"QUANDO VOCÊ SE FOR, A ÚNICA COISA QUE VAI DEIXAR É A LEMBRANÇA DO QUE FEZ AQUI". CHICO XAVIER--- AS VEZES É MELHOR NÃO SABER DE NADA... EVA IBRAHIM.

                                            AMANHÃ TALVEZ.

Tomei a decisão de ditar este texto para uma amiga quando percebi que andava esquecendo-me de coisas básicas, isto é, esqueci como dava marcha ré no meu antigo carro. Fiquei um longo tempo esperando o carro, que estava estacionado em frente ao meu, sair, para eu poder passar. Eu não conseguia dar ré no carro que dirijo há muito tempo. Meu marido riu porque o câmbio estava perfeito; depois comentou com os amigos e familiares. Todos riram muito, mas, acabaram percebendo que o caso era sério, minha mãe tivera o Mal de Alzheimer. Existia a possibilidade de eu ficar esquecida, igual a ela. Eu fizera apenas setenta anos, era forte e vaidosa; mal podia acreditar que estava perdendo a memoria.

Um dia, não muito distante, junto com meus guardados, gostaria que meus filhos encontrassem essa história e soubessem que retrata os meus últimos dias de lucidez. Reitero aqui a minha vontade de viver, incondicional, estar vivo é uma benção. Parto deste mundo real para o desconhecido somente pressionada por dona Morte. Agradeço á Deus á permissão por viver entre meus filhos e netos queridos. Uma Terra abençoada que nos deu tudo o que precisávamos e até os supérfluos; onde rimos e choramos de emoção.

Se por alguma razão eu ficar senil, a demência tomar conta de mim e eu me esquecer de quem sou, por favor, não me abandonem, eventualmente posso voltar a lembrar de mim. Gosto de ser chamada por meu nome de batismo ou por vovó, porque sinto que estou viva e fico mais feliz. Meu corpo está bastante velho, mas, o meu espírito é jovem. Como simples mortal estou adoentada e aos poucos sinto que estou perdendo o poder de raciocínio, mas, trago no peito a altivez de quem um dia foi uma mulher inteligente. Ainda percebo onde estou, porém, já há algum tempo, minha memória tem piorado a olhos vistos. Com a lucidez bastante comprometida só posso falar quando reconheço as pessoas e hoje estou bem, vamos em frente.

-Quero aqueles meus sapatos velhos de camurça, os pretos, que são confortáveis e elegantes, para os passeios ao ar livre e meu vestido de seda, rosa mosqueta, para ir ao médico. Se for para ficar em casa, gosto das minhas chinelas e aquelas roupas grandes e cheirosas; idosa precisa cheirar bem e estar sempre preparada para os abraços dos jovens. Gosto de muitas rendas e bordados em minhas roupas de cores pastéis. Nem pensar em roupas escuras ou de florezinhas pretas, só meu corpo está velho, pensem nisso. Por favor, não me ponham roupas de outras pessoas, me entristece e me deixa infeliz.

Já acordo ansiosa porque meu corpo amanhece rígido, tenho artrite, não consigo levantar-me sozinha. Sinto muita dor no joelho, tenho que dormir com um travesseiro entre as pernas; alivia um pouco. Tento não pensar que meu corpo necessita excretar os produtos tóxicos que circulam em meu sangue. Fico envergonhada, pois queria poder fazer minha higiene sem ajuda. As fraldas me incomodam; apertam minhas pernas, quase garroteando, para prender os poucos cheirosos nº 1 e nº 2, que todos fazem, mas, ninguém gosta de admitir. Quero lavar a boca e escovar os dentes com minhas próprias mãos; nem sempre posso fazer isso, meus dedos amanhecem rígidos. Passo dias sem voltar á razão, existem lacunas em minha mente.

O ser humano se acostuma com qualquer coisa e estou me acostumando a ser cuidada também. Meu corpo, que agora vive exposto, hora para um exame ora para higiene, já não me pertence porque não consigo cuidar dele. Procuro pensar em Deus e na minha alma para fortalecer o espírito, senão como irei resistir até o final? É difícil morrer quando se ama a vida. A energia persiste e para morrer temos que sofrer falência múltipla dos órgãos, que só acontece quando desistimos de lutar e eu não penso em desistir; ainda não. Quando estou “presente”, isto é, boa da cabeça, preciso contar as pessoas mais próximas casos antigos de acontecimentos importantes.

Gostaria de comer algumas coisas que nunca me dão; como por exemplo, um suculento torresminho de porco com arroz branco e couve com bacon. Com certeza alguma nutricionista que nunca ficou velha decidiu que alimentos para idosos ou doentes é, necessariamente, sopas sem sal.
 -Que horror! Por isso todos os doentes são pálidos e sem cor.
Temos que nos unir e protestar, queremos comida normal e lanches também; precisamos de “sustância”, como dizia minha avó.

 O tempo para mim já não importa, não sei as horas e nem sempre o dia da semana ou o mês, mas tenho vontade de sair para passear sob o Sol e caminhar junto á natureza. Quem sabe sentar no banco da praça em baixo do pé de Jatobá. Se cair um fruto em minha cabeça, juro que ficarei feliz mesmo assim.
Será que os pássaros ainda estão cantando sobre as árvores ou sumiram para as florestas? Se eu sair dessa situação, vou questionar para saber deles.

Receber visitas e carinho me faz lembrar que tenho família. Porém, muitas vezes não me recordo quantos filhos ou netos eu tenho; deve ser obra do Senhor Alzheimer que agora fica sempre ao meu lado. Fico feliz quando vejo meus familiares, eu os tenho em grande estima, é minha ligação com o mundo lá fora. Durmo muito, mas, não é de propósito, está fora de controle. Nem me reconheço; esquecer faz parte da minha rotina,
-Será que estou sendo dopada?
-Não sei dizer, mas pode ser para meu bem; não quero pensar nisso. Sinto que estou confinada em minha casa, não posso sair sozinha; temem que eu desapareça.

Sinto muitas dores e procuro sublimá-las, para não aborrecer meus familiares, porém, muitas vezes ficam insuportáveis e ai eu boto a boca no mundo. Faço coisas que não gosto, só para não contrariar as pessoas que cuidam de mim, como por exemplo: tomar chá.
Percebo que meus olhos estão secos e já não expressam mais emoção e os braços pesam toneladas, devo parecer um monstro; não quero me ver.
Agora, meu maior inimigo é o espelho, pois me lembro de quando tinha dezoito anos e sem modéstia, era linda. Se eu tratar alguns de vocês de maneira grosseira, por favor, me perdoem. Já existe um abismo entre eu e a vida, a lacuna da consciência; a morte me espreita...

Fecho os olhos e penso que estou arrastando minhas chinelas pela casa, apoiada em alguém, isso é certo, então percebo o óbvio; sou dependente até para andar. As peças mais importantes de minha casa agora são os batentes das portas, os corrimões e os espaldares das cadeiras ou qualquer coisa em que eu possa segurar. Meu maior sonho se resume em sentar em um vaso sanitário. Quero fazer minhas necessidades fisiológicas sozinha, no banheiro do meu quarto, naquele momento único de cada um. Estou revoltada, mas aceito que um dia devemos morrer e assim o meu dia também vai chegar.
Nos momentos de lucidez, sonho com dias melhores, mas, somente Deus sabe quando devo me apresentar á ele. O instinto de preservação é muito forte e nunca estamos prontos para partir. Morremos por falta de opção.
Que pena!
Posso não estar gostando das pessoas que estão cuidando de mim, porém, finjo que estou bem. Não me falta nada, mas tem algumas coisas que eu quero solicitar aos meus cuidadores como, por exemplo: paciência. Não me maltratem, pois só o corpo está acabado, a alma está presente e cheia de emoção.

Um grande beijo, vovó Tânia.
Não chorem, pois, morrer é a certeza da vida.
Essa história foi ouvida, durante oito meses, nos momentos de lucidez da protagonista, contou a amiga ouvinte.

Um texto de Eva Ibrahim.

sábado, 15 de junho de 2013

"HÁ MUROS QUE SÓ A PACIÊNCIA DERRUBA...E PONTES QUE SÓ O CARINHO CONSTRÓI" CORA CORALINA---NÃO SE EXPONHA, A VIDA É PRECIOSA! EVA IBRAHIM

                                                   A “ZOIUDA”.
O Sol se punha no horizonte, a escuridão aos poucos se instalava no local e mais uma vez uma coruja grande pousava no galho da mangueira ao lado do quarto do casal. Era o terceiro dia seguido que a ave pousava ali e Artur, o marido, pegou a máquina digital e bateu duas fotos da criatura; assustada ela voou. Ele mostrava as fotos e dizia que a ave era zoiuda, feia e velha. Luiza disse temer a presença da coruja, pois sempre ouviu dizer que eram aves de péssimo agouro para os moradores da casa. Artur deu de ombros e sorrindo entrou para mostrar as fotos para as crianças.
O casal morava na chácara dos pais de Artur, ao lado da casa grande. Era uma vida tranquila, os dois trabalhavam e a sogra sempre dava uma mão com as crianças, dois meninos. O maior tinha 12 e o menor 02 anos, eram crianças fortes e saudáveis. Eles gostavam de brincar no grande espaço que havia no quintal. Uma chácara cheia de aves, cães, gatos e muitas frutas. Artur era um marido atencioso e bom pai, mas, um tanto nervoso e birrento, dizia Luiza censurando o modo de ser do marido.
Por diversas vezes voltaram de passeios, que deveriam fazê-los felizes, de cara amarrada um com o outro. Artur discutia e dizia palavrões no trânsito por qualquer motivo e sua esposa sentia medo. Ele incorporava o machão, aquele que não levava desaforos para casa, pondo em risco a integridade física dele e de sua família. Depois de alguns confrontos, Luiza se recusava a entrar no automóvel com seu marido, principalmente, levando os filhos; as brigas eram constantes.
Era primavera e o horário de verão deixava as tardes mais longas, demorava a escurecer e as crianças dormiam mais tarde. Luiza ao fechar a janela de seu quarto viu a “Zoiuda” sentada no galho da mangueira, sentiu um calafrio e saiu do local com um pressentimento ruim. Ela trabalhava em uma farmácia e levava o filho menor para a creche, o maior ia para a escola e Artur saia de moto para o trabalho em uma concessionaria de automóveis na cidade vizinha. O homem seguia por uma estrada movimentada, com trânsito pesado e palco de muitos acidentes, para chegar ao trabalho.
Passado alguns dias, a mulher com a criança entrou no ônibus e o filho maior saiu, andando a pé, a caminho da escola. Artur estava atrasado e saiu apressado, teria que acessar a rodovia estadual. Era o horário de pico, todos saiam ao mesmo tempo para o trabalho. Parecia que os motoristas estavam com muita pressa e nenhuma paciência; ouvia buzinas o tempo todo, lembrou-se Artur mais tarde.
O homem seguia concentrado na pista, quando de repente uma perua Kombi encostou-se à motocicleta fechando a sua frente e jogando-o para o acostamento; Artur só não caiu porque não estava correndo. O homem enfurecido foi atrás da Perua ofendendo e fazendo gestos obscenos ao motorista. Depois de descarregar sua raiva, Artur percebeu que havia três homens na condução e não tinham cara de bons amigos, era melhor sair dali ou poderia correr risco; ele sentiu medo.
O trânsito era intenso e logo chegaria ao pedágio, era melhor acelerar. Artur pensou que a situação estava resolvida e respirou fundo; precisava se controlar e pensou em sua família. Passou o pedágio, olhou pelo retrovisor e viu a perua Kombi crescendo atrás de si. Não teve tempo de correr e foi abalroado pelo veículo. Quando ele caiu da moto a Perua Kombi passou sobre o abdômen do rapaz. Havia ódio nos olhos do motorista da perua; seu propósito era matar Artur. Foi um ato covarde e intencional, disseram as testemunhas aos policiais.
 A sensação era de morte iminente, pois o rapaz estava deitado na pista de rolamentos com uma dor lancinante na barriga. A perua saiu disparada em direção à capital e um enorme caminhão brecou quase atingindo a cabeça do rapaz. O motorista do caminhão desceu assustado e quando viu o jovem caído na pista se ajoelhou no chão agradecendo á Nossa Senhora Aparecida por ter permitido que o caminhão parasse. A possibilidade de parar de repente era quase nula para o tamanho do veículo. O caminhoneiro ficou ali agradecendo e repetindo que presenciara um milagre.
 Uma moça com vestimenta da concessionária do pedágio sinalizava o local acenando uma bandeira amarela, desviando o trânsito para permitir que o socorro chegasse até ele. Artur sentia dores lancinantes em sua barriga e ela crescia muito; ele tinha a sensação que iria estourar, disse depois para sua esposa. Quando sentiu um gosto amargo na boca e o vômito chegou com um líquido amarelo ele pensou que iria morrer.
Logo a seguir apareceu o socorro da concessionária da rodovia que o transferiu à emergência do Hospital.  Com o abdômen distendido foi levado para uma cirurgia de emergência, pois havia muito sangue na cavidade abdominal.
Artur, depois da cirurgia, foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva, correndo sério risco de vida, pois tivera duas paradas cardíacas durante os procedimentos médicos. Luiza chegou ao Hospital e somente ali ficou sabendo o que realmente havia acontecido. Quase se transformou em uma viúva; tremeu de medo, tinha dois filhos para criar. A mulher ficou horas aguardando o marido voltar da anestesia. Sua vida toda passou como um filme em sua cabeça, seu medo se tornara realidade. Desejava do fundo do coração que ele nunca mais se envolvesse em brigas de trânsito.
Luiza foi para casa dar assistência às crianças e retornou ao Hospital pela manhã encontrando o marido choroso e cheio de dores. O médico disse que Artur era um homem de muita sorte, pois por cerca de centímetros não ficaria paraplégico. Estava em um momento difícil, mas ficaria bem; era jovem e tinha saúde.
A mulher sentada ao seu lado comentou a aparição da coruja na árvore ao lado do quarto do casal. Estava explicada a estranha aparição, ela queria avisá-los de que haveria uma desgraça na família. O homem, incrédulo, disse que aquilo tudo era apenas coincidência, a “Zoiuda” nada tinha a ver com o acidente. Esse poder atribuído à coruja era crendice popular ultrapassada.
Quando Artur melhorou disse à Luiza que tivera uma estranha experiência na sala de cirurgia. Por duas vezes ele viu pessoas fazendo massagens em seu tórax, ele estava fora do corpo. Assustado, ele queria sair dali, mas, alguém o empurrava de volta para o corpo inerte na mesa de cirurgia.
O homem contou que não sentia dores, apenas queria sair daquele local, mas alguém o mandava de volta empurrando-o para o corpo cheio de sangue; depois não se lembrava de mais nada. Não era hora de morrer, foi à conclusão que o casal chegou.
 A “Zoiuda” sumiu, mais uma vez ela fez seu papel de ave de mau agouro, pensava a mulher temerosa. Em seguida, erguendo os olhos para o céu, fez uma oração em agradecimento pela vida de seu marido. Um texto de Eva Ibrahim.                                            
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