PAIXÃO PROIBIDA
CAPÍTULO TRÊS
Olívia morava naquele local há muitos anos e tinha D. Estela como vizinha à somente três anos. O casal de idosos mudou-se para aquele local com o filho mais novo, João Paulo; os outros três filhos estavam casados e viviam em outra cidade. O pai de João Paulo estava seriamente doente e em seis meses faleceu, deixando a viúva e o filho sozinhos.
João Paulo, um mestiço forte de 35 anos, que levava a vida na esperteza; sua mãe temia que algum mal lhe acontecesse. Ele perdeu o emprego em uma grande empresa e se separou da amásia; ainda bem que não tinha filhos, pensou a velha senhora. Então, o rapaz passava muitas horas em bares com outros desocupados, até que conheceram um traficante de drogas, que os convenceu a participar do negócio. O filho disse à sua mãe que estava trabalhando e trazia muito dinheiro para casa; a mãe andava desconfiada.
Seu filho parecia estranho; não poderia estar trabalhando, pois, levantava tarde e andava com gente mal encarada. A velha mãe pediu a ele, por diversas vezes, que trocasse de amigos, aqueles não eram gente boa. Porém, o filho não ouviu e certo dia a polícia apareceu e o levou preso. O grupo todo foi acusado de tráfico de drogas, depois condenados a cinco anos de prisão cada um.
D. Estela ficou sozinha e passou momentos de muita aflição. A mulher vivia com a pensão do marido e procurava dar apoio ao filho indo visita-lo na delegacia de polícia. Vivia muito só e procurou fazer amizade com sua vizinha; as duas conversavam muito, Olívia tinha pena da mulher.
Com a condenação houve a transferência para a Penitenciária do Estado, que ficava em outra cidade e a velha senhora tinha medo de viajar sozinha. A mulher foi uma vez, porém, disse que temia passar mal no ônibus, então, convidou Olívia para acompanha-la e a mulher concordou, afinal, eram amigas. As duas vizinhas se apoiavam mutuamente.
Olívia quando viu o filho de D.Estela, ela o reconheceu, já o vira outras vezes, porém, nunca prestara atenção no rapaz. Quando ele lhe estendeu a mão e apareceu um colar de pérolas quando ele abriu o sorriso, ela perdeu a fala. Custou para sair um grunhido que queria dizer “muito prazer”. Parecia um Deus moreno, da cor de pinhão, pensou a mulher embevecida. Pinhão, que ela gostava tanto, que estranha comparação, ela devia estar muito sozinha para ter esses pensamentos. Mas que ele era bonito ninguém poderia negar.
- Será por isso que se encantou daquela maneira?
A mulher saiu acompanhada da mãe do moço, que estava alegre, pois, seu filho estava bem. Olívia não parava de pensar em João Paulo, estava enfeitiçada. Aquilo era loucura, ela estava casada, não poderia pensar em outro homem, ainda mais aquele, que estava preso.
A semana demorou a passar e seu marido chegou de viagem, ela cumpriu sua obrigação de mulher casada, entretanto, fechou os olhos e imaginou estar naqueles braços moreno. O marido até estranhou, pois, perguntou se ela estava com saudades. Olívia aquiesceu, ele que pensasse o que quisesse.
Antônio sairia para outra viagem no domingo a tarde e ela teria de demovê-lo da ideia. Seu marido teria que viajar pela manhã, porque à tarde ela iria visitar seu amor com a vizinha. Para sua sorte e colaboração dos céus, choveu a noite toda e o marido resolveu viajar antes do almoço, para chegar ao destino antes de anoitecer.
Olívia parecia uma adolescente, estava muito feliz, tratou de ficar bem bonita e disse aos filhos que iria à Igreja com a vizinha. Mal conseguia controlar sua ansiedade, queria ver aquele sorriso novamente; precisava sentir se fora apenas uma ilusão. Ela comprara frutas para João Paulo, queria agradá-lo de alguma maneira. Sentia-se ridícula, porém, havia uma força que a empurrava para aquele lugar.
Ela sempre ouvira dizer que os homens, na meia idade, ficam assanhados com as meninas mais novas e isso tem um nome: "Idade do Lobo".
- Será que ela estaria na Idade da Loba? Pensou, cismada, a mulher.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
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sexta-feira, 14 de novembro de 2014
"PARA OS ERROS; PERDÃO. PARA OS FRACASSOS; UMA NOVA CHANCE. PARA OS AMORES IMPOSSÍVEIS; TEMPO." LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO--- O AMOR É ASSIM... EVA IBRAHIM
Eva Ibrahim,
sou amante das artes, da natureza e da familia; as vezes, gosto de ficar sozinha;
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
"FECHEI OS OLHOS E PEDI UM FAVOR AO VENTO. LEVE TUDO QUE FOR DESNECESSÁRIO. ANDO CANSADA DE BAGAGENS PESADAS. DAQUI PARA FRENTE, APENAS O QUE COUBER NO BOLSO E NO CORAÇÃO." CORA CORALINA-- QUE A FELICIDADE VIRE ROTINA. EVA IBRAHIM.
MOMENTOS DIFÍCEIS
CAPÍTULO DOIS
A ambulância adentrou ao pátio do
Hospital com a sirene ligada e logo apareceram os enfermeiros para levar a
mulher para dentro. Ela foi conduzida à sala de emergência e teve um
atendimento rápido, pois, seu caso inspirava cuidados. Estava em trabalho de
parto prematuro com fortes contrações e níveis pressóricos elevados.
Apresentava um quadro de pré-eclâmpsia; um caso crítico que exigia atitudes
médicas emergenciais.
Olívia foi conduzida parra o Centro
Obstétrico, onde ficaria em rigorosa vigilância, aguardando os medicamentos
agirem. O médico foi categórico ao explicar à paciente, que seu filho poderia
nascer prematuro e ficar na incubadora por tempo indeterminado. Tentariam
inibir o trabalho de parto, porém, se o quadro se agravasse o parto teria que
acontecer, para o bem de mãe e filho.
A gestante sentiu medo, não poderia
perder aquele filho, que já era muito amado. Pediu à presença da assistente
social, precisava avisar a avó do bebê, que posteriormente avisaria o pai da
criança. Algumas horas depois, D. Estela, chegou ao Hospital, estava esbaforida.
A velha senhora precisava ter notícias da mulher de seu filho e do neto também.
A mulher idosa estava nervosa e ficou
pior ainda quando soube que Olívia estava na sala de cirurgia; o bebê estava
nascendo. Ela procurou a capela do Hospital, precisava conversar com Deus;
somente ele poderia ajuda-la. Olívia se envolvera com seu filho por intermédio
dela e ela sentia-se culpada pelo desenrolar da situação.
Finalmente, o pequeno bebê veio ao
mundo e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Era prematuro
e de baixo peso; inspirava cuidados. Olívia foi conduzida à Unidade de Terapia
Intensiva de adultos, também necessitava de cuidados especializados. D. Estela
viu o neto, por um instante, quando foi levado para a incubadora. Depois, a
mulher foi caminhando cabisbaixa para sua casa. Havia uma nuvem parada no ar,
tamanha era sua preocupação. Aquele bebê era muito pequeno, talvez não
vingasse, pensou a mulher com o semblante fechado.
Enquanto Olívia se recuperava da
cesariana, alguém se preocupava com a falta de notícias. João Paulo sentia que
alguma coisa estava errada, Olívia não fora visita-lo no domingo e sua mãe
dissera que a mulher não estava passando bem. Durante a noite ele tivera um
sonho ruim, por isso estava apreensivo.
De dentro da Penitenciária ele não
poderia se comunicar com ninguém, teria que pedir à assistente social que
entrasse em contato com sua mãe. O detento aguardou ansiosamente notícias de sua
família. E, quando a notícia chegou, ele suspirou fundo, sabia que alguma coisa
ruim estava acontecendo.
Não
era um homem de fé, pelo contrário, andara por caminhos tortuosos, por isso
estava ali cumprindo pena. Porém, agora que encontrara o amor, não poderia
perdê-lo, então, a única coisa que poderia fazer era pedir a Deus que os
guardasse, a mãe e o filho, que ele queria conhecer.
Alguns dias se passaram até que Olívia
foi para o quarto, estava fora de perigo. Durante os dias que passara na UTI, somente D. Estela a visitara, agora a visita fora liberada. A Cida, a dona da
loja, queria ver a mulher e continuar a conversa que fora interrompida. A
comerciante gostava de uma fofoca e essa parecia ser das boas, iria visitar a
cliente.
Olívia parecia bem disposta, depois de
tudo que passara e ficou feliz com a presença de Cida, precisava conversar com
alguém para desabafar. Sentia saudades de Renato e de Raquel, mas eles não
queriam saber dela; isso a magoava muito. Entretanto, agora ela tinha o Pedro,
seu pequeno menino, que logo o levaria para casa, assim esperava; disse a
mulher esperançosa.
Logo que D. Estela saiu, Cida
sentou-se ao lado da cama, queria ouvir aquela história; estava pronta, disse
sorrindo para Olívia. Então, a mulher começou a contar sua história. Estava
casada fazia vinte e cinco anos, ela e o marido saíram para comemorar as bodas
de prata; estava feliz. Antônio, o marido, era caminhoneiro e estava sempre viajando.
Os filhos trabalhavam durante o dia e à noite frequentavam a faculdade.
Ela ficava muito tempo só, até gostava; saia
quando queria. Vivia tranquila, não lhe faltava nada, disse Olívia com um
sorriso maroto e certa malícia no olhar.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.
Eva Ibrahim,
sou amante das artes, da natureza e da familia; as vezes, gosto de ficar sozinha;
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
"(...) NÓS SOMOS CÚMPLICES, NÓS DOIS SOMOS CULPADOS. NO MESMO INSTANTE EM QUE TEU CORPO TOCA O MEU, JÁ NÃO EXISTE NEM O CERTO NEM O ERRADO, SÓ O AMOR, QUE POR ENCANTO ACONTECEU." "DESLIZES"- FAGNER.
A
IDADE DA LOBA
UM DESLIZE
UM DESLIZE
capítulo um
A mulher andava uns vinte metros e
parava, levava as mãos às ancas e se contorcia para trás. Seu rosto fechava e o
suor escorria pelos cantos da boca. Olhava ao redor e via uma porção de pessoas
passando sem olhar para os lados; cada um focado em seu problema, ninguém via
ninguém.
Olívia, em seguida, levou as duas mãos
ao pé da barriga, eram contrações fortes e fora de hora; chegaram sem avisar,
ainda não era hora, pensou a mulher aflita. Queria parar aquela dor a qualquer
custo, já não se lembrava de como era um trabalho de parto, mas sabia que
precisava de ajuda.
Ela
estava gestante de sete para oito meses, sua barriga endurecia e a dor
lancinante chegava como se quisesse abrir suas costas. Das costas para à
barriga e da barriga para as costas, parecia a central da dor do ser humano.
A mulher nunca imaginara que teria
outro filho aos quarenta e quatro anos de idade, pois Renato, seu primogênito,
estava com vinte e dois anos e Raquel, a mais nova com vinte anos; pensava ter
“aposentado as chuteiras.” Porém, estava ali morrendo de dores e caminhando pelo
centro da cidade. Pela manhã, levantou-se inquieta com sua situação, então,
saiu para dar uma volta no comércio e ver as novidades.
Dores constantes nas mãos, pés e
coluna, além do inchaço por todo o corpo, denunciavam uma gestação com muitos problemas.
E, ela estava sozinha, fora posta para fora de sua casa; sua família não a
queria mais.
Nos últimos três meses, desde a
descoberta de sua gravidez, ela estava na casa da vizinha e avó da criança. Os
filhos não queriam conversa com Olívia, diziam que a mãe estava morta e o
marido pediu o divórcio.
- Não ficaria casado com aquela
traidora, que só o envergonhara, disse o marido traído para o juiz, na
audiência de conciliação.
Ele teve sua separação deferida por
justa causa, ela que se virasse dali para à frente. Os filhos não quiseram
ouvir suas explicações, pois eram inexplicáveis.
Olívia aceitou calada, era culpada e
teria que assumir seus atos, que todos criticavam. Entretanto, foi nesse
deslize que ela conheceu o verdadeiro amor. Nunca se sentiu tão amada como
naqueles momentos em que esteve nos braços de João Paulo.
Era uma mulher de grande coragem por
ter cometido tamanho desatino ou estaria sofrendo das faculdades mentais,
disseram seus parentes. Não, ponderou Olívia, não tinha grande coragem e também
não estava louca, apenas, estava perdidamente apaixonada. O amor chegou tarde,
entretanto, ela o acolheu com todo o coração e Deus lhe deu um presente, que
estava em sua barriga. Ela já amava aquele pequeno ser, fruto de muito amor.
Não se importava com os falatórios, um dia se cansariam de falar. Dizia a
mulher sorrindo.
O corpo pesado e aquelas dores
intensas deixavam-na lenta. O esforço para se movimentar sob aquele calor
escaldante era enorme e sua cabeça latejava.
Andou mais um pouco e entrou na loja
da Cida, sua conhecida, que ao vê-la se admirou e perguntou-lhe se estava
prenha. Olívia, antes de responder perguntou se podia sentar-se e tomar um copo
de água. Depois que o líquido fresco entrou pela sua garganta parecia que as
dores diminuíram. Então, ela se dispôs a contar sua história.
Ela viera para assuntar o preço das
roupinhas de bebê, já que teria que comprar tudo de novo. Enquanto descansava
um pouco e tomava novo fôlego, iria lhe contar como descobriu o verdadeiro amor.
Porém, as dores voltaram fortes e a mulher perdeu a cor, parecia desesperada.
Olívia, entre um gemido e outro, disse que teriam que adiar aquela conversa, as
dores estavam insuportáveis e alguém deveria chamar a ambulância.
- Rápido for favor, não aguento mais.
Olívia disse se contorcendo e suando muito, o bebê quer nascer aqui mesmo.
A Cida pegou o telefone e gritando que
era urgência implorou uma ambulância; ela não era parteira e não podia ver
sangue, que alguém acudisse.
Em cinco minutos a ambulância chegou e
levou a gestante ao Hospital mais próximo. Cida ficou olhando da porta, estava
inconformada, precisava saber do ocorrido, deveria ter sido coisa grave para
acabar com um casamento de tantos anos. Iria visitar a freguesa no Hospital e
até lhe levaria umas roupinhas, como pretexto.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
no próximo capítulo.
Eva Ibrahim,
sou amante das artes, da natureza e da familia; as vezes, gosto de ficar sozinha;
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
"QUANDO SOMOS ABANDONADOS PELO MUNDO, A SOLIDÃO É SUPERÁVEL. QUANDO SOMOS ABANDONADOS POR NÓS MESMOS, A SOLIDÃO É QUASE INCURÁVEL." AUGUSTO CURY-- VIVER SÓ, TAMBÉM É OPÇÃO. EVA IBRAHIM
OMEM FRIO
CAPÍTULO ONZE
Na entrada da cidade vizinha havia uma batida policial, que estava à espera de Alcir. O delegado avisara a delegacia vizinha da ocorrência na casa do rapaz e de sua fuga naquela direção. Quando ele avistou os policiais não opôs nenhuma resistência, parou a moto e, tremendo de frio, foi ao encontro dos policiais, que lhe deram voz de prisão; algemando-o em seguida. Alcir foi jogado no fundo do camburão, afinal, acabara de matar sua mulher, não merecia piedade. Ninguém ouviu sua voz, ele permaneceu calado no trajeto até a delegacia.
A noite estava fria e ele tremia, estava enregelado, pois dirigira a motocicleta por trinta quilômetros, sem camisa. Algemado, Alcir foi colocado em frente ao delegado, estava mudo e distante. Um policial jogou sobre ele um cobertor velho ou ele acabaria morrendo de hipotermia. Alcir se enrolou no trapo velho e não abriu a boca para nada, tinha o olhar fixo no infinito; nada do que diziam parecia lhe interessar. Pensava em tirar a própria vida, assim que a oportunidade surgisse. O que aquele homem dizia, não lhe interessava; nada mais importava.
Cansado de esperar as explicações do rapaz, o delegado mandou coloca-lo em uma cela especial, temia que ele tentasse se suicidar. O delegado, homem experiente, sabia que o rapaz estava prestes a cometer uma loucura. Alcir passou a primeira noite preso, sentado no fundo da cela da delegacia. E, pela manhã não comeu nada e não quis ver ninguém, nem seus pais. Só pensava em Sila morta e no seu enterro, que ele não veria. Ele queria morrer também; a vida sem ela de nada valia.
Entretanto, Dirceu, que ouvia sua história, pediu que parasse, pois o restante ele já conhecia. Era hora de dormir, no dia seguinte ele sairia por aquela porta e seria um homem livre para recomeçar a vida. Teria que esquecer o passado e pensar no futuro. Alcir estava emocionado e com os olhos cheios de lágrimas, agradeceu ao amigo por ouvi-lo; sentia-se aliviado.
Mantivera aquela história guardada no fundo de seu coração e ainda doía muito. Para o mundo, que o julgava, ele criara uma armadura. Essa armadura era feita de agressividade, irresponsabilidade e descaso com o mundo. Alguns diziam que ele era louco, porém, ninguém sabia avaliar a intensidade do amor que ele sentia por Sila. Depois de oito anos, aquele amor, ainda doía em seu peito.
Foi impossível pegar no sono, Alcir estava muito agitado, ficava imaginando como estaria o mundo lá fora. Seus pais iriam busca-lo na Penitenciária e leva-lo para casa, porém, ele temia voltar àquele lugar, que lhe trazia tantas lembranças. E, ele não queria rever a família de Sila, não queria afrontá-los com sua presença. Teria que tomar outro rumo na vida. Deixar aquela cidade e tentar viver longe dali; seria melhor para todos, disse à sua mãe.
Sua mãe prometera segredo sobre sua liberdade condicional; juntos decidiriam o que fazer. Alcir arrumou sua mochila, era tudo que acumulara durante oito longos anos. Queria ir à Igreja, a mesma que foi palco de seu casamento. Alguma coisa lhe dizia que ali estaria a ajuda de que precisava. Queria pedir perdão e consolo a Deus, para poder seguir sua vida em paz. Sentia-se morto por dentro, perdera a capacidade de amar outra mulher.
Teria a culpa que trazia no peito como companheira e a saudade de Sila em cada momento de sua vida. Ele fora culpado por tudo que aconteceu, porém, não poderia apagar o passado. Então, tentaria viver com todas as suas cicatrizes internas e externas que adquirira.
Às nove horas da manhã, o carcereiro foi busca-lo na cela para leva-lo até o Diretor da Penitenciária. Os pais de Alcir estavam presentes e receberam as recomendações de praxe. O detento deveria se apresentar regularmente às autoridades e pedir autorização para mudar de endereço.
Chegando a sua cidade ele estranhou os lugares, havia muita mudança por ali. Novas construções, muitos automóveis, um comércio intenso e muita gente estranha circulando por ali. O progresso chegara à pequena cidade, seria fácil andar disfarçado por entre tanta gente. Alcir ficou feliz, poderia visitar o túmulo de Sila.
Ele não saiu de casa durante uma semana, deixou a barba crescer, comprou óculos escuros e um boné. Foi se apresentar ao delegado de sua cidade e pediu autorização para morar no interior do Estado na casa de um tio. Precisava trabalhar e lá o tio lhe daria emprego, tentaria reconstruir sua vida.
Depois de cinco dias ele recebeu a autorização para sua mudança, porém, antes ele tinha uma coisa muito importante a fazer. O rapaz se preparou para a mudança e depois se vestiu para seu último encontro. Barbudo, de óculos escuros e boné, ninguém o reconheceria. Estacionou o automóvel de seu pai na porta do cemitério e com um ramalhete de flores adentrou ao recinto. O zelador, que acabara de abrir os portões, estranhou a presença do jovem, tão cedo, no local.
O rapaz seguiu pela alameda central, parecia saber pra onde estava se dirigindo. O zelador o seguiu de longe, queria saber o que ele iria fazer. Chegou à frente do túmulo da moça assassinada pelo marido e depositando as flores sobre o túmulo ele se ajoelhou.
Aquele era o túmulo de Tarsila Azevedo, o zelador conhecia bem a história e ficou à espreita. O rapaz parecia encantado diante da foto colocada no túmulo. Fazia muito tempo que ele não via aquele sorriso, que mexia com todos os seus sentimentos. Alcir chorou muito, ficou ali durante quarenta minutos, ajoelhado no cimento e com a cabeça recostada no mármore frio do túmulo da moça. Depois, levantou-se e sem olhar para trás, seguiu até o automóvel, partindo em seguida.
UM Hseria aquele o matador?
- Parecia tão triste e
chorou muito! Pobre rapaz!
Alcir passou em sua casa e
revestido com sua armadura partiu para uma nova vida. Um homem frio e duro em
suas decisões, que mantinha um silêncio que o condenava.
Termina aqui a história de Sila e Alcir, mais
um crime passional movido pelas drogas.
Um texto de Eva Ibrahim.
Iniciaremos uma nova
história na próxima semana.
Eva Ibrahim,
sou amante das artes, da natureza e da familia; as vezes, gosto de ficar sozinha;
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
"AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER; É FERIDA QUE DÓI E NÃO SE SENTE; É UM CONTENTAMENTO DESCONTENTE; É DOR QUE DESATINA SEM DOER." LUIS VAZ DE CAMÕES--SÓ SOBRARAM LEMBRANÇAS...EVA IBRAHIM
SEM VOLTA
CAPÍTULO DEZ
A
decadência de Alcir estava evidente, depois que Sila foi embora, ele tornou-se
um rapaz desleixado. Sua casa vivia desarrumada e suja; havia roupas e panelas
jogadas por toda parte, nada mais importava. Se não estivesse no bar, com
certeza, estaria jogado em algum canto, dopado. Tornara-se um farrapo humano,
pouco restara do rapaz bonito e cheiroso que se apaixonara por Sila. Muitas
coisas que havia na casa foram vendidas para comprar drogas. Por último ele vendeu o automóvel, precisava
pagar as contas da casa e de seu fornecedor. Ainda lhe restara à motocicleta,
que ganhara no jogo de cartas.
Seus
pais tentaram leva-lo para morar com eles novamente, porém, ele não aceitava
falar sobre isso. Lá no fundo ele ainda tinha esperanças de que sua mulher
voltasse para casa. Alcir sentia que se ele deixasse a casa, seria como se
estivesse rompendo definitivamente com seu amor. E, essa ideia o deixava louco,
preferia morrer a ver Sila acompanhada de outro homem. A moça era sua para
sempre e ninguém a tiraria dele; seu peito doía quando pensava nela.
Depois
de três meses de separação, Alcir estava emagrecido; não comia, vivia nos
bares. Sua mãe queria interna-lo em uma clínica de recuperação para drogados.
Quando soube disso, ele ficou uma fera, até a mãe que ele gostava tanto, não
entendia o que ele estava passando, lamentava o rapaz.
- Que ela nunca mais tocasse no assunto, ele
pararia de usar drogas quando quisesse, disse o filho indignado para a mãe
sofrida.
A
mulher seguiu para sua casa, estava desolada, não sabia que atitude tomar
diante da rebeldia de seu menino. Então, a mulher foi procurar a nora, quem
sabe ela conseguiria que Alcir se tratasse. Sila se recusou a falar com ele,
tinha medo dele. O marido estava transtornado e ela queria sossego, não
voltaria para ele, pois se revelara um homem violento, que não confiava nela.
Desde que ele jogara a moto em cima dela e de Celso, que era somente um colega
de escola, ela desistira dele definitivamente.
Sila
saia de casa somente para trabalhar e ir à escola, ela queria dar um tempo para
Alcir esquecê-la e assinar o divórcio. Seu casamento fora precipitado, ela
tinha muita coisa para fazer antes de se prender a alguém. Não voltaria atrás,
para ela o assunto estava encerrado.
Mais
um mês se arrastou e sua formatura estava próxima, então, ela se deu conta de que
alguns de seus documentos ficaram na casa de Alcir. Teria que pegá-los quando
ele não estivesse lá; aproveitaria para apanhar o restante de suas roupas, que
ficaram na casa.
Às
seis horas da tarde, quando saiu do serviço, Sila resolveu passar em sua antiga
casa; iria resolver aquela situação de uma vez. Se o marido não estivesse lá,
ela entraria na casa com sua chave; era coisa rápida, ele nem iria perceber que
ela esteve lá.
Era
um fim de tarde de inverno, estava frio e escurecendo depressa, então ela se
aproximou da casa e viu que estava às escuras. A moto não estava na garagem e a
moça concluiu que o marido havia saído. Abriu o portão e entrou sem fazer
barulho, pegaria suas coisas e sairia rapidamente. Entrou na sala, e acendeu a
luz; ficou horrorizada com a sujeira e o abandono do lugar, que ela gostava e
tinha boas lembranças. Em seguida foi até o quarto, os documentos estavam na
gaveta da cômoda.
Quando
Sila abriu a porta do quarto, Alcir deu um pulo da cama, estava só de bermuda e
parecia drogado. Agarrou sua mulher pelo braço tentando beijá-la; ela o
empurrou, estava cheirando a álcool e devia fazer tempo que não tomava banho,
disse a moça indignada. Não estava ali para reatar o casamento, viera apenas
pegar uns documentos, que estava precisando. Ele tentou segurá-la, porém, ela
foi saindo e Alcir pediu para que ela voltasse para pegar suas coisas, não iria
agarrá-la mais.
Ele
foi para a cozinha enquanto ela pegava os documentos no quarto. Ao sair ele
estava na sala e disse que iria perguntar somente mais uma vez.
- Você pode voltar para mim? Eu amo você.
Ela
retrucou horrorizada.
- Nunca mais, você está perdido nas drogas.
Alcir
sentiu-se desprezado e humilhado, em seguida tirou as mãos das costas onde
escondia o revolver, que apanhara no armário da cozinha. Com muito ódio ele
retrucou:
- Se
não for minha, não será de mais ninguém.
E,
antes dela abrir a boca, ele deu cinco tiros à queima roupa no peito de Sila,
que surpresa caiu ao chão.
Em
segundos o sangue tomou conta de sua boca e entre rápidos espasmos a moça ficou
sangrando caída no chão da sala da casa, que um dia fora sua também.
Alcir
ficou parado olhando o que fizera; não podia acreditar que matara o amor de sua
vida. Abaixou-se e tentou levantá-la; ela estava inerte em meio a uma poça de
sangue. Horrorizado o rapaz afastou-se, o que fizera não tinha perdão, teria
que fugir para longe, onde ninguém o alcançasse.
Sua
moto estava atrás da casa, por isso Sila não viu. Pulou em cima da motocicleta,
estava de meias e bermuda, nada mais. Enquanto os vizinhos saiam para ver o que
fora aqueles estampidos, Alcir passava por eles desesperado e ganhava a rodovia
que o levaria até a cidade vizinha, deixando para trás o corpo inerte de seu
amor.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.
Eva Ibrahim,
sou amante das artes, da natureza e da familia; as vezes, gosto de ficar sozinha;
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
"SEMPRE HÁ UMA OUTRA CHANCE, UMA OUTRA AMIZADE, UM OUTRO AMOR, UMA NOVA FORÇA. PARA TODO O FIM, UM RECOMEÇO." O PEQUENO PRÍNCIPE--- AMOR SÓ EXISTE À DOIS. EVA IBRAHIM
AS FERIDAS DA ALMA!
CAPÍTULO NOVE
Do outro da linha telefônica
somente o tu, tu se fazia ouvir, o que deixava Alcir furioso, pois tinha vagas
lembranças da besteira que fizera. Ele percebeu que havia sangue na cabeça de
Sila, porém, estava tão “chapado”, que não conseguiu ajuda-la a se levantar, antes
disso ele caiu no sofá e apagou. Alcir havia misturado bebida com cocaína,
estava alucinado e perdera a consciência, mergulhando num sono profundo. Acordou assustado, pegou o telefone e novamente tentou comunicação com a casa da sogra.
O dia estava amanhecendo e
ele não conseguia efetuar a ligação. Das duas uma, ou ela
não queria atende-lo ou estavam no Hospital.
-Como saber para onde levaram sua mulher? Estava
muito preocupado, não queria perder seu amor.
Depois que amanheceu ele
pegou a moto que havia ganhado no jogo e saiu para ir à casa da sogra.
Encontrou a casa fechada e depois de haver tocado a campainha por diversas
vezes, chegou à conclusão de que não havia ninguém ali. Então, sentou-se na
sarjeta e ficou esperando que alguém aparecesse; estava decidido a pedir perdão
à Sila e leva-la para casa novamente.
Já passava das dez horas
quando o automóvel do sogro apareceu na esquina. Alcir deu um pulo, eram eles
que chegavam do Hospital, onde a moça ficara em observação com três pontos na
cabeça. O sogro desceu dizendo para Alcir ficar longe de sua filha ou ele chamaria
a polícia.
Sila saiu do veículo e nem
olhou para ele. Ainda bem que os cunhados não se encontravam ali, porque Alcir
poderia ser agredido por eles. A sogra saiu blasfemando que ele era um sem
vergonha e desocupado, pois, até o emprego já havia perdido. Que ficasse longe
deles, sua filha não voltaria àquela casa.
Alcir não conseguiu abrir a
boca, estavam todos contra ele e com razão. Então, ficou algum tempo parado ali
na frente da casa e depois resolveu ir se queixar para sua mãe; ela poderia
ajuda-lo. Ver o amor de sua vida passar e não falar com ele o deixou abalado,
teria que reverter à situação ou morreria de remorso.
A
mãe de Alcir, dona Rosa, ligou para a casa dos pais de Sila, queria saber da
nora. Foi mal atendida e ainda teve que ouvir desaforos, pois, seu filho estava
demonstrando ser um canalha, disse a mãe da moça do outro lado do telefone.
Assustada a mulher sentou-se no sofá e perguntou ao filho o que havia
acontecido. Ele desconversou e saiu rapidamente, estava envergonhado e foi
parar no bar; precisava afogar suas mágoas. Saiu dali quando o estabelecimento
fechou.
Sila
foi à sua casa quando o marido não estava, pegou algumas roupas e objetos
pessoais; pegaria o restante depois. Os dias corriam lentamente para Alcir que
passava a maior parte do tempo no bar com seus amigos e a noite ia esperar Sila
para tentar reatar seu casamento. Porém, a moça estava cada dia mais distante
dele e não queria conversar. Ela queria a separação, pois Alcir andava drogado
e em más companhias.
Quando o advogado de Sila procurou Alcir para tratar da
separação, o homem quase apanhou.
–Nunca daria o
divórcio a sua esposa, só a morte o separaria dela, enfatizou o rapaz.
O causídico saiu assustado e
pediu que a moça tomasse cuidado; o marido parecia perigoso, além de alucinado.
Alcir ficava, todas as noites, esperando sua esposa chegar da faculdade e a
seguia até a casa dos sogros. Sila sentia medo dele e não queria conversar.
Uma pessoa conhecida contou
para Sila que seu marido estava vendendo os eletrodomésticos da casa deles. A
moça ficou furiosa, aqueles aparelhos também lhe pertenciam e na casa ainda
havia objetos pessoais dela. Ela teria que retirar o restante de suas coisas
que haviam ficado na casa ou seriam vendidos. Teria que ir até lá quando Alcir estivesse
ausente.
Sila não disse nada a seus
pais para não aborrecê-los, teria que resolver aquela situação sozinha. Pensava
que depois de formada iria morar na capital, na casa de uma tia, assim ficaria
longe de Alcir e poderia reconstruir sua vida.
A tarde, quando saiu do serviço ela
pensou que seria uma boa hora para buscar suas coisas, o marido, provavelmente
estava no bar se embebedando. Entretanto seu colega de classe, o Celso, a viu
na rua e parou para conversarem. Nesse momento Alcir estava passando de moto e
viu sua mulher conversando com o colega de escola e jogou a moto em cima do
casal, que pulou para os lados para não ser atingido.
Houve uma aglomeração de
pessoas ali no local e Alcir tratou de fugir, deixando Sila assustada. Ninguém
se machucou, porém, ficou claro que o marido não estava para brincadeiras; se
tornara um homem violento. Mas, o pior é que a partir desse dia ele passou a
andar armado e Sila não sabia de nada. Alcir criara uma armadura no lugar de seu amor, não tinha mais sentimentos; era uma fera ferida.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
Eva Ibrahim,
sou amante das artes, da natureza e da familia; as vezes, gosto de ficar sozinha;
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