A
IDADE DA LOBA
UM DESLIZE
UM DESLIZE
capítulo um
A mulher andava uns vinte metros e
parava, levava as mãos às ancas e se contorcia para trás. Seu rosto fechava e o
suor escorria pelos cantos da boca. Olhava ao redor e via uma porção de pessoas
passando sem olhar para os lados; cada um focado em seu problema, ninguém via
ninguém.
Olívia, em seguida, levou as duas mãos
ao pé da barriga, eram contrações fortes e fora de hora; chegaram sem avisar,
ainda não era hora, pensou a mulher aflita. Queria parar aquela dor a qualquer
custo, já não se lembrava de como era um trabalho de parto, mas sabia que
precisava de ajuda.
Ela
estava gestante de sete para oito meses, sua barriga endurecia e a dor
lancinante chegava como se quisesse abrir suas costas. Das costas para à
barriga e da barriga para as costas, parecia a central da dor do ser humano.
A mulher nunca imaginara que teria
outro filho aos quarenta e quatro anos de idade, pois Renato, seu primogênito,
estava com vinte e dois anos e Raquel, a mais nova com vinte anos; pensava ter
“aposentado as chuteiras.” Porém, estava ali morrendo de dores e caminhando pelo
centro da cidade. Pela manhã, levantou-se inquieta com sua situação, então,
saiu para dar uma volta no comércio e ver as novidades.
Dores constantes nas mãos, pés e
coluna, além do inchaço por todo o corpo, denunciavam uma gestação com muitos problemas.
E, ela estava sozinha, fora posta para fora de sua casa; sua família não a
queria mais.
Nos últimos três meses, desde a
descoberta de sua gravidez, ela estava na casa da vizinha e avó da criança. Os
filhos não queriam conversa com Olívia, diziam que a mãe estava morta e o
marido pediu o divórcio.
- Não ficaria casado com aquela
traidora, que só o envergonhara, disse o marido traído para o juiz, na
audiência de conciliação.
Ele teve sua separação deferida por
justa causa, ela que se virasse dali para à frente. Os filhos não quiseram
ouvir suas explicações, pois eram inexplicáveis.
Olívia aceitou calada, era culpada e
teria que assumir seus atos, que todos criticavam. Entretanto, foi nesse
deslize que ela conheceu o verdadeiro amor. Nunca se sentiu tão amada como
naqueles momentos em que esteve nos braços de João Paulo.
Era uma mulher de grande coragem por
ter cometido tamanho desatino ou estaria sofrendo das faculdades mentais,
disseram seus parentes. Não, ponderou Olívia, não tinha grande coragem e também
não estava louca, apenas, estava perdidamente apaixonada. O amor chegou tarde,
entretanto, ela o acolheu com todo o coração e Deus lhe deu um presente, que
estava em sua barriga. Ela já amava aquele pequeno ser, fruto de muito amor.
Não se importava com os falatórios, um dia se cansariam de falar. Dizia a
mulher sorrindo.
O corpo pesado e aquelas dores
intensas deixavam-na lenta. O esforço para se movimentar sob aquele calor
escaldante era enorme e sua cabeça latejava.
Andou mais um pouco e entrou na loja
da Cida, sua conhecida, que ao vê-la se admirou e perguntou-lhe se estava
prenha. Olívia, antes de responder perguntou se podia sentar-se e tomar um copo
de água. Depois que o líquido fresco entrou pela sua garganta parecia que as
dores diminuíram. Então, ela se dispôs a contar sua história.
Ela viera para assuntar o preço das
roupinhas de bebê, já que teria que comprar tudo de novo. Enquanto descansava
um pouco e tomava novo fôlego, iria lhe contar como descobriu o verdadeiro amor.
Porém, as dores voltaram fortes e a mulher perdeu a cor, parecia desesperada.
Olívia, entre um gemido e outro, disse que teriam que adiar aquela conversa, as
dores estavam insuportáveis e alguém deveria chamar a ambulância.
- Rápido for favor, não aguento mais.
Olívia disse se contorcendo e suando muito, o bebê quer nascer aqui mesmo.
A Cida pegou o telefone e gritando que
era urgência implorou uma ambulância; ela não era parteira e não podia ver
sangue, que alguém acudisse.
Em cinco minutos a ambulância chegou e
levou a gestante ao Hospital mais próximo. Cida ficou olhando da porta, estava
inconformada, precisava saber do ocorrido, deveria ter sido coisa grave para
acabar com um casamento de tantos anos. Iria visitar a freguesa no Hospital e
até lhe levaria umas roupinhas, como pretexto.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
no próximo capítulo.