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sábado, 15 de outubro de 2016

"A APARÊNCIA PODE ATÉ FAZER A DIFERENÇA, MAS ELA NÃO É NADA, PERTO DA BELEZA QUE VEM DO CORAÇÃO'. AUTOR DESCONHECIDO

COMER, COMER...

CAPÍTULO OITO
           Mas, o que todos temiam estava para se concretizar; Valentina teria que cair na realidade. O dia seguinte amanheceu e a paciente estava com a boca seca, acordou da anestesia querendo comida e um refrigerante gelado, do jeito que estava acostumada. Estava agitada e impaciente, tentou se levantar, porém sentiu dor e voltou a posição original.

            Então, a enfermeira explicou que sua dieta seria líquida e em pequenos goles, de seis a oito porções diárias. Valentina arregalou os olhos e disse irritada:

           - Estou morrendo de fome e sede, preciso de comida e refrigerante!!!. Em seguida gemeu de dor, levando a mão ao local da cirurgia.

A enfermeira, então, disse que ela só iria iniciar a alimentação sólida, após dois meses da cirurgia. Exatamente para evitar a dor e o desconforto estomacal e depois ponderou:

- Você recebeu todas as orientações necessárias antes da cirurgia e deveria saber disso. Seu estômago foi reduzido e precisa de um tempo para cicatrizar.

- No entanto, ela não levara as orientações como coisa séria, ignorou todas as explicações recebidas. Interviu sua mãe apreensiva.

Enquanto isso a paciente se contorcia de dor precisando ser medicada e logo depois, adormeceu; ainda estava sob o efeito dos anestésicos.

 - A alimentação ficaria para depois, disse a enfermeira para Clara, que parecia assustada com o seu futuro e o de sua filha.

A profissional sentiu que a mãe estava aflita e lhe explicou que Valentina tomaria suplementos alimentares e vitaminas para evitar a queda de cabelos, o enfraquecimento geral e das unhas. Clara concordou com a cabeça, nada poderia mudar o que estava feito. No segundo dia, logo pela manhã chegou a dieta de Valentina, que esperava outra coisa para comer. A decepção estava visível em seu rosto espantado.

          Em uma bandeja estavam dois copinhos pequenos, aqueles em que são servidos cafezinho. Um continha chá e o outro um suco amarelo, ambos estavam até a metade; aquele era o desjejum de Valentina. Como estava faminta ela apanhou o suco e levou à boca de uma só vez, caiu como uma pedra em seu estômago e ela se contorceu levando a mão ao estômago.

               Mais uma vez a dor a incomodava e enquanto gemia questionava se seria sempre assim. O médico foi chamado e explicou à sua paciente que nos primeiros dias aquela dor era esperada e aos poucos tudo voltaria ao normal; precisava ter paciência e aprender a comer. Por ora teria que se levantar, tomar banho e caminhar um pouco, pois logo teria alta e deixaria o Hospital.
               Clara, que a tudo assistia ficou atenta a reação da filha, que veio imediatamente.


             – E o que eu vou comer? Estou morrendo de fome e não posso comer, que dói meu estômago. E, duas lágrimas rolaram de seus olhos indo morrer em sua boca, seguidas de um gemido doido. Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"DIREI DO SENHOR: ELE É O MEU DEUS, O MEU REFÚGIO, A MINHA FORTALEZA, E NELE CONFIAREI". SALMOS 91 DA BÍBLIA SAGRADA


                              NAS MÃOS DE DEUS 
                    
CAPÍTULO SETE

Clara tinha muito medo da cirurgia de Valentina, porque o médico dissera que toda cirurgia, sempre, envolve riscos de vida. E, aquela filha já lhe trouxera muitas preocupações, então, suas noites tornaram-se povoadas de pesadelos; aquele pensamento sobre morte, a deixava inquieta.

Desde que o médico autorizou os exames pré-operatórios, que ela não dormia direito; parecia que vivia com uma sombra assustando seus dias e deixando a ansiedade tomar conta dela. Seu coração de mãe estava apertado, acelerado e nada conseguia acalmá-lo.

             Ela intensificara suas idas à Igreja e consequentemente suas orações, precisava se agarrar com Deus. Valentina não se importava com a cirurgia, não demonstrava nenhuma preocupação. Não dava importância à sua vida ou não entendia direito do que se tratava.

          Com certeza, pensava ser apenas um passe de mágica, sem levar em conta o sofrimento e as privações a que seria submetida posteriormente. Clara estava ciente de tudo isso, no entanto, para Valentina era a única saída para se livrar do complexo de inferioridade e dar a ela a oportunidade de se sentir igual aos irmãos, isto é, magra e esbelta.

           Ultimamente havia engordado mais ainda, seus tornozelos viviam inchados de carregar tanto peso. Chegara a pesar cento e quarenta quilos; seu corpo pesado lhe valia cansaço e falta de ar. Chegara ao seu limite; só o bisturi para dar jeito na situação, dissera o médico desanimado. Todos sabiam disso, a moça estava cada dia mais gorda. Valentina estava serena, iria para a forca sem pensar no cadafalso, pensava sua mãe quando olhava a filha obesa.

           E, finalmente o dia da cirurgia chegou para desespero de Clara, que acompanhou a filha até o Hospital. Valentina mostrava-se tranquila, parecia não se importar com a situação. E, quando vieram busca-la para o centro cirúrgico, a mãe ficou rezando para que sua cirurgia corresse bem.

          Foi uma manhã inteira de aflições e medos para aquela pobre mãe; embora Rui, o marido, estivesse ali, ele era impotente e só servia para dar o ombro para Clara chorar. Ela não saberia dizer quantas vezes pediu aos Santos e a Deus pela filha. O casal estava exausto, quando a porta se abriu e chegou a notícia de que a cirurgia havia acabado e a paciente estava na sala de recuperação.

          Os dois se abraçaram, agora começava uma nova etapa na vida da família, talvez a mais difícil de todas; conter a fome de Valentina. Sem dúvida, agora todos, estavam nas mãos de Deus. Pensou a mãe consolada pela notícia alvissareira. Valentina sobrevivera à cirurgia bariátrica...

        Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

"AINDA QUE HAJA NOITE NO CORAÇÃO, VALE A PENA SORRIR PARA QUE HAJA ESTRELAS NA ESCURIDÃO". AUTOR DESCONHECIDO.

UMA LUTA DIÁRIA
CAPÍTULO SEIS

           A mãe, então, tratou de marcar um médico endocrinologista o mais rápido possível, pois temia que Valentina desistisse da ideia. As duas foram ao médico, que educadamente explicou que precisava de exames de sangue para iniciar qualquer tratamento. Mãe e filha foram ao laboratório para colher o sangue da menina e, depois esperar que os exames ficassem prontos para levar ao médico.

             Finalmente estavam com os exames nas mãos e diante do médico endocrinologista. Ele explicou que devido à pouca idade de Valentina, iniciariam o regime com uma reeducação alimentar, onde toda a família deveria estar envolvida. Se quisessem obter êxito na reeducação alimentar da menina, deveriam se comprometer a evitar doces e massas nas refeições.

           O irmão e a irmã da menina protestaram, pois, eram magros e teriam que acompanhar o regime da irmã? Clara chamou os dois para uma conversa.

          – A irmã de vocês está com problemas e toda a família terá que colaborar para ajudá-la a emagrecer; é uma questão de vida ou morte. Enfatizou a mãe para os filhos contrariados, que saíram resmungando contra a situação estabelecida.

         - O cardápio é verde, parece um pasto, muito mato e grãos, dizia Celso inconformado.

         - Pouca carne e massas; de sobremesa frutas e nenhum doce, logo seremos apenas ossos. Choramingava a irmã mais velha, que tinha o corpo com as medidas perfeitas.

         Clara ficava nervosa por ver que os irmãos ironizavam a situação de Valentina, que lhe inspirava cuidados.

        Aos poucos todos se acostumaram ao novo cardápio; Ana e Celso comiam lanches fora de casa e assim, pararam de reclamar. Valentina perdeu quatro quilos em um mês, no entanto, mal dava para se notar. A menina voltou da consulta médica desanimada.

           – Tanto sacrifício com poucos resultados, não quero mais fazer regime. Dizia Valentina choramingando.

          No entanto, Clara e Rui não deixavam que ela desistisse, davam duro para ela manter o regime, com muita conversa e promessas de presentes e passeios. O Ferrugem deixou a bicicleta de lado para a amiga não ficar chateada.

          E, assim a menina emagreceu até chegar aos cento e dez quilos, daí não conseguiu emagrecer mais nada. O médico disse que somente a cirurgia conseguiria deixa-la magra, mas teriam que manter o regime até ela ter idade para fazer a intervenção cirúrgica.

         Foi uma luta diária que durou alguns anos. Clara e a família sofreram até Valentina chegar aos vinte e um anos. Uma moça obesa, arisca, introspectiva, que só gostava do amigo Ferrugem. Ele tornou-se um jovem alto, forte e de cabelos encaracolados da cor da ferrugem. Os dois não se largavam e todos perguntavam quando seria o casamento, então, desconversavam e saiam emburrados.

Valentina mantinha o peso entre cento e vinte e cento e trinta quilos e, já tinha indicação de cirurgia.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

"SEMPRE TENHA ESPERANÇA...A MELHOR SENSAÇÃO DO MUNDO É SABER QUE EXISTEM INFINITAS POSSIBILIDADES" AUTOR DESCONHECIDO.

ESPERANÇA

CAPÍTULO CINCO
        Clara, a partir deste dia, passou a tratar o menino com simpatia, pois sentia que ali estava o caminho para chegar ao coração da filha. Ferrugem era tímido, mas com o passar do tempo, parecia mais alegre e mais solto também; passava as tardes na casa de Valentina. Faziam a tarefa da escola e depois jogavam xadrez, dama ou baralho; vez ou outra riam para valer.

         A família estava apreensiva; o pai procurava conversar com a filha, que nem sempre estava receptiva. Ela só se transformava em contato com aquele menino desajeitado, que conseguia penetrar em seu coração. Os dois se entendiam e não se largavam, mas não queriam a companhia de ninguém. Se alguém se aproximava, eles se fechavam e saiam rapidamente.

Com o passar dos dias, Valentina passou a apresentar uma calma estranha, que muitas vezes parecia desinteresse por tudo ao seu redor. Não se abria para conversar com ninguém. Havia uma nuvem pesada pairando no ar e, Clara temia que a filha tentasse contra a própria vida novamente.

Porém, quando o amigo chegava seus olhos brilhavam e ela saia daquele marasmo. Não havia dúvidas de que o menino, fazia com que ela se sentisse menos triste. Os dias passavam e Valentina apresentava altos e baixos. Ora estava alegre e brincalhona, ora ficava trancada em seu quarto. A mãe lhe dava os remédios e esperava ela tomar, pois temia que ela os cuspisse fora.

Era uma situação preocupante, parecia que a paz nunca mais voltaria àquele lugar. Havia uma ameaça permanente assustando a todos. Valentina continuava a mesma menina relaxada e introspectiva; comia muito e agora vivia acompanhada de Ferrugem. Clara tinha medo de proibir essa amizade e ela se revoltar; não sabiam mais o que fazer.

Certo dia, o menino apareceu andando de bicicleta, disse que havia ganhado de presente. Disse que fora um tio quem lhe dera; estava feliz. No entanto, Valentina ficou muito triste, estava gorda para pilotar uma bicicleta. Em sua casa havia duas bicicletas, que eram de seus irmãos, mas ela não conseguia sair do lugar. Passou a tarde toda chorando e se lamentando.

Então, Clara propôs à filha procurar um médico para fazer um regime. E, para sua surpresa ela concordou e ficou feliz com a possibilidade de emagrecer. Clara lhe prometeu uma bicicleta e roupas novas se ela fizesse a dieta prescrita pelo médico.

 Pela primeira vez depois da tentativa de suicídio, Clara sentiu que sua filha estava de volta para eles. Seu coração pulsou forte, ainda restava uma esperança de recuperação para sua filha.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

"SER AMIGO É INTERPRETAR OLHARES, ENTENDER SILÊNCIOS, PERDOAR ERROS, GUARDAR SEGREDOS, PREVENIR QUEDAS E SECAR LÁGRIMAS". PAULO FERNANDES.


FERRUGEM, O AMIGO
CAPÍTULO QUATRO
          Clara pediu férias do seu trabalho para cuidar da filha, que estava em recuperação após a tentativa de suicídio. Valentina se encontrava em um estado lastimável, precisava da mãe perto dela o tempo todo. A situação era grave e Clara temia que a menina cometesse outra loucura. Levantava-se várias vezes durante a noite, para ir ver se a filha estava bem.

          O pai tentava, todas as noites, conversar com Valentina, porém ela apenas respondia com monossílabos evasivos. Foi, então, levada ao psicólogo, que não conseguiu grande coisa também; ela ouvia e não dava retorno. Demonstrava um desânimo total perante à vida, situação preocupante em uma adolescente. Parecia estar sofrendo de uma dor profunda. Sendo, posteriormente, encaminhada ao psiquiatra para ser acompanhada e medicada.

         Os dias foram passando e Valentina voltou a comer desesperadamente, retomando a sua rotina; parecia estar em seu estado normal. Na escola arrumou um amigo, que tinha o apelido de “Ferrugem”, era um menino desengonçado de cabelos vermelhos. No entanto, era ele que conseguia tirar sorrisos da menina. Seu relacionamento com a família era péssimo, falava somente o necessário.

        Clara e Rui não gostavam de ver a filha andando com um menino desleixado, mas o Ferrugem era o único que conseguia conversar com Valentina. Ele deveria saber todos os motivos de sua rebeldia e da tentativa de suicídio. Precisavam conversar com o menino.

         Certo dia, a menina estava na casa da avó e Ferrugem apareceu para chama-la, então, Clara o convidou para entrar e conversar um pouco. Precisava entender o que se passava com sua menina. A conversa foi difícil e truncada, mas esclarecedora.

- Qual o seu nome? Perguntou Clara, que não queria chama-lo pelo apelido, que lhe parecia desrespeitoso.
 – Claudionor, respondeu o Ferrugem.
 – Você gosta de Valentina?
 – Sim, é minha amiga. Então, me ajuda a entender a minha filha por favor, implorou a mulher desesperada.
O menino abaixou a cabeça, era tímido e queria fugir dali.
 - Não sei nada da vida dela, gaguejou o Claudionor.
          - Valentina lhe contou o motivo que a fez tentar acabar com a própria vida? Me responda para eu poder ajuda-la; é muito importante eu saber o que a aflige.
         O menino olhou para a mãe da amiga e sentiu que ela estava muito preocupada e resolveu falar.
          – Valentina quer morrer porque é gorda e feia. Os irmãos dela são bonitos e o pai e a mãe gostam somente deles.   
         – Ela lhe disse isso?
          – Sim, e que vai tentar outra vez.
           Clara ficou pálida diante do menino, que dentro de sua simplicidade demonstrava sua preocupação com a amiga.
          – Não quero que ela morra, eu gosto dela. E, duas lágrimas correram pelo rosto de Claudionor.

          A mulher, comovida, tratou de pegar um copo de suco para dar ao menino. Naquele momento, toda a aversão que sentia por ele, transformou-se em carinho e agradecimento por perceber que ali estava um amigo verdadeiro de Valentina.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

"DIFÍCIL É ENCONTRAR ALGUÉM QUE LHE ENTENDA, QUANDO VOCÊ NÃO CONSEGUE POR EM PALAVRAS AQUILO QUE TANTO LHE MACHUCA". AUTOR DESCONHECIDO


DIAS DIFÍCEIS
CAPÍTULO TRÊS
O dia seguinte surgiu e encontrou o casal dormindo sentados na poltrona da recepção do Hospital. Clara e Rui estavam exaustos de tanto chorar e, acabaram caindo no sono abraçados, tentando se consolar. A recepcionista, que rendeu a sua colega do noturno, foi acordá-los pois, já estavam chegando pacientes para serem atendidos.

- Por favor, vão para casa descansar, comer alguma coisa, que não adianta ficar aqui. A paciente está sendo bem cuidada, mais tarde podem retornar, que os deixarei entrar. Afirmou a moça com pena dos pais de Valentina.

Ambos ficaram em pé, estavam assustados e quando se lembraram do motivo pelo qual estavam ali, o desespero ficou estampado em seus rostos. Eles queriam informações sobre a filha, antes de irem para casa.

A enfermeira veio e lhes disse calmamente, que a paciente estava se recuperando lentamente, mas teriam que aguardar a evolução do quadro. Rui parecia desolado e abraçando sua esposa saiu em busca de um pouco de ar puro. Fora uma noite de puro pesadelo, seu corpo parecia moído; as dores estavam por toda parte.

Clara se agarrou ao marido chorando baixinho, precisava de apoio emocional; seu mundo estava de cabeça para baixo. E, ela não via saída; seu futuro estava irremediavelmente comprometido.

 - Como será minha vida daqui para a frente? Nunca mais terei paz, o medo da desgraça viverá como um fantasma me assombrando. Disse ao marido engolindo os soluços. Rui a abraçou com força, sentia o mesmo que ela.

            Vários dias se passaram e Valentina permanecia em coma para desespero da família. Depois de uma semana de tortura, a menina acordou e deu sinais de recuperação. Em três dias ela teve alta hospitalar e foi para casa. Estava emagrecida, mas o maior problema estava na cabeça; parecia dispersa e não queria conversar sobre o assunto. Estava deprimida; queria ficar no escuro e sozinha.

            Os irmãos mal conversam com ela, tinham medo de agravar a situação. Clara perdera o sossego, não saia de casa com medo que a filha fizesse outra loucura. O pai parecia perdido, tinha medo de retornar a casa e receber outra notícia ruim. A família estava em pânico.
 Um texto de Eva Ibrahim

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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