A ESPERANÇA ESTÁ NO AR
CAPÍTULO
NOVE
Vitório parecia muito mais jovem
depois do banho tomado e a visita ao cabeleireiro. Alda o abraçou com carinho,
estava com saudades do marido; fazia tempo que ele não a procurava. Estava
vivendo num mundo escuro onde não havia lugar para o amor. Se isolara do mundo,
não queria saber de nada que o fizesse se lembrar do acidente. Por isso bebia
até ficar entorpecido e impedido de raciocinar.
Entretanto, com a boa nova, os olhos de
Vitório ganharam um brilho diferente, havia uma esperança no ar. O irmão lhe
trouxera a melhor notícia do mundo; as testemunhas depuseram a seu favor.
- Agora está bonito e cheiroso, disse a
menina ao beijá-lo.
O pai ficou surpreso ao receber
tamanha manifestação de carinho, pois a filha era arredia e parecia não gostar
dele.
– Eu também sou grosso com ela,
pode ser apenas uma maneira dela se proteger de minha estupidez e do mundo.
Pensou o pai cismado, porém feliz.
Valmir
acompanhou o irmão e o advogado até o fórum da cidade. Vitório precisava de
apoio naquele momento crucial em sua vida. Enquanto isso, Alda orava ajoelhada no
chão do quarto da casa da sogra. Se agarrava a esperança acenada pelo cunhado. Com toda a fé do mundo pedia a Deus para
Vitório ser absolvido. Foram horas de ansiedade, a vida da família dependia da
decisão do Juiz; seria o céu ou o inferno.
Quando Vitório chegou, Alda
ficou assustada, pois ele estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ela
foi logo perguntando qual foi a decisão do Juiz.
- O Vitório foi absolvido,
entretanto terá que prestar serviços para a comunidade porque estava embriagado
no dia do acidente. Afirmou o irmão que o acompanhara.
- E, qual o motivo da tristeza se
o melhor aconteceu? Perguntou a mulher aflita.
Vitório abraçou a mulher e chorando lhe disse
que não sabia consolar a família do menino atropelado; estava desolado.
- O acidente ficara cravado em meu coração, dói como um punhal. Os pais do menino estavam lá e eu não sabia o
que dizer; me deu muita pena do casal. Estavam tristes e desconsolados.
- Foram vítimas das circunstâncias,
ninguém consegue prever ou impedir tais fatos. São desígnios de Deus e temos
que aceitar, ponderou a mulher entristecida.
– Vamos viver nossa vida da melhor
forma possível e pedir a Deus que tenha misericórdia daquela família. Alda
concluiu abraçando o marido, que voltara à vida.
Vitório sorriu, estava ansioso para voltar ao
trabalho nas estradas. Era um caminhoneiro e ansiava pelo ar puro no rosto;
sentia falta do asfalto em sua frente. Perdera seu antigo emprego após o
acidente, entretanto, era experiente e logo conseguiria outro lugar para
trabalhar.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.