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quarta-feira, 6 de março de 2019

"AMAR' "...ESTE O NOSSO DESTINO: AMOR SEM CONTA, DISTRIBUÍDO PELAS COISAS PÉRFIDAS E NULAS, DOAÇÃO ILIMITADA A UMA COMPLETA INGRATIDÃO. E NA CONCHA VAZIA DO AMOR A PROCURA MEDROSA, PACIENTE, DE MAIS E MAIS AMOR". CARLOS DRUMMOND ANDRADE

O ANJO
CAPÍTULO SETE
           Uma década se passou e Alceu nunca mais teve visões ou ouviu vozes. Estava casado, tinha duas filhas e continuava a trabalhar com o pai e o irmão. O comércio crescera bastante e, consequentemente necessitou de ampliação, tornando-se um supermercado, que dava sustento a todos. Marília e o marido também trabalhavam no novo estabelecimento; eram muito chegados à família. E, os avós continuavam morando ali, tranquilos e felizes.

              Certo dia, um conhecido da roça adentrou ao supermercado e encheu um carrinho de compras, depois pediu ao Alceu se ele poderia fazer a entrega em sua casa. O freguês deveria seguir viagem até a cidade vizinha. Tinha negócios lá e sua mulher precisava da comida para o jantar.

              Quirino ouviu a conversa e ficou preocupado. Fazia dias que chovia sem parar e, a estrada que dava acesso à casa de Raimundo era de terra, em uma região de morros e montanhas. Corria notícias de que havia quedas de barreiras por aquelas bandas.

            - Alceu, se você for fazer a entrega do Raimundo debaixo desse tempo, é melhor que leve seu irmão junto. Disse o pai preocupado.

            – Sim pai, vou chamar o André. Concordou o rapaz.

           Carregaram o caminhão com mais pedidos, que entregariam ao longo do caminho. Estavam acostumados com os fregueses, sempre pedindo para entregar as compras em suas casas. Entretanto, o sítio do Raimundo ficava a quinze quilômetros da cidade e era um trajeto perigoso em dias de chuva.

Quando saíram o céu estava fechado, uma barra negra se aproximava, trazendo uma grande tormenta para a região; era a promessa da natureza.

André ainda tentou argumentar com Alceu dizendo:

 - Vamos deixar as entregas para amanhã bem cedo, parece que vai cair o mundo e pode ser perigoso.

            Mas, Alceu respondeu que se comprometera com os fregueses, que aguardavam os alimentos para fazer o jantar.

            – Não podemos perder a confiança dos nossos clientes, vamos em frente.

            As estradas de terra esburacadas e tortuosas provocavam um arrepio no corpo dos dois rapazes. Em dez minutos, começou a chover torrencialmente e o caminhão seguia a quarenta por hora.   Havia um silêncio, que era quebrado pelos relâmpagos, que riscavam o escuro da noite e os dois irmãos se encolhiam temerosos. Alceu não enxergava quase nada.

Estavam no meio do caminho quando avistaram um veículo parado junto ao barranco, era um automóvel preto com o pisca alerta ligado.

              André pediu para o irmão parar, para socorrer quem estivesse em perigo dentro do automóvel. Poderia ter mulheres e crianças ali, que não poderiam ignorar.

              Alceu diminuiu a velocidade para encostar o caminhão, no entanto, apareceu um homem diante do veículo, fazendo sinal para eles seguirem em frente.

              O homem vestia uma roupa esquisita, parecia um árabe, daqueles que usam túnicas brancas. Era uma figura estranha, que acenava freneticamente, indicando a estrada. Os dois irmãos sentiram medo e Alceu acelerou, saindo dali rapidamente. Depois de alguns longos minutos de correria, avistaram um posto de gasolina e resolveram entrar e tomar um café quente; estava muito frio.

           Ao adentrar o recinto perceberam que não havia ninguém por ali, no entanto, estava tudo aberto e resolveram procurar o dono. André esbarrou em uma estante derrubando uma lata, que fez muito barulho, então ouviram pedidos de socorro. Seguiram os gritos e chegaram nos fundos do posto. Os apelos de socorro vinham detrás da porta do depósito, que estava trancada.

              Os dois rapazes arrombaram a porta e encontraram o dono, a sua esposa, o filho e dois funcionários. Depois de deixarem o local, contaram que foram assaltados por três rapazes, que chegaram em um carro preto e estavam fortemente armados.

             Fazia uma hora mais ou menos, então o dono do posto perguntou por onde vieram e eles disseram ter visto um veículo preto parado com o pisca alerta aceso.

              Alceu ficou pálido e o André amparou o irmão.

             – Meu Deus, se tivéssemos parado, seríamos assaltados também. Disse André.

              - Aquele homem da túnica branca era o mesmo que vi na janela do hospital, ele nos salvou. Deve ser meu anjo da guarda. Balbuciou Alceu.

              Aguardaram a chuva diminuir, tomaram um café quente e prosseguiram para fazer as entregas. Quando voltaram já era tarde, todos haviam se recolhido, menos Quirino, que aguardava os filhos chegarem.

           - Graças a Deus vocês chegaram, eu estava com um mal pressentimento, disse o pai aliviado.

            - Você estava certo pai, um anjo nos salvou de um assalto. Responderam em coro os dois irmãos.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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