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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

"JÁ QUE É PRECISO ACEITAR A VIDA, QUE SEJA ENTÃO, CORAJOSAMENTE". LYGIA FAGUNDES TELES-- FAÇA DO PRESENTE SUA ALEGRIA. EVA IBRAHIM

              POR MAL TRAÇADAS LINHAS...
                                 Capítulo 11
        O Antonio do escritório, o viúvo de Verônica, queria ficar com a moça em troca de seus carinhos; era homem e sentia seu sangue ferver quanto o corpo de Flora roçava no seu. Porém, o Antonio solitário, o pai de Bernardo, queria sua privacidade de volta. Todos os dias ele se perguntava como poderia se desvencilhar da situação em que estava metido. O homem vivia uma contradição, no momento em que tinha Flora em seus braços sentia-se satisfeito, logo depois, crescia em seu íntimo uma revolta e ele desejava que ela desaparecesse dali; queria ficar só. Era uma luta interior que Antonio não deixava transparecer. A moça, entretanto, sentia-se a nova dona da casa.
         Vinícius caiu da bicicleta e fraturou o braço, deixando o homem apreensivo; ele temia a volta da maldição da pedra amarela. Antonio tinha pesadelos com Verônica que o acusava de traição e com Vinicius, que ele temia ser a próxima vítima da pedra amarela; teria que afastá-los dali. Gostava da criança e não queria que sofresse qualquer dano.
         A vida corria aparentemente normal, a moça era cuidadosa e companheira. Flora já se acostumara com a nova casa, foi ganhando confiança e queria muito mais do que o homem poderia esperar.
       Certo dia, a moça pediu para Antonio abrir o guarda roupas, que ela iria doar as coisas de Verônica para um asilo, assim teria mais espaço no armário para arrumar suas coisas. O homem gaguejou e quase se afogou com a saliva de tão irado que ficou. Em seguida esbravejou:
       –Ali, ninguém mexe e ponto final. 
       A relação do casal esfriou depois da postura intransigente de Antonio. Ele estava visivelmente insatisfeito com aquela situação; Flora mexia em tudo e ele temia por seu segredo; aprendera a viver sozinho. A moça teria que seguir sua vida e deixa-lo em paz; ela e o filho estavam ali por acaso, não por sua escolha, pensava, revoltado.
Flora lhe dissera que tinha irmãos no interior do Rio de Janeiro e ele pensava em leva-la para lá e mudar de casa para ela nunca mais encontra-lo. Sua aposentadoria estava para sair e ele deixaria tudo preparado para se livrar dela e do menino.
       Demorou mais três meses, que para ele parecia uma eternidade, mas a notícia de sua aposentadoria saiu e ele pulou de alegria; tinha planos para ele, o Bernardo e o Lobo. Tivera bons momentos com Flora, mas o medo de ser descoberto em seu segredo estragara o prazer de uma vida a dois. Antonio sabia que a mulher era curiosa e algum dia abriria a porta do guarda roupas; era um risco iminente.
        Com muito jeito, ele convenceu a moça a fazer uma visita aos seus parentes. A cunhada de Flora dera a luz recentemente e estava com problemas de saúde; depressão pós-parto diagnosticara o médico.
         Júlio, o irmão de Flora, telefonara pedindo a ajuda da irmã; sua mulher estava doida, dissera o rapaz. Lorena estava sentada na poltrona com a filha recém-nascida no colo, no quarto da maternidade e Júlio, seu marido, em pé olhando o bebê. A enfermeira entrou e perguntou à moça se não iria amamentar a filha e a resposta foi muito estranha.
- Trás a criança que eu amamento, disse Lorena. A enfermeira, surpresa, afirmou que a criança estava em seus braços e a resposta foi chocante:
          - Essa aqui é só uma foto, trás a criança. O marido, espantado, pediu para segurar a foto e tirou a filha dali, sua esposa não estava bem.
          O médico foi chamado e constatou um surto psicótico. Em seguida, Lorena recebeu um sedativo e foi levada dali. Júlio não sabia o que fazer e quando o médico disse que Lorena permaneceria internada e a criança teria alta, o rapaz entrou em desespero.
         - O que ele faria com o bebê?  Estava sozinho e não poderia cuidar da criança. Então, pensou em pedir a ajuda de Flora, sua irmã, depois pensaria em outra solução.
Antonio vislumbrou uma saída para seu drama, incentivou a moça a pedir férias do serviço e passar alguns dias na casa do irmão, até sua cunhada melhorar. Flora não pode recusar e acertou sua permanência na casa do irmão.
O homem tratou de levar, rapidamente, a mulher e a criança para a casa do irmão dela e foi ver uma casa de aluguel em Petrópolis. Pretendia por em prática o plano que criara para se livrar de Flora e seu filho.
O plano era perfeito, nem sua irmã Nalva poderia saber onde ele estava; queria privacidade total. Sentiu pena da irmã, gostava dela, porém, cortaria relações com o mundo todo para ter privacidade.
A casa ficava no alto da montanha, era isolada das outras, tinha um quintal grande e no fundo um resto da floresta que um dia existira ali. A vista era ótima, ficava pertinho do céu e bem na periferia da cidade, era tudo o que ele almejara. Antonio precisava de apenas uma semana para por em prática seu plano.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

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