SEM
REAÇÃO!
CAPÍTULO SEIS
Olívia chorou durante a noite e Cirilo
Artur ouviu, mas deixou que desabafasse; fingiu que estava dormindo. Pela
manhã, depois da radioterapia, ela disse que estava preocupada com as sessões
de quimioterapias. Então, contou o que ouviu de outra paciente mais antiga, que
estava aguardando a vez para fazer a radioterapia.
-
A mulher, de cerca de quarenta anos, já está careca porque seu tratamento está
com quatro meses e os seus cabelos começaram a cair no final do primeiro mês. Ela
tirou o turbante para eu ver e me disse que, assim que começa o ciclo de
quimioterapias vermelhas, cresce a expectativa da queda de cabelo.
Suspirou
fundo e prosseguiu:
-
O que, geralmente, ocorre dentro de duas a três semanas após o seu início. Ela
contou que o travesseiro amanhece cheio de cabelos e no banho, o ralo também
fica cheio de fios de cabelos, enquanto a cabeça queima tipo uma inflamação. Me
disse também, que caem todos os pelos do corpo, os pubianos e das axilas;
ficamos lisas como bebês. Concluiu Olívia com uma nuvem de tristeza no olhar.
Depois,
olhando nos olhos do marido, ela continuou:
-Meu
amor, eu acho que vou cortar meus cabelos para fazer a peruca, porque depois eles
não vão prestar mais, e deixou rolar duas lágrimas de seus olhos.
Cirilo
Artur não se conteve e a abraçou dizendo:
- Sim, vou pedir a minha mãe que
traga sua cabeleireira para cortar seus cabelos bem curtos. Depois que tudo
isso passar ele crescerá novamente. Em seguida, a beijou com carinho.
Na quinta-feira à noite, a
cabeleireira chegou; no dia seguinte começariam as quimioterapias. A moça
amarrou os cabelos longos de Olívia e foi cortando o mais curto possível. Em
seguida, entregou ao marido o chumaço de cabelos da moça;
- São valiosos, se quiser vender, pois
nunca receberam tintas. Observou a cabeleireira. A paciente fez que não com a
cabeça, não conseguiria falar, estava com um nó na garganta.
A cabeleireira, então se ateve a acertar o corte dos cabelos que
sobraram.
Olívia quis olhar no espelho e
chorou novamente; era de dar pena. A comoção foi geral e todos acabaram
chorando, até a cabeleireira.
O dia seguinte amanheceu e vieram
colher o sangue de Olívia, queriam saber se ela estaria em condições de receber
a primeira sessão de quimioterapia. Depois de uma hora, voltaram com uma
cadeira de rodas e conduziram a moça à sala de quimioterapias.
Cirilo Artur ficou em pé na soleira
da porta de entrada, parecia estar com medo de adentrar ao local. Tinha uma
sensação de que aquele lugar faria muito mal à Olívia.
Depois da medicação instalada, ele
foi convidado a sentar-se perto de sua esposa; ela precisava de seu apoio.
Cirilo Artur ficou sentado ao lado de Olívia, segurando um lenço nas mãos, para
o caso dela nausear.
Ele não tirava os olhos de sua amada,
enquanto o líquido penetrava na veia de sua mão, postada sobre o braço da
poltrona.
Não parecia ser tão terrível, era
apenas um soro colorido; um xarope de groselha, pensou o rapaz.
Quando acabou o soro e a punção foi
retirada, ele percebeu que o medo da quimioterapia era um fantasma criado na
cabeça das pessoas; nada havia de estranho. As enfermeiras, as pacientes, o
ambiente nada tinha de hostil; faziam parte de um conjunto acolhedor à novos
integrantes. Tudo muito claro e as pessoas sorriam cordiais enquanto
conversavam.
A enfermeira aproximou-se de Olívia e deu-lhe um pacote dizendo para ela
fazer uso dele. Foi o primeiro presente que Olívia ganhou, um turbante
colorido, doado pelas voluntárias. Todas as pacientes de quimioterapia tinham
um turbante vistoso e colorido. Cirilo Artur sorriu, estava sem reação.
Um texto de Eva Ibrahim