AMOR BANDIDO
CAPÍTULO
NOVE
Quando Antônio saiu para trabalhar
ainda estava escuro, era sábado de manhã; as festas para ele continuariam nas estradas.
Estaria de volta somente na sexta-feira seguinte, após o ano novo; era a forma
de prover o sustento de sua família. Ele já estava acostumado, era um velho
lobo da estrada, que passava muitos dias fora de casa.
Durante
alguns dias ela poderia desfrutar do amor de João Paulo. Olívia não se
reconhecia mais, tornara-se uma nova mulher, muito mais astuta. Estava apaixonada
e louca para estar ao lado de seu novo amor. Mesmo sabendo que corria riscos de
ser descoberta pelos filhos ou algum vizinho. Era um sentimento tão profundo
que parecia sufoca-la de ansiedade; tinha que contar até dez para não dar na
vista.
O
amor torna a pessoa imprudente, pondo em risco a própria reputação, João Paulo
alertava a mulher. Além do que ele teria que voltar a prisão e,
consequentemente, não poderia assumir compromisso oficial com ela. Ainda tinha
três anos de pena para cumprir, então, quando saísse queria ficar com ela,
porém, agora ela deveria ter cautela.
Aquele
amor precisava permanecer em segredo para o bem dela; dariam tempo ao tempo
para descobrir o melhor caminho a seguir. Ele poderia receber a liberdade
condicional se tivesse bom comportamento e assim, sair mais cedo da cadeia. Ela
precisava da proteção do marido, o amor dos filhos e o abrigo da casa, para ele
poder ter tranquilidade. Depois da liberdade conquistada voltariam a conversar,
disse João Paulo, com uma ruga de preocupação na testa.
D.
Estela já estava entregue a degeneração natural que acompanha a velhice e ia
deitar-se logo ao escurecer. Então, Olívia aguardava os filhos saírem de casa
para cair nos braços de João Paulo. Aninhada naqueles braços fortes, sentia-se
a mulher mais feliz desse mundo. Os dias passavam rapidamente e o casal se
preocupava com o retorno do marido e a volta de João à Penitenciária.
A
sexta-feira chegou e Olívia sentiu seu coração pular no peito, estava
desconsolada, queria que Antônio nunca mais voltasse para casa. Então, pensou
em Deus, vivia em pecado e estava desejando a morte do marido; em seguida se
arrependeu.
-
Perdão, meu Deus, não me castigue, pois, ninguém precisa morrer para eu viver;
há de se dar um jeito. Um arrepio subiu pelo corpo da mulher. Sua condição de
traidora começava a pesar em seus ombros.
–Como
iria encarar o marido? E se ele quisesse toca-la? Não poderia trair João Paulo
e aquela história da doença não se sustentaria por muito tempo. Sua cabeça
chegava a doer de tanto pensar, estava desolada. Seu amor voltaria à prisão na
segunda-feira e com Antônio em casa ela não poderia dizer adeus, amando-o pela
última vez.
Logo cedo, ela ouviu o ronco do
caminhão de Antônio e ele desceu do veículo sorridente; trazia nas mãos um saco
de mangas. Ele sabia que ela gostava daquela fruta e sempre lhe trazia algumas;
era uma forma de agradá-la. Entregou o saco com uma mão e com a outra a puxou
para si, beijando-a de surpresa. Depois perguntou se ela havia melhorado,
estava preocupado com sua saúde.
Olívia
percebeu que Antônio não aceitaria desculpas, estava sedento de amor. Ele a
puxou para o quarto, tinha urgência em amá-la. A mulher sentiu repulsa pelo
marido, não queria trair seu novo amor, entretanto, não teve forças para
resistir.
Antônio
possuiu sua mulher enquanto ela pensava em João Paulo, depois a deixou e foi
para o banho. Olívia sentiu o gosto salgado das lágrimas que corriam pelo seu
rosto; cometera a traição da traição e sentia-se suja e miserável.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.