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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

"NINGUÉM É REALMENTE NOSSO, AS PESSOAS APENAS ESCOLHEM FICAR CONOSCO OU NÃO".EVA IBRAHIM

              CORAÇÃO PARTIDO
                              CAPÍTULO SEIS
Clara sentia, em seu íntimo, que seu casamento estava chegando ao fim. Todas as traições são precedidas de sinais, mas ninguém quer acreditar até conseguir a prova, isto é, ver com os próprios olhos. Quando ela presenciou o beijo de Marcos com sua secretária, seu mundo caiu; a verdade estava à vista. Depois da conversa com o marido ela entendeu que estava só e teria que encontrar uma saída. O fato de Marcos não parar em casa, deixar o celular desligado, dispensar aquele beijo que dava ao chegar ou sair de casa, lhe parecia estranho, porém, talvez fosse apenas cansaço ou preocupação com os negócios. Aos poucos foram deixando de lado o sorriso de cumplicidade que envolvia o casal, os votos de um bom dia, ou a tradicional pergunta:
 -Como foi seu dia? Está tudo bem?
Quando deixaram de existir era hora de tomar uma atitude, pois, são pequenos detalhes, que comprovam uma convivência fracassada e prestes a sucumbir. Ela tornara-se uma mulher ingênua depois de seu casamento, que acreditava ser para sempre. E, só depois de perceber que estava perdendo o marido para outra mulher, ela entendeu que as pessoas mudam. Estava cega ou não queria ver; agora era tarde demais. Seu marido estava demonstrando que já não se importava com ela. Marcos continuava ali por causa dos filhos e para manter as aparências em uma sociedade hipócrita, que cobra posturas tradicionais para o bom relacionamento entre empresas prósperas.
 É difícil para ambos, o que quer ir e o que quer que fique; Clara teria que tomar uma decisão. Não conseguiria prendê-lo por muito tempo e também tinha amor próprio e não o queria por piedade. Que ficasse com sua secretária, pelo menos, seria uma pessoa feliz; ela teria que se virar.
A mulher sentia-se uma pessoa covarde, pois, deveria pular em cima da moça com unhas e dentes e expulsá-la da vida deles. Na verdade ela queria gritar, com o dedo em riste, apontado para o marido e acusá-lo de traição. Porém, não poderia expor seus filhos a escândalos passionais; não queria que servissem de comentários maldosos na Escola. Clara era uma pessoa civilizada e por ora se contentaria em ser apenas uma mulher de papel.
Havia um vazio dentro de si, estava com sua autoestima muito baixa. O que não saia de sua cabeça eram as mentiras, que doíam mais que a traição propriamente dita. Ela não entendia como Marcos pode se desfazer de um amor tão completo e maravilhoso, que para ela ainda estava presente. Ele simplesmente a descartou para ficar com uma moça de princípios duvidosos, que destruíra seu lar sem pensar em sua dor ou no sofrimento das crianças. É dai que vem a mágoa que ataca o corpo e a alma, nada acalma; a vida perde o sentido.
Sair para esquecer um pouco de sua dor é pior, pois o casal que anda de mãos dadas ou aquele que se beija em público, faz avivar seu sentimento de rejeição. Parece que o amor não pode ser vivido por você, está definitivamente só e triste. Precisa aprender a viver e caminhar sozinha novamente.
Nos dias que se seguiram havia um clima pesado entre o casal, que procurava disfarçar para as crianças não perceberem. Entretanto, João viu o pai saindo do quarto de hóspedes e contou para a irmã, que questionou a mãe na hora do jantar. O pai explicou que estava com gripe forte e não queria que a mãe contraísse a doença, por isso estava dormindo em outro quarto. Momentaneamente o assunto fora resolvido, João concordou e mudou de assunto.
Dias se passaram e Marcos continuava saindo e voltando tarde da noite; Clara só sossegava quando ouvia seu marido entrar. Depois chorava até pegar no sono. Lá no fundo ela ainda tinha a esperança de que ele entrasse em seu quarto e dissesse que aquilo tudo havia sido apenas um equívoco.
  Certo dia, ela atendeu ao telefone e era um homem do outro lado da linha pedindo para ela avisar seu marido que o apartamento já estava pronto e que ele poderia se mudar quando quisesse. A mulher sentou-se e empalideceu. Sara, que a estava observando, pegou um copo de água e trouxe para ela tomar, querendo saber o que acontecera.
Entre lágrimas, Clara contou tudo à sua colaboradora, era a pessoa em quem poderia confiar. Não queria aborrecer sua família, pois seu pai andava muito doente. Seu marido iria morar com Selma, isso ficara claro para ela. Suas últimas esperanças se esvaíram com o telefonema recebido, porém ela não daria o recado, ele que descobrisse sozinho.
Nesse dia ela não desceu para jantar, dizendo estar com enxaqueca, não se humilharia mais. Depois de dois dias, seu marido chegou mais cedo e disse que queria conversar com ela e os filhos após o jantar. Clara estremeceu, sabia do que se tratava; ele iria sair de casa para morar com aquela vagabunda, que o tirara dela.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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