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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

"O ÊXITO DA VIDA NÃO SE MEDE PELO CAMINHO QUE VOCÊ CONQUISTOU, MAS, SIM PELAS DIFICULDADES QUE SUPEROU NO CAMINHO" ABRAHAM LINCOLN--- NÃO HÁ LUGAR ONDE SE ESCONDER DA JUSTIÇA DIVINA. EVA IBRAHIM

                                                                                                         
                                         A COBRANÇA. 
Os colonos da Usina de açúcar formavam um grupo alegre e trabalhador; a maioria eram imigrantes italianos. Moravam em Colônias distribuídas em lugares estratégicos para facilitar a locomoção dos cortadores de cana até os canaviais. Uma fazenda com muito verde, fartura de rios e animais. A natureza exuberante estava em toda parte, parecia um manto verde de vários tons. Havia pasto a perder de vista no horizonte; muitos animais de corte, vacas leiteiras e outros para trabalhar na lida, puxando carroças ou arando a terra. Uma fazenda próspera que construíra uma represa de onde era gerada sua própria energia elétrica.

 As casas dos colonos eram geminadas formando Colônias homogêneas que abrigavam muitas famílias; parecia um pedacinho da Itália naquele local. Nos quintais das casas formavam hortas, pomar de árvores frutíferas, galinheiros e chiqueiros de onde saia parte do sustento das famílias.

Aquele povo viera em busca de uma nova vida e trouxera consigo os costumes de sua terra. Em frente ás Colônias havia muitas árvores que faziam sombra para os animais pastarem. Viviam soltos e cada colono sabia qual era o seu animal, pois, traziam marcados com ferro quente as iniciais do nome do dono. Ali conviviam cabras, carneiros, cavalos, burros, vacas e cães, juntamente com o vai e vem dos moradores do local. Era um povo ordeiro, trabalhador e festeiro. Quando havia um casamento ou batizado a festa varava a noite com vinho e muita comilança.

Nessa época as famílias tinham muitos filhos, pois precisavam de muitos braços para trabalhar na lavoura. Poucos frequentavam a Escola, precisavam ajudar os pais na roça e no corte da cana de açúcar. Viviam felizes e prósperos na terra adotada. Tinham cooperativa de produtos variados, salão de festas, campo de futebol e uma Igreja para agradecer a Deus por tanta fartura. Aos domingos as moças sentavam-se embaixo das árvores para bordar os enxovais e sonhar com o futuro príncipe encantado. Era uma sociedade patriarcal; todo o dinheiro da família ia para as mãos do pai e este cuidava para que os filhos tivessem uma vida boa e com muita responsabilidade.

Enzo era filho de uma dessas famílias e destacava-se por ser um rapaz de pavio curto e sangue quente. Era trabalhador e honesto, mas, vivia arrumando brigas; ora com colegas, ora com vizinhos, era mal visto na Colônia. O rapaz havia notado que quando estava em casa, aos domingos, ele era acordado pelo barulho das cabras que vinham em frente a sua casa berrar, Mééé... Mééé..... Elas o estavam deixando nervoso e irritado. Precisava dar um jeito naquela situação, não seriam meras cabras que o iriam incomodar.

Pensou muito e resolveu dar uma lição nas criaturas que o irritavam tanto. Enzo levantou-se bem cedo no domingo, acendeu o fogão á lenha e pôs a chaleira de água para ferver. Quando as cabras chegaram, ele pegou a chaleira com água em ebulição e despejou sobre as costas delas. Saíram em alvoroço e os Mééé se multiplicaram enquanto o rapaz ficava rindo baixinho e pensando: ”estas não voltam mais”. Satisfeito voltara para a cama, a lição fora boa. O aprendiz de lobo mau deitou e dormiu como se nada tivesse acontecido.

Os dias foram passando e alguém, no trabalho, comentou que o vizinho perdera três cabras que morreram com estranhos ferimentos de queimaduras nas costas. Enzo ficou calado, porém, estava feliz, ficara livre das cabras para sempre.
 O tempo corria e o rapaz cada vez mais nervoso, implicava com tudo e todos; “era desajeitado e resmungão por natureza”, sua mãe dizia balançando a cabeça.

Depois de alguns meses ele estava trabalhando nas caldeiras de melaço de cana, já não se lembrava das cabras, quando houve um defeito na máquina em que ele trabalhava. Enzo não conseguiu consertar a caldeira  que estava prestes á explodir, levando o pânico ao local. O rapaz apavorado tentou segurar com as mãos a enorme caldeira, cujo metal estava avermelhado pelo calor. Ele soltou um grito desesperado enquanto suas mãos frigiam no metal fervente. Desfigurado pela dor, o rapaz caiu no chão e na mesma hora lembrou-se das cabras. A dor que sentiu era indescritível, diria mais tarde á sua mãe.

O problema no trabalho foi solucionado pela equipe de segurança da empresa, mas, as mãos de Enzo sofreram queimaduras de terceiro graus e levaria anos para sarar, disse o médico. Ele teria que submeter-se a diversas cirurgias para implante de pele nas palmas das mãos. O rapaz teria comprometida a sensibilidade das mãos para sempre, e não teria digitais, pois os dedos ficaram em carne viva.

Enzo sentiu medo pela ira de Deus, pois tinha certeza que aquilo fora castigo pelo ato criminoso que praticara com as cabras. Agora ele compreendia o tamanho da atrocidade que praticara e a dor que causara nos animais.Certamente Deus não aprovara sua atitude.
Chamou sua mãe, ainda no Hospital, e contou-lhe o que havia feito. Sua mãe chorou pela crueldade do filho e disse que acreditava que aquilo era a paga pelo crime cometido e o aconselhou a procurar o padre. Quando recebeu alta do Hospital, o rapaz foi à Igreja se confessar e pedir perdão á Deus.

Muitos anos já se passaram e o velho Enzo mostra para seus netos as cicatrizes que trás nas palmas das mãos e conta essa história para ilustrar a ira de Deus quando se comete maldades.
-A cobrança é cara e dolorida, por isso não gerem sofrimento, apenas promovam a paz- Diz o velho olhando para suas mãos.
Durante o tempo que passou para curar as mãos o homem aprendeu a ter paciência com tudo e todos, pois até para usar o banheiro precisava de ajuda. Até hoje ele tem dificuldade para segurar os objetos nas mãos.
Enzo sofreu muito e entendeu que sua maldade lhe foi cobrada com justiça para torna-lo um homem melhor. A mão que fere, um dia, também será ferida.


               Um texto de Eva Ibrahim.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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