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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

"AS VEZES, DEUS ACALMA A TEMPESTADE. OUTRAS VEZES,ELE PERMITE A TEMPESTADE E ACALMA VOCÊ." BILL JOHNSON. " NÃO CARREGO CERTEZAS. SÓ ESPERANÇAS!

NO LIMITE DA DOR
CAPÍTULO SEIS

           Maura deitou-se na maca e dois enfermeiros, tipo guarda-roupas, altos, morenos fortes se aproximaram. O que usava bigode, segurou um lençol e passou pela axila do braço luxado da paciente. Enquanto o médico puxava o braço, ele puxava o ombro com força. Faziam força contrária para conduzir o braço ao seu leito natural. No entanto, parecia que o braço não entrava no devido lugar, então, o outro enfermeiro, alto e forte também, passou a pressionar o nervo sob a clavícula da moça, que doía mais do que o braço.

            Depois de várias tentativas e a ajuda de um outro médico de plantão, a moça relaxou e disse que a dor estava passando. Maura, então, sentiu um alívio animador e diante da surpresa do médico, que disse não ter sentido quando o braço entrou em seu leito natural, sorriu e seu semblante amenizou, voltando a vida. E, para tirar a dúvida, a paciente foi encaminhada ao Raio X novamente.

           Em meio a tantas pressões, puxões e ansiedade as duas primas respiraram aliviadas. Maura estava pálida e fragilizada, mas, agora a dor era fraca e suportável; nunca imaginara passar por toda aquela situação de desespero e dor. Confirmado o sucesso da redução, a moça foi liberada com uma receita de anti-inflamatório e analgésicos.

           O gerente do supermercado ligou várias vezes se prontificando a pagar as despesas; estava com muito medo de sofrer um processo por negligência. A moça poderia ter morrido se tivesse batido com a cabeça ao invés do braço.

           A volta para casa foi mais tranquila, as duas primas pouco conversaram, estavam exaustas. Érica atendeu ao telefonema do marido, que estava preocupado e logo chegaram à casa.

          Depois de descansar um pouco, Maura pediu à Érica para fazer, na internet, o chek in do seu voo para retornar à sua casa na manhã seguinte. No entanto, para sua surpresa, seu voo havia sido transferido para a madrugada, o que deixou a moça irada. Érica entrou em contato com a companhia aérea e conseguiu transferir o voo do dia 14 para o dia 15, dando a moça mais um dia na casa da prima.

Foi a pior noite de sua vida; ela viu todas as horas no relógio de cabeceira. Entre um analgésico e outro, cochilava um pouco. Era uma dor intermitente do ombro até a mão, que estava dormente e formigando; o braço parecia que pesava uma tonelada.

O dia amanheceu e ela tomou um banho para ver se melhorava um pouco. Estava viva, mas um mal-estar generalizado e muita dor, que só acalmava com muitos analgésicos. Suas férias terminaram ali, não havia mais condição para nada; queria voltar para sua casa.

 Era um feriado nacional, dia da proclamação da República do Brasil. E, Maura foi conduzida pela prima e o marido até o aeroporto para retornar a sua casa. Com o braço disfarçado por uma blusa de manga, a moça adentrou a aeronave. Ela teve que deixar suas compras em BH e seguir somente com a bolsa de mão; não poderia carregar pesos. 

Depois de uma hora e meia o avião aterrissou na capital paulista e Maura desceu preocupada; estava com uma dor latejante no braço esquerdo.
Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

"PARA O CAMINHO: LUZ. PARA A VIDA: FORÇA. PARA O AMANHÃ: FÉ. E PARA TOMAR O CONTROLE DE TUDO: DEUS". AUTOR DESCONHECIDO

OLHAI POR NÓS!
CAPÍTULO CINCO
             A moça não encontrava posição no banco do automóvel, de um jeito que não doesse muito o braço suspenso sobre a cabeça e seguro com a outra mão. Maura gemia e rezava ao mesmo tempo; a dor era insuportável, dizia a cada solavanco. Mas, o pior era quando o veículo passava em algum buraco, que não eram poucos ou em alguma lombada; a moça se encolhia toda e gemia como se fosse um lamento.

           Chovia muito e parecia que nunca chegariam ao destino; Maura estava desesperada, nunca imaginara tamanha dor.

            - Eu vou morrer, ela balbuciou entre lágrimas, estava no limite suportável da dor com aquele braço destroncado.

              Érica pisou fundo no acelerador, não sabia o que fazer para ajudar a prima. Então, por não saber o que dizer, rezou silenciosamente; precisavam de ajuda. E, ao avistar uma Igreja ela implorou aos céus:

             - Olhai por nós...

            O resto do percurso foi feito em silêncio e quando avistaram a Unidade de Pronto Atendimento, ambas suspiraram aliviadas; o socorro estava próximo.

              Maura estava em uma situação tão terrível que não se importava com nada ao seu redor. Érica parou o automóvel na entrada da emergência e logo apareceu um enfermeiro com uma cadeira de rodas, para levar a paciente para dentro. Entretanto, ela desceu e foi andando ignorando a cadeira, queria movimentar o corpo o menos possível. Queria encurtar aquele sofrimento, que a estava enlouquecendo.

             Mesmo sendo prioridade, por causa do trauma, teria que aguardar a enfermeira fazer a triagem; havia muitos casos graves naquele local. Inquieta e apreensiva, a paciente sentou-se em uma cadeira para esperar a sala ser liberada. Érica ficou na recepção fazendo a ficha e Maura curtindo o seu calvário, segundo ela mesma. Não foi possível verificar a pressão, pois, as duas mãos estavam impossibilitadas sobre a cabeça da paciente.

            Mais uma vez deveria aguardar o médico chamar. Aqueles foram os minutos mais longos já vividos. A paciente queria se deitar, estava exausta, mas o calvário ainda tinha outra estação; o temido Raio X. O médico, um jovem residente de nome Nassif, ouviu a sua explanação sobre o ocorrido sem mexer nenhum músculo do rosto e disse que precisava do RX.  Com muita calma e objetividade árabe informou que não daria nenhuma medicação para dor, pois, não adiantaria nada.

              Mais dez longos minutos em frente ao RX, mesmo tendo passado na frente de alguns pacientes, que apresentavam menor gravidade, a espera parecia uma eternidade. Nada poderia ser pior do que aquela dor insuportável, nem a dor da menina que caiu da bicicleta e arrancou grande parte do músculo do braço e, que também aguardava atendimento.

           A hora que a paciente entrou na sala de RX ela não imaginava que teria outra prova de resistência. O técnico de RX pediu para abaixar o braço. Isso soou como uma ofensa e Maura gemeu fundo, seria impossível mexer naquele membro.

          – Não consigo, doe muito, por favor não me peça isso.

- Eu sei que dói, muitos homens choram diante desta máquina, mas se você não abaixar, o médico virá aqui e o fará. Disse o rapaz com a placa de RX nas mãos.

A moça não tinha saída e com a morte no coração abaixou o braço. A dor foi a mais lancinante do mundo e quando levantou o braço novamente, estava pálida e suando em bicas. E, para complicar ainda mais, precisou bater outro RX, porque aquele não ficou bom; o martírio não tinha fim.

             Mais de uma hora já havia decorrido desde que acontecera o acidente e ela continuava do mesmo jeito. Aquela fora a hora mais longa de sua vida. Quando o rapaz do RX voltou e entregou o envelope com o resultado, as duas primas voltaram ao consultório médico, que estava ocupado novamente. Teriam que esperar mais um pouco.

             Finalmente o médico pegou as radiografias e disse que era o que ele havia pensado: uma luxação sem fratura. Para ele parecia simples e em seguida chamou dois enfermeiros, dizendo que iria fazer uma redução. Maura tremeu de medo, pois se lembrou do braço de seu irmão quando ele caiu da bicicleta; ela quase chorou de angustia. Entretanto, aceitava qualquer coisa em troca daquela dor horrível.

             Todos foram à sala ao lado e o médico pediu que Maura se deitasse na maca.

           – Parece que estou indo para o matadouro. Gemeu a moça inconsolável.


Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

"PORQUE EU, O SENHOR TEU DEUS, TE TOMO PELA TUA MÃO DIREITA E TE DIGO: "NÃO TEMAS, QUE EU TE AJUDO". ISAÍAS 41:13

SEGURA NA MÃO DE DEUS

CAPÍTULO QUATRO 
A moça estirada no chão ainda não se dera conta do ocorrido, tudo aconteceu em alguns segundos. No entanto, a dor era insuportável e ela gemeu alto chamando a atenção para si. Érica que estava a alguns passos dali se voltou para ver o que havia acontecido. Vendo a prima caída em meio a uma poça de água, arregalou os olhos dizendo:

 - O que houve, pelo amor de Deus! 
 Segurando a mão esquerda com a outra mão, Maura gemia entre soluços;
 - Quebrei o braço e não consigo me levantar. 

 Havia pouca gente no local, mas uma mulher se aproximou oferecendo ajuda e logo após um homem também chegou e foi logo perguntando:

     - Quer que eu a ajude a se levantar?
     – Por favor, pediu Érica muito assustada. 
  Então, o homem colocou os braços sob as axilas de Maura e a ergueu de uma só vez, sentando-a em um banco. Ela suava tanto, que o suor escorria pelo seu rosto; mal conseguia balbuciar alguma coisa. Estava com o rosto desfigurado e, com um esforço enorme segurava o braço esquerdo com a mão direita sobre a cabeça, que era o lugar onde seu membro doía menos. Da alegria a dor fora apenas um segundo que se passara, e tudo escureceu; Maura estava desesperada e com muito medo entre espasmos de dor   
 Aos poucos foi juntando gente e entre eles o gerente do Supermercado, que estava muito preocupado e com medo de sofrer um processo por negligência. Havia uma enorme poça de água naquele local e muitas testemunhas, onde a moça escorregara. O homem, imediatamente ligou para o bombeiro, queria promover o socorro urgente, para que menos pessoas possíveis pudessem ver, pois aquele fato era uma propaganda negativa ao estabelecimento.

A central dos bombeiros queria saber se a pessoa acidentada ainda estava caída no chão e como houve a explicação de que já estava sentada, a orientação foi para promover o socorro por conta própria ou iria demorar muito. Era domingo e havia somente dois carros de plantão e como chovia sem parar, os chamados eram muitos; havia uma fila deles.

Maura já não aguentava mais, a mão boa doía por segurar o outro braço e não havia outra posição, uma vez que seu braço estava destroncado. O mesmo bombeiro orientou o local onde havia um ortopedista de plantão. Ficava do outro lado da cidade e Érica preferiu pegar a rodovia por ter menos tráfego, pois teriam que percorrer vinte quilômetros até chegar ao Pronto Atendimento citado pelo bombeiro.

 Enquanto Érica pegava o automóvel, alguém trouxe uma cadeira de rodas onde Maura foi colocada e conduzida até o veículo.             
Então, começou uma corrida louca contra o tempo e a dor.

Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

"VIVER DEVERIA SER COMO A DANÇA, O PROPÓSITO NÃO É CHEGAR A UM DETERMINADO LUGAR. É DESFRUTAR CADA PASSO AO LONGO DO CAMINHO". AUTOR DESCONHECIDO

CHOVE CHUVA!!!

CAPÍTULO TRÊS
A segunda feira surgiu com cara de preguiça. Um céu carrancudo depois de uma noite de muita chuva, raios e trovões. A previsão era de chuvas para a semana inteira, o que era alarmante para a maioria das pessoas. No entanto, na terça feira seria feriado nacional, data cívica da proclamação da república, dia propício para descansar e visitar o Shopping também.

Maura estava feliz na casa da prima Érica, a família era alegre e faziam tudo para agradá-la. A prima já havia planejado novos passeios e consequentemente novas compras para o feriado, iriam conhecer um Shopping recém-inaugurado do outro lado da cidade. As duas mulheres gostavam de promoções e com o Natal tão próximo, as novidades estavam por toda parte e as promoções pipocavam nas vitrines.

            Saíram logo após o almoço, estavam eufóricas. Passaram uma hora dentro de uma única loja, em seguida saíram e foram olhar as vitrines. Depois de muito andar e com uma porção de sacolas nas mãos, era hora de voltar para casa. Maura se queixou que o sapato novo estava machucando seu pé e não aguentaria dar um novo passo.

             A prima, então, sugeriu que parassem em uma farmácia para comprar band-aid e Maura concordou. Depois que o curativo cobriu o quase ferimento provocado pelo sapato, Érica pegou a mão da prima e a puxou para dentro do supermercado, que ficava ao lado da farmácia.

            As duas mulheres queriam dar um tempo naquele local, para esperar que a chuva se acalmasse, havia muita enxurrada e alagamentos na cidade. E, já que teriam que esperar, seria melhor passar o tempo olhando as promoções de Natal.

           O supermercado estava com o movimento reduzido, situação normal para um domingo à tarde, pensou Maura, e também aquela chuva pesada colaborou para afastar os clientes; pouca gente se animava em sair de casa com aquela chuva.

            As duas mulheres seguiam olhando e comentando as ofertas. Maura entrou em um corredor onde tinha uma porção de guardanapos expostos em uma banca e, de repente escorregou batendo o braço em uma prateleira indo estatelar-se no chão, gemendo de dor. 

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.



sexta-feira, 25 de novembro de 2016

'INICIE UM NOVO TEMPO, ABRA UM NOVO CAMINHO, ESCREVA UMA NOVA HISTÓRIA. LEVA EM TUA BAGAGEM O APRENDIZADO E EM TEU CORAÇÃO, APENAS FÉ, ESPERANÇA E ALEGRIA. NICOLE MIRANDA.

ACONCHEGO
CAPÍTULO DOIS
           Maura chegara de um lugar onde as pessoas não se importam muito com as outras, pois, não há tempo para isso; estão sempre apressadas. É assim o dia a dia na capital paulista, mas, em Minas Gerais ainda persiste o aconchego familiar, as tradições religiosas e a atenção com o próximo. Mesmo na capital, em meio à correria, percebe-se que as pessoas demonstram outro comportamento, mais humano e solidário.

             A paulistana seguia feliz pelas ruas de BH ao lado da prima, já conhecia a cidade e suas belezas; no fundo sentia-se mineira também. Estava com fome e sabia que o almoço seria farto, legítima comida mineira feita pela sogra da prima, pois, o filho dela fazia aniversário. Era sexta feira e o Joaquim, marido de Érica, estava comemorando mais um ano de vida e o almoço seria festivo.

           Á tarde iriam ao Shopping, Érica lhe dissera com um sorriso no rosto. Maura aquiesceu, queria passear e ver as novidades nas vitrines e comprar presentes para os netos.

A cidade estava muito bonita, cheia de flores de todas as cores em homenagem à primavera, que este ano chegara com muita chuva. A mesma chuva que, as vezes destrói, deixa o ar fresco, as flores exuberantes e a relva verde e iluminada. Maura sentia-se feliz por estar ali mais uma vez.

O almoço foi alegre, juntaram-se a eles outros dois casais de cunhados da dona da casa; a mesa estava cheia de comida e as pessoas felizes. Essa união durante a semana foi possível porque todos trabalhavam na própria empresa familiar. Depois de um descanso merecido e as forças refeitas, era hora de passear. 

As duas mulheres saíram para fazer o que mais gostavam, ver vitrines e fazer compras. De loja em loja, de provador em provador e algumas sacolas nos braços, era o momento de tomar fôlego e as duas foram à praça de alimentação para um refresco necessário.

O dia terminou assim e a noite o sono chegou rápido; Maura não teve tempo nem de fazer suas orações e já estava dormindo. No dia seguinte iriam ao centro da cidade para ver as promoções e procurar novidades.

Saíram cedo e só retornaram após o almoço, estavam exaustas de tanto caminhar, mas felizes por estarem juntas.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

"AMO A LIBERDADE, POR ISSO DEIXO LIVRE TUDO O QUE TENHO... SE VOLTAR É PORQUE CONQUISTEI, SE NÃO, É PORQUE NUNCA POSSUI". AUTOR DESCONHECIDO.

"NO LIMITE"
LIBERDADE!!!

CAPÍTULO UM
           As horas demoraram a passar, mais do que o costume, pensava Maura ao pegar a bolsa para sair do seu local de trabalho. Ao alcançar a rua, respirou fundo, estava de férias depois de um ano difícil para todos; um país em depressão e muito desemprego. Pensava em dormir até mais tarde, cuidar de suas coisas, que estavam um tanto abandonadas e ficar curtindo sua casa; faltava tempo e sobravam deveres.

          Seguia alegre, cantarolando, tinha um mês inteiro para pensar em si própria e sentia-se livre. Tinha tudo planejado, dez dias para descansar, oito para viajar e ainda restavam alguns dias para relaxar em sua casa. E, então estaria nova para mais um ano de trabalho; tinha sido assim durante os últimos vinte anos.

            Maura estava sozinha fazia um bom tempo, seu casamento terminara depois de muitas brigas. Ela queria somente viver em paz e desfrutar de sua liberdade conquistada com muitas dificuldades. Do marido não queria nem notícias.

           - Que ficasse longe dela, ele ainda poderia lhe causar danos; sempre encontrava um jeito de prejudica-la. Pensava enquanto sentia um calafrio pelo corpo.

           Amava a filha, os netos e gostava do genro, era tudo o que lhe importava naquele momento. Vivia pacificamente e se sustentava sozinha, pensando assim, sentia-se feliz.

               Os dias passaram rápido demais, e ela já estava no aeroporto, aguardando o avião para a viagem que havia planejado. Entretanto, ainda sentia-se cansada, mas, iria se divertir um pouco na casa de sua prima. Érica morava na cidade de Belo Horizonte com o marido e os filhos; as duas cresceram juntas e mesmo depois de casadas mantinham contato regularmente. Nas férias uma visitava a outra, assim matavam as saudades, duas vezes ao ano. Ela sabia que a prima era uma pessoa dinâmica e a levaria para passeios e compras de final de ano, já que estavam em meados de novembro.

           A moça sentou-se no corredor da aeronave e logo chegou seu companheiro de viagem. Era um japonês sisudo, que fez um sinal para ela deixa-lo entrar e, em seguida mergulhou no assento, fechou a cara e dormiu. Maura sentiu-se frustrada, era a terceira vez que tinha como companheiro um homem descendente de japoneses e, eram todos sisudos e mudos ao contrário dela, que gostava de uma prosa. Suspirou profundamente, em seguida fechou os olhos e deu asas à imaginação. Estava voando rumo à felicidade, que era seu desejo mais ardente, o resto não importava.

Érica estava aguardando a prima no aeroporto e deu boas gargalhadas ao saber do japonês; era o terceiro ano que Maura se queixava do companheiro de viagem. Nem mesmo ouvira sua voz, o sujeito entrou mudo e saiu calado.

 – Que falta de sorte! Perdera mais uma oportunidade de fazer novos amigos.
Dizia Érica, ajudando a prima com as malas.


As duas mulheres estavam alegres e seguiram para casa, os demais estavam aguardando as duas para o almoço. Teriam uma semana para matarem as saudades e colocar a fofoca em dia.


Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

"E, DE REPENTE, NUM DIA QUALQUER, ACORDAMOS E PERCEBEMOS QUE JÁ PODEMOS LIDAR COM AQUILO QUE JULGÁVAMOS MAIOR QUE NÓS MESMOS. NÃO FORAM OS ABISMOS QUE DIMINUÍRAM, MAS, NÓS QUE CRESCEMOS". FABÍOLA SIMÕES

A DURAS PENAS
CAPÍTULO DOZE
          A primeira cirurgia aconteceu em uma manhã de segunda feira, com todo o suporte cirúrgico adequado e com o acompanhamento da mãe, que não arredou pé da sala de espera. Só Deus sabe quantas orações foram feitas por aquela mãe, que cansada de sofrer colocou tudo nas mãos de Deus e se calou a espera do término da cirurgia.

         Passava do meio dia quando o médico apareceu para dizer que a cirurgia havia terminado e estava tudo bem. Então, Clara saiu para comer alguma coisa e voltar em seguida para ver a filha. 

           Depois de uma hora ela pode entrar e ver Valentina, que estava agitada reclamando de dores. O coração de Clara se aquietou, depois que a filha tomou uma injeção e dormiu novamente. A mãe previa dias difíceis, pois Valentina era de pouca paciência e chorona por natureza.

             Demorou quarenta e cinco dias para Valentina andar ereta depois da cirurgia; até então, andava segurando a barriga com as mãos e o corpo mantinha encurvado. Não houve intercorrências e a cicatrização foi boa, mas, houveram muitas queixas e lamúrias. Várias visitas ao médico e finalmente fora marcada a próxima cirurgia contra a vontade de Valentina, que nos piores momentos dizia:

            - Não vou fazer mais nada, pois tenho muitas dores e vou morrer solteira, quero ficar feia para sempre. E, saia de cara feia batendo portas.

             Clara chorava em silêncio, pois sabia que a filha já havia sofrido muito e ainda não terminara; havia muita coisa a ser feita. Então, se ajoelhava no chão e pedia a ajuda de Deus; era tudo o que poderia fazer.

           Com seis meses da primeira cirurgia era hora de fazer as mamas. Valentina estava bem e concordou em colocar silicone, sua barriga estava ótima. Feita a correção mamária e observada todas as orientações médicas parecia que, finalmente, o complexo de inferioridade a deixara em paz; ela já não fugia do espelho.

          Tornara-se uma moça bonita e tomara gosto pelo espelho. Valentina começara um namoro com o Ferrugem, que era apaixonado por ela. Dali para o resto das correções foi fácil, havia total colaboração da paciente.

          Em dois anos, todas as correções foram feitas e apareceu uma nova mulher, que queria se casar e ser feliz, como toda jovem. Clara sorria, quando ouvia elogios à sua menina, que um dia tentara o suicídio por ser gorda e se achar feia. Finalmente, a duras penas, se revelara uma beleza pura, todos diziam.

Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

"CADA CICATRIZ QUE TEMOS É A CONFIRMAÇÃO DE QUE UMA FERIDA SARA. CICATRIZES SÃO MARCAS DE SUPERAÇÃO QUE SÓ UM VERDADEIRO GUERREIRO POSSUI". AUTOR DESCONHECIDO


RETALHAR O CORPO

CAPÍTULO ONZE
           Quando Valentina completou dois anos da cirurgia bariátrica, e com o peso estabilizado por seis meses, era hora de enfrentar a nova etapa, em busca da beleza corporal. A moça estava com setenta e oito quilos, mas não poderia ficar de biquíni ou roupa decotada e sem mangas. A magreza trouxera novos problemas para ela, e acentuou o complexo de inferioridade, já existente. Ganhou em leveza, agilidade, saúde, mas estava longe de se achar bonita.

            As peles ficavam penduradas nos braços, nos peitos, nas coxas e na barriga, formando uma pochete sobre a púbis; ela evitava olhar-se no espelho. Odiava aquilo tudo, ainda era virgem e jamais tiraria a roupa diante de um rapaz.

           - Morreria invicta, pensava com raiva do mundo.

           Muitas noites passara chorando, ela não tinha mais jeito. Tratava de se cobrir rapidamente com roupas largas; sentia-se pior do que antes de perder peso.

          Valentina, acompanhada da mãe, saiu do consultório médico com os olhos cheios de lágrimas. A colocação do médico assustou a paciente. Ele disse que para ela tirar todo aquele excesso de pelancas teria que:

          - Retalhar o corpo para tirar todo as sobras de peles, então, se tornará uma moça magra e muito bonita. Afirmou o médico com uma ponta de ironia.

              A mãe ficou na defensiva, tinha medo daquelas palavras, parecia o gado no açougue sendo retalhado depois de abatido. Sentia-se ofendida, mas o médico foi objetivo e claro em sua explanação. Disse que era assim que ele queria, que a sua paciente tomasse um choque de realidade e, então, estaria pronta para iniciar as novas cirurgias.

         Clara conversou com o marido e lhe explicou tudo; Rui concordou em levar Valentina para concluir o que haviam começado. A filha estava magra, porém continuava com complexos de inferioridade, pois vivia de roupas largas e soltas em seu corpo; parecia uma assombração. E, continuava motivo de chacotas dos colegas e conhecidos. Apenas o Ferrugem a acompanhava e a defendia das bocas malditas.

         - Agora, estamos na reta final e ela deve se submeter ao que for preciso para se livrar das peles, que sobram em seu corpo. Afirmou a mãe preocupada.

          O plano cirúrgico foi montado pelo médico. Quatro cirurgias reparadoras no mínimo, em primeiro lugar a abdominoplastia. Em seguida a mamoplastia com colocação de silicone, pois as mamas de Valentina simplesmente sumiram, deixando dois trapinhos murchos pendurados. Quando estivesse recuperada seria feita a intervenção nos braços e por último nas pernas.

         - Mais um ano de lutas com o bisturi, e só restarão cicatrizes em pontos pré-determinados, afirmou o médico para a mãe e a filha, que se mostravam ansiosas.

         Somente então, Valentina poderá dizer que está magra e pronta para a vida, foi a conclusão a que Clara chegou. Havia ainda, um longo caminho a ser percorrido.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"NÃO SOU SEMPRE FLOR. AS VEZES ESPINHO ME DEFINE MELHOR. MAS SÓ ESPETO OS DEDOS DE QUEM ACHA QUE ME TEM NAS MÃOS". CLARICE LISPECTOR.

PASSO A PASSO
CAPÍTULO DEZ
        A cada dia uma nova luta se apresentava, novas conquistas e retrocessos também. Dias de euforia e outros de depressão, e os resultados foram surgindo gradativamente. Cinco, seis meses e a balança continuava a diminuir no seu marcador; trinta, quarenta quilos foram se perdendo e uma linda moça despontava naquela pessoa, que vivia de mal com o mundo.

          Valentina, arrastada por Ferrugem, que ia busca-la em sua casa, passara a frequentar uma academia para fortalecer os músculos e dar forma ao corpo desleixado. A cada visita ao médico era hora de avaliar os ganhos. Ganhos em saúde, autoestima e estética.

         Os seus cabelos, antes desgrenhados, agora diminuíram de volume, pois sofreu uma queda prevista, devido à grande perda de nutrientes impostos ao seu corpanzil. Para Valentina a queda foi benéfica, pois, agora os cabelos adquiriram forma e passaram a ser cuidados. A transformação era visível e a cada dia surgia uma nova faceta daquela figura de moça bonita.

          Até o Ferrugem melhorou sua aparência, agora tinha um corpo delineado e sarado; tornara-se um belo rapaz. Ele exercia influência positiva sobre Valentina, que passara a ver sua vida com outros olhos, pois sua baixa estima foi se dissipando. Ana sua irmã, ajudava com a compra de roupas novas e a melhor maneira de usá-las.  Parecia que ela estava aprendendo a se cuidar, a ter postura e se portar como uma moça. 

             Abandonara hábitos terríveis de desmazelo e relaxo quanto ao seu visual. Os dois amigos frequentavam o mesmo curso, um ajudava o outro. Tomaram gosto pelos estudos e mais um ano estariam formados.

         Quando fez um ano da cirurgia a família festejou feliz. Valentina estava pesando oitenta e cinco quilos; uma vitória para quem pesava cento e quarenta e cinco quilos. Com o acompanhamento médico, da nutricionista e os exercícios físicos, os resultados estavam evidentes e a moça despontava com uma beleza pura.

Mas, havia uma nuvem rondando a cabeça de Valentina. Com a perda de tantos quilos era natural que sobrassem peles em todo seu corpo. E, assim que seu peso estabilizasse, ela teria que se submeter à várias cirurgias para retirar todo o excesso de pele. Somente, então, poderiam descansar e viver uma nova vida. Tinham, pela frente, mais dois anos de lutas para comemorar a vitória completa.

 Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"NÃO ESPERE O INCENTIVO DE OUTRAS PESSOAS, O PRIMEIRO A ACREDITAR EM SEUS SONHOS TEM QUE SER VOCÊ" AUTOR DESCONHECIDO

      
                       CHORUMELAS

CAPÍTULO NOVE
           Valentina recebeu alta Hospitalar, teria que se recuperar em sua casa. Então, começou o sofrimento de Clara, que tinha que aguentar as chorumelas da filha. A paciente saiu do hospital apoiando o estômago com as mãos e andando vagarosamente; naquele momento dava para perceber que sua recuperação seria lenta e complicada.

A nutricionista, que a acompanhava, entregou as instruções no momento da alta. Nos primeiros quinze dias, deveria se alimentar a cada trinta minutos e, em pequenas quantidades. Cinquenta ml somente de líquidos, para não sentir desconforto e dores estomacais.

Entretanto, ela era uma paciente intolerante e a cada gole soltava uma blasfêmia, que a mãe tinha que aguentar calada. A família não podia se alimentar diante de Valentina, pois ela começava um drama, com direito a choro, lamentações e acusações contra a mãe:

 - Você é a culpada de ter-me feito gorda e os outros não; eu te odeio. Não vou aguentar esta vida, prefiro a morte rápida do que morrer de fome.

Então, não jantavam mais juntos, a família reunida; cada um comia sozinho na cozinha para ela não se estressar. Clara aguentava calada, tinha pena de sua filha. Cada dia, parecia mais complicado que o outro. Durante quinze dias ela teria que tomar o suco fracionado, que  era intercalado com água na mesma proporção e uma sopa de carne com legumes coada em guardanapo de pano, que ela odiava.

Deveria também, ingerir suplementos alimentares em pó, dissolvidos em água, que na maioria das vezes, ela cuspia esbravejando. Os dias foram passando e Valentina estava mais magra, perdera alguns quilos, embora ainda não dava para ser notado.

Quinze terríveis dias se passaram e na visita à nutricionista, mãe e filha constataram que a cirurgia fora um sucesso; mas ainda estava apenas começando, havia muita luta pela frente.

Na segunda quinzena, foram introduzidos alimentos pastosos, que Valentina comia descontente, porém não havia alternativa e ela foi se acalmando, pois já sentia seu corpo mais leve. No segundo mês, foram introduzidos alimentos sólidos, porém, bem cozidos e em pequenas quantidades a cada três horas.  

Com quinze quilos a menos, Clara acompanhou a filha ao cabeleireiro, depois às lojas, queria que ela se sentisse bonita. O Natal estava próximo e ela deveria tomar uma injeção de ânimo. Ferrugem à acompanhava e estava contente que a sua melhor amiga estava ficando bonita e atraente.

No Natal a família pode se reunir em volta da mesa e comer sem os protestos de Valentina. Estava bem arrumada e parecia com sua irmã Ana; as duas eram moças bonitas. Clara sorriu e, pela primeira vez, depois de três meses, ela respirou aliviada dizendo a Rui:

- Nossa filha está ficando bonita! Já perdeu vinte quilos e agora está deixando as chorumelas de lado, louvado seja Deus.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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