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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

"E, QUE A MINHA LOUCURA SEJA PERDOADA. PORQUE METADE DE MIM É AMOR E A OUTRA METADE, TAMBÉM..." FERNANDO PESSOA-- NÃO HÁ MEDIDA PARA O AMOR. EVA IBRAHIM.

AMOR BANDIDO
                                              CAPÍTULO NOVE
          Quando Antônio saiu para trabalhar ainda estava escuro, era sábado de manhã; as festas para ele continuariam nas estradas. Estaria de volta somente na sexta-feira seguinte, após o ano novo; era a forma de prover o sustento de sua família. Ele já estava acostumado, era um velho lobo da estrada, que passava muitos dias fora de casa. 

       Partiu preocupado com Olívia, a mulher estava arredia, não aceitou seus carinhos; dizia estar doente. Antônio gostava dela, a chama dos primeiros tempos havia se apagado, entretanto, ficara o afeto, o companheirismo; Olívia era seu porto seguro. Ele não imaginava que ao viajar, fazia dela uma mulher feliz.

Durante alguns dias ela poderia desfrutar do amor de João Paulo. Olívia não se reconhecia mais, tornara-se uma nova mulher, muito mais astuta. Estava apaixonada e louca para estar ao lado de seu novo amor. Mesmo sabendo que corria riscos de ser descoberta pelos filhos ou algum vizinho. Era um sentimento tão profundo que parecia sufoca-la de ansiedade; tinha que contar até dez para não dar na vista.

O amor torna a pessoa imprudente, pondo em risco a própria reputação, João Paulo alertava a mulher. Além do que ele teria que voltar a prisão e, consequentemente, não poderia assumir compromisso oficial com ela. Ainda tinha três anos de pena para cumprir, então, quando saísse queria ficar com ela, porém, agora ela deveria ter cautela.

Aquele amor precisava permanecer em segredo para o bem dela; dariam tempo ao tempo para descobrir o melhor caminho a seguir. Ele poderia receber a liberdade condicional se tivesse bom comportamento e assim, sair mais cedo da cadeia. Ela precisava da proteção do marido, o amor dos filhos e o abrigo da casa, para ele poder ter tranquilidade. Depois da liberdade conquistada voltariam a conversar, disse João Paulo, com uma ruga de preocupação na testa.

D. Estela já estava entregue a degeneração natural que acompanha a velhice e ia deitar-se logo ao escurecer. Então, Olívia aguardava os filhos saírem de casa para cair nos braços de João Paulo. Aninhada naqueles braços fortes, sentia-se a mulher mais feliz desse mundo. Os dias passavam rapidamente e o casal se preocupava com o retorno do marido e a volta de João à Penitenciária.

A sexta-feira chegou e Olívia sentiu seu coração pular no peito, estava desconsolada, queria que Antônio nunca mais voltasse para casa. Então, pensou em Deus, vivia em pecado e estava desejando a morte do marido; em seguida se arrependeu.

- Perdão, meu Deus, não me castigue, pois, ninguém precisa morrer para eu viver; há de se dar um jeito. Um arrepio subiu pelo corpo da mulher. Sua condição de traidora começava a pesar em seus ombros.

–Como iria encarar o marido? E se ele quisesse toca-la? Não poderia trair João Paulo e aquela história da doença não se sustentaria por muito tempo. Sua cabeça chegava a doer de tanto pensar, estava desolada. Seu amor voltaria à prisão na segunda-feira e com Antônio em casa ela não poderia dizer adeus, amando-o pela última vez.

            Logo cedo, ela ouviu o ronco do caminhão de Antônio e ele desceu do veículo sorridente; trazia nas mãos um saco de mangas. Ele sabia que ela gostava daquela fruta e sempre lhe trazia algumas; era uma forma de agradá-la. Entregou o saco com uma mão e com a outra a puxou para si, beijando-a de surpresa. Depois perguntou se ela havia melhorado, estava preocupado com sua saúde.

            Olívia percebeu que Antônio não aceitaria desculpas, estava sedento de amor. Ele a puxou para o quarto, tinha urgência em amá-la. A mulher sentiu repulsa pelo marido, não queria trair seu novo amor, entretanto, não teve forças para resistir.

          Antônio possuiu sua mulher enquanto ela pensava em João Paulo, depois a deixou e foi para o banho. Olívia sentiu o gosto salgado das lágrimas que corriam pelo seu rosto; cometera a traição da traição e sentia-se suja e miserável.

Um texto de Eva Ibrahim.
 Continua na próxima semana.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"UM DIA DESCOBRIMOS QUE APAIXONAR-SE É INEVITÁVEL E, QUE AS MELHORES HISTÓRIAS DE AMOR SÃO, NA VERDADE, AS MAIS SIMPLES." MÁRIO QUINTANA-- NÃO DESISTA, SORRIA. EVA IBRAHIM

COM MUITO AMOR
                                            CAPÍTULO OITO
         O jantar foi mágico, olho no olho com o coração disparado. Ao mais leve toque, o corpo de Olívia se incendiava, estava pronta para o amor de João Paulo. Ele a abraçou e, lentamente a conduziu ao seu quarto; Olívia estava enfeitiçada e não opôs resistência. Em seguida, com muitos beijos, afagos e carinhos ele a despiu. Depois se deitou ao seu lado na cama e viveram horas de muito amor, nada mais importava; estavam felizes e completos.

        Os dois adormeceram abraçados, o amor venceu quase todas as barreiras; poderiam ficar ali para sempre. Entretanto, o pior ainda estava por vir, o marido traído era a realidade de Olívia. Antônio não poderia desconfiar do que estava acontecendo ou viraria um assassino. A mulher acordou assustada e olhando o relógio viu que já estava tarde. Eram três horas da manhã, teria que voltar para sua casa. Seus filhos logo voltariam e ela deveria estar lá, junto do marido, que dormia profundamente.

        João Paulo resistiu em deixa-la sair de seus braços, fazia tempo que ele não tinha uma mulher e aquela era especial, pois despertara o amor que estava adormecido dentro dele. O rapaz queria se regenerar e viver com Olívia, ela sabia cuidar dele; era amante e mãe ao mesmo tempo.

        Ela saiu na calada da noite e esgueirando-se junto ao muro entrou em sua casa, estava feliz, porém, com medo que alguém percebesse sua traição. Olhou no espelho e viu que seu rosto estava corado; sentiu-se envergonhada, tornara-se amante de um rapaz mais novo que ela. Então, ouviu a conversa dos filhos, Renato e Raquel entravam pelo portão rindo e brincando. Olívia correu para deitar-se ao lado de Antônio.  Ficou quieta, mal respirava para que eles pensassem que estava adormecida. O filho abriu a porta e disse a sua irmã que os pais estavam dormindo e foram dormir também.

         Olívia olhava o marido roncando e pensava que não o amava mais, queria a separação para ficar com João Paulo. No entanto, ela sabia que ele nunca aceitaria a separação; em diversas ocasiões ele dissera que a mataria se fosse traído. Não sabia qual seria o seu futuro, mas tinha a certeza que não desistiria de viver aquele amor.

Aos quarenta e cinco anos de vida e vinte e cinco de casamento, era de se esperar que Olívia se comportasse como uma dona de casa tradicional. Seus dois filhos, Renato e Raquel eram adultos, já não davam trabalho; ela tinha todo o tempo que quisesse disponível.

           Antônio acreditava que sua esposa cuidava da família, frequentava a Igreja e ficava a espera dele, pronta para amá-lo sem questionamentos. Entretanto, ultimamente ela não queria saber dele, mas estava doente; isso explicava a situação estabelecida.

           O dia de Natal amanheceu com uma luz diferente, havia um brilho especial e Olívia tinha vontade de dançar, estava muito feliz. Depois do almoço foi à casa de D. Estela para levar uma travessa de comida e um presente. Gostava muito da velha senhora, que já não tinha disposição nem saúde para os afazeres domésticos e, também queria ver o seu amor. Antônio fazia a sesta enquanto ela se encontrava com o vizinho. Trocaram abraços e beijos furtivos, entre muitas promessas de amor.

         Naquele dia Olívia não poderia encontra-lo, porém, seu marido viajaria no dia seguinte e ela teria vários dias para viver aquele amor louco. Com relutância ela voltou para sua casa, mas seu pensamento ficaria ali, dissera para João Paulo ao se despedir. Amava aquele homem apaixonadamente como nunca amara ninguém antes.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"AS MELHORES E AS MAIS LINDAS COISAS DO MUNDO, NÃO SE PODE VER NEM TOCAR. ELAS DEVEM SER SENTIDAS COM O CORAÇÃO." CHARLIE CHAPLIN--- OLHE DENTRO DOS MEUS OLHOS. EVA IBRAHIM

COISAS DO CORAÇÃO
CAPÍTULO SETE
         Olívia estava eufórica, fizera muitos planos para ela e o João Paulo; estava apaixonada como nunca estivera. Ela vivia a “idade da loba” com ousadia e queria muito viver aquele amor tardio, porém, intenso. Sua vida que antes era vazia, agora estava cheia de emoções contidas. Bastava deitar-se e fechar os olhos que se transportava para os braços de João Paulo e como uma menina fazia planos para os dois. Seu universo era aquele homem, que chegara como um Deus, ressuscitando o que havia de mais bonito dentro dela.

Seus filhos perguntaram se havia acontecido alguma coisa diferente, pois ela andava estranha, ausente e sempre cantarolando. Parecia que não se importava mais com eles e nem com a bagunça que faziam. Olívia sorriu e negou que estivesse diferente, apenas se cansara de ser chata com a família. Por um momento sentiu-se envergonhada. Seu coração disparou e ela sentiu um calor subir pelo seu corpo.

 - Como conseguia ser tão dissimulada diante de seus próprios filhos?  Surpreendeu-se a mulher.

O amor a transformara para o bem e para o mal, queria a felicidade para o mundo inteiro e aprendera a mentir, dissimular e planejar traições. Não ia mais à Igreja, pois, se sentia impura com tantos pensamentos de amor fora do casamento. Não namorava o marido fazia um bom tempo e ele não se importava, também carregava traições nas costas; era um caminhoneiro, que estava sempre viajando. Entretanto, Antônio confiava cegamente na mulher, pensava que ela, realmente estava doente e indisposta; nunca poderia supor que Olívia fosse capaz de traí-lo. Sua esposa era caseira, amorosa e confiável, pensava Antônio. Marcaria uma consulta para leva-la ao médico, poderia ser coisa séria. Concluiu seu pensamento com uma ruga de preocupação na testa.

No entanto, sua esposa estava planejando uma noite de amor com outro homem e na noite de Natal. Antônio jamais poderia imaginar que ganharia alguns galhos na cabeça, ainda naquela noite. Olívia prepararia a ceia mais cedo, alegando estar indisposta, pois, para todos estava doente. Durante todo o dia iria incentivar o marido para tomar a bebida que ele mais gostava, muita cerveja. E, depois do jantar, serviria vinho. Essa mistura faria Antônio cair no sono e os filhos iriam comemorar a noite de Natal com os amigos até o amanhecer. Ela sabia do efeito das bebidas porque em outras ocasiões, com essa mistura o marido dormira e roncara como um porco; no dia seguinte não se lembrava de nada. Esperaria ele dormir e iria terminar a noite na casa de D. Estela.

         João Paulo lhe telefonou avisando que já estava em sua casa e ela disse que o veria à noite, que a esperasse. Olívia parecia outra pessoa, era uma estrategista nata, só agora percebera isso. Com seu amor tão perto, ela parecia enfeitiçada, não parava de pensar no que poderia acontecer naquela noite. Para Olívia aquele dia representava um marco em sua vida, estaria se jogando em uma aventura que não tinha futuro, porém, inevitável. Coisas do coração, que disparava só em pensar.

Olívia colocara cervejas na mesa durante o almoço e deixou a geladeira cheia de garrafas geladas. Assim, o marido não conseguia resistir, tomava uma após a outra e quando escureceu Antônio já estava bêbado; mal conseguia ficar em pé. As vinte e duas horas a mulher serviu a ceia e o marido tomou um cálice de vinho, depois disse que iria descansar um pouco. Seus filhos saíram para a casa de amigos e ela ficou sozinha sentada no sofá, ouvindo o ronco do marido. Antônio estava embriagado e só acordaria no dia seguinte, por isso ela foi tomar banho, queria ficar bonita e cheirosa para o grande encontro de sua vida.

   Às onze horas da noite de Natal ela adentrou a porta da casa de João Paulo, que a estava esperando. Olívia levava uma travessa com comida para ele e D. Estela, que já estava dormindo. A mulher arrumou a mesa e sentou-se diante do seu amor de perdição. Enquanto comiam seus olhares não se desgrudavam e embaixo da mesa, um pé esfregava no pé do outro e vice versa, despertando muitas emoções. Era uma noite mágica, que estava apenas começando. A noite, ainda, era apenas uma .esperança.

Um texto de Eva Ibrahim

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

VIVER É ISTO, FICAR O TEMPO TODO SE EQUILIBRANDO ENTRE ESCOLHAS E CONSEQUÊNCIAS." JEAN PAUL SARTRE-- DÊ ASAS AOS SEUS SONHOS. EVA IBRAHIM

                  FASCINAÇÃO

                                       CAPÍTULO SEIS
A porta foi aberta e Olívia adentrou ao recinto, era a primeira vez que ela ficaria sozinha com João Paulo. Ele estava sentado em um banco no pátio da instituição prisional e quando a viu, abriu um sorriso e se afastou para que ela se sentasse. Lindo, charmoso e envolvente, ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo; estava vulnerável.

          Sentou-se ali, bem perto de João Paulo, que pegou suas mãos e perguntou-lhe como estava a mãe dele. Olívia balbuciou que D. Estela machucara o joelho, mas ficaria bem; estava sob seus cuidados. O rapaz agradecido beijou suas mãos e apertando-as disse que ela era muito importante para ele.

Olívia estava entregue, cativa do olhar e do sorriso de João Paulo, ele a ganhara com doçuras e gentilezas; nada mais importava. Estava disposta a fazer qualquer coisa para receber amor daquele homem. Ele a puxou para si e recostou sua cabeça na dela enquanto alisava seus cabelos; depois ergueu seu queixo e a beijou. Uma, duas, três e ai perdeu a conta, estava encantada, nunca mais queria sair dali. Aqueles braços foram feitos para ela se aconchegar.

Naquele momento apareceu o monitor dos prisioneiros e os repreendeu, dizendo que poria a visita para fora, e ele ficaria detido na solitária, pois, não eram permitidos contatos físicos no pátio de socialização da instituição. Se quisessem se agarrar, o prisioneiro deveria fazer um requerimento e comprovar união, para desfrutar do recebimento de visita íntima.

Uma mulher apaixonada é fácil de ser manejada. Olívia sabia que se encontrava à beira de um precipício, porém, não tinha forças e não queria se afastar. Aquela poderia ser sua última chance de ser feliz plenamente.

Ela possuía a carteirinha de visita de acompanhante de idosa, que era a mãe de João Paulo, entretanto, não poderia comprovar união com ele, pois, era casada com Antônio. Teria que se conter e esperar o desenrolar dos acontecimentos. Sentia-se mais jovem, pensava em voltar aos estudos e arrumar um emprego para se tornar independente. Entretanto, o marido não queria ouvir falar que sua mulher queria estudar ou trabalhar, ficava furioso e dizia aos berros:

      - Lugar de mulher é dentro de casa e aqui não falta nada.

       Olívia ficava com muita raiva quando ele dizia isso; o marido tornara-se um empecilho. Se ele soubesse que ela fazia visitas ao presídio, provavelmente a mataria, pensava a mulher temerosa.

Na semana seguinte ela foi visitar João Paulo novamente e, percebeu muitas promessas no ar. Ela vivia um sonho maluco, que a fazia desprezar o marido. Antônio andava desconfiado, pois sua mulher parecia uma pedra de gelo, não queria contatos físicos com ele; dizia estar doente.

         A mulher estava com seu coração ocupado e não havia mais lugar para Antônio. Então, quando ele viajava ela ia visitar João Paulo e quando ele estava em casa ela se fingia de doente. O afastamento do casal foi inevitável, apenas mantinham as aparências. Para os filhos ela dizia estar frequentando uma Igreja evangélica, por isso saia sempre arrumada.

      Os meses passaram lentamente, entretanto, o amor crescia cada vez mais. Eram toques furtivos que atingiam a alma de Olívia, que se sentia fascinada por João Paulo. D. Estela ia visitar o João uma vez ou outra, deixando a mulher e o filho viverem o amor. A velha senhora compactuava com aquela situação, pois, queria ver o filho feliz.

         A boa notícia chegou perto das festas de fim de ano, João Paulo sairia da cadeia no indulto de Natal e ela teria seu amor ao lado de sua casa. A mulher ficou eufórica, parecia uma adolescente, Teria que arrumar um jeito de ficar com João Paulo sem o marido perceber. Os filhos eram jovens e saiam muito para se divertir, não notariam nada. O maior problema seria seu marido, que ficaria em casa no Natal.

Um texto de Eva Ibrahim.

 Continua na próxima semana.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

"AS PESSOAS NÃO PARAM DE SONHAR PORQUE ENVELHECEM, ELAS ENVELHECEM PORQUE PARAM DE SONHAR." GABRIEL GARCIA MARQUES---AS PESSOAS MUDAM QUANDO AMAM. EVA IBRAHIM


                     SEM SAÍDA

                                     CAPÍTULO CINCO
         O sábado foi um dia de muitos questionamentos, parecia que a cabeça de Olívia iria estourar. Era um mundo de contradições, ora pensava que deveria ficar em seu lugar de dona de casa e se esquecer do amor, ora pensava em se jogar nos braços de João Paulo e ser feliz. O mais sensato seria viver a sua rotina diária. Entretanto, alguma coisa lhe dizia que deveria viver plenamente todos aqueles sentimentos que haviam brotado em seu coração. A vida é uma só e deve ser vivida intensamente, enquanto ainda há tempo, pensava a mulher, que já estava entrando na menopausa.

       Trair, enganar e dissimular nunca fez parte de sua vida, porém, se ela fosse viver aquele amor, teria que mudar de princípios; o que já caracterizava que iria fazer alguma coisa condenável pela sociedade. Como ela poderia encarar o marido e os filhos? Seria descoberta ou deveria abrir o jogo. Eram pensamentos inquietantes, que não lhe davam folga.

       Olívia saiu de casa para fazer compras, queria tirar o pensamento fixo que tinha em João Paulo. Sabia que ele pensava nela e ficava feliz com isso, sentia-se uma adolescente, mas sabia que poderia perder tudo que havia conquistado até aquele momento. Antônio não perdoaria um deslize naquela altura da vida, o amor entre eles já perdera o encanto, fazia tempo. Viviam juntos e fingiam que estava tudo bem, cada um cumpria seu papel e deixavam a vida correr.

Porém, agora havia aquele sentimento novo vivenciado por Olívia, que parecia querer sufoca-la. Ela estava viva e gostava de sentir que ainda conseguia amar com intensidade.  De uma coisa ela tinha certeza, não procuraria João Paulo, porque sabia que iria cair em seus braços. Deixaria o tempo se encarregar de resolver aquela situação.
O dia correu normalmente e quando o Sol se punha lá no horizonte, Olívia ouviu um barulho seguido de um longo gemido.

–O que estaria acontecendo?

E, ouviu outro gemido e saiu correndo para ver se D. Estela estava passando bem. Quando entrou na cozinha viu a mulher caída no chão. Rapidamente lhe deu as mãos para que pudesse se levantar. A vizinha havia machucado o joelho, mal conseguia afirmar aquela perna. Olívia sentou a mulher no sofá e olhando o joelho viu que havia crescido uma bola ao lado da articulação. Teria que chamar a ambulância para leva-la ao Pronto Socorro e precisava acompanha-la também, pois era idosa e mãe de seu amor.

Chegaram do Hospital passava da meia noite e D. Estela teria que ficar em repouso absoluto, se quisesse melhorar, enfatizara o médico. A mulher, chorosa, dizia à Olívia que precisava ir visitar o filho e levar algumas coisas que havia comprado a pedido dele. Olívia estremeceu, sabia que se fosse lá sozinha não sairia ilesa. Temia a proximidade daquele homem, sentia-se vulnerável.

- O que fazer? Seria a vida lhe dizendo qual o caminho a seguir?

Ela iria visitar João Paulo, não poderia deixar a vizinha na mão, era caso de doença. Sua sorte estava lançada, tentaria resistir.
No dia seguinte ela se arrumou e levando as encomendas do rapaz se dirigiu para a Penitenciária do Estado. Foi um longo caminho de pensamentos contraditórios. Enquanto esperava sua vez para adentrar ao recinto, seu coração parecia querer sair pela boca.  Lá no fundo ela dizia para si mesma:

 - Calma mulher, você está aqui para fazer um favor à sua vizinha, nada mais.

Um texto de Eva Ibrahim

          Continua na próxima semana.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

"QUEM NÃO COMPREENDE UM OLHAR, TÃO POUCO COMPREENDERÁ UMA LONGA EXPLICAÇÃO." MÁRIO QUINTANA---LINDO É QUANDO DOIS OLHARES SE CRUZAM. EVA IBRAHIM


TENTAÇÃO

CAPÍTULO QUATRO
         Olívia parecia ter rejuvenescido pelo menos dez anos; estava mais bonita e tinha outro brilho no olhar. D.Estela fez uma observação quando viu a vizinha, pois ficou admirada pela sua mudança.

         – Ela iria a algum outro lugar, depois da visita? Estava toda arrumada e de sapatos de salto; parecia outra mulher.

          – Não, respondeu, prontamente, Olívia, apenas sentira vontade de se arrumar um pouco, afinal, era domingo...

         As duas mulheres ficaram, algum tempo, aguardando as revistas de praxe, para depois adentrarem a área destinada às visitas na Penitenciária do Estado. João Paulo estava de uniforme do presídio, porém, limpo e cheiroso, aguardando sua visita chegar. E, quando viu que sua mãe estava acompanhada de Olívia, abriu aquele sorriso, que amolecia as pernas dela e tinha o poder de encantá-la. A mulher parecia hipnotizada, não conseguia desviar seu olhar daquele homem, que tomara conta de seu coração, que batia loucamente.

         Os três conversaram um longo tempo, a mãe, o filho e a vizinha. João Paulo queria saber da vida de Olívia, também estava interessado. Os olhares se cruzavam a todo instante, havia uma interação entre os dois, que dispensava palavras. Ela entregou as frutas ao prisioneiro, que aproveitou para segurar as mãos dela, por um longo tempo, entre as suas. Então, seus olhares cruzaram com muitas promessas inconfessáveis; ali nascia uma paixão proibida. A mãe do rapaz se mantinha alheia ao que estava acontecendo, para ela bastava o filho estar feliz.

         Ao chegar a sua casa, Olívia sentiu-se culpada, ali morava seu marido e os filhos. Ela gostava de tudo que havia ali, era a sua vida que estava em jogo.

         - Como ela poderia ficar pensando em outro homem? Agora ela compreendia o que o Padre pregava, quando dizia que pecamos com pensamentos, palavras e obras. As pessoas podem trair com os pensamentos também, e são traições profundas. Concluiu seus pensamentos, sentindo-se envergonhada e com medo do castigo divino.

         Sentiu um calafrio e seu corpo ficou todo arrepiado. Olívia tratou de se benzer e prometeu aos céus tirar aquelas ideias pecaminosas da cabeça. Entretanto, a toda hora se surpreendia pensando em João Paulo. Ela queria que o marido voltasse logo, queria se esquecer daquela história. Nunca traíra o marido e não o faria agora, tinha muita coisa a perder, inclusive o respeito dos filhos.

        Na sexta-feira Olívia deixara tudo arrumado, Antônio chegaria de madrugada, ela o trataria com muito amor. Teria que valorizar o que era dela e não ficar sonhando com um estranho. Estava convicta de que o melhor seria se concentrar em seu casamento e tratar de esquecer João Paulo.

         Ela se deitara mais cedo, pois, teria que se levantar de madrugada quando Antônio chegasse. Entretanto, acordou com o telefone tocando. Olhou no relógio, já passava das duas da madrugada; era o seu marido dizendo que estava preso na estrada.  

           Ele estava na região serrana, chovia muito e houve deslizamento de terras; ninguém sabia quando seria liberada a passagem de veículos pesados. Havia uma fila enorme de caminhões parados, ele poderia demorar dias se a chuva não parasse logo, disse o marido desolado.

         Olívia levantou-se e foi até a cozinha, não conseguiria dormir novamente, ficaria sozinha durante o final de semana e não poderia nem pensar nas consequências. Sabia que estava sofrendo uma tentação, porém, tentaria resistir.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

"PARA OS ERROS; PERDÃO. PARA OS FRACASSOS; UMA NOVA CHANCE. PARA OS AMORES IMPOSSÍVEIS; TEMPO." LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO--- O AMOR É ASSIM... EVA IBRAHIM

                     PAIXÃO PROIBIDA

                     CAPÍTULO TRÊS

         Olívia morava naquele local há muitos anos e tinha D. Estela como vizinha à somente três anos. O casal de idosos mudou-se para aquele local com o filho mais novo, João Paulo; os outros três filhos estavam casados e viviam em outra cidade. O pai de João Paulo estava seriamente doente e em seis meses faleceu, deixando a viúva e o filho sozinhos.

         João Paulo, um mestiço forte de 35 anos, que levava a vida na esperteza; sua mãe temia que algum mal lhe acontecesse. Ele perdeu o emprego em uma grande empresa e se separou da amásia; ainda bem que não tinha filhos, pensou a velha senhora. Então, o rapaz passava muitas horas em bares com outros desocupados, até que conheceram um traficante de drogas, que os convenceu a participar do negócio. O filho disse à sua mãe que estava trabalhando e trazia muito dinheiro para casa; a mãe andava desconfiada.

       Seu filho parecia estranho; não poderia estar trabalhando, pois, levantava tarde e andava com gente mal encarada. A velha mãe pediu a ele, por diversas vezes, que trocasse de amigos, aqueles não eram gente boa. Porém, o filho não ouviu e certo dia a polícia apareceu e o levou preso. O grupo todo foi acusado de tráfico de drogas, depois condenados a cinco anos de prisão cada um.

         D. Estela ficou sozinha e passou momentos de muita aflição. A mulher vivia com a pensão do marido e procurava dar apoio ao filho indo visita-lo na delegacia de polícia. Vivia muito só e procurou fazer amizade com sua vizinha; as duas conversavam muito, Olívia tinha pena da mulher.

        Com a condenação houve a transferência para a Penitenciária do Estado, que ficava em outra cidade e  a velha senhora tinha medo de viajar sozinha. A mulher foi uma vez, porém, disse que temia passar mal no ônibus, então, convidou Olívia para acompanha-la e a mulher concordou, afinal, eram amigas. As duas vizinhas se apoiavam mutuamente.

        Olívia quando viu o filho de D.Estela, ela o reconheceu, já o vira outras vezes, porém, nunca prestara atenção no rapaz. Quando ele lhe estendeu a mão e apareceu um colar de pérolas quando ele abriu o sorriso, ela perdeu a fala. Custou para sair um grunhido que queria dizer “muito prazer”. Parecia um Deus moreno, da cor de pinhão, pensou a mulher embevecida. Pinhão, que ela gostava tanto, que estranha comparação, ela devia estar muito sozinha para ter esses pensamentos. Mas que ele era bonito ninguém poderia negar.

       - Será por isso que se encantou daquela maneira?

         A mulher saiu acompanhada da mãe do moço, que estava alegre, pois, seu filho estava bem. Olívia não parava de pensar em João Paulo, estava enfeitiçada.  Aquilo era loucura, ela estava casada, não poderia pensar em outro homem, ainda mais aquele, que estava preso.

        A semana demorou a passar e seu marido chegou de viagem, ela cumpriu sua obrigação de mulher casada, entretanto, fechou os olhos e imaginou estar naqueles braços moreno. O marido até estranhou, pois, perguntou se ela estava com saudades. Olívia aquiesceu, ele que pensasse o que quisesse.
       
       Antônio sairia para outra viagem no domingo a tarde e ela teria de demovê-lo da ideia. Seu marido teria que viajar pela manhã, porque à tarde ela iria visitar seu amor com a vizinha. Para sua sorte e colaboração dos céus, choveu a noite toda e o marido resolveu viajar antes do almoço, para chegar ao destino antes de anoitecer.

          Olívia parecia uma adolescente, estava muito feliz, tratou de ficar bem bonita e disse aos filhos que iria à Igreja com a vizinha. Mal conseguia controlar sua ansiedade, queria ver aquele sorriso novamente; precisava sentir se fora apenas uma ilusão. Ela comprara frutas para João Paulo, queria agradá-lo de alguma maneira. Sentia-se ridícula, porém, havia uma força que a empurrava para aquele lugar.

Ela sempre ouvira dizer que os homens, na meia idade, ficam assanhados com as meninas mais novas e isso tem um nome: "Idade do Lobo".

- Será que ela estaria na Idade da Loba? Pensou, cismada, a mulher.

Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.      

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"FECHEI OS OLHOS E PEDI UM FAVOR AO VENTO. LEVE TUDO QUE FOR DESNECESSÁRIO. ANDO CANSADA DE BAGAGENS PESADAS. DAQUI PARA FRENTE, APENAS O QUE COUBER NO BOLSO E NO CORAÇÃO." CORA CORALINA-- QUE A FELICIDADE VIRE ROTINA. EVA IBRAHIM.

          MOMENTOS DIFÍCEIS
               CAPÍTULO DOIS
           A ambulância adentrou ao pátio do Hospital com a sirene ligada e logo apareceram os enfermeiros para levar a mulher para dentro. Ela foi conduzida à sala de emergência e teve um atendimento rápido, pois, seu caso inspirava cuidados. Estava em trabalho de parto prematuro com fortes contrações e níveis pressóricos elevados. Apresentava um quadro de pré-eclâmpsia; um caso crítico que exigia atitudes médicas emergenciais.

        Olívia foi conduzida parra o Centro Obstétrico, onde ficaria em rigorosa vigilância, aguardando os medicamentos agirem. O médico foi categórico ao explicar à paciente, que seu filho poderia nascer prematuro e ficar na incubadora por tempo indeterminado. Tentariam inibir o trabalho de parto, porém, se o quadro se agravasse o parto teria que acontecer, para o bem de mãe e filho.

         A gestante sentiu medo, não poderia perder aquele filho, que já era muito amado. Pediu à presença da assistente social, precisava avisar a avó do bebê, que posteriormente avisaria o pai da criança. Algumas horas depois, D. Estela, chegou ao Hospital, estava esbaforida. A velha senhora precisava ter notícias da mulher de seu filho e do neto também.

         A mulher idosa estava nervosa e ficou pior ainda quando soube que Olívia estava na sala de cirurgia; o bebê estava nascendo. Ela procurou a capela do Hospital, precisava conversar com Deus; somente ele poderia ajuda-la. Olívia se envolvera com seu filho por intermédio dela e ela sentia-se culpada pelo desenrolar da situação.

          Finalmente, o pequeno bebê veio ao mundo e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Era prematuro e de baixo peso; inspirava cuidados. Olívia foi conduzida à Unidade de Terapia Intensiva de adultos, também necessitava de cuidados especializados. D. Estela viu o neto, por um instante, quando foi levado para a incubadora. Depois, a mulher foi caminhando cabisbaixa para sua casa. Havia uma nuvem parada no ar, tamanha era sua preocupação. Aquele bebê era muito pequeno, talvez não vingasse, pensou a mulher com o semblante fechado.

         Enquanto Olívia se recuperava da cesariana, alguém se preocupava com a falta de notícias. João Paulo sentia que alguma coisa estava errada, Olívia não fora visita-lo no domingo e sua mãe dissera que a mulher não estava passando bem. Durante a noite ele tivera um sonho ruim, por isso estava apreensivo.

          De dentro da Penitenciária ele não poderia se comunicar com ninguém, teria que pedir à assistente social que entrasse em contato com sua mãe. O detento aguardou ansiosamente notícias de sua família. E, quando a notícia chegou, ele suspirou fundo, sabia que alguma coisa ruim estava acontecendo.

         Não era um homem de fé, pelo contrário, andara por caminhos tortuosos, por isso estava ali cumprindo pena. Porém, agora que encontrara o amor, não poderia perdê-lo, então, a única coisa que poderia fazer era pedir a Deus que os guardasse, a mãe e o filho, que ele queria conhecer.

         Alguns dias se passaram até que Olívia foi para o quarto, estava fora de perigo. Durante os dias que passara na UTI, somente D. Estela a visitara, agora a visita fora liberada. A Cida, a dona da loja, queria ver a mulher e continuar a conversa que fora interrompida. A comerciante gostava de uma fofoca e essa parecia ser das boas, iria visitar a cliente.

         Olívia parecia bem disposta, depois de tudo que passara e ficou feliz com a presença de Cida, precisava conversar com alguém para desabafar. Sentia saudades de Renato e de Raquel, mas eles não queriam saber dela; isso a magoava muito. Entretanto, agora ela tinha o Pedro, seu pequeno menino, que logo o levaria para casa, assim esperava; disse a mulher esperançosa.

         Logo que D. Estela saiu, Cida sentou-se ao lado da cama, queria ouvir aquela história; estava pronta, disse sorrindo para Olívia. Então, a mulher começou a contar sua história. Estava casada fazia vinte e cinco anos, ela e o marido saíram para comemorar as bodas de prata; estava feliz. Antônio, o marido, era caminhoneiro e estava sempre viajando. Os filhos trabalhavam durante o dia e à noite frequentavam a faculdade.  

          Ela ficava muito tempo só, até gostava; saia quando queria. Vivia tranquila, não lhe faltava nada, disse Olívia com um sorriso maroto e certa malícia no olhar.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

"(...) NÓS SOMOS CÚMPLICES, NÓS DOIS SOMOS CULPADOS. NO MESMO INSTANTE EM QUE TEU CORPO TOCA O MEU, JÁ NÃO EXISTE NEM O CERTO NEM O ERRADO, SÓ O AMOR, QUE POR ENCANTO ACONTECEU." "DESLIZES"- FAGNER.

A IDADE DA LOBA

UM DESLIZE 
                             capítulo um
         A mulher andava uns vinte metros e parava, levava as mãos às ancas e se contorcia para trás. Seu rosto fechava e o suor escorria pelos cantos da boca. Olhava ao redor e via uma porção de pessoas passando sem olhar para os lados; cada um focado em seu problema, ninguém via ninguém. 

        Olívia, em seguida, levou as duas mãos ao pé da barriga, eram contrações fortes e fora de hora; chegaram sem avisar, ainda não era hora, pensou a mulher aflita. Queria parar aquela dor a qualquer custo, já não se lembrava de como era um trabalho de parto, mas sabia que precisava de ajuda.

        Ela estava gestante de sete para oito meses, sua barriga endurecia e a dor lancinante chegava como se quisesse abrir suas costas. Das costas para à barriga e da barriga para as costas, parecia a central da dor do ser humano.

        A mulher nunca imaginara que teria outro filho aos quarenta e quatro anos de idade, pois Renato, seu primogênito, estava com vinte e dois anos e Raquel, a mais nova com vinte anos; pensava ter “aposentado as chuteiras.” Porém, estava ali morrendo de dores e caminhando pelo centro da cidade. Pela manhã, levantou-se inquieta com sua situação, então, saiu para dar uma volta no comércio e ver as novidades.

        Dores constantes nas mãos, pés e coluna, além do inchaço por todo o corpo, denunciavam uma gestação com muitos problemas. E, ela estava sozinha, fora posta para fora de sua casa; sua família não a queria mais.

         Nos últimos três meses, desde a descoberta de sua gravidez, ela estava na casa da vizinha e avó da criança. Os filhos não queriam conversa com Olívia, diziam que a mãe estava morta e o marido pediu o divórcio.

        - Não ficaria casado com aquela traidora, que só o envergonhara, disse o marido traído para o juiz, na audiência de conciliação.

        Ele teve sua separação deferida por justa causa, ela que se virasse dali para à frente. Os filhos não quiseram ouvir suas explicações, pois eram inexplicáveis.

         Olívia aceitou calada, era culpada e teria que assumir seus atos, que todos criticavam. Entretanto, foi nesse deslize que ela conheceu o verdadeiro amor. Nunca se sentiu tão amada como naqueles momentos em que esteve nos braços de João Paulo.

          Era uma mulher de grande coragem por ter cometido tamanho desatino ou estaria sofrendo das faculdades mentais, disseram seus parentes. Não, ponderou Olívia, não tinha grande coragem e também não estava louca, apenas, estava perdidamente apaixonada. O amor chegou tarde, entretanto, ela o acolheu com todo o coração e Deus lhe deu um presente, que estava em sua barriga. Ela já amava aquele pequeno ser, fruto de muito amor. Não se importava com os falatórios, um dia se cansariam de falar. Dizia a mulher sorrindo.

         O corpo pesado e aquelas dores intensas deixavam-na lenta. O esforço para se movimentar sob aquele calor escaldante era enorme e sua cabeça latejava.

         Andou mais um pouco e entrou na loja da Cida, sua conhecida, que ao vê-la se admirou e perguntou-lhe se estava prenha. Olívia, antes de responder perguntou se podia sentar-se e tomar um copo de água. Depois que o líquido fresco entrou pela sua garganta parecia que as dores diminuíram. Então, ela se dispôs a contar sua história.

         Ela viera para assuntar o preço das roupinhas de bebê, já que teria que comprar tudo de novo. Enquanto descansava um pouco e tomava novo fôlego, iria lhe contar como descobriu o verdadeiro amor. Porém, as dores voltaram fortes e a mulher perdeu a cor, parecia desesperada. Olívia, entre um gemido e outro, disse que teriam que adiar aquela conversa, as dores estavam insuportáveis e alguém deveria chamar a ambulância.

         - Rápido for favor, não aguento mais. Olívia disse se contorcendo e suando muito, o bebê quer nascer aqui mesmo.
         A Cida pegou o telefone e gritando que era urgência implorou uma ambulância; ela não era parteira e não podia ver sangue, que alguém acudisse.

         Em cinco minutos a ambulância chegou e levou a gestante ao Hospital mais próximo. Cida ficou olhando da porta, estava inconformada, precisava saber do ocorrido, deveria ter sido coisa grave para acabar com um casamento de tantos anos. Iria visitar a freguesa no Hospital e até lhe levaria umas roupinhas, como pretexto.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua no próximo capítulo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"QUANDO SOMOS ABANDONADOS PELO MUNDO, A SOLIDÃO É SUPERÁVEL. QUANDO SOMOS ABANDONADOS POR NÓS MESMOS, A SOLIDÃO É QUASE INCURÁVEL." AUGUSTO CURY-- VIVER SÓ, TAMBÉM É OPÇÃO. EVA IBRAHIM

OMEM FRIO 

CAPÍTULO ONZE
        Na entrada da cidade vizinha havia uma batida policial, que estava à espera de Alcir. O delegado avisara a delegacia vizinha da ocorrência na casa do rapaz e de sua fuga naquela direção. Quando ele avistou os policiais não opôs nenhuma resistência, parou a moto e, tremendo de frio, foi ao encontro dos policiais, que lhe deram voz de prisão; algemando-o em seguida. Alcir foi jogado no fundo do camburão, afinal, acabara de matar sua mulher, não merecia piedade. Ninguém ouviu sua voz, ele permaneceu calado no trajeto até a delegacia.

       A noite estava fria e ele tremia, estava enregelado, pois dirigira a motocicleta por trinta quilômetros, sem camisa. Algemado, Alcir foi colocado em frente ao delegado, estava mudo e distante. Um policial jogou sobre ele um cobertor velho ou ele acabaria morrendo de hipotermia. Alcir se enrolou no trapo velho e não abriu a boca para nada, tinha o olhar fixo no infinito; nada do que diziam parecia lhe interessar. Pensava em tirar a própria vida, assim que a oportunidade surgisse. O que aquele homem dizia, não lhe interessava; nada mais importava. 

     Cansado de esperar as explicações do rapaz, o delegado mandou coloca-lo em uma cela especial, temia que ele tentasse se suicidar. O delegado, homem experiente, sabia que o rapaz estava prestes a cometer uma loucura. Alcir passou a primeira noite preso, sentado no fundo da cela da delegacia. E, pela manhã não comeu nada e não quis ver ninguém, nem seus pais. Só pensava em Sila morta e no seu enterro, que ele não veria. Ele queria morrer também; a vida sem ela de nada valia.

Entretanto, Dirceu, que ouvia sua história, pediu que parasse, pois o restante ele já conhecia. Era hora de dormir, no dia seguinte ele sairia por aquela porta e seria um homem livre para recomeçar a vida. Teria que esquecer o passado e pensar no futuro. Alcir estava emocionado e com os olhos cheios de lágrimas, agradeceu ao amigo por ouvi-lo; sentia-se aliviado.

Mantivera aquela história guardada no fundo de seu coração e ainda doía muito. Para o mundo, que o julgava, ele criara uma armadura. Essa armadura era feita de agressividade, irresponsabilidade e descaso com o mundo. Alguns diziam que ele era louco, porém, ninguém sabia avaliar a intensidade do amor que ele sentia por Sila. Depois de oito anos, aquele amor, ainda doía em seu peito.

     Foi impossível pegar no sono, Alcir estava muito agitado, ficava imaginando como estaria o mundo lá fora. Seus pais iriam busca-lo na Penitenciária e leva-lo para casa, porém, ele temia voltar àquele lugar, que lhe trazia tantas lembranças. E, ele não queria rever a família de Sila, não queria afrontá-los com sua presença. Teria que tomar outro rumo na vida. Deixar aquela cidade e tentar viver longe dali; seria melhor para todos, disse à sua mãe.

     Sua mãe prometera segredo sobre sua liberdade condicional; juntos decidiriam o que fazer. Alcir arrumou sua mochila, era tudo que acumulara durante oito longos anos. Queria ir à Igreja, a mesma que foi palco de seu casamento. Alguma coisa lhe dizia que ali estaria a ajuda de que precisava. Queria pedir perdão e consolo a Deus, para poder seguir sua vida em paz. Sentia-se morto por dentro, perdera a capacidade de amar outra mulher.

     Teria a culpa que trazia no peito como companheira e a saudade de Sila em cada momento de sua vida. Ele fora culpado por tudo que aconteceu, porém, não poderia apagar o passado. Então, tentaria viver com todas as suas cicatrizes internas e externas que adquirira.

      Às nove horas da manhã, o carcereiro foi busca-lo na cela para leva-lo até o Diretor da Penitenciária. Os pais de Alcir estavam presentes e receberam as recomendações de praxe. O detento deveria se apresentar regularmente às autoridades e pedir autorização para mudar de endereço.

       Chegando a sua cidade ele estranhou os lugares, havia muita mudança por ali.  Novas construções, muitos automóveis, um comércio intenso e muita gente estranha circulando por ali.  O progresso chegara à pequena cidade, seria fácil andar disfarçado por entre tanta gente. Alcir ficou feliz, poderia visitar o túmulo de Sila.

     Ele não saiu de casa durante uma semana, deixou a barba crescer, comprou óculos escuros e um boné. Foi se apresentar ao delegado de sua cidade e pediu autorização para morar no interior do Estado na casa de um tio. Precisava trabalhar e lá o tio lhe daria emprego, tentaria reconstruir sua vida.

     Depois de cinco dias ele recebeu a autorização para sua mudança, porém, antes ele tinha uma coisa muito importante a fazer. O rapaz se preparou para a mudança e depois se vestiu para seu último encontro. Barbudo, de óculos escuros e boné, ninguém o reconheceria. Estacionou o automóvel de seu pai na porta do cemitério e com um ramalhete de flores adentrou ao recinto. O zelador, que acabara de abrir os portões, estranhou a presença do jovem, tão cedo, no local.

     O rapaz seguiu pela alameda central, parecia saber pra onde estava se dirigindo. O zelador o seguiu de longe, queria saber o que ele iria fazer. Chegou à frente do túmulo da moça assassinada pelo marido e depositando as flores sobre o túmulo ele se ajoelhou. 

      Aquele era o túmulo de Tarsila Azevedo, o zelador conhecia bem a história e ficou à espreita. O rapaz parecia encantado diante da foto colocada no túmulo. Fazia muito tempo que ele não via aquele sorriso, que mexia com todos os seus sentimentos. Alcir chorou muito, ficou ali durante quarenta minutos, ajoelhado no cimento e com a cabeça recostada no mármore frio do túmulo da moça. Depois, levantou-se e sem olhar para trás, seguiu até o automóvel, partindo em seguida.
O zelador coçou a barba, 
UM Hseria aquele o matador?
- Parecia tão triste e chorou muito! Pobre rapaz!

      Alcir passou em sua casa e revestido com sua armadura partiu para uma nova vida. Um homem frio e duro em suas decisões, que mantinha um silêncio que o condenava.

 Termina aqui a história de Sila e Alcir, mais um crime passional movido pelas drogas.

Um texto de Eva Ibrahim.


Iniciaremos uma nova história na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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