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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

ENCARAR A REALIDADE PODE SER O CAMINHO PARA UM RECOMEÇO. EVA IBRAHIM

SEM RUMO
CAPÍTULO CINCO
             Valmir tratou de arrumar um advogado para tirar o irmão da cadeia, porém, quando chegaram a delegacia constataram que Vitório não estava mais lá. Fora transferido emergencialmente, pois a população se preparava para invadir o local; queriam mata-lo a qualquer preço.

            Ao redor da delegacia a cena era de um campo de guerra, havia uma quebradeira geral. Os vidros das portas e vidraças foram todos quebrados com pedras e paus. A rua estava interditada, tudo nas imediações fora saqueado. Atos de puro vandalismo, que deveriam ser apurados posteriormente.

           Aquela parecia a revolta de uma população descontente, que acaba se envolvendo em uma desgraça para demonstrar sua insatisfação à sociedade. O fato ocorrido era uma situação estabelecida, uma vez que o menino já estava morto. Portanto, nada mais poderia ser feito, então, todos os presentes tomaram as dores da família e começaram a quebradeira.

           Valmir ficou paralisado com a situação, ainda mais que o delegado o aconselhou a sumir por uns dias, poderiam querer pegá-lo também. Vitório ficaria na delegacia da cidade vizinha para sua própria segurança. Depois dos primeiros depoimentos, sua prisão seria relaxada e ele responderia ao processo em liberdade.

        O advogado e Valmir iriam ao encontro de Vitório, mas, antes passariam na casa dele para pegar algumas roupas e objetos de uso pessoal. Entretanto, ao avistar a casa perceberam que ali também houvera um ataque. A residência da família estava toda pichada e com os vidros quebrados. No muro podia-se ler: “Assassino”, “Monstro” e outros nomes equivalentes.

           Os dois homens adentraram a casa com receio de serem surpreendidos e atacados. No entanto, não havia ninguém ali e assim que pegaram documentos e objetos de uso pessoal do Vitório saíram e, foram até a cidade vizinha.

         O encarcerado estava desesperado, não aceitou comida e nem queria conversar com ninguém; queria morrer. Era evidente que houvera um acidente e que aquele homem era inocente. Apesar de estar cheirando a bebida, era um trabalhador e pai de família. O delegado disse que iria interroga-lo e ouvir as testemunhas e depois ele poderia aguardar o inquérito em liberdade. 

        Diante da gravidade da situação, o advogado orientou Valmir a retirar os móveis da casa do irmão e entregar a propriedade ao dono. Aquele lugar não poderia mais abrigar aquela família, que estava marcada pelos últimos acontecimentos. Seria melhor que a esposa e filhos de Vitório não voltassem mais ali, ou poderiam receber represálias dos parentes da vítima.

         Depois de alguns dias, Valmir retirou toda a mobília da casa de Vitório debaixo de xingamentos dos vizinhos, que sabiam que ele nada tinha a ver com o ocorrido. No entanto, não se conformavam com o acidente e queriam acabar com o "assassino", que fora se juntar à  família na casa de sua mãe.

        O homem estava em estado lastimável, nunca mais fizera a barba ou cortara o cabelo. Andava sujo e não queria conversa com ninguém. Se entregara à bebida, nada mais lhe importava, nem mesmo os filhos. Deixara de implicar com a Ana e nunca mais brigou com Alda.

         - Estava com depressão; precisava se tratar ou acabaria fazendo alguma besteira, dissera o médico.

Em apenas duas semanas, Alda e a sogra não sabiam mais o que fazer, Vitório não queria trabalhar e vivia caído nas sarjetas; tornara-se um mendigo.

 Um texto de Eva Ibrahim. 
Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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