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sexta-feira, 24 de julho de 2015

"A LÁGRIMA MAIS PESADA É AQUELA QUE NÃO CAI." AUTOR DESCONHECIDO -- NÃO TENTE SER FORTE, APENAS SEJA VERDADEIRO" EVA IBRAHIM


                     CÂNCER DE MAMA

                                   CAPÍTULO DEZENOVE
     Reinaldo continuava contando, visivelmente emocionado, o drama de Amanda. Dos exames para a biópsia foi rápido; o médico tinha pressa em fechar um diagnóstico, pois temia o pior. Depois de alguns dias de angustia veio o veredicto final: Câncer de Mama invasivo. Duas lágrimas rolaram de seu rosto. Ele as enxugou com o dorso da mão; em seguida tomou um gole de suco ou não conseguiria prosseguir. O diagnóstico soava como uma sentença de morte, soluçou o rapaz, o que depois se confirmou.

Celina cobriu as mãos de Reinaldo com as mãos dela em sinal de solidariedade. Na verdade, queria abraça-lo e afagar seus cabelos, conhecia todo aquele sofrimento, então disse:
 - Chega dessas lembranças dolorosas, vamos caminhar e falar de outros assuntos; outro dia você continua.

          O rapaz concordou, estava muito abalado, precisava de ar puro. Ainda estava fragilizado, os acontecimentos da passagem de Amanda eram recentes; havia um buraco em seu coração. Pagou a conta e saiu segurando a mão de Celina, que se deixou conduzir para um parque onde havia muita gente e crianças se divertindo.

           Ficaram um tempo parados contemplando a vida e a alegria que havia lá fora. Carrinhos de pipoca, roda gigante, balões e muitas crianças sorrindo em meio ao vai e vem das pessoas; precisavam contemplar a vida para ter esperanças.

Em um certo momento ele a puxou para si e aconchegou seu rosto em seu peito, alisando seus cabelos. Ela se deixou ficar; aquele parecia ser um lugar seguro e aconchegante, de onde ela não gostaria de sair, nunca mais. A noite estava linda e ambos caminhavam como se fossem íntimos; estavam unidos pela dor da perda. Andaram a esmo, tomaram sorvete e riram de algumas coisas, depois foram para casa, estavam aliviados. Entretanto, não se tocaram como namorados; ainda, era muito cedo, traziam no peito corações partidos.

Depois de três dias, Celina não se conteve e telefonou para Reinaldo, que ficou de encontrá-la na saída da escola, gostava de sua companhia. Sentados no banco da praça, o rapaz prosseguia em sua história com Amanda. Agarrada aos filhos sua esposa chorou e depois pediu para o marido distraí-los; não queria assustá-los.

Amanda sabia que a sua situação era delicada, entretanto, seguiria todas as orientações médicas; queria ver os filhos crescerem. Começou, então, uma grande luta contra o câncer. Primeiro veio a radioterapia para diminuir o nódulo e depois a cirurgia radical com a retirada dos linfonodos. A moça perdeu uma mama e iniciou a quimioterapia. Cada sessão do medicamento era seguida de vômitos e dias de intensa fraqueza, que a fazia recusar comida. Os seus cabelos começaram a cair e seu corpo foi perdendo massa muscular.

Em três meses, Amanda parecia apenas uma sombra da moça bonita com quem Reinaldo se casara. Fecharam a casa e foram para a casa da mãe dela. Rute, a mãe de Amanda, cuidava das crianças para a filha poder descansar, pois ela passava a maior parte do tempo deitada; não tinha ânimo para nada.

A cicatriz cirúrgica apresentava vários pontos de necrose e infecção. A outra mama ficou entumecida, onde abriram várias feridas, que só aumentavam, apesar dos curativos e cuidados dos profissionais de saúde.  No sexto mês, o médico foi taxativo:
 - Estavam perdendo a luta para o câncer, que era dos mais agressivos. A paciente estava piorando a olhos vistos e não respondia ao tratamento.

Amanda parecia uma flor murcha aninhada na cama, mal podia falar; se entregara à doença. Reinaldo estava desesperado e procurava atender a todos os seus desejos, pois via nos olhos da esposa que havia poucas esperanças de restabelecimento.

Duas lágrimas teimaram em rolar pelo seu rosto e Celina, delicadamente, as aparou com a mão. O rapaz, comovido, segurou a mão da moça e a beijou em agradecimento.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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