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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"JAMAIS SE DESESPERE EM MEIO AS MAIS SOMBRIAS AFLIÇÕES DE SUA VIDA, POIS DAS NUVENS MAIS NEGRAS CAI ÁGUA LÍMPIDA E FECUNDA." PROVÉRBIO CHINÊS---AMAR, TALVEZ, SEJA ISSO. EVA IBRAHIM.

           SEM PERDÃO

                                CAPÍTULO DEZ
        Olívia tinha que aceitar o marido, não por escolha, mas por obrigação; esperava ele dormir para deitar-se. Fazia aquilo como se fosse um ritual, silenciosamente se enfiava na cama e permanecia imóvel; depois se levantava antes dele. Na maioria das vezes dava certo, entretanto, algumas vezes ela tinha que ceder; Antônio forçava a situação. João Paulo perguntou à Olívia se ela e Antônio mantiveram relação sexual e a mulher negou; tornara-se mentirosa também.

         Aquele era um caminho sem volta; Olívia caminhava para a decadência moral. Seus valores se reduziram a quase nada, tinha um caso com um detento da Penitenciária, que fora preso por tráfico de drogas. Se alguém descobrisse seria apontada na rua, pois, Antônio a expulsaria de casa. Pensava nos filhos e sentia-se envergonhada, entretanto, o amor que tinha dentro do peito falava mais alto e lhe dava coragem para enfrentar o mundo.

O marido saiu para acertar novas viagens e ela correu à casa de D. Estela, queria se despedir de João Paulo. Trancaram-se no quarto onde aconteceu mais uma entrega de amor. Uma relação tão forte que o casal não queria mais sair dali; era um ninho perfeito, apenas os pássaros estavam errados.

Olívia voltou a si quando ouviu o ronco do caminhão de Antônio, parando do outro lado da rua. Então, ela disse um “até breve” ao seu amor e esgueirando-se pelo muro foi para casa. O marido estava no banheiro e ela aproveitou para lavar seu rosto no tanque; queria tirar o sabor dos beijos de João Paulo ou acabaria contando ao marido a sua traição.

O marido nem percebeu que a mulher estava nervosa; ele disse alguma coisa e saiu sem esperar a resposta. Olívia respirou fundo, sua consciência estava pesada; era muita culpa por tanta felicidade obtida de maneira pecaminosa. Estava muito envolvida, jamais conseguiria voltar a ser aquela mulher simples e ingênua de algum tempo atrás.

               A ansiedade não deixara a mulher dormir; queria, ao menos, ouvir quando João Paulo saísse para retornar ao presídio. E, quando ouviu o portão fechar ela chorou baixinho; seu amor partira sem data para voltar. Os dias perderam a luz, nada mais tinha sentido. Olívia tornara-se uma flor murcha, não queria conversa com ninguém; estava deprimida.

               Antônio, em suas idas e vindas não dava muita importância à frieza da mulher. Ele pensava que a menopausa estava mexendo com o humor de sua esposa, afinal, ela era uma mulher de quarenta e cinco anos, que não tinha mais o viço das jovens de vinte.

               O mês de janeiro passou e quando fevereiro chegou Olívia estava com problemas estomacais; vivia vomitando pelos cantos. Suas regras de menstruação não apareceram, entretanto, o médico disse que era normal a menstruação diminuir quando a mulher está no climatério.
               O tempo corria e durante uma visita à Penitenciária, João Paulo reparou que Olívia estava diferente, isto é, mais magra, pálida e com um olhar diferente. Com ar de preocupação pediu que ela procurasse o médico; poderia estar doente mesmo e não apenas fingindo. Ela concordou, iria ao médico, pois não se sentia nada bem, vivia vomitando.
               A mulher foi submetida a vários exames e depois recebeu o diagnóstico, que quase a enfartou; estava grávida. Ela foi levada ao céu e depois ao inferno, o filho era de João Paulo, que era mulato escuro, teria que contar a verdade ao marido.

Quando a criança nascesse, todos saberiam de sua traição. A data provável de quando engravidara, não deixava nenhuma dúvida, pois não tivera relação sexual com Antônio, portanto, tinha certeza de que o pai era João Paulo. Antônio era branco, descendente de italianos e não aceitaria um filho mulato, sem duvidar da honestidade da mulher.

Olívia teria que pensar muito e tomar uma decisão; queria muito aquele filho, fruto de muito amor.

Um texto de Eva Ibrahim. 
MEU MUNDO REINVENTADO.

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