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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"PORQUE EU SÓ PRECISO DE PÉS LIVRES, DE MÃOS DADAS E DE OLHOS BEM ABERTOS." GUIMARÃES ROSA.---SE O DIA NÃO ESTÁ BOM, PACIÊNCIA, OUTROS MELHORES VIRÃO. EVA IBRAHIM

        DE MÃOS DADAS...
                 CAPÍTULO SETE
Com os olhos arregalados ela tratou de pegar a toalha e correu para ver a mão que sangrava. Alcir estava pálido, suando frio e com os olhos cheios de lágrimas, então, ele murmurou:
 - Eu queria cortar o peixe para adiantar o almoço de amanhã, desculpe-me, não queria assustá-la.

Ela pegou sua mão e abriu a toalha para ver o tamanho do ferimento. O corte era no polegar e tinha uns três centímetros de comprimento; pequeno, porém, profundo. E, como a mão estava pendurada, sangrava muito. Sila tratou de embrulhar a mão de Alcir novamente e pediu para ele comprimir, que iriam para o Pronto Socorro.

Enquanto ela ligava para seu pai vir ajuda-los, Alcir sentou-se na cadeira da cozinha, estava satisfeito, ela não iria à escola naquele dia. Alguns minutos se passaram e Sila entrou na cozinha de calças jeans e uma blusinha preta. O marido gostou do que viu, a escola tinha ido para o ralo... Segurando a mão na altura do coração, gemeu alto para comovê-la ainda mais. Lá no fundo ele se achava o máximo, conseguira seu intento, sucesso total.

O sogro chegou para leva-los ao PS, era caso de urgência, até a sogra estava com ele, lamentando o ocorrido. Depois de duas horas de espera e três pontos no polegar, Alcir foi liberado e os quatro retornaram à casa do casal. A sogra se prontificou para preparar uma sopa ou um chá, “pobre genro”, queria ajudar sua filha e sofreu um acidente.

Alcir olhou as horas, vinte e uma, tarde demais para ir à escola, sorriu baixinho, precisava de amor e carinho. Sila demonstrava preocupação com sua mão e parecia uma gueixa de tão prestativa que estava; ela o atendia ao menor gemido. Depois, condoída com a ocorrência, ela fez cafuné em sua cabeça até ele pegar no sono e quando Alcir acordou, ela já havia saído para trabalhar. Entretanto, Sila deixara o café preparado sobre a mesa com um bilhete.  Pedindo para ele comer e descansar, que ela voltaria na hora do almoço para vê-lo; o marido estava de atestado médico.

Alcir comeu e depois voltou para a cama, ligou a televisão e ficou cismando ali deitado, como um lobo aguardando a sua presa. Pouco antes de sua amada chegar ele tomou banho e ficou na espreita debaixo das cobertas. Não era um pequeno corte no dedo que o impediria de amar e ser amado; estava pronto para puxar Sila para seus braços; era um homem sedento de amor.
Estava alegre, era jovem, tinha a mulher que amava, portanto fora abençoado por Deus, pensava feliz. A faculdade era somente uma pedra em seu caminho, que ele daria um jeito, sem magoar sua mulher.

A chegada de Sila aconteceu exatamente como ele planejou, sobrou carinho e amor ao pobre acidentado! Depois almoçaram e ela saiu para trabalhar, porém, antes de sair para o trabalho, ela disse que iria à escola de ônibus, como sempre. Alcir tentou argumentar, mas ela não queria ouvir e continuou caminhando.

Ele deu um soco na parede e sentiu a dor no corte do dedo. Gemeu alto esbravejando, teria que aceitar ou ela se zangaria de verdade.

A tarde corria lenta, Alcir saiu para dar uma volta e foi à casa de sua mãe desabafar; não queria que sua mulher continuasse a estudar. Sua mãe, mais uma vez, tentou acalmar o filho dizendo que, se insistisse nisso perderia Sila. Ela estava para se formar e não sairia da escola, ele sabia disso; deveria se conformar. Ele saiu cantando pneu, estava muito estressado...

Depois do jantar ficou esperando sua mulher para leva-la até o ponto do ônibus, estava visivelmente contrariado, não queria conversar. Ela o beijou e correu para dentro do veículo, estava feliz por rever os amigos. O ônibus saiu e Alcir foi seguindo o coletivo, mantinha certa distância para que ninguém o visse. Ele foi até a cidade vizinha, onde ficava a faculdade de Sila.

Ficou um longo tempo em frente à escola, depois voltou para sua cidade, teria que segurar a onda até ela voltar. Parou em um bar e ficou conversando com velhos conhecidos. Quando olhou no relógio viu que estava na hora de esperar sua mulher, estava ansioso e meio bêbado, havia tomado bebida alcoólica. O ônibus encostou e Sila desceu sorridente, Alcir ficou irritado.
- Estava feliz com o quê? Teria visto o passarinho verde? Perguntou o rapaz irado.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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