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sexta-feira, 20 de junho de 2014

"AMAR NÃO É QUERER ALGUÉM CONSTRUIDO, AMAR É CONSTRUIR ALGUÉM QUERIDO." AUTOR DESCONHECIDO---ASSIM É A VIDA, SEMPRE MUDANDO O CENÁRIO. EVA IBRAHIM


SUA VISÃO DE MUNDO

CAPÍTULO SEIS

      Gilda estava nervosa com o primeiro dia da permanência de Sandro na Escola Infantil para cegos; temia que ele se assustasse e desistisse da escola. A professora do menino foi recebê-lo com alegria e depois pegou em sua mão para conduzi-lo à sala de aulas. Ele titubeou e quis chorar, porém, Gilda o abraçou dizendo que ficaria ali até as aulas terminarem. Sandro iria completar seis anos e teria iniciada sua alfabetização, mas, para isso teria que sofrer um processo de adaptação, para depois iniciar seu aprendizado em braile.

     O grupo de educadores daquela escola explicaram para Gilda, que teriam que estimular a construção de sua visão mental de tudo que o cercava, dando significado a cada som ouvido, ou sentido a cada coisa percebida. A mulher ficou no fundo da sala, observando quieta tudo que se passava naquele local.
Seu filho permanecia sentado ouvindo a professora e os sons das outras crianças que estavam na sala de aulas. Essas crianças são mais quietas, pois precisam ouvir para decodificar a mensagem, então, são raros os burburinhos.

       Com muita segurança a professora chamava cada criança pelo nome e os estimulava a contar um pouco de suas vidas. Sandro ficou em pé e disse que não podia ver porque tinha machucado seus olhos e todos o aplaudiram desejando boas vindas ao pequeno menino. Gilda chorou silenciosamente, as lágrimas corriam pelo seu rosto indo morrer em sua boca, deixando um gosto salgado em sua alma. Aquele momento a elevou aos céus. Ela, então, compreendeu que tinha uma grande missão a cumprir; era coisa de Deus.

      A escola tinha uma proposta de apresentar o mundo para as crianças através dos sons, do toque, percepções táteis e gustativas, para suprir a falta da visão estimulando e explorando os outros sentidos. Começaram fazendo sons repetitivos e exercícios bucais para aprender a soltar a voz. A sala tornou-se um lugar de sons de todos os tipos, as onomatopeias estavam presentes.
    -O gato faz que som? E, todos miavam.
    -O cão faz que som? E, todos latiam.
E, assim sucessivamente os sons invadiam a sala. Rapidamente chegou a hora do recreio e mãe e filho se abraçaram; o menino estava alegre, gostara da escola.

      A ausência da visão seria compensada estimulando e explorando os outros sentidos, que permaneciam intactos, levando em conta suas potencialidades. A professora daquela classe parecia ter consciência da importância de considerar o potencial de cada criança e não salientar suas limitações. A criança cega terá em seus outros sentidos, seus olhos para o mundo e a música fará com que sinta muitas sensações, que sua alma reconhecerá em sentimentos e emoções, explicou a professora para Gilda.

      O som dos pássaros cantando, uma porta rangendo, os carros passando, o vento assoviando e o farfalhar dos galhos das árvores entre outros sons, despertam a percepção auditiva, que será seu maior trunfo na falta da visão. Além disso, terá aguçado o tato no reconhecimento das superfícies e de todas as coisas que podem ser tocadas; O contato com as pessoas e coisas próximas será um aliado imprescindível ao ouvido, para a formação de sua visão de mundo.

      O Instituto era excelente, ali trabalhavam as sensações gustativas, o olfato e a expressão corporal acompanhada de músicas. Percebeu-se que a música tinha o poder de relaxamento e contentamento; a criança aprende a se desenvolver através dela.

      Os dias iam passando e Gilda não precisava ficar assistindo as aulas, deixava o menino na escola e depois voltava para busca-lo. Ele estava gostando da escola e demonstrava alegria quando contava coisas que estava aprendendo com as outras crianças cegas.

       A mulher percebeu seus progressos quando ele pedia para tocar seu rosto com as mãozinhas e de seu pai também. Depois sorria dizendo que eram bonitos. O tato permite que a criança sinta a temperatura, textura, forma e linhas de expressão.

      Em outro dia, Gilda viu o menino tateando seu próprio rosto, sua pele, as roupas, enfim, tudo que fazia parte de seu corpo. Depois perguntou a mãe quais eram as cores de suas roupas. A mãe lhe explicou que ele estava muito bonito e com roupas coloridas, pois, era seu príncipe. Portanto, ele poderia criar uma representação simbólica para cada coisa que o cercava; ela seria a luz de seus olhos enquanto vivesse. O amor se fundiu em um longo abraço. 
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
                               
MEU MUNDO REINVENTADO.

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