MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

sexta-feira, 13 de junho de 2014

"FAREI DAS MINHAS DORES ALGO TÃO LEVE, QUE POSSA SER LEVADO PELO SOPRO SUAVE DA ESPERANÇA DE DIAS MELHORES." AURÉLIA VASCONCELOS.--- A VIDA NUNCA PARA DE ENSINAR.EVA IBRAHIM


EM BUSCA DE LUZ

CAPÍTULO CINCO

       Danilo sempre fora um bom marido e pai amoroso até o dia do acidente, depois se tornou um homem amargo e arredio. Gilda mal podia falar de futuro ou de planos para Sandro, que ele fechava a cara e saia de casa; ia ao bar beber até altas horas. Quando chegava a sua casa estava cambaleando e fedendo a álcool.

      Gilda começou a ir à Igreja em busca de apoio de Deus e do padre Guima. O velho pároco estava sempre disposto a ouvi-la e compreender a situação da família. A mulher encontrara ali seu refúgio, onde expunha seus anseios e problemas conjugais.

      Foi lá que Gilda começou a perceber a sua realidade e entender o marido. O padre Guima lhe explicou que Danilo sentia-se esmagado pelo enorme desgosto de ver o filho cego. Pode ter sido devido ao fato de nunca ter conhecido uma pessoa cega. Com certeza ele tinha uma ideia errada de pessoas cegas, lembrando-se apenas dos cegos que vira na rua andando apoiados em outras pessoas, dando-lhe a impressão de total dependência. Ele carregava um preconceito que o fazia acreditar que Sandro sentiria a cegueira do mesmo jeito que ele.

      Traumatizado pelo desapontamento, o pai demorou a perceber que o filho é apenas uma criança, e ser cego é somente um aspecto de sua vida. A cegueira não o faz diferente das outras crianças, por isso o pai deve aprender a lidar com o filho e ajuda-lo a superar a mudança, ensinando lhe o caminho a ser trilhado.

      O padre Guima prometeu à Gilda que iria acompanha-la a uma escola para cegos, onde ela poderia ver que ali havia um mundo especial, cheio de outras crianças iguais ao Sandro. Gilda precisava convencer o marido a acompanha-los, pois, alguns pais sentem-se apoiados se conversarem com outros pais na mesma situação. Aqueles que já ultrapassaram a angustia dos primeiros meses servem de alento aos que ainda não se conformaram com a nova realidade.

      À medida que o tempo passa a criança começa a se desenvolver e a criar independência, isto é, a andar pela casa sem derrubar as coisas e a se localizar dentro de cada ambiente. Aprende a comer sozinha, tomar banho, vestir-se e a cuidar de si mesma, tornando-se independente.

      Gilda pediu ao marido que a acompanhasse e ao filho à escola que o padre Guima indicava. Ela queria conhecer o local e saber da possibilidade de colocar o menino para se socializar com as outras crianças. Danilo concordou em acompanha-los até a Instituição para crianças cegas, faria tudo pelo filho; o amava ainda mais.

      Sandro ficou alegre ao saber que iriam passear de automóvel, todos juntos, até a Sofia iria acompanha-los. Chegando a escola, foram recebidos pela Diretora que os levou para conhecer a Instituição. Havia muitas crianças cegas naquele local, cada uma com uma história diferente; as que já nasceram cegas e as que ficaram cegas depois de conhecer a luz. Todas viviam na escuridão, entretanto, não eram infelizes; brincavam e riam como todas as crianças daquela idade.

       O segredo, explicou a Diretora, para aquelas crianças estarem tão bem dispostas, chama-se amor, carinho e atenção; elas têm que se sentirem amadas, estimuladas a pegar nos objetos e a reconhecer as pessoas pela voz. Assim a curiosidade despertada as leva ao aprendizado. Elas gostam de ouvir conversas e que falem com elas, porque a audição de uma criança cega é muito aguçada; conseguem perceber sentimentos na voz de cada pessoa.

       O passeio foi bom e produtivo, haviam encontrado um lugar apropriado para o menino interagir com outras crianças e não viver tão só. Gilda estava mais leve, chegava a sentir-se alegre. Sentia que o padre Guima fazia o papel de seu anjo, ou seja, Dora a mulher negra continuava ao seu lado, agora em uma versão diferente. Gilda percebia uma energia boa e uma confiança muito grande no padre Guima, um sentimento que nunca sentira antes por ninguém.

Danilo, com Sandro seguro pela mão, parecia resignado. Sofia fazia parte daquela família por opção e os acompanhava tristonha; trazia muitas recordações em seu íntimo.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.