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sexta-feira, 6 de junho de 2014

'AS VEZES, SÓ PRECISAMOS DE ALGUÉM QUE NOS OUÇA. QUE NÃO NOS JULGUE, QUE NÃO NOS SUBESTIME, QUE NÃO NOS ANALISE. APENAS NOS OUÇA." CHARLIE CHAPLIN--- NÃO TENTE FORÇAR, DEIXE A VIDA FLUIR. EVA IBRAHIM

UM PASSARINHO QUE CAIU DO NINHO.
               CAPÍTULO QUATRO

   O menino aceitava a situação com tranquilidade, ouvia música e as histórias que as duas mulheres contavam; pensava que seus olhos estavam vendados para cicatrizar os ferimentos. Gilda saiu do seu emprego no Banco, onde era caixa, para ficar o tempo todo com seu filho. Danilo concordou, precisavam compensar a cegueira da criança de alguma maneira e a mãe ficaria encarregada de minimizar a situação.
      Além do que, a mãe de Gilda que ficava com o menino para ela trabalhar, disse que não saberia cuidar de uma criança cega. A filha aquiesceu, o filho era seu tesouro e ela cuidaria dele noite e dia se fosse preciso.

      Danilo parecia mais conformado, conversava com Sandro e até lhe contava histórias, mas não queria conversa com sua mulher. Fazia três meses do ocorrido e o marido nunca mais tocou em Gilda. E, se ela se aproximava dele, ele se afastava e a noite na cama, ele a empurrava. Havia um rio de mágoas entre eles, uma sensação de perda muito grande. Ambos estavam machucados.
      Um respeitava a dor do outro, porém não havia como abordar o assunto. Sofia aconselhava a prima para não deixar o amor de marido e mulher morrer, como acontecera com ela; porque no final é a separação que acontece.

      Em uma noite de verão ao som de relâmpagos e trovoadas, Sandro começou a chorar e quando a mãe o abraçou ele pediu para ela acender a luz. Gilda sentiu, naquele momento, a maior dor que poderia sentir, não teria mais luz, só escuridão, disse baixinho ao pé do ouvido do filho. Ficou abraçada a ele até a chuva passar e ele adormecer, depois foi chorar na varanda; nada mais poderia fazer.

      O marido, que a tudo presenciara, foi sentar-se ao lado de sua mulher. Com grande esforço ele a abraçou e puxou para perto de si e as lágrimas se confundiram. Lavaram a alma de tanto chorar e depois Danilo disse que sabia que ela não tivera culpa, foi um acidente, ele estava presente. Porém, não conseguia suportar a ideia de que seu único filho parecia um passarinho que caiu do ninho. Sandro andava perdido, tateando pela casa, doía muito ver aquela situação e não poder fazer nada. Todos seus sonhos e projetos para o filho caíram por terra, o que seria o futuro para ele, sem poder enxergar?

      A mulher argumentou que existem muitas crianças cegas, projetos escolares e assistência para eles. As crianças são perfeitas e o fato de não enxergarem não quer dizer que não possam viver e interagir com as outras crianças. Estivera lendo a respeito e levaria o filho para onde fosse necessário para que ele aprendesse a ler e outras coisas de seu interesse.

      Danilo concordou, ela tinha seu apoio, jamais abandonaria seu menino. Foram para a cama e dormiram abraçados; encontraram um caminho para trilhar juntos. Um ponto tênue de ligação amorosa, que precisava de muito empenho para progredir. Uma coisa ela pediu a ele, que nunca mais dissesse que Sandro parecia um passarinho que caiu do ninho, pois, ela iria fazer dele um homem forte e seguro, apesar da cegueira.

      A relação do casal melhorou, entretanto, Danilo adquirira o hábito de beber, e quando bebia falava coisas que ofendia sua esposa. Muitas vezes ela pedia para Sofia ficar com Sandro e ia à Igreja conversar com Deus. Ela sabia que seu anjo da guarda a acompanhava, então, ela se sentava no banco da Igreja e abria seu coração. Voltava para sua casa com novas energias para seguir em frente. O pároco, de tanto vê-la ali, um dia a chamou para conversar e a conversa foi tão boa, que se tornou um amigo valioso para Gilda.

      Ele lhe disse que o fato ocorrido foi uma prova de amor e que aquela era sua missão nessa vida; deveria aceitar e seguir em frente sem reclamar. E, que aquela mulher negra poderia ser mesmo, um anjo que Deus mandou para ajuda-la a suportar a carga que lhe fora atribuída, Gilda confidenciou à prima Sofia.

      Sofia, também estava ali para ajuda-la com o menino e minimizar a situação; sua dor era grande, mas havia sempre um bálsamo para equilibrar. Sandro estava vivo e o filho de Sofia não pertencia mais a este mundo; Gilda se consolava ao ver a dor da prima.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

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