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sexta-feira, 30 de maio de 2014

"OS ANJOS SE FAZEM NOTAR APENAS PARA AQUELES QUE ACREDITAM EM SUA EXISTÊNCIA, EMBORA SEMPRE ESTEJAM POR PERTO." PAULO COELHO---NUNCA É TARDE PARA RECOMEÇAR. EVA IBRAHIM

UMA ROSA PARA GILDA

CAPÍTULO TRÊS.

        Gilda seguiu andando pela rua de cabeça baixa, estava muito triste por tudo que aconteceu ao seu filho; também sentia vergonha por estar com os pés descalços. Entretanto, havia uma paz estranha dentro dela, à ferida ainda estava aberta, mas já não sangrava tanto. Lá no fundo ela sabia que não estava só, alguém olhava por ela e por Sandro.

        Ao entrar em sua casa, sentiu um perfume de flores, entretanto, não havia nenhuma flor no ambiente, a sala estava na penumbra. Quando adentrou ao quarto, ela foi até o criado mudo e avistou uma rosa ao lado do remédio de feridas; o mesmo que cegou seu menino.

        Sentou-se na cama e pegou a rosa nas mãos, era apenas um botão vermelho, que exalava um perfume inebriante.
      -Quem teria colocado a flor ali?
       De repente ela sorriu, já sabia a resposta, foi o anjo que a amparou, a mulher negra. Franziu a testa e se lembrou de que não sabia o nome dela. Era muito estranha à situação vivida, pensou a mulher encabulada. Depois, levantou-se apressada adentrando ao banheiro. Tomou um banho rápido, estava se sentindo suja. Antes de sair, colocou a rosa em um copo de água e, com o vidro de remédio na mão seguiu para o Hospital.

      O vento frio da manhã batia em seu rosto e ela sentia que ainda estava viva, apesar de toda aquela loucura que ocorrera em sua vida. Teria que buscar forças para enfrentar a luta que se iniciava naquele dia.

       Sandro foi internado no Hospital de oftalmologia, teria um atendimento especializado; seu caso era grave e irreversível, dissera o médico. Gilda permanecia ao lado do filho, enquanto seu marido levava à notícia aos parentes, que a condenaram impiedosamente.

      Seu coração já estava em frangalhos com a situação e ainda teria que suportar a indiferença do marido e o falatório dos parentes e conhecidos. Porém, ela recebeu apoio de uma prima distante, que viera para ajuda-la, assim que soube do ocorrido.
Sofia era filha de uma tia de Gilda e perdera o filho ainda pequeno; agora estava separada do marido. A criança teve meningite e morreu em três dias, a mulher sofreu muito e quando soube dos acontecimentos na casa da prima ficou nervosa e disse que iria ajuda-la.
       Estava disponível para aliviar as dores de Gilda e seu filho; eles não estavam sós. Curava sua dor da perda ajudando as pessoas necessitadas.

      Sofia cuidava da casa de Gilda enquanto ela acompanhava o filho internado.
      Passados dez dias, Sandro tivera alta do Hospital; as feridas dos olhos estavam cicatrizadas. Voltaria para casa, estava cego; um mundo escuro e difícil se iniciava para ele e sua mãe.

       O pai foi busca-los no Hospital e estava cheirando a álcool; Gilda estranhou, ele não gostava de bebidas.
      –Será que agora iria começar a beber?
Ele mal olhou para ela; pegou o filho no colo e abraçou. Uma coisa era certa, Danilo amava o menino e estava sofrendo muito com aquela situação. Todos da família estavam sofrendo de alguma maneira e a culpada era Gilda. Que fora julgada sem piedade, sem direito de defesa e condenada ao sofrimento eterno.

      O que menos importava para a família de Danilo era seu sofrimento, teria que ficar calada. Até sua família a condenava, ninguém queria ouvir suas explicações. Sua vida estava acabada desde o dia do acidente, agora viveria para diminuir o sofrimento de Sandro. Seria a luz dos olhos de seu filho, jamais o abandonaria.

      Ao chegar a sua casa ela viu a rosa no copo de água, ainda estava viva e com seu perfume espalhado pelo ambiente.
Sofia estava esperando a família com a casa limpa e a comida pronta; Gilda agradeceu a prima com um abraço. Depois pegou um envelope que estava sobre a mesa e abriu. Havia um pequeno pedaço de papel com a frase:
    “Boas vindas”, Dora.
     Não tinha remetente, nem endereço; somente o nome dela na frente. Gilda sorriu, era dela, seu anjo da guarda, a mulher nunca dissera seu nome, porém, ela tinha certeza que era dela o bilhete, tinha o cheiro da rosa vermelha.

     Ela beijou seu filho, Dora estava por perto, ela sentia sua presença.
      Sandro era um menino calmo e gostava de ouvir histórias que sua mãe lia em livros infantis. Gilda ainda não lhe dissera que nunca mais veria as coisas a sua volta, apenas dizia que seus olhos precisavam sarar. Ela e Sofia tiraram móveis e coisas do caminho para facilitar a locomoção do menino. As duas mulheres o guiavam pela casa, pegando em sua mão. Sofia cuidava da casa enquanto a mãe cuidava do menino e seu tratamento.

     Danilo chegava a sua casa já ao anoitecer e sempre cheirando a cachaça. Dava um beijo no filho e caia na cama, ignorando sua mulher.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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