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sexta-feira, 21 de março de 2014

"NÃO VOU DEIXAR A PORTA ENTREABERTA. VOU ESCANCARÁ-LA OU FECHÁ-LA DE VEZ; PORQUE PELOS VÃOS, BRECHAS E FENDAS PASSAM SEMI VENTOS, MEIAS VERDADES E MUITA INSENSATEZ." CECÍLIA MEIRELES. --TEMPESTADES NÃO SÃO ETERNAS. EVA IBRAHIM

            TIRANDO A MÁSCARA
              TERCEIRO CAPÍTULO
      Clésio chegou para o encontro, estava feliz e sorridente; aquela menina tinha o poder de deixa-lo tranquilo. Amava seu cheiro, sua pele fresca e seu sorriso. Sua vida dupla o deixava satisfeito; ele amava as filhas e precisava da mulher para cuidar da família. Letícia era um doce capricho, que seria descartado posteriormente, porém, não tinha data e ele não queria pensar nisso.
   Em sua ingenuidade e inexperiência, Letícia se preparara o dia todo para lhe dar a grande notícia; iria lhe dar um filho. Passara o dia imaginando que seria um menino, igual ao pai; depois ficara pensando que nome daria ao filho de seu amor. Em seguida ponderou que, seria melhor deixar o pai escolher o nome do menino, queria agradá-lo.
O encontro aconteceu entre abraços e beijos e no auge da paixão ela disse:
     -Estou grávida, vamos ter um filho. Clésio a afastou prontamente e pálido, perguntou?
      - Que história é essa? Você está tomando anticoncepcional ou não está?
A menina gaguejou e disse que se esquecera de tomar o remédio algumas vezes.
Clésio a segurou pelos braços e apertando disse:
      - Eu sou um homem casado e tenho duas filhas para criar, você não tinha o direito de deixar isso acontecer. Eu nunca lhe prometi casamento porque já sou casado.
Letícia começou a chorar. Entre um soluço e outro ela dizia que não premeditara nada e só percebera agora que sua barriga estava crescendo e alguma coisa mexendo lá dentro.
       Clésio perdeu a cor, ele queria sumir, balançava a cabeça; não podia acreditar que tinha um problema desse tamanho para resolver. Só agora ele percebera que não pensara na gravidade do que estava fazendo. Coçando a cabeça ele tentava pensar em alguma coisa que o livrasse daquela responsabilidade.
Um mundo de possibilidades passava por sua cabeça. Ele poderia ser preso por corrupção de menores. Sua mulher o abandonaria e não deixaria que ele visse as filhas ou o pai de Letícia o mataria. Qualquer uma dessas hipóteses já o arruinaria para sempre.
      - O que fazer? Olhava para a menina, que chorava sentada no banco do passageiro de seu veículo.
     – Como fugir daquela responsabilidade? Teria que pensar, pensar e pensar...
Olhou para a menina e disse:
 -Você tem noção do tamanho da encrenca em que estamos metidos?
Letícia não conseguia responder; o que para ela era motivo de felicidade para ele era a tormenta. A incerteza tomara conta dela; a decepção fora muito grande. Ele a levou de volta e pediu que não comentasse com ninguém, no dia seguinte falariam novamente; precisava pensar.
A menina entrou e foi direto para seu quarto, estava com os olhos vermelhos e não queria que ninguém a visse. Entretanto, sua mãe percebeu e foi atrás dela fazendo mil perguntas, das quais ela se esquivou dizendo estar com muita dor de cabeça. A mãe, preocupada, foi buscar um comprimido e um copo de água para ela tomar; depois apagou a luz para a filha descansar.
Ela não conseguia dormir, pois, tivera a maior decepção de sua vida; Clésio era casado. Ela não podia acreditar que aquele homem que ela amava a enganara. Ficaria mal falada e seu pai a mataria se tivesse um filho de um homem casado.
 Clésio passara a noite toda sentado no vaso do banheiro com uma súbita diarreia; não conseguia achar uma saída decente para justificar a gravidez de uma garota de quinze anos. Pensou até em suicídio; seria uma saída estratégica, porém, ele era muito covarde para tentar contra a própria vida.
Pensou em procurar um médico e pagar um aborto; certamente seria a melhor solução. Letícia sairia ilesa dessa história e ele continuaria sua vida de garanhão. Clésio tinha dinheiro guardado para uma emergência e resolveu pegá-lo, assim que o Banco abrisse e levaria para a Letícia. Depois foi se deitar, estava mais tranquilo. Parecia ter encontrado a solução, a menina teria que concordar.
         O dinheiro queimava em seu bolso, o homem não via a hora de dá-lo à Letícia e fazer com que ela prometesse procurar um médico. Ele não poderia aparecer; ninguém poderia saber de sua existência.
         Quando a menina saiu da padaria ele a abordou dizendo que naquele envelope havia dinheiro suficiente para ela pagar um aborto. Letícia ficou pálida e sem ação, não conseguia entender o que ele queria dizer com aquilo. Ele pegou sua mão onde colocou o envelope, fechando-a e depois disse adeus. Ela devia esquecer que o conhecera, ele não queria problemas. Subiu em sua caminhonete e desapareceu.
      Ela ficou parada no meio da calçada sem saber o que fazer; depois lentamente seguiu para sua casa, estava desolada.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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