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sexta-feira, 7 de março de 2014

"PORQUE ALGUMA COISA DESCONHECIDA ESTAVA ACONTECENDO. ERA O COMEÇO DE UM ESTADO DE GRAÇA."CLARICE LISPECTOR. --- UM ANJO VIGIAVA TUDO DE PERTO. EVA IBRAHIM

              “DE CORPO E ALMA.”
         COM QUE ROUPA EU VOU?
                 CAPÍTULO UM
       Muitas roupas jogadas sobre a cama denunciavam que, ali havia uma pessoa indecisa ou que já aumentara seu número de manequim. Letícia fizera quinze anos na semana anterior e estava obesa, era um fato incontestável.
       As amigas, as primas e até a avó disseram que a menina, havia ganhado muito peso nos últimos meses. Naquele dia ela se trancara no quarto e passara um bom tempo chorando; sua irmã mais velha era magra e bonita e ela mais parecia um botijão de gás. Até seu pai, Agenor, comentara com Dora, sua esposa, que a filha estava engordando muito. Depois ele sugeriu que a levasse ao médico, para ter orientação de um regime para a filha.
A mãe andava cismada com aquela gordura, que lhe parecia familiar; Dora tinha seis filhos e o mais novo estava com dez meses de idade. A mulher não tinha tempo para acompanhar as filhas, haja vista, o trabalho que ela tinha para manter a casa.
Entretanto, por duas vezes chamara Letícia para perguntar de suas regras e a menina disfarçava dizendo que lavava sua roupa íntima, pois, sua mãe tinha muito serviço. Dora não insistia, porque sua filha sempre saia acompanhada da irmã mais velha e ela não tinha namorado, portanto, estava pensando mal da filha, que certamente estava inocente. Leticia era uma boa menina, procurava ajudar sua mãe e quando estava em casa olhava o bebê; gostava dele.
As roupas da menina não serviam mais, seu abdômen era redondo e nada ficava bem naquele corpo. Ultimamente ela andava com as camisetas de seu pai e estava sempre comendo, tinha muita fome e sono também; dormia cedo e levantava faminta. Letícia trabalhava como balconista de uma padaria e todos diziam que ela se enchia de doces, por isso estava daquele tamanho.
      As colegas do serviço também cochichavam quando ela passava.
      -Letícia estava ficando feia e seu corpo cada dia mais redondo, não conseguiria arrumar namorado nunca; perdera a vaidade. Afirmavam ironicamente.
      A família de Agenor iria ao aniversário dos filhos gêmeos da irmã de Dora e, todos prontos chamavam por Letícia, que não conseguia encontrar uma roupa que servisse em seu corpanzil. Desesperada, a menina pegou uma bermuda de sua mãe e uma camiseta do pai para ir com sua família à festa. Sua roupa de passeio não entrava mais em seu corpo; forçara tanto que o zíper quebrou.
      Todos ficaram boquiabertos ao ver Letícia vestida como uma capa de botijão de gás; os irmãos menores riram dela.
     Ela retornou a casa e foi chorar no quarto. Sua mãe entrou e a convenceu a acompanha-los à festa.
 - Estar fora do peso não queria dizer que não era bonita ou sensual. As pessoas obesas são simpáticas, alegres e bonitas, nada as impede de serem felizes, enfatizou Dora.
     Na festa, os amigos e parentes cochichavam quando ela passava, então, a menina ficou o tempo todo sentada num canto. Voltaram para casa com a filha muda, não dizia nenhuma palavra; estava arrasada.
      Dora chamou a filha mais velha para saber se Letícia tinha algum namorado e a filha negou. Nunca vira nada, afirmou a moça. A mãe carregava uma desconfiança em seu coração; alguma coisa estava errada e ela temia o pior.
 Letícia jogou-se na cama e deitada sentiu alguma coisa mexer ali dentro de seu ventre. Foi a primeira vez que ela sentiu aquilo; levantou-se e ficou em frente ao espelho e, espantada concluiu que estava barriguda.
- Será que estava grávida? Só naquele momento ela sentiu que seu segredo estava por um fio. Há algum tempo deixara de ser a menina inocente, que todos imaginavam. Conhecera o amor em sua plenitude. Ninguém poderia saber, teria que falar com Clésio.
Um texto de Eva Ibrahim,

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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