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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

"O HOMEM MAIS IMPORTANTE NA VIDA DE UMA MULHER NÃO É O PRIMEIRO, MAS, SIM AQUELE QUE NÃO DEIXA EXISTIR O PRÓXIMO." CLARICE LISPECTOR --- 'MULHERES DE PAPEL." EVA IBRAHIM.

          A UNIÃO FAZ A FORÇA
                         CAPÍTULO TREZE
       O diagnóstico foi cruel, Marcos teria que ser submetido, com urgência, a uma cirurgia no crânio. Os médicos constataram que havia um sangramento e para descomprimir o cérebro teriam que intervir. Clara ficou arrasada, nunca desejou o mal para ele, nem em seus piores momentos. Selma começou a chorar.
       - O que faria sem a presença de seu companheiro?
       Tiago se aproximou para consolá-la e pegando em suas mãos disse:
       “–Há esperança de Marcos ficar bem após a cirurgia, o médico foi taxativo. Ela deveria ter paciência e ficar ao lado dele o tempo que fosse necessário.”
        Clara sentou-se ao lado de Tiago e os três ficaram aguardando a cirurgia acabar para saber notícias de Marcos. Selma esfregava as mãos e vez ou outra se levantava e ia até o balcão da recepção perguntar de seu amor. Sua aparência era de desolamento; ela estava sofrendo muito.
        A recepcionista pedia que se sentasse e procurasse se acalmar; esse tipo de cirurgia costumava demorar. Clara ficou pensativa e como um filme revia o tempo em que fora feliz com o marido. Ela amou aquele homem que a abandonou por outra mulher; aquele fato parecia sobrepujar todos os outros. Não guardava mágoas, porém, trazia na alma uma nostalgia, que a deixava triste quando pensava em Marcos.
       Tiago a abraçou e afagou seus cabelos, estava protegida em seus braços. Ela sorriu, amava aquele homem que a abraçava. Um amor diferente, mais tranquilo; o passado ficara distante. Uma ruga de preocupação surgiu em sua testa, o que ela diria aos filhos? Eles gostavam do pai e iriam sofrer ao saber do acidente, por isso ela esperaria a cirurgia acabar para levar boas notícias aos seus dois filhos. Depois de quatro horas de espera, um cirurgião apareceu para conversar com os familiares.
      - Fizeram o melhor que puderam, era hora de rezar e aguardar os próximos acontecimentos. Disse o médico em tom grave, como exigia a situação.
       Marcos estava na Unidade de Terapia Intensiva e as duas mulheres puderam vê-lo apenas por alguns minutos. Selma ficara arrasada e saiu chorando do Hospital.
      Clara estava sentida também, mas a sua maior preocupação era a reação de João e Renata. Teria que acalmá-los e quando o pai fosse para o quarto os levaria para vê-lo.
        Quando Clara chegou a sua casa os dois filhos estavam dormindo. Ela foi deitar-se lamentando a situação vivida naquele dia. Para ela ser feliz, não era necessário que Marcos adoecesse ou coisa pior. No mundo havia lugar para os dois, não poderiam ser inimigos, pois, tinham dois filhos juntos.
       Os dias corriam rapidamente e a recuperação de Marcos era lenta. O homem ficara com a função motora e a fala comprometida em consequência do trauma sofrido, por isso, ele teve que ficar no Hospital durante três meses. Todos os dias ele tinha sessões de Fisioterapia e Fonoaudiologia, para recuperar os movimentos do corpo e a falar novamente.
        A lesão fora grande e levaria tempo para a recuperação. Selma cuidava muito bem de Marcos; tornara-se sua mulher de fato e não era uma mulher de papel, pois, nunca se casara. Enquanto isso o empreendimento de Clara se expandia, agora era uma microempresa, de onde várias famílias tiravam seu sustento.
       Algumas vezes ela ia, com os filhos, visitar seu ex. Ela não guardara rancor de Marcos e procurava animá-lo. Estava muito feliz, já que faturava o suficiente para manter a sua casa. Os filhos recebiam a pensão do pai, que mesmo doente era dono de uma grande empresa. Com o final do ano se aproximando, Clara e Tiago resolveram marcar a data das bodas; queriam viver juntos.
       Certo dia, ela e Tiago foram à casa de Marcos levar o convite de casamento; o homem estava melhorando e parecia feliz com Selma, perdera a esperança de reconquistar Clara. Marcos ainda tinha períodos de ausência e não deu importância à notícia.
       Em uma tarde ensolarada, ocorreu o casamento de Tiago e Clara e a festa foi na comunidade. A noiva queria as mulheres de papel, que tanto a ajudaram, presentes em seu casamento. Todas eram guerreiras como ela e lutavam para criar seus filhos.
      Clara era uma nova mulher, precisou chegar ao fundo do poço para aprender a lutar. De simples mulher de papel, humilhada e abandonada, tornara–se uma comerciante bem sucedida e encontrara o homem de sua vida. Era uma mulher feliz e agradecia a Deus por tê-la feito ver que poderia vencer sozinha. Ela não precisava depender de homem algum para sobreviver.
       Tiago e sua esposa estavam curtindo a “lua de mel” e, deitados debaixo do guarda sol de uma linda praia, pareciam adormecidos. Entretanto, ela apenas fingia, enquanto refletia. O mundo estava cheio de mulheres que ficavam com seus maridos, apesar de saber que eles as traiam descaradamente, mas precisavam delas para manter as aparências. E, elas se submetiam por covardia, temiam perder as mordomias ou tinham medo de enfrentar a vida com trabalho. Porém, outras tantas mulheres de papel não se acovardavam e iam à luta para criarem seus filhos.
        Na maioria dos países ocidentais houve uma banalização do casamento. As mulheres tiveram que aprender a lutar e sustentar suas famílias, tornando-se mulheres de papel, isto é, aquelas casadas que vivem sem a presença do marido. Muitas foram abandonadas sem conhecer o paradeiro do cônjuge e, vão vivendo sem  saber se está vivo ou morto. Entretanto, acalentam a esperança de um dia tornar a vê-los.
        Aqui termina a história de Clara, que deixou de ser apenas uma mulher de papel, para ser uma mulher vencedora e muito amada.
Um texto de Eva Ibrahim.

Na próxima semana iniciaremos outra história.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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