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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

"NÃO HÁ NENHUMA ÁRVORE QUE O VENTO NÃO TENHA SACUDIDO". PROVÉRBIO HINDU--- AS VEZES BASTA VALER A PENA. EVA IBRAHIM.

                   ADENTRANDO À MATA.
                           CAPÍTULO 12
         Deixou a casa com alguns móveis para Flora e se mandou com o boneco, o Lobo e algumas coisas de uso pessoal. Na carta que deixou sobre a mesa  da cozinha, dizia que o aluguel estava pago por três meses e ela estava livre e ele também. Gostava dela e do menino, mas preferia ficar sozinho.
          A mulher não entendeu nada, mas teve que aceitar, ele não deixara endereço com ninguém; não queria ser encontrado.
         A sua vida começava naquele dia, seu passado estava enterrado, respirou profundamente e adentrou à nova casa com a mala e uma mochila nas mãos. O cachorro, a cama, o fogão e alguns utensílios domésticos ele trouxera no dia anterior com um caminhão de aluguel. Colocou a mala sobre a cama e tirou o Bernardo dali, dizendo que nunca mais ele teria que ficar preso na mala, pois, aquela era sua casa.
          No dia seguinte, tratou de sair para comprar comida e conhecer a vizinhança. O dia foi cheio de compras: móveis usados, televisão, geladeira, sofá, mesa, cadeiras e uma rede para colocar na área dos fundos. O homem estava contente e sorriu abraçado ao Bernardo, antes de se deitar para dormir.
         Durante uma semana, Antonio teve muito trabalho para organizar sua casa e finalmente estava tudo como ele desejava. Á noite ele e o Bernardo cismavam deitados na rede, o que fazia o homem pensar em sua vida. Pensou em Verônica, no acidente e depois franziu a testa lembrando-se da pedra amarela. Agarrou-se ao Bernardo e olhou para o céu agradecendo a Deus pela felicidade que estava sentindo. Agora, ele vivia pertinho do céu e podia ver muitas estrelas brilhando; a paz daquele lugar o deixava extasiado.
        Decorridos trinta dias que ele chegara à nova moradia, resolveu adentrar a mata que ficava nos fundos de sua casa; queria conhecer o local. O dono do armazém lhe dissera que por aquelas bandas havia uma bica de águas, que descia da montanha visualizada no horizonte. Pouca gente sabia da existência daquela água pura, pois o acesso era difícil e perigoso. E, no rio que cortava a mata havia muitas cobras venenosas.
         Porém, a curiosidade de Antonio foi maior que o falatório das pessoas da região, ele queria saber o que havia no fundo do seu quintal e se preparou para aquela aventura; tinha tudo planejado. Ainda estava escuro quando o homem com uma mochila nas costas e um facão nas mãos, foi em direção à mata.
        Antonio vestia roupas grossas e botas de cano alto para se proteger das cobras e dos galhos das árvores; estava precavido. Lentamente abria caminho com o facão e com muita persistência batia firme nos troncos das árvores; o mato era alto, cerrado e cheio de insetos e aracnídeos. A formação de árvores era densa e úmida, parte do que sobrou da Mata Atlântica, a antiga floresta do litoral brasileiro. Raramente algum caçador se aventurava a ir para aqueles lados, havia histórias de onças e cobras venenosas naquele local. O dono do armazém garantiu que ali, no meio da mata, havia uma nascente de águas.
      A temperatura passava dos trinta graus e não havia o que matasse a sede; Antonio bebia avidamente cada gole da água que levara. Muitas vezes pensou em voltar, mas algo o fazia seguir em frente. Seguia lentamente, pois cada metro percorrido era conseguido com muita força nos braços, que chegava a latejar.
         Antonio parou para descansar e viu um tronco de árvore que parecia um banco e sentou-se para comer um lanche que trouxera na mochila, já passava das onze horas da manhã.
         O Sol abrasador castigava a região, havia um alerta geral, só faltava surgir algum incêndio; o homem sentiu medo. O lugar era cheio de sons estranhos; “Os sons da mata” Ele já ouvira falar sobre isso, mas se sentia inseguro; era tudo muito grande e sombrio; seus ouvidos estavam aguçados. Era um piar aqui, outro acolá, um farfalhar de galhos, bandos de pássaros voando e outros sons não identificados. Nunca fora covarde e agora estava testando sua coragem, pensou apreensivo.
         Por entre as árvores, o Sol brilhava forte e ele tinha percorrido apenas dois quilômetros, o esforço fora grande. Os cipós, as árvores de pequeno porte e outras vegetações formavam uma cortina, impedindo a passagem do homem. Aos poucos ia vencendo a mata virgem. Quando o Sol já estava alto, chegou á uma pequena clareira de onde viu uma montanha com formação rochosa.
         Ao pé da montanha havia um vale com muitas árvores, era um bom sinal, a mina de água poderia estar ali. Seguiu em frente e lá em baixo encontrou um veio de água; a mina estava perto, tinha que procurar. Rodeou a rocha seguindo o rastro da água e encontrou a nascente dentro de uma gruta. Com uma folha de seringueira improvisou uma concha para pegar água e beber até saciar a sede; estava contente, achara um “Oásis”.
         O lugar era fresco e a mata verde; encontrou alguns bichos, aves e insetos. Havia muita vida no meio da mata em função da água que ali corria. Era pequena a quantidade de água que escorria da montanha por causa da seca, mas estava ali e era o que importava. Teria que voltar, já passava das três horas da tarde, temia que escurecesse e ele tivesse que pernoitar na mata; sentiu um arrepio que percorreu seu corpo.
Antonio estava muito cansado, não estava acostumado com serviço tão pesado; seus braços pareciam pesar toneladas. Ele seguia o caminho inverso, mas, assim mesmo, tinha que usar o facão e quando pegou em um galho para cortá-lo sentiu uma dor intensa na mão esquerda. Ele agarrara uma cobra, que estava enrolada no galho. Instintivamente jogou a cobra para bem longe. E, com a mão doendo muito, apertou até sangrar, para o veneno sair. Desesperado e sem saber se aquela cobra era venenosa ou não, Antonio seguiu em frente com a certeza que aquele fato estava relacionado com a maldição da pedra amarela.
        Um texto de Eva Ibrahim.

        Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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