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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ESTAÇÃO SOLIDÃO- UMA NOVA VIDA - "TER ALGUÉM QUE TE ESPERA TODOS OS DIAS, CHEIO DE AMOR E CARINHO, É IMPAGÁVEL" EVA IBRAHIM.-


                           UMA NOVA VIDA
                                  CAPÍTULO 9
         Antonio morava na cidade do Rio de Janeiro e pouco frequentava a praia, Verônica não gostava de Sol, dizia que ficava parecendo um peru de Natal tostado, por isso faziam outros passeios em direção oposta. O casal gostava de passear em Petrópolis, Teresópolis e Friburgo; apreciavam o ar das montanhas.
         Logo depois das festas o homem saiu á procura da cadeira e do carrinho de bebê que comprou e levou para um conhecido adaptar, dizendo que era para doar á uma pessoa paraplégica. Iria procurar uma Imobiliária para mudar de bairro, queria um lugar próximo, mas onde ninguém o conhecesse. Mudaria de vida, deixando o passado para trás, solidão nunca mais.
A mudança foi realizada em um domingo após a passagem de ano. Os três mudaram para uma casa bonita, com um jardim na frente e um pequeno quintal, pois o Lobo precisava de espaço para vigiar a casa. Aquele seria o lar da pequena família a partir daquele dia.
        O homem passou o dia arrumando a casa e quando abriu a mala e tirou o Bernardo ficou satisfeito; era um plano perfeito. Colocou o boneco deitado na cadeira com o boné cobrindo parte do rosto e com o toldo abaixado; parecia uma pessoa adormecida. Ele estava ótimo, agora poderiam sair para passear. O Sol já se punha no horizonte e o Mar parecia um grande espelho brilhante. Ao longe estava estacionado um grande navio com suas luzes acesas. Antonio olhava o céu e pedia a Deus que transformasse o Bernardo em um ser humano; neste momento uma estrela cadente cortou o céu, parecia ter ouvido seu desejo.
        Chegando à sua casa foi procurar um velho livro do Pinóquio, ele tornara-se humano por causa do grande amor que Gepeto dedicara a ele. Aquele livro tinha tudo que Antonio desejava para si. Ele sabia que era ficção, mas gostava de imaginar que poderia acontecer com ele e Bernardo também.
         Ele amava Bernardo como se ama a um filho. O carinho de pai que havia adormecido em seu peito agora viera á tona com muita força. Quando entrava em casa a primeira coisa que fazia era pegar seu filho nos braços e acariciá-lo, enchendo-o de beijos, depois ia á cozinha preparar o jantar. Aprendera a cozinhar para ficar mais tempo em sua casa.
        Depois de dois anos da morte de Verônica o homem não sabia definir se Bernardo era um amigo ou um filho muito amado. A verdade é que estivera afastado de tudo e de todos para proteger o boneco, mas depois de tanto tempo já estava sentindo falta de um carinho feminino. Sentia saudades de sua esposa, ainda a amava.
         No escritório havia uma funcionária nova que vivia flertando com ele e acendia um velho fogo adormecido. Antonio pensava em sair com a moça sem compromisso, mas, temia ser mal interpretado. Flora era uma balzaquiana bonita, que vinha de um relacionamento complicado. As fofoqueiras de plantão, diziam que tinha um filho de cinco anos que morava com a avó no interior.
         Aos poucos a moça foi se aproximando e ganhando espaço no coração de Antonio, que concordou em acompanhá-la á um baile de veteranos. Os dois dançaram a noite toda, Flora era um “pé de valsa”. Foi uma noite festiva e aconchegante, Antonio sentiu o corpo da mulher juntinho ao seu; ficou excitado, mas era um cavalheiro e teria paciência. Voltou para casa cantarolando e abraçou o Bernardo dizendo que precisava voltar a viver.
 Comprou um automóvel novo, há muito estava guardando dinheiro para realizar seu sonho. Agora poderia passear com Bernardo e com a Flora também.
        Na segunda feira ele a encontrou no escritório e ganhou um sorriso de cumplicidade; aquele flerte prometia! A solidão chegou à vida de Antonio de surpresa e o afastou das possibilidades de refazer sua vida emocional por tristeza, inibição e finalmente por ter criado uma fuga e um mundo onde só ele e Bernardo podiam estar. Foi o modo que ele encontrou para fugir da depressão e agora sentia que ainda estava vivo e muito ansioso para amar novamente.
         O homem resistia porque temia que o relacionamento acabasse por levar a mulher á sua casa e ele perderia a privacidade. Dentro de casa ele era um e o outro da rua era o Antonio do escritório e ex-marido de Verônica. O viúvo queria Flora, pois estava sedento de carinho e marcara sair com ela no sábado. O encontro seria no salão de baile e depois, Antonio tremia só em pensar, parecia um adolescente com sua primeira namorada.
         Olhava para o boneco e sentia remorso, pensava que o estava traindo; era uma sensação estranha que o incomodava muito. Bernardo fora o responsável pelo seu equilíbrio e sua sobrevivência emocional, mas, ele era um homem e estava sedento por sexo. Depois de dois anos Antonio pensava em ter uma mulher em seus braços novamente e Flora estava próxima e disponível. Para diminuir sua culpa ele saia no domingo de manhã com o Bernardo para conhecer as cidades montanhosas ao redor do Rio de Janeiro. Passeavam em Friburgo, Petrópolis e Teresópolis; dizia a Bernardo que um dia iriam morar lá nas montanhas, era só se aposentar.
         Entrou no Salão e não viu a moça, procurou com o olhar e depois se sentou na banqueta do bar e ficou bebericando com o copo de vodka na mão. Não tirava os olhos da porta de entrada, ele estava ansioso e seu coração disparado.
         – O que teria acontecido-?
           Antonio ficou preocupado. Flora gostava de dançar e havia confirmado a presença no Baile. Passava da meia noite quando seu celular tocou. Era a moça chorando e pedindo sua presença no Hospital, sua mãe havia sofrido um infarto agudo do miocárdio.
         Ele deu um pulo lembrando-se de tudo que aconteceu com Verônica e com uma ruga na testa, lembrou-se da pedra amarela.
        - Será que a maldição iria começar novamente? Bastava alguém aproximar-se dele e os problemas começavam a aparecer?
          Trancou a cara e foi rapidamente dar apoio á Flora. A velha senhora ainda estava viva, mas o médico dissera que o caso era muito grave e ela corria risco de vida. Com ela estava Vinícius, o filho de Flora, um garoto de cinco anos, que sua mãe cuidava. Antonio convidou a criança para sair um pouco, tomar um ar; aquele ambiente não era bom para ele. O homem sentiu a tristeza no olhar do menino, ele amava a avó e temia que Deus a chamasse para morar com ele; Vinicius falou entre soluços e muitas lágrimas.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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