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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"A PEDRA AMARELA", QUARTO CAPÍTULO DE "ESTAÇÃO SOLIDÃO. DEVEMOS DEIXAR O QUE NÃO PODEMOS CONTROLAR IR EMBORA PARA SEMPRE, POIS, A VIDA É O QUE SENTIMOS....EVA IBRAHIM.

                                    A PEDRA AMARELA.

                                          CAPÍTULO 4

          A represa exercia um grande fascínio sobre Antonio, um jovem sonhador. Quase todos os dias pegava sua sacola com a toalha, sabonete e ia caminhar ao longo da extensão da represa, seguia pela margem direita, que dava para o paredão de pedras. Algumas vezes ele atravessava aquelas águas nadando e quando chegava do outro lado, deitava-se na relva para descansar. Depois de ter as forças recuperadas ele retornava à margem direita. Saia da água ensaboava o corpo e a cabeça, em seguida mergulhava fundo nas águas turvas da represa. Então, nadava com longas braçadas para tirar o sabão do corpo; saia da água, enxugava-se e voltava para casa indo almoçar satisfeito. Chegava sorridente com a toalha jogada sobre o ombro e a sacola amarrada na ponta; era a rotina do rapaz. Antonio trabalhava no turno da tarde e podia desfrutar dos passeios matinais.

A represa pertencia á Usina de Açúcar, no interior do Estado de São Paulo. Aos domingos muita gente ia se refrescar em suas águas. Houve inúmeros pedidos para que limpassem o terreno transformando o local em uma praia artificial; o lugar era muito bonito. Um grande espaço aberto e muitas árvores para fazer sombra; só faltava a areia. A Usina de açúcar atendeu aos pedidos e muitos caminhões de areia foram distribuídos no local. O lugar tornou-se uma praia, que abrigava um formigueiro de gente, todos querendo desfrutar da novidade. Aos domingos, famílias inteiras acampavam sob as árvores; levavam rádio para tocar músicas, cantavam, dançavam, comiam, bebiam e passavam o dia se divertindo. Havia lanchas, barcos e caiaques que aproveitavam para desfilar, embelezando o local e alegrando as pessoas. Sombrinhas coloridas e cadeiras de praia enfeitavam o lugar cheio de moças bonitas.

          Antonio não gostava de ir á praia aos domingos. Preferia ir ás segundas feiras, pois, encontrava coisas deixadas ou perdidas pelos frequentadores do local. Ele tinha uma caixa secreta, onde guardava os achados. Ás vezes mostrava à sua mãe, que ria muito; uma mulher alegre e brincalhona. Um dia, Lola, a mãe de Antonio, pediu ao filho que lhe desse uma pedra amarela que fora achada na praia; era do tamanho de um limão galego e muito bonita.
 -A pedra tinha um brilho especial, disse a mulher sorrindo com a pedra na mão.
Em seguida a guardou em sua caixinha de música, dizia que era para enfeitar.
Na caixa de Antonio, havia de tudo: calcinhas de mulher, chapéus, bonés, correntes, brincos, anéis e algumas pedras coloridas.

          Durante anos ele juntou aquelas bugigangas e não deixava ninguém mexer na caixa, dizia ser seu tesouro e escondia dos irmãos menores; três meninos e uma menina. Para a tristeza de Antonio, sua mãe, que era viúva, faleceu repentinamente. A irmã, que estava com dezoito anos, assumiu as rédeas da casa. Depois da missa de sétimo dia, Nalva chamou os irmãos para mexer nos guardados da mãe. Antonio pediu para ficar com a pedra amarela que fora ele mesmo quem dera a sua mãe, os irmãos concordaram. Era somente a pedra que Antonio queria, o restante poderia ficar com os irmãos; ele era o mais velho e já trabalhava para se sustentar, ficaria ali até se casar. Depois deixaria a casa e a pensão do pai para os irmãos.

          Nalva era curiosa e gostava de ler sobre assuntos esotéricos; ela havia comprado uma revista onde tinha uma reportagem de como limpar e energizar pedras e cristais. A revista estava sobre a mesa e Antonio achou interessante, iria seguir ás instruções. Colocou a pedra em um copo com água e sal deixando ao luar, que por coincidência era noite de lua cheia, como pedia á revista.

          Foi dormir e não pensou em mais nada. No dia seguinte ele pegaria a pedra de volta, limpa e energizada. O rapaz dormiu um sono pesado, pois estava cansado. Acordou assustado com um grande estouro, acendeu á luz e olhou o relógio, marcava uma hora da manhã. Levantou-se temeroso, o estrondo parecia uma bomba. Acendeu todas as luzes da casa e esperou um pouco; estava tudo quieto. Sentou-se no sofá e sentiu um arrepio, que percorreu seu corpo inteiro. Ficara muito assustado, apagou ás luzes e voltou para á cama, poderia ter sonhado e iria dormir novamente. Demorou a pegar no sono, seu coração parecia pular dentro do peito.

          Antonio levantou-se cedo e tomou o café que sua irmã fizera, depois foi ver a pedra antes de sair para o trabalho. O rapaz teve o maior susto de sua vida ao ver o copo quebrado. Seu corpo tremeu e seus cabelos ficaram eriçados; Antonio sentiu um forte calafrio.
         Os cacos estavam por toda parte e a pedra havia sumido. Ele estava muito nervoso e chamou Nalva para ajuda-lo a procurar a pedra. Vasculharam o quintal inteiro e nada da pedra. Desolados, os dois irmãos recolheram os cacos de vidro do copo quebrado, embrulhando-os em um jornal para jogar na lixeira. Mudos diante da situação se olhavam atônitos, ali havia um mistério; ficaram com medo.
         -O que seria aquilo? Disse Antonio com olhos arregalados. O desconhecido desestabiliza qualquer pessoa.
         - Que relação teria a pedra com o estouro? O que teria sido libertado? Seria do bem ou do mal?
          Nalva nada dizia, apenas ouvia o irmão lamuriar.
O homem balançou a cabeça e saiu para o trabalho com aquele mistério enchendo seus pensamentos.

           A pedra nunca foi encontrada, desapareceu como por encanto ou foi desintegrada pelo estouro. Antonio temia só em pensar que ele poderia ter liberado alguma coisa que estava escondida na pedra. Nunca saberá; passou um longo tempo assustado, não sabia o que realmente acontecera.
        - O que estaria preso naquela pedra? Que força estranha havia para provocar tamanho estouro? Aquele fato não saia da cabeça do homem.
Quando se lembrava do ocorrido ficava com o corpo todo arrepiado. O homem tinha pesadelos com a pedra e procurou investigar em livros e sites onde havia reportagens sobre pedras e cristais. Antonio vivia um pesadelo, tornara-se um homem medroso.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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