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sexta-feira, 5 de julho de 2013

"A SOLIDÃO É O MODO QUE O DESTINO ENCONTRA PARA LEVAR O HOMEM A SI MESMO". HERMAN HESSE--- O MEDO É O MAIOR LADRÃO DE SONHOS. EVA IBRAHIM.

                                              A VIAGEM
O avião taxiava na pista antes de levantar voo e a moça que estava sentada ao lado da janela sorria de felicidade. Sibele estava realizando um sonho muito esperado, viajar para o estrangeiro. Enquanto o comandante desejava boa viagem aos passageiros, Sibele, com olhar de encantamento, via as casas e a terra ficar lá embaixo; estava no ar como sempre desejou. O avião era enorme e estava cheio de pessoas bem vestidas, a moça olhou para seu casaco novo e sentiu que estava de acordo com os passageiros; ninguém perceberia que era uma pobre moça. Um casal de idosos estava sentado ao lado de Sibele conversando em uma língua estranha, olharam e sorriram; a moça sorriu também.

O aeroplano adentrou as nuvens e ela viu um grande piso de algodão brilhando com os raios solares. Era uma aventura e tanto e lembrou-se de sua mãe, que sempre a censurava, dizendo que ela imaginava coisas demais; devia se conformar com a vida que tinha.
- Tira essas bobagens da cabeça menina, somos pobres e avião é coisa de gente rica. Dizia a mãe para a filha sonhadora.
Sibele sorriu, queria que sua mãe estivesse viva para saber que ela estava em um grande avião, viajando para o Canadá. Estava tão perto do céu que talvez sua mãe a estivesse vendo, esse pensamento a acalentou e ela passou a recordar o passado.

Era mineira de uma pequena cidade em meio às montanhas; lá o Sol se punha mais cedo por detrás da montanha mais alta da região. Era um esplendor assistir ao por do Sol, pois, a sombra crescia diante dos olhos de seus espectadores. Uma vila de casas simples e muitas crianças descalças, que corriam pelos campos e viviam com os pés machucados.

Quando sua mãe faleceu Sibele era jovem e dois anos após o passamento da mãe foi o pai que partiu, deixando a moça encarregada dos irmãos menores. Sibele tinha cinco irmãos e somente depois que eles tomaram rumo na vida, ela saiu para trabalhar longe de sua terra. Tornara-se uma solteirona, pois, não tivera tempo para namorar; era uma balzaquiana, pobre, simples e desajeitada.

Com a cara e a coragem mudou-se para Campinas, São Paulo, para trabalhar como empregada doméstica. Tinha pessoas conhecidas naquela cidade e por indicação de uma conterrânea conseguiu uma casa onde dormia no emprego. Ficou naquele serviço durante três anos indo depois trabalhar como auxiliar de limpeza em um Hospital. Ali conheceu pessoas que a incentivaram a estudar e ela passou a fazer parte do quadro de enfermagem daquela instituição de saúde. Assim, a moça conseguiu melhorar sua condição financeira. Depois de um tempo, ela comprou uma pequena casa popular e começou a fazer muitas horas extras no Hospital.

Com tanto empenho e economia foi melhorando de vida; muitas vezes ajudava um irmão ou outro, mas sobrava muito no final do mês. Era uma pessoa simples, econômica e caseira; permaneceu solteira, não tinha tempo para namorar. No último mês de maio ela completou quarenta e cinco anos, era livre e tinha um sonho, conhecer os Estados Unidos da América. Com o montante de dinheiro guardado ela iria realizar seu sonho, só precisava do visto do consulado americano. Sibele juntara todos os seus documentos e fora ao consulado americano.

Porém, os americanos não davam vistos para pessoas solteiras e sem vínculos efetivos no Brasil. Com desculpas evasivas negaram o visto à Sibele. A moça não desistiu de conseguir o visto para a viagem; voltou ao consulado americano outras cinco vezes e nada conseguiu. Não obteve o visto para viajar ao Tio San, os americanos não a queriam lá. Chorosa, a moça reclamava aos colegas de trabalho, pois, tinha dinheiro suficiente para a viagem e queria conhecer o estrangeiro.

Pedro, um de seus amigos, lhe perguntou por que ela não ia para o Canadá, o país ficava vizinho dos americanos e não era tão exigente. A moça concordou e foi ao consulado do país indicado conseguindo o visto imediatamente. E, Sibele estava a caminho de Toronto, Canadá. Embalada pelo motor do avião ela adormeceu e quando acordou algumas horas haviam decorrido. Estava escuro e o casal ao lado também adormecera. A moça tentou se localizar, porém, nada indicava onde estavam e fechou os olhos adormecendo em seguida.

Sibele acordou quando o comandante do avião anunciou a chegada ao aeroporto de Toronto. A moça desceu do avião e seguiu os passageiros até o saguão do aeroporto principal da região metropolitana de Toronto. Fica localizado na cidade de Mississauga a trinta e dois km do centro da cidade de Toronto; é moderno, grande e luxuoso o “Aeroporto Internacional Pearson”.

Caminhando e olhando tudo a sua volta ela não se cansava de admirar a beleza e organização do local. Depois de algum tempo, Sibele sentou-se em frente a uma lanchonete, estava com fome e sede.  Olhava o outdoor e os cartazes indicando o deslocamento das pessoas, porém, não entendia nada. Os cartazes estavam em inglês e francês e Sibele não conseguia ler. Com uma nota de dez dólares na mão ela se aproximou de um balcão e apontou para um lanche exposto na vitrine; assim a moça conseguiu comer.

Andando dentro do aeroporto a moça sentia-se pequena e sozinha. Teria que sair dali e procurar o Hotel em Toronto, que a companhia de turismo reservara com a passagem aérea. Sibele precisava deixar o aeroporto, mas sentia medo; era tudo muito grande e estranho.
Parou diante de um guarda e procurou, fazendo gestos, se fazer entender. O guarda pegou o documento da reserva e abriu um mapa para mostrar à moça como chegar lá. Mostrando que estavam a trinta e dois km da cidade de Toronto.

Sibele ficou assustada, teria que pegar um ônibus ou um taxi; agradeceu e saiu caminhando. Sentou-se novamente e então “caiu a fixa” ela estava em apuros; não sabia como agir. Sentiu saudades do Brasil, do Sol, do calor humano. O dia foi se arrastando até escurecer e ela ainda estava no aeroporto. O frio era intenso, havia previsão de nevasca durante a noite.

Seguindo um impulso foi até o guichê da companhia aérea que a levou até lá e comprou uma passagem de volta para São Paulo. A moça teria que esperar até às oito horas da manhã para embarcar, se o tempo permitisse; sentou-se em um canto e procurou dormir; estava muito frio.
No dia seguinte ela entrou no avião de volta para casa, estava feliz, seu lugar não era no estrangeiro, mas entre seus familiares e amigos. Não avisaria ninguém, queria surpreende-los.

Quando desceu em Guarulhos, sorriu, estava em casa e lembrou-se de sua mãe. Ela tinha razão, ela era filha da terra brasileira e aqui viveria até morrer.
Quando seus amigos souberam que ela não havia saído do aeroporto fizeram piadas e tiraram "sarro" dela; a gozação durou dias. A moça não se deixou abater e levava na esportiva; dizendo que, afinal, viajara para o estrangeiro e isso ninguém podia negar.

Um texto de Eva Ibrahim.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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