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sábado, 15 de junho de 2013

"HÁ MUROS QUE SÓ A PACIÊNCIA DERRUBA...E PONTES QUE SÓ O CARINHO CONSTRÓI" CORA CORALINA---NÃO SE EXPONHA, A VIDA É PRECIOSA! EVA IBRAHIM

                                                   A “ZOIUDA”.
O Sol se punha no horizonte, a escuridão aos poucos se instalava no local e mais uma vez uma coruja grande pousava no galho da mangueira ao lado do quarto do casal. Era o terceiro dia seguido que a ave pousava ali e Artur, o marido, pegou a máquina digital e bateu duas fotos da criatura; assustada ela voou. Ele mostrava as fotos e dizia que a ave era zoiuda, feia e velha. Luiza disse temer a presença da coruja, pois sempre ouviu dizer que eram aves de péssimo agouro para os moradores da casa. Artur deu de ombros e sorrindo entrou para mostrar as fotos para as crianças.
O casal morava na chácara dos pais de Artur, ao lado da casa grande. Era uma vida tranquila, os dois trabalhavam e a sogra sempre dava uma mão com as crianças, dois meninos. O maior tinha 12 e o menor 02 anos, eram crianças fortes e saudáveis. Eles gostavam de brincar no grande espaço que havia no quintal. Uma chácara cheia de aves, cães, gatos e muitas frutas. Artur era um marido atencioso e bom pai, mas, um tanto nervoso e birrento, dizia Luiza censurando o modo de ser do marido.
Por diversas vezes voltaram de passeios, que deveriam fazê-los felizes, de cara amarrada um com o outro. Artur discutia e dizia palavrões no trânsito por qualquer motivo e sua esposa sentia medo. Ele incorporava o machão, aquele que não levava desaforos para casa, pondo em risco a integridade física dele e de sua família. Depois de alguns confrontos, Luiza se recusava a entrar no automóvel com seu marido, principalmente, levando os filhos; as brigas eram constantes.
Era primavera e o horário de verão deixava as tardes mais longas, demorava a escurecer e as crianças dormiam mais tarde. Luiza ao fechar a janela de seu quarto viu a “Zoiuda” sentada no galho da mangueira, sentiu um calafrio e saiu do local com um pressentimento ruim. Ela trabalhava em uma farmácia e levava o filho menor para a creche, o maior ia para a escola e Artur saia de moto para o trabalho em uma concessionaria de automóveis na cidade vizinha. O homem seguia por uma estrada movimentada, com trânsito pesado e palco de muitos acidentes, para chegar ao trabalho.
Passado alguns dias, a mulher com a criança entrou no ônibus e o filho maior saiu, andando a pé, a caminho da escola. Artur estava atrasado e saiu apressado, teria que acessar a rodovia estadual. Era o horário de pico, todos saiam ao mesmo tempo para o trabalho. Parecia que os motoristas estavam com muita pressa e nenhuma paciência; ouvia buzinas o tempo todo, lembrou-se Artur mais tarde.
O homem seguia concentrado na pista, quando de repente uma perua Kombi encostou-se à motocicleta fechando a sua frente e jogando-o para o acostamento; Artur só não caiu porque não estava correndo. O homem enfurecido foi atrás da Perua ofendendo e fazendo gestos obscenos ao motorista. Depois de descarregar sua raiva, Artur percebeu que havia três homens na condução e não tinham cara de bons amigos, era melhor sair dali ou poderia correr risco; ele sentiu medo.
O trânsito era intenso e logo chegaria ao pedágio, era melhor acelerar. Artur pensou que a situação estava resolvida e respirou fundo; precisava se controlar e pensou em sua família. Passou o pedágio, olhou pelo retrovisor e viu a perua Kombi crescendo atrás de si. Não teve tempo de correr e foi abalroado pelo veículo. Quando ele caiu da moto a Perua Kombi passou sobre o abdômen do rapaz. Havia ódio nos olhos do motorista da perua; seu propósito era matar Artur. Foi um ato covarde e intencional, disseram as testemunhas aos policiais.
 A sensação era de morte iminente, pois o rapaz estava deitado na pista de rolamentos com uma dor lancinante na barriga. A perua saiu disparada em direção à capital e um enorme caminhão brecou quase atingindo a cabeça do rapaz. O motorista do caminhão desceu assustado e quando viu o jovem caído na pista se ajoelhou no chão agradecendo á Nossa Senhora Aparecida por ter permitido que o caminhão parasse. A possibilidade de parar de repente era quase nula para o tamanho do veículo. O caminhoneiro ficou ali agradecendo e repetindo que presenciara um milagre.
 Uma moça com vestimenta da concessionária do pedágio sinalizava o local acenando uma bandeira amarela, desviando o trânsito para permitir que o socorro chegasse até ele. Artur sentia dores lancinantes em sua barriga e ela crescia muito; ele tinha a sensação que iria estourar, disse depois para sua esposa. Quando sentiu um gosto amargo na boca e o vômito chegou com um líquido amarelo ele pensou que iria morrer.
Logo a seguir apareceu o socorro da concessionária da rodovia que o transferiu à emergência do Hospital.  Com o abdômen distendido foi levado para uma cirurgia de emergência, pois havia muito sangue na cavidade abdominal.
Artur, depois da cirurgia, foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva, correndo sério risco de vida, pois tivera duas paradas cardíacas durante os procedimentos médicos. Luiza chegou ao Hospital e somente ali ficou sabendo o que realmente havia acontecido. Quase se transformou em uma viúva; tremeu de medo, tinha dois filhos para criar. A mulher ficou horas aguardando o marido voltar da anestesia. Sua vida toda passou como um filme em sua cabeça, seu medo se tornara realidade. Desejava do fundo do coração que ele nunca mais se envolvesse em brigas de trânsito.
Luiza foi para casa dar assistência às crianças e retornou ao Hospital pela manhã encontrando o marido choroso e cheio de dores. O médico disse que Artur era um homem de muita sorte, pois por cerca de centímetros não ficaria paraplégico. Estava em um momento difícil, mas ficaria bem; era jovem e tinha saúde.
A mulher sentada ao seu lado comentou a aparição da coruja na árvore ao lado do quarto do casal. Estava explicada a estranha aparição, ela queria avisá-los de que haveria uma desgraça na família. O homem, incrédulo, disse que aquilo tudo era apenas coincidência, a “Zoiuda” nada tinha a ver com o acidente. Esse poder atribuído à coruja era crendice popular ultrapassada.
Quando Artur melhorou disse à Luiza que tivera uma estranha experiência na sala de cirurgia. Por duas vezes ele viu pessoas fazendo massagens em seu tórax, ele estava fora do corpo. Assustado, ele queria sair dali, mas, alguém o empurrava de volta para o corpo inerte na mesa de cirurgia.
O homem contou que não sentia dores, apenas queria sair daquele local, mas alguém o mandava de volta empurrando-o para o corpo cheio de sangue; depois não se lembrava de mais nada. Não era hora de morrer, foi à conclusão que o casal chegou.
 A “Zoiuda” sumiu, mais uma vez ela fez seu papel de ave de mau agouro, pensava a mulher temerosa. Em seguida, erguendo os olhos para o céu, fez uma oração em agradecimento pela vida de seu marido. Um texto de Eva Ibrahim.                                            
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