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sábado, 2 de março de 2013

"É MUITO FÁCIL SER PEDRA, O DIFÍCIL É SER VIDRAÇA".--- PROVÉRBIO CHINÊS.---DURMA COM IDÉIAS E ACORDE COM ATITUDES. EVA IBRAHIM.


                           HOMEM DE ALUGUEL.
          Era verão e o calor abafado deixava as pessoas mais lentas e nervosas; quase todas as tardes caia uma chuva torrencial, que alagava as principais ruas da cidade. Durante aquela semana a chuva comparecera todos os dias. As paredes já mostravam sinais verdes de bolor; a umidade estava por toda parte.
         Sara acordou cedo, estava preocupada, não sabia o que fazer para acabar com um vazamento de água que a estava atormentando há dias. A água vertia da parede e escorria pelo chão, era um vazamento no registro do lado de fora da cozinha. Olhou e entrou desolada, que falta fazia um homem prendado, isto é, aquele que quebra todos os galhos de uma residência; conserta chuveiro, ferro de passar roupas, troca lâmpadas, faz pequenos consertos em fechaduras, pinta paredes e limpa o quintal, sem chiar. Animal em extinção nos dias de hoje.
        Ela se apoiou na pia da cozinha e fitando o dedão do pé sentiu pena de si mesma; não tivera sorte. Seu marido nunca foi chegado em fazer consertos, não gostava de sujar as unhas, se julgava chique para tais afazeres. Agora que estava separada tinha que resolver tudo sozinha; a filha casada morava com ela, mas o marido, um rapaz jovem e sem nenhuma habilidade, era carta fora do baralho; podia piorar ainda mais a situação do vazamento.
        Não conhecia ninguém que consertasse encanamentos obsoletos, tinha que pensar...
Uma frase não saia de sua cabeça: “você não é quadrada, se vira”, dizia sua mãe, quando Sara era criança. Agora ia se virar como soubesse ou pudesse. 
Decidida, pegou uma lista telefônica e sentou-se no sofá, tinha que achar uma solução urgente.
         Folheando a lista deparou com uma loja de materiais de construção e pensou que era ali que estava á solução, discou o número e aguardou para ser atendida. Uma voz feminina do outro lado perguntou o que ela desejava e Sara disse:
         - Preciso de um homem de aluguel. A moça horrorizada disse um palavrão e desligou. A mulher ficou atônita. Onde foi que errou? Sara estava assustada, mas não iria desistir, teria que tentar novamente, talvez a moça da loja tenha interpretado errado o que ela disse. Não queria um homem para programas escusos, mas para consertos de encanamentos.
         Procurou outra loja de materiais de construção e ligou, agora seria  mais explicita, precisava dar certo.
Foi um rapaz que a atendeu e ela explicou o problema dizendo que precisava de um encanador; O homem se mostrou compreensivo e lhe deu um número de telefone para ela ligar e tentar contratar o serviço.
Finalmente o encanador fêz o trabalho e por um serviço de duas horas levou uma grana preta, mas acabou com o vazamento.
         -Que alívio! Estava satisfeita, resolvera o problema.
        Depois de alguns dias ao acender a luz da cozinha percebeu que estava queimada, era uma luz de mercúrio;
       - E agora? - O que fazer?
Sara precisava de outro homem de aluguel, um eletricista, mas já era tarde; deixaria para o dia seguinte.
        Foi dormir com aquele pensamento, ligaria para uma loja de ferragens, daria certo novamente.
A tensão era grande e ela sonhou que em frente á sua casa havia um enorme cartaz com letras pintadas em vermelho:

       ”PRECISA-SE DE UM HOMEM DE ALUGUEL”.

        No portão, vestidos com uma sunga preta, estavam cinco homens musculosos se oferecendo para o serviço; a mulher corou e entrou rapidamente, fechando a porta.
        - O que a vizinhança pensaria dela? Que horror! Era honesta e não gostava de desfrutes, porque aquela situação estava acontecendo? Será que a moça da loja havia mandado aqueles homens ali?
Sara começou a suar em bicas, se via nua em frente á filha, o genro e os netos; queria morrer. Não suportaria tamanha afronta.
De repente uma campainha soou e ela acordou, era o despertador; Surpresa e aliviada ela percebeu que estava sonhando. Levantou-se rapidamente e respirou profundamente, não fora exposta a maledicência pública.
        Sara jurou para si mesma, que nunca mais diria que precisava de um “Homem de aluguel” e sim de um eletricista, encanador, pedreiro e outros. A mulher havia compreendido o poder da palavra. 
        Um texto de Eva Ibrahim

domingo, 24 de fevereiro de 2013

MARINA VESTIDA DE NOIVA NA FESTA JUNINA DA ESCOLA.--- "DESEJO A VOCÊS: (...) NAMORO NO PORTÃO. DOMINGO SEM CHUVA. SEGUNDA SEM MAU HUMOR. SÁBADO COM SEU AMOR (...)" CARLOS DRUMOND DE ANDRADE.


                                                           É PRA CASAR.
         Estava sentada na rodoviária aguardando o embarque para minha viagem anual de férias, quando duas jovens se aproximaram e na despedida se beijaram no rosto; um de cada lado. Porém, a mais velha puxou a amiga dizendo que faltava um.
       - Tem que ser três beijinhos, é pra casar.
         A moça partiu e eu fiquei pensando que no século vinte e um ainda há pessoas preocupadas em seguir rituais que as levem ao altar. O matrimonio, instituição tão desacreditada, que facilmente se desfaz, ainda povoa a mente da maioria das mulheres. São jovens, viúvas, separadas e homens também; todos são sensíveis ao acasalamento de papel passado.
        Como podemos acreditar que os sonhos acabaram se os presenciamos todos os dias. Somos seres humanos bastante desenvolvidos e práticos, mas na verdade somos seres espirituais, tão vulneráveis quanto os nossos antepassados. Podemos constatar esse fato nas telenovelas, nos livros, na delegacia e dentro de nossas famílias, pois todos nós conhecemos alguém muito apaixonado. Aquele parente com cara de bobo, que é capaz de matar por amor.
        Outro dia eu ia para o trabalho de carona com uma colega e conversávamos futilidades, isto é, "papo cabeça". Eu estava lhe contando o assunto de uma palestra que havia assistido em um seminário de autoajuda. O palestrante dizia que a nossa mente é poderosa e tudo que quisermos conquistar deve partir do nosso íntimo. Podemos concretizar nossas metas com afirmações positivas e até fotos para ficarmos receptivos aos nossos desejos.
         A minha amiga está á procura de uma casa para comprar e eu sugeri que pregasse uma foto de uma casa na porta da geladeira, para ver se dá certo. Com um sorriso maroto ela me perguntou se poderia colocar uma foto de um par de alianças perto da casa. Surpresa, eu disse que para uma mulher que havia acabado de sair de um casamento tumultuado ela estava bastante animada. Sugeri, então, que colocasse também os noivinhos e se possível uma foto do bolo.
         Rimos bastante, o que alegrou o nosso dia; fizemos algumas considerações sobre a falta de bons partidos para trocar alianças, mas, concluímos que um ombro para colocar nossas cabeças é indispensável. O aconchego é calmante e protetor.
         O fato é que a carência afetiva está nas ruas, jornais, revistas, agências de casamento e até nas rádios. As pessoas querem consultar o tarô, horóscopos, videntes e todo tipo de previsões que a mídia oferece. É uma fábrica para alimentar os sonhos das pessoas, que se iludem propositalmente para escapar da solidão.
         Passei a observar o modo de cumprimentar das pessoas e me surpreendi com a quantidade de beijinhos distribuídos em nome de um futuro casamento.
Todos querem companhia, decididamente não nascemos para viver sós; até os mais velhos, com experiências anteriores desastrosas, querem tentar novamente. Vale tudo para desencalhar. Apelar para Santo Antônio com promessas, praticar rituais obsoletos e três beijinhos, que os antigos garantem ser infalíveis.
         Abri o jornal semanal para dar uma olhada e fiquei surpresa com a notícia do casamento de uma solteirona da vizinhança. A moça, tida como virgem e adepta dos beijinhos, conseguira se casar. O comentário foi geral:
        - Se a Lucinda conseguiu casar, qualquer uma casa, é só seguir o ritual.
Com essa história eu quero dizer para todas as mulheres que estiverem sós, que ainda resta uma esperança; não custa nada, é só tentar. A partir de hoje só devem aceitar cumprimentos acompanhados de três beijinhos, porque é pra casar.
        Um texto de Eva Ibrahim.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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